Livro com textos sobre obras clássicas chinesas lançado em Lisboa

Foi lançado esta quarta-feira, no Centro Científico e Cultural de Macau (CCCM), em Lisboa, o livro “Textos Clássicos sobre Pintura Chinesa – Séculos VI-XVIII”, com selecção, tradução e notas de Paulo Maia e Carmo, colaborador do HM. A edição, com a chancela da Grão-Falar, pretende revelar ao público português alguns dos principais textos sobre pintura escritos pelos próprios pintores. Desta forma, podem ser lidos textos de Xie He, Yao Zui, Jing Hao, Guo Xi, Zhang Yanyuan, Zhang Geng, Shitao, Shen Hao e Wang Yuanqi.

Paulo Maia e Carmo, especialista em pintura chinesa, explicou que o trabalho de tradução destes textos se baseou em traduções já feitas do chinês para o inglês e francês, dado Portugal não ter ainda um grande “corpus crítico” sobre esta área. “Textos Clássicos sobre Pintura Chinesa” transpõe para a língua portuguesa os escritos clássicos de artistas chineses do período clássico que sempre se preocuparam em descrever o seu trabalho na tela.

Trata-se de “textos feitos por pintores”, que desde o início “tiveram a preocupação de dizer o que estavam a fazer, não apenas pintando, mas pensando sobre o que faziam, o que é algo extraordinário”. “Os pintores fizeram [essa reflexão] desde o século VI, essencialmente no período da dinastia Tang, mais com retratos. A partir do século X começam-se a pintar mais montanhas e paisagens”, frisou.

“Tendo em conta a diferença tão grande que há entre a nossa tradição e a chinesa, acrescentei neste livro bastantes notas, não trazendo só o texto. Considerei importante ter explicações sobre várias coisas que nós não conhecemos, que não são tão comuns nas nossas conversas sobre pintura”, disse ainda o tradutor.

Escrever com o pincel

Paulo Maia e Carmo destacou também, na apresentação, o facto de a pintura clássica chinesa “falar sobre tudo”. “A cultura está toda ali, desde a história ou filosofia, e a pintura constitui, de facto, uma maneira interessante de entrar na cultura chinesa.”

As diferenças face à pintura ocidental começam logo pelo uso do pincel. “A pintura chinesa é de facto muito diferente, e isso tem a ver com o uso do pincel. Começa pela ideia de que o pincel serve para escrever e para pintar, e o chinês, nesta tradição dos pintores literários, diz que vai escrever uma pintura. A ligação entre a pintura e a escrita é muito próxima. A partir do século X, o pintor escreve, pinta e faz ainda um poema por cima desse espaço. É um poema que joga com a pintura, é uma relação de complemento ao que está pintado.”

Carlos Morais José, director do HM e fundador da Grão-Falar, destacou que a edição de livros em português sobre a cultura chinesa é fundamental “para a defesa da nossa língua, para que não seja necessário recorrermos a outros idiomas para termos acesso a grandes textos”.

Importa alimentar, com estas edições, “o fascínio que é conhecermos outras culturas que não a nossa e com elas aprendermos e encantarmos”. “Este é um livro fundamental para compreendermos a estética oriental, chinesa, e aprendermos o foi escrito ao longo dos anos pelos teóricos chineses”, rematou o editor.

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