Escolhas irracionais

Sun Tzu, um estratega militar da antiga China, declarou explicitamente no primeiro capítulo da sua grande obra “A Arte da Guerra”, intitulado “Planos de Avaliação”, que a guerra é uma questão de vida ou de morte. A decisão de entrar em confronto directo deve ser cuidadosamente ponderada, bem como devem ser avaliados os factores que podem determinar a vitória ou a derrota, a estratégia, a capacidade de combate do exército e a qualidade e quantidade do material bélico.

A Faixa de Gaza é uma zona densamente povoada que depende de Israel para o abastecimento de água, electricidade e combustíveis. A capacidade militar do Hamas é muito inferior à de Israel. Por isso, quando ocorre um conflito de larga escala entre ambos, os palestinianos que vivem em Gaza vão sofrer inevitavelmente. A 7 de Outubro, quando os militantes do Hamas atacaram Israel, deveriam ter tido uma consciência muito clara dos prós e contras desse acto. Eles também sabiam que Israel iria retaliar sem piedade, exigindo “Olho por olho, dente por dente”. Mas independentemente das razões que motivam o actual conflito israelo- palestiniano, se os líderes se preocuparem com o bem-estar dos seus povos, têm de tomar decisões mais racionais!

Quando o romancista japonês Haruki Murakami recebeu o Prémio Jerusalém para a Liberdade do Indivíduo na Sociedade de Israel em 2009, fez um discurso sobre o tema “Sempre do lado do ovo”, que transmitia a seguinte mensagem, “Somos todos seres humanos, indivíduos que transcendem a nacionalidade, a raça e a religião, e somos todos frágeis ovos confrontados com uma parede sólida chamada ‘O Sistema’.” Murakami acreditava que para abrir fendas no “Sistema”, “temos de usar a nossa crença na absoluta singularidade das nossas almas e procurar o conforto de nos advém da união com o próximo”.

Antes de o exército israelita entrar em Gaza para aniquilar o Hamas, muitos países esforçaram-se para mediar o conflito. O Ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, apelou a um cessar-fogo imediato e ao fim da guerra e o Presidente americano Joe Biden propôs que o Hamas libertasse todos os reféns e que negociasse o cessar-fogo. Enquanto os conflitos estão numa fase inicial, é importante fazer escolhas racionais.

As escolhas irracionais trazem infortúnio e as escolhas racionais trazem felicidade aos povos. Enquanto alguém que nasceu e foi criado em Macau, testemunhei dois acontecimentos significativos a este respeito.

Durante o Motim 12-3, que ocorreu em Macau a 3 de Dezembro de 1966, o governo colonial declarou a lei marcial e a guarnição portuguesa foi enviada para patrulhar a cidade e reprimir os protestos. Felizmente, o Governador de Macau, que tinha acabado de assumir funções, e Ho Yin, na altura Presidente da Associação Comercial Chinesa de Macau, trabalharam em conjunto para resolver os conflitos e as contradições sociais, para que as vidas dos residentes de Macau, e o seu bem-estar, fossem salvaguardados. O caos pode ser eliminado através do uso da força, mas não resolve os problemas. Só as escolhas racionais podem levar as pessoas a encontrar o caminho para a felicidade.

Outro acontecimento impressionante ocorreu em 1974, depois da Revolução dos Cravos em Portugal. O novo Governo anunciou a descolonização de todos os territórios ultramarinos, e Macau, que à data era uma província portuguesas, não foi excepção. Do ponto de vista da China, era com grande alegria que via regressar de imediato a cidade à sua administração. Mas considerando que a questão de Hong Kong ainda não estava resolvida e a situação no seu todo, os líderes chineses da época decidiram adiar o regresso de Macau à soberania chinesa. Os factos provaram que depois da assinatura da Declaração Conjunta Sino-Britânica e da Declaração Conjunta Sino-Portuguesa, o regresso de Hong Kong e de Macau à China correu sem problemas. Querendo com isto dizer, que a resolução dos problemas políticos requer sabedoria política.

Afinal de contas, as escolhas irracionais apenas comprometem a segurança regional e nacional e ameaçam a paz mundial.

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