Grande Plano MancheteJornada Mundial da Juventude | Diocese de Macau participa com dois grupos Andreia Sofia Silva - 2 Ago 20232 Ago 2023 Começaram ontem em Lisboa as Jornadas Mundiais da Juventude, evento anual que reúne jovens católicos e o Papa Francisco, que chega hoje ao país. A Diocese de Macau faz-se representar com dois grupos de jovens, de língua portuguesa e chinesa, num total de 69 pessoas “Participar nas Jornadas Mundiais da Juventude (JMJ) é algo marcante na vida de um jovem católico”. A frase é do padre Daniel Ribeiro, radicado em Macau, responsável pelo grupo de 30 pessoas pertencentes ao grupo da comunidade católica em língua portuguesa que representa a Diocese de Macau nas JMJ que arrancaram ontem em Lisboa e que chegam ao fim no domingo, dia 6. A diocese faz-se também representar por um grupo de língua chinesa liderado por Tammy Chio. O momento alto do dia de hoje é a chegada do Papa Francisco ao país, prevendo-se uma agenda cheia de actividades em toda a cidade de Lisboa e na zona do Parque Tejo, entre os concelhos de Lisboa e Loures, onde foi construído, nos últimos meses, um altar onde o Papa irá falar aos jovens católicos. Segundo a agenda do evento, o Papa permanecerá em solo luso até domingo. Chegados a Portugal na passada terça-feira, o grupo coordenado por Daniel Ribeiro é composto por dois padres, um seminarista, um adulto e vários jovens de Macau, Portugal, dois da Guiné-Bissau e duas jovens da Venezuela e Argentina. Na sua maioria, “são catequistas ou pessoas que ajudam no coro das igrejas da Sé ou da Taipa”. Todos eles “residem em Macau e participam nas actividades da Igreja, à excepção da jovem da Argentina”, contou ao HM. A primeira paragem do grupo foi na Diocese de Leiria-Fátima, com a realização de uma caminhada de peregrinação de cinco quilómetros até ao Santuário de Fátima. Aí, o grupo de Macau ficou em casas de famílias locais, em jeito de “preparação para o encontro com o Papa”. Para o padre Daniel Ribeiro, as JMJ são importantes pela possibilidade de “ver jovens do mundo todo em oração com o desejo de aprofundar a vivência da fé, algo valioso”. Além disso, “Portugal é um país que trouxe a fé cristã e católica para Macau, pelo que [a presença da Diocese de Macau nas JMJ] é mais significativa. Os jovens estão muito animados. A JMJ é um momento em que todos percebem a importância da unidade na diversidade.” O pároco já participou noutras edições das JMJ, nomeadamente em Madrid e no Rio de Janeiro. “Vivi momentos que marcaram para sempre a minha vida, que ganhou um significado mais profundo. A presença de Jesus vivo e próximo de cada um de nós é muito forte na JMJ”, contou. Questionado sobre a importância da presença da Diocese de Macau no contexto das relações entre a China e o Vaticano, Daniel Ribeiro apenas referiu que “quando existe um diálogo verdadeiro e respeitoso, tudo fica mais fácil”. “Como padre e para os jovens de Macau, a nossa missão é rezar para que a paz possa reinar nas relações internacionais e no coração de cada pessoa”, frisou. Encontro na fundação O grupo de língua portuguesa reuniu, na última semana, com membros da direcção da Fundação Jorge Álvares. Citada por um comunicado, a presidente da entidade, Celeste Hagatong, adiantou que foi disponibilizado um “apoio financeiro para os casacos personalizados com a inscrição ‘JMJ Lisboa 2023 – Diocese de Macau’, usados pelos jovens durante o evento”. Desta forma, a fundação “colabora na participação da juventude de Macau neste encontro entre jovens católicos de todo o mundo com a Sua Santidade o Papa Francisco, para celebrarem a fé, participarem em actividades religiosas e culturais e compartilharem experiências e valores comuns, que jamais esquecerão na sua vida”. “Acesso ao mundo” O HM conversou ainda com Tammy Chio, responsável pelo grupo que se exprime em cantonês e que inclui 39 pessoas que começou a sua jornada no Porto. A vice-directora da Comissão Diocesana da Juventude confessou que “depois de três anos de pandemia é a primeira vez que organizamos um grupo de grandes dimensões para participar num programa mundial ligado à nossa igreja”. “Este é um tempo para os jovens terem acesso ao mundo e conectar-se com pessoas que partilham a mesma fé. É um grande evento para os jovens e todos esperam encontrar-se com o Papa e desfrutar [da presença em Portugal]”, adiantou. Em declarações ao Clarim, em Outubro de 2022, antes do arranque do evento e quando Macau vivia ainda sob as restrições impostas para combater a pandemia, com dificuldades em viajar, não era ainda certa a presença da Diocese de Macau em Lisboa. Ainda assim, Tammy Chio falou da importância dos jovens de Macau se prepararem para este evento de cariz mundial. “Se os jovens quiserem estar presentes, têm de se preparar. Têm de estudar, ter algo para partilhar com os jovens de todo o mundo com que se vão cruzar em Lisboa.” Estar nas JMJ constitui “uma boa oportunidade para que os jovens e a nossa Igreja ‘local’ continuem a estudar e a aprender mais sobre a nossa fé”, acrescentou. Uma questão polémica Em Portugal, as JMJ têm estado envoltas em polémica por dois motivos: a descoberta de casos de abuso sexual de menores na Igreja portuguesa e os elevados montantes públicos que estão a ser investidos pelas câmaras municipais de Lisboa e Loures na construção de infra-estruturas e preparação de todo o evento, que promete parar a cidade. Confrontado com o facto de as JMJ se realizarem no mesmo ano em que foram descobertos os casos de abuso sexual cometidos por padres, Daniel Ribeiro destaca que “os escândalos devem ser investigados com seriedade e a justiça deve ser feita”. “Portugal é um país de maioria católica, que tem uma fé viva e muito bonita. A JMJ será um grande presente para todos aqueles que participarem e de certa forma estiverem envolvidos. Os jovens, mais do que nunca, precisam de ambientes saudáveis e de valores para crescerem. A JMJ será uma bênção para os portugueses. Como brasileiro, posso dizer que até hoje colhemos os bons frutos do encontro de 2013”, adiantou. Milhares de peregrinos Dados avançados na passada segunda-feira pela organização das JMJ mostram que 78 mil peregrinos já se encontravam em Lisboa, divididos em 3.110 grupos. Desse total, 351 grupos, representando 10.700 peregrinos, fizeram a entrada nas paróquias das chamadas dioceses de acolhimento – Lisboa, Santarém e Setúbal. Segundo os últimos números divulgados pela organização da JMJ Lisboa 2023, estão inscritos mais de 313 mil peregrinos de todos os continentes. A abertura oficial fez-se ontem com uma missa celebrada pelo cardeal-patriarca de Lisboa, Manuel Clemente, no Parque Eduardo VII. As JMJ nasceram por iniciativa do Papa João Paulo II, após o sucesso do encontro promovido em 1985, em Roma, no Ano Internacional da Juventude. O primeiro encontro aconteceu em 1986, em Roma, tendo já passado, nos moldes actuais, por Buenos Aires (1987), Santiago de Compostela (1989), Czestochowa (1991), Denver (1993), Manila (1995), Paris (1997), Roma (2000), Toronto (2002), Colónia (2005), Sidney (2008), Madrid (2011), Rio de Janeiro (2013), Cracóvia (2016) e Panamá (2019). A edição deste ano esteve inicialmente prevista para 2022, mas foi adiada devido à pandemia de covid-19. O Papa Francisco foi a primeira pessoa a inscrever-se na JMJ Lisboa 2023, no dia 23 de Outubro de 2022, no Vaticano, após a celebração do Angelus. O dinheiro gasto nas JMJ e os casos de abuso sexual têm levado a alguns protestos em Lisboa contra a realização do evento. Um dos exemplos foi o artista Bordallo II que invadiu o recinto, no Parque Tejo, e estendeu nas escadas do altar um tapete com notas de 500 euros estampadas, chamada de “passadeira da vergonha”. Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, publicou nas redes sociais um vídeo em jeito de resposta, onde surge a estender um pequeno tapete que dá as boas-vindas aos participantes. Já o Bispo auxiliar de Lisboa, Américo Aguiar, disse desdramatizar os protestos e viver bem com a liberdade de expressão. O responsável pediu “um voto de confiança de que [as JMJ] são uma coisa boa, positiva, importante para os jovens do mundo inteiro, para os jovens portugueses, e que as contas se fazem no fim”. “Nós vivemos num Estado de Direito, vivemos num regime democrático que vai fazer 50 anos. Vivo bem, vivemos bem com aquilo que é a liberdade de expressão dos cidadãos. O que eu peço é que aconteçam [eventuais protestos] sempre no maior respeito uns pelos outros, quer quando seja a meu favor, quer quando seja contra”, disse Américo Aguiar à agência Lusa. Com Lusa