EventosÓbito | Rita Lee, cantora e compositora brasileira, morre aos 75 anos Andreia Sofia Silva - 11 Mai 2023 Desde 2021 que lutava contra um cancro do pulmão e acabou por não resistir à doença. Rita Lee, considerada por muitos como a rainha do rock brasileiro, morreu na noite de segunda-feira em casa, em São Paulo, com 75 anos de idade. Para trás deixa êxitos como “Baila Comigo” ou “Amor e Sexo”, entre tantos outros Eterna rebelde, grande responsável pelo maior protagonismo das mulheres no mundo da música brasileira, sem papas na língua, Rita Lee faleceu esta segunda-feira à noite [hora do Brasil] com 75 anos vítima de cancro do pulmão, doença contra a qual lutava desde 2021. A família publicou um breve comunicado nas redes sociais a dar conta do falecimento de um dos maiores ícones da música brasileira. “Comunicamos o falecimento de Rita Lee, em sua residência, em São Paulo, capital, no final da noite de ontem [segunda-feira], cercada de todo o amor de sua família, como sempre desejou”, diz o texto divulgado na conta da cantora no Instagram. Apesar do diagnóstico de doença prolongada, não foi ainda divulgada oficialmente a causa da morte. O velório de Rita Lee decorreu esta quarta-feira no Parque Ibirapuera, em São Paulo, e foi aberto ao público. “De acordo com a vontade de Rita, seu corpo será cremado. A cerimónia será particular. Neste momento de profunda tristeza, a família agradece o carinho e o amor de todos”, concluiu a mensagem. A carreira de Rita Lee explodiu nos anos 60, década da exploração de novas sonoridades no Brasil como o tropicalismo ou a Bossa Nova, quando nomes como Tom Jobim, Chico Buarque, Nara Leão ou Elis Regina, entre outros, começavam a gravar os primeiros êxitos das suas carreiras. Rita Lee foi o único elemento feminino do trio Mutantes, criado em 1966 e composto pelos irmãos Arnaldo e Sérgio Baptista, que conheceu ainda na escola. Com actividade entre 1968 e 1972, os Mutantes ficariam para a história como uma das mais importantes bandas de rock brasileiro. De destacar que o grupo surge no álbum colectivo “Tropicália, Panis et Circenseses”, de 1968, que também inclui os rostos de músicos como Caetano Veloso, Gilberto Gil ou Gal Costa. Uma das músicas mais conhecidas dos Mutantes é “Ela é minha menina”, faixa do álbum homónimo do grupo lançado, precisamente, em 1968. A nível pessoal, Rita Lee casou com Arnaldo Baptista com quem teve um filho, mas de quem se separaria em 1977. A fase Roberto de Carvalho Depois de os Mutantes, Rita Lee estava pronta para uma carreira a solo onde foi explorando outros géneros musicais além do rock. Em 1972, gravou o primeiro trabalho em nome próprio, “Hoje é o Primeiro Dia do Resto da Sua Vida”, seguindo-se mais trabalhos sempre com Roberto de Carvalho como seu produtor e parceiro nas composições, que viria a ser também seu marido e com quem teve três filhos. Rita Lee lançou três álbuns só cheios recheados de sucessos a partir do final da década de 70, nomeadamente “Rita Lee”, em 1979, de onde saíram músicas como “Mania de Você”, “Chega Mais e “Doce Vampiro”. Em 1980, é lançado um outro disco em nome próprio com faixas bem conhecidas de todos como “Lança Perfume”, “Baila Comigo” e “Nem Luxo, Nem Lixo”, todas elas mais viradas para a música pop. A partir dos anos 80 Rita Lee gravou bastante em parceria com o marido, com quem nunca viveu na mesma casa. Em 1982 saiu para o mercado “Rita Lee e Roberto de Carvalho”, “Bombom” foi lançado no ano seguinte e, depois, em 1985, “Rita e Roberto”. “Flerte Fatal” surgiria em 1987, responsável por novos hits, um deles “Desculpe o Auê”. Das telenovelas Os sucessos que gravou ao longo da carreira seriam o bastante para se tornar conhecida de um vasto número de amantes da música, mas a presença assídua das músicas de Rita Lee nas telenovelas brasileiras tornaram-na ainda mais próxima do grande público. Ao todo, a cantora e compositora participou nas bandas sonoras de 79 telenovelas, que são uma parte importante da indústria televisiva brasileira, em canais como a Globo ou Record, entre outros. Em 1978, em “Dancin Days”, uma apologia ao universo da disco sound, Rita Lee incluiu a sua “Agora é Moda”. Seguiu-se, já nos anos 90, o tema de abertura da telenovela “A Próxima Vítima”, de 1995, com “Vítima” e, mais recentemente, em 2006, com “Erva Venenosa”, música que fez parte da banda sonora de “Cobras & Lagartos”, entre muitas outras canções que fazem parte do imaginário de todos. Rita Lee, de cabelo ruivo, estilo irreverente e inconfundível, nunca parou de compor e produzir música com o seu marido, tendo gravado os álbuns mais recentes “Balacobaco”, álbum de estúdio de 2003, de onde saiu o êxito “Amor e Sexo”. No Twitter, dava nas vistas pelas suas publicações cheias de ironia e bom humor, algumas delas contra Jair Bolsonaro, ex-presidente brasileiro. Aliás, a crítica ao ex-presidente, conotado com a extrema-direita, era tão forte que ela chamava “Jair” ao cancro que tinha no pulmão. Pesar geral As reacções à morte da cantora têm sido muitas. Em declarações ao programa “Em Pauta”, da rede Globo, partilhadas no Twitter, Caetano Veloso disse que Rita Lee foi “uma figura importantíssima” na sua vida. “Dois dos maiores rocks do mundo foram feitos por ela: ‘Mamãe Natureza’ e ‘Agora Só Falta Você’. Ela tinha uma vivacidade mental impressionante. Foi uma companheira muito importante para o meu dia a dia (…)”, frisou. Segundo o Diário de Notícias (DN), o actual Presidente brasileiro, Lula da Silva, disse que Lee foi “um dos maiores e mais geniais nomes da música brasileira”, bem como “uma artista à frente do seu tempo”. “Julgava inapropriado o título de rainha do rock, mas o apelido faz jus à sua trajetória. Rita ajudou a transformar a música brasileira com sua criatividade e ousadia. Não poupava nada nem ninguém com o seu humor e eloquência. Enfrentou o machismo na vida e na música e inspirou gerações de mulheres no rock e na arte”, escreveu. Por sua vez, a ministra da Cultura do país, Margareth Menezes, chegou mesmo a chorar quando soube do falecimento da cantora, escreveu também o DN. “Não é nem uma questão directa de amizade, eu estive em alguns poucos momentos com ela, mas é pelo que ela simboliza para o Brasil, para a música popular brasileira, como uma mulher revolucionária”, rematou.