“Geografia Mundial” de Giulio Aleni (1623)

Aleni: Vida e nome chinês

Giulio Aleni foi um académico e um dos mais notáveis missionários Jesuítas sediados na China no início do século XVII. Publicou vários textos em chinês e veio a tornar-se um autor frequentemente citado e deixou uma marca inconfundível em trabalhos posteriores.

O seu livro mais significativo foi, provavelmente, Zhifang waiji 職方外紀, geralmente datado de 1623. Neste artigo, vamos fazer uma breve visita ao texto publicado há quatrocentos anos. A maioria das edições de Zhifang waiji contêm vários mapas, também eles desenhados por Aleni (e por alguns dos seus colegas). São exemplares úteis, mas menos detalhados do que certos mapas elaborados por outros Jesuítas que estiveram na China e só podem ser considerados ocasionalmente.

O nome chinês de Aleni era Ai Rulüe 艾儒略; e em latim, Julius Alenius. Ambas as versões, em latim e em italiano, estão foneticamente relacionadas com o nome chinês. O significado contido nos caracteres chineses parece ser bastante complexo. Habitualmente, ru identifica os académicos Confucionistas e os seus ensinamentos.

Ai é muito usado em botânica e frequentemente designa a planta artemísia, mas ai também quer dizer “belo”, “gaguejar”, “cultivar”, “alimentar”, “proteger”, etc. Lüe é ainda mais ambíguo. Quando usado de uma forma positiva, pode significar “estratégia”, “plano”, “resumo” e “descrever”. As conotações negativas tornam-se evidentes na associação aos verbos “apreender” e “pilhar”.

Como é óbvio, Aleni tinha aprendido chinês e aparentemente conseguia ler sem dificuldades textos clássicos, mas não sabemos dizer se ele estaria a par de todas as subtilezas contidas nos três caracteres do seu nome chinês.

Presumivelmente, a escolha da sequência “Ai Rulüe” revelava respeito pelas ideias centrais do Confucionismo e, como tal, pela cultura chinesa em sentido amplo. Se esta interpretação for aceitável, então podemos afirmar que o nome chinês de Aleni era um símbolo de sua “carreira” pessoal.

Aleni admirava muitos dos aspectos da sociedade chinesa, mas também exprimiu algumas críticas. Podemos ainda acrescentar que, nessa época, os Jesuítas tentavam encontrar paralelismos entre os aspectos essenciais da sua própria religião e os princípios fundadores do Confucionismo. Sem qualquer dúvida, esta tarefa requeria uma mente e uma alma firme, habilidade retórica e muito conhecimento.

Aleni veio da região de Brescia, no norte da Itália. Nascido em 1582, ingressou na Ordem dos Jesuítas em 1600 e estudou em Roma. Depois de ter sido escolhido para ir para a China como missionário, chegou a Macau em 1610, ainda jovem, com vinte e muitos anos. Embora estivesse interessado principalmente em astronomia, matemática e outras matérias relacionadas, ficámos a saber por confrades e amigos, que tinha uma mente viva e curiosidade por muitas coisas diferentes. Evidentemente, estas características renderam-lhe o respeito dos seus colegas chineses, com quem manteve boas relações ao longo da vida.

Em 1613, Aleni chegou a Pequim, apenas alguns anos após a morte de Matteo Ricci (Li Madou 利瑪竇) em 1610. Mais tarde viajou até às Províncias de Shaanxi e de Shanxi e às regiões de Xangai e de Yangzhou. Em 1620, chegou a Hangzhou, em Zhejiang, e em 1625 fundou a missão Jesuíta em Fujian.

Enquanto esteve em Fujian tinha contacto com muitos altos funcionários, especialmente com os de Fuzhou, e debatia com eles questões religiosas e outros assuntos de interesse mútuo. Embora tenha sido capaz de conquistar um número respeitável de estudiosos para a fé cristã, nem todos aprovaram as suas acções e, por algum tempo, tornou-se alvo de críticas severas. Por conseguinte, passou algum tempo em Macau no final da década de 1630, mas regressou a Fujian em 1639.

Em 1641 tornou-se Vice-Ministro Provincial Jesuíta para o Sul da China. Quando as tropas Manchu invadiram Fujian na segunda metade da década de 1640, causando destruição e desordem em muitas partes desta Província, Aleni retirou-se para a área montanhosa de Yenping 延平 (Nanping 南平) no interior de Fujian, onde morreu em 1649.

O texto e sua estrutura

Num período inicial, Aleni esteve em contacto com Li Zhizao 李之藻 (1565–1630) e com Yang Tingyun 楊廷筠 (1557–1627), ambos de Hangzhou. Em 1623, hospedou-se em casa de Yang e ajudou-o a terminar a sua obra Zhifang waiji, que ainda foi impressa no mesmo ano.

Hoje existem várias edições deste livro, mas não diferem muito umas das outras. Actualmente, os académicos citam principalmente a versão pontuada impressa pela editora Zhonghua shuju em 1996. Esta versão tem o título Zhifang waijiao jiaoshi 職方外紀校釋 e traz muitas anotações úteis de Xie Fang 謝方 (1932–2021), um editor actual. O presente artigo baseia-se em grande parte na edição de Xie.

O texto anotado de Xie Fang contem cinco capítulos ou juan 卷. Os capítulos debruçam-se respectivamente sobre a Ásia (juan 1); a Europa (j. 2); a África (na altura chamada Liweiya 利未亞, ou Libya; j. 3); a América do Norte e do Sul, a Antártida (então chamada Mowalanijia 墨瓦蠟尼加, ou Magellani(c)a; j. 4) e os “Quatro Mares” (si hai 四海, j. 5). Numa das primeiras edições do texto de Aleni, existe um capítulo dedicado apenas a Magellania, o que significa que essa edição tinha seis juan, mas isso não é relevante neste contexto. Os mapas publicados no Zhifang waiji, apareciam antes do primeiro capítulo. No total existiam sete, um de cada continente, mais um que mostrava a Magellania ou “as terras do sul” (Nanyu ditu 南輿地圖), um outro representando a esfera setentrional (Beiyu ditu 北輿地圖) e um mapa mundo chamado Wanguo quantu 萬國全圖.

Do Juan 1 ao 4, o texto descreve segmentos de vários países e o último juan tem sub-divisões com os nomes dos oceanos, de ilhas, de criaturas marinhas, produtos do mar, características dos oceanos, navios e rotas marítimas. De um modo mais geral, o Zhifang waiji é uma ampla descrição que sumariza as características essenciais do mundo então conhecido, do ponto de vista marítimo.

Nestas características encontram-se incluídas a vertente cultural, a etnológica, a económica, a social, entre outros temas. Muitas secções fornecem informação detalhada sobre a flora e a fauna de uma determinada região. Outras partes mencionam os nomes de cidades importantes, descrevem os monumentos locais e falam de personagens famosas. Por poucas palavras, podemos classificar o trabalho de Aleni como uma espécie de “geografia mundial”, ou como um relato etnográfico.

Os académicos chineses provavelmente considerariam que este livro pertencia a uma categoria chamada lishi dili 歷史地理 (geografia histórica). De facto, existem muitos trabalhos semelhantes na antiga China, e estes são frequentemente divididos em segmentos por país, mas os conceitos geográficos subjacentes são diferentes e normalmente não têm secções separadas sobre os oceanos. Algumas destas obras surgiram no final do período Ming. Podemos citar como exemplos Shuyu zhou ci lu 殊域周咨錄 (1574), Xian bin lu 咸賓錄 (1591) e Siyi guangji 四夷廣記 (início do século XVII). Recentemente, Elke Papelitzky chamou-lhes “Histórias do Mundo”, o que parece ser uma classificação adequada, porque esses relatos também se referem a eventos passados.

As Fontes do Texto de Aleni

O Zhifang waiji não está totalmente despojado de elementos fictícios e de fenómenos a que podemos chamar mirabilia. O mesmo pode dizer-se dos textos lishi dili . Além disso, podemos afirmar que diversos registos lishi dili se focam em questões marítimas, à semelhança do livro de Aleni, mas claro que os autores chineses nunca se fizeram ao mar, ao passo que Aleni viajou de Lisboa, passando pela India, até Macau. Não há dúvida, que algumas das coisas que menciona, são fruto da sua experiência pessoal.

Nesta altura, podemos também pensar nos primeiros relatos portugueses, como por exemplo, a Suma Oriental de Tomé Pires e O livro de Duarte Barbosa. De certa forma, ambas as obras são visões do mundo exterior a partir de uma perspectiva marítima e não de uma perspectiva continental. No entanto, enquanto Pires recolhia a informação a partir de informadores locais, Aleni ia sobretudo buscá-la a textos antigos.

As “histórias do mundo” escritas por autores dos finais do período Ming baseavam-se também na informação contida em textos arcaicos. Tal como Zhifang waiji, eram criações complexas de carácter académico. Muitas partes destas obras lembram ao leitor as expedições de Zheng He 鄭和 (1405–1433), ou lançam mão de elementos descritivos que se encontram em fontes das Dinastias Song e Yuan, e nas histórias oficiais de tempos antigos.

Quando Aleni estava a trabalhar no seu livro, consultou mapas europeus e relatos escritos do século XVI, além de utilizar fontes manuscritas, mas, por vezes, também mencionava o passado Greco-Romano. Assim, do ponto de vista dos chineses seus contemporâneos, o que ele tinha para dizer era bastante inovador para a elite intelectual Ming.

Outra característica de Zhifang waiji é a sua dimensão religiosa. Vários segmentos falam das instituições da Igreja, das ideias cristã e da bíblia. De facto, uma leitura mais atenta do texto revela que certas partes estão totalmente enquadradas numa moldura cristã. Naturalmente, outras religiões são por vezes menosprezadas.

Os registos chineses lishi dili e as “histórias do mundo” também mencionam brevemente tradições locais, mas a apresentação desses detalhes raramente é orientada por intenções religiosas. Há apenas uma ou duas excepções à regra. Por exemplo, pode dizer-se que o Yingya shenglan 瀛涯勝覽 do início do século XV tem uma marca islâmica, porque o seu autor era muçulmano. Não obstante, também é óbvio que a maioria dos autores chineses via o mundo exterior através de olhos Confucionistas.

Segundo Paolo De Troia, que traduziu Zhifang waiji para italiano, uma das fontes chave de Aleni foi o “atlas” de Giovanni Antonio Magini (1555–1617), intitulado Moderne tavola di geografia. Não sabemos ao certo como Aleni procedeu quando concebeu o texto, nem como seleccionou a informação que lhe interessava a partir das suas fontes, mas presumivelmente recebeu muito apoio de Yang Tingyun.

É sabido que este homem aperfeiçoou o chinês do texto de Aleni. Provavelmente também o aconselhou sobre a forma de organizar certos detalhes narrativos de forma a facilitar aos leitores chineses a compreensão da sua importância e significado. É muito provável que nesta parte do trabalho tenha havido muitas discussões Aleni e Yang Tingyun.

Informação adicional sobre a preparação do texto pode ser obtida nos prefácios (xu 序) a Zhifang waiji. Existem três destes prefácios, um escrito pelo próprio Aleni (datado de 1623), o de Yang Tingyun e o de Li Zhizao (também datados de 1623). Estes prefácios confirmam que Aleni não foi o único autor de Zhifang waiji.

Recorreu a alguns manuscritos incompletos de Diogo de Pantoja (Pang Diwo 龐迪我, 1571–1618) e de Sabatino De Ursis (Xiong Sanba 熊三拔, 1575–1620), além de também consultar outras fontes, nas quais se inclui o relato de Magini. No seu próprio prefácio, também menciona Wanguo tuzhi 萬國圖志. Esta deve ser uma referência ao Kunyu wanguo quantu 坤輿萬國全圖, i.e., o famoso mapa mundo de Ricci, ou a uma das suas versões preliminares. Várias cópias do mapa de Ricci sobreviveram e, embora difiram umas das outras em certos aspectos, em todos eles, os nomes chineses e outras referências são praticamente iguais. Claramente, Aleni usou estas referências no seu próprio relato, mas, muitas vezes, modificou a sua redacção. Provavelmente Yang Tingyun teve qualquer coisa a ver com isso.

A actual edição anotada de Xie Fang de Zhifang waiji contém um quarto prefácio – de Ye Xianggao 葉向高 (1559–1627) –, duas pequenas notas (xiaoyan 小言), um posfácio (ba 跋) e um memorial (zoushu 奏疏). Os sinólogos europeus raramente consideram estes textos, mas eles têm algum interesse, porque mencionam os ensinamentos de Zou Yan 鄒衍 (século II AC). Zou Yan foi um dos principais estudiosos do período pré-Han e os seus escritos perderam-se.

A partir de alguns fragmentos de textos que sobreviveram das Shi ji 史記, crónicas chinesas oficiais, sabemos que ele via o mundo como uma entidade dividida em nove continentes, cada um deles rodeado por oceanos e mares. A segmentação adicional destas esferas obedece a uma numeração. Estes conceitos tiveram um grande impacto na escrita geográfica posterior, mesmo no período Ming. Naturalmente, Aleni refutou-os. No entanto, tal como Ricci, foi prudente a esse respeito, o que provocou discussões entre os seus colegas chineses, alguns dos quais tentavam olhar para o texto de Aleni através dos olhos de Zou Yan.

Zou Yan foi um dos principais estudiosos do período pré-Han, mas os seus escritos perderam-se. A partir de alguns fragmentos de textos que sobreviveram no Shi ji 史記, primeira crônica oficial da China, sabemos que ele via o mundo como uma entidade dividida em nove continentes, cada um deles rodeado por oceanos e mares. A segmentação adicional dessas esferas obedece a um arranjo numérico.

O Mapa de Ricci e o Texto de Aleni: Empreendimentos Sino-Europeus

Este título diz-nos que podemos considerar Zhifang waiji como o produto final de um “empreendimento conjunto”, que envolveu académicos chineses e europeus e múltiplas fontes. Contudo, a bem da simplicidade, e seguindo as tradições sinológicas, continuaremos a designá-lo apenas por “o trabalho de Aleni”.

Podemos argumentar, que o mapa de Ricci, é outra criação híbrida e, portanto, um caso semelhante. O seu enquadramento metodológico, a disposição geográfica e a informação que contém sobre o Novo Mundo, Europa e África provêm na totalidade de fontes europeias. O segmento asiático é diferente: fornece muitos nomes geográficos então usados na China, seguindo assim as convenções chinesas.

Também estão incluídas referências a locais fictícios, por exemplo, o “País dos Cães” (Gou guo 狗國) e o “País das Mulheres” (Nüren guo 女人國). Estes elementos ficticios eram usados pelos académicos chineses e já aparecem em textos muitos antigos como Shanhai jing 山海經, i.e., o famoso “Livro das Montanhas e Mares”, que tem raízes ancestrais. Ricci tinha bons motivos para marcar estes locais no seu mapa. Primeiro, ao fazê-lo, expressava o seu respeito pelas tradições chinesas. Segundo, agradava aos seus amigos chineses que ficariam com a impressão de que ele próprio não refutava completamente os seus pontos de vista e as suas tradições. Terceiro, presumivelmente estes elementos eram fonte de algum entretenimento.

De facto, sentimo-nos tentados a afirmar que tanto Ricci como os seus amigos chineses tiveram a sua dose de divertimento quando adicionaram estes elementos fictícios ao mapa.

Kunyu wanguo quantu tem claramente uma dimensão diplomática. A China, enquanto País Central, e o Oceano Pacífico são representados a meio do mapa. A distribuição dos mares e dos seus nomes é quase simétrica. O oceano junto à China tem o nome de Da Ming hai 大明海, o “Mar do Grande Ming”. Perto das margens externas do mapa, encontram-se várias caixas com textos relacionados com astronomia. Estas descrições não são desprovidas de conceitos e termos tradicionais chineses, certamente para agradar aos amigos locais de Ricci.

Aleni seguiu os métodos de Ricci. Usou alguns topónimos chineses, tal como Ricci tinha feito. Tianzhu 天竺 (India), Sama’erhan 撒馬爾罕 (Samarcanda), Hulumosi 忽魯謨斯 (Órmuz), Sumendala 蘇門答剌 (Sumatra / Samudra-Pasai), Zhaowa 爪哇 (Java), Boni 浡泥 (Brunei / Bornéu), and Lüsong 呂宋 (Luzon), são disso bons exemplos. Podemos realmente encontrar estes nomes em Kunyu wanguo quantu. No entanto, Aleni modificou determinados topónimos. Assim, Dada(n) 韃靼 aparece no seu livro como Da’erda(n) 韃而靼 (Ta[r]tar). É possível que Yang Tingyun lhe tenha sugerido algumas destas alterações e transcrições ou que tenham sido tiradas das notas deixadas por Diogo de Pantoja e por Sabatino De Ursis.

Noutros casos, os Jesuítas inventaram novas designações para locais que já apareciam com um nome diferente em materiais mais antigos. Existe uma explicação simples para estas invenções: Nem os académicos chineses que assistiam os Jesuítas, nem os próprios Jesuíutas tinham conhecimento das primeiras designações. Podemos citar como exemplo as Ilhas Molucas. Ricci e Aleni chamavam-lhes Malugu 馬路古 (Ilhas Molucas), embora já tivessem sido “baptizadas” por Wang Dayuan 汪大淵 (a partir da primeira metade do século XIV) com o nome de Wenlaogu 文老古.

Regressemos à dimensão diplomática do trabalho de Aleni. Esta dimensão manifesta-se de diversas formas. Como já foi mencionado, o primeiro juan ou capítulo é sobre a Ásia, e claro que o primeiro país a ser falado é a China.

Embora a descrição não seja muito alongada, contém muitos elementos elogiosos e brevemente fala sobre a grandeza do Império Ming. Além disso, termina com uma lista de locais importantes que sistematicamente prestam tributo à Corte Ming. Neste ponto, o autor refere a geografia oficial do período Ming, Da Ming yitong zhi 大明一統志 (1461). É uma forma evidente de se proteger de críticas. Também justifica a sua observação final, nomeadamente que os segmentos que se seguem à curta parte sobre a China, tratarão exclusivamente de locais fora da jurisdição do Zhifang 職方.

O termo zhifang revela uma escolha cuidadosa. É uma referência a um serviço responsável pelos assuntos externos. Na verdade, é um termo muito antigo que transporta o leitor à antiguidade chinesa. o uso de termos antigos é um sinal de conhecimento e de respeito pelo passado distante. Metaforicamente, abre portas, e legitima o autor para expressar os seus pontos de vista. Sob esta perspectiva, o título do livro de Aleni torna-se muito claro. Zhifang waiji fala sobre “no mundo não chinês”, i.e., sobre as esferas fora do controlo da China. Portanto, em ensaios ingleses, por vezes, o título é traduzido por Records of Lands outside the Jurisdiction of the Imperial Geographer. Paolo De Troia traduz por Geografia dei paesi stranieri della Cina.

Mais algumas características de Zhifang waiji

No entanto, a apresentação de Aleni não é totalmente consistente. A parte da China inclui as zonas tártaras como dependências no Império Ming, mas o segmento seguinte faz uma descrição do local. Talvez se possa desculpar a inclusão desta entrada no waiji Zhifang considerando o seguinte: Segundo Aleni, o território tártaro era enorme.

Estendia-se desde as extremidades orientais da Europa até ao norte da China. Esta questão recorda-nos um problema que aflora em vários dos primeiros textos portugueses: os geógrafos da Europa do Sul sabiam muito pouco sobre a divisão política do Norte asiático. Circulavam mesmo rumores que o Sacro Império Romano se tinha estendido até a leste a ponto de ter tido acesso directo à orla ocidental da China.

O trecho de Aleni sobre Da’erda(n) também tem uma breve descrição do “País das Mulheres”, acima mencionado, e de Debaide 得白得 (Tibete). Outro nome, que aparece neste trecho, é Dagangguo 大剛國 (o “País do Grande Khan”).

A descrição destes locais contém certos elementos que parecem derivar do relato de Magini e, indirectamente, até da obra de Marco Polo. No entanto, ninguém se interroga porque é que o Tibete, na altura, uma parte conhecida da China, aparece com um nome estrangeiro no texto de Aleni. Ao agrupar os territórios tártaros (uma dependência do Estado Ming), o País das Mulheres (um local fictício que recorrentemente surge no folclore chinês e europeu), e as terras altas do Himalaias – significa que pretendia passar uma mensagem política oculta nesta miscelânea geográfica?

Aqui podemos saltar para o segmento final do juan sobre a Ásia: Este segmento tem o título Dizhonghai zhudao 地中海諸島 (Ilhas do Mediterrâneo), mas só descreve Ge’a (Ge’e) 哥阿 (Quio), Luodedao 羅得島 (Rodes) e Jibolidao 際波里島 (Chipre). No tempo de Aleni, estas ilhas encontravam-se sob o domínio Otomano; o que certamente explica o seu aparecimento no juan da Ásia. Existe um segundo segmento sobre as ilhas do Mediterrâneo. Aleni colocou-o no final do juan sobre a Europa. Além disso, o juan sobre a África e o juan da América também terminam com uma parte sobre ilhas. Isto reforça a nossa impressão inicial, quando considerámos que Zhifang waiji é uma obra com uma forte componente marítima. Actualmente, os académicos chineses falam muito sobre haiyang wenxue 海洋文學 (literatura marítima) e sobre haiyang wenhua 海洋文化 (cultura marítima); encarado deste ponto de vista, talvez Zhifang waiji possa ser incluído uma destas categorias.

No entanto, não nos podemos ficar por aqui. O juan da Europa começa com uma longa descrição deste continente e das suas características culturais. É dada muita ênfase ao sistema educativo. Refere que existem muitas escolas onde os alunos estudam shishu 史書 (História / textos históricos) e shiwen 詩文 (poesia e prosa, ou obras literárias), e onde aprendem a escrever ensaios. Também refere que existem exames frequentes. Aqui é usado o termo rushi 儒試.

Pode traduzir-se por “Exame confucionista”, ou talvez por “exame abrangente”. Aleni diz-nos, que os estudantes bem-sucedidos são admitidos em instituições de ensino superior. Os alunos mais brilhantes tornam-se professores.

Estes trechos vão claramente ao encontro das expectativas chinesas. A ideia é mostrar que a Europa, tal como a China, valoriza a aprendizagem, especialmente na área das humanidades, or wenke 文科, e que ambas as zonas desenvolveram sistemas eficientes para promover as questões culturais. Por outras palavras: a Europa e a China estão ao mesmo nível, ao contrário das regiões selvagens dos tártaros, de África e de outras partes do globo.

De longe, a secção mais alargada e mais elogiosa do juan europeu é sobre a Itália. Como seria de esperar, Aleni fala do seu próprio país com orgulho e com uma argumentação sólida. Itália é apresentada como o crème de la crème do continente europeu. As descrições da França e da Alemanha são muito mais breves. Relativamente a esta última, encontra-se uma observação interessante: Os soberanos de Yalemaniya 亞勒瑪尼亞 (Alemanha), quando são coroados, ficam dependentes do Papa de Roma.

Ao ler estas passagens, os académicos chineses pensavam certamente no período Zhou, durante o qual o Império do Meio foi fragmentado em vários feudos. Provavelmente também se recordariam do sistema de tributos implementado pela Corte Ming: Com alguma frequência, o Imperador Ming reconhecia um Rei estrangeiro como o legítimo governante do seu país. Existem muitas referências a estes actos formais no Ming shilu 明實錄. Contudo, a dimensão do segmento sobre a Alemanha sugere que o Sacro Império era pequeno em comparação à China Imperial. Aleni tinha claramente de desvalorizar o Norte pouco hospitaleiro em favor do mundo mediterrânico.

Aleni continua dizendo que a Alemanha é um país frio. Diz ainda que os alemães são bons a aquecer as suas casas com poucos recursos e que são pessoas práticas. Uma visão do futuro? Uma previsão a longo prazo das atitudes infantis que podemos associar ao actual Governo de Berlim e ao Movimento dos Verdes?

Seja como for, Aleni é um homem do Sul. Colocou o segmento da Yixibaniya 以西把尼亞 (Hispania), simbolicamente, no primo loco do juan da Europa e, ao mesmo tempo, este segmento é o segundo maior do capítulo. Curiosamente também, termina com a observação de que a Espanha teria muitas colónias: mais de vinte países grandes e mais de cem pequenos e médios (以西把尼亞屬國大者二十餘,中下共百餘。). O termo para colónias/dependências é shuguo 屬國, uma antiga expressão técnica encontrada em fontes chinesas tradicionais.

Uma mensagem oculta que se poderia encontrar neste trecho seria a de que a Espanha é mais influente e tem mais poder do que a China, porque o segmento sobre as dependências desta última só lista oito estados tributários.

Portugal, os Açores, a Madeira e as Canárias

Sim, Aleni parecia jogar com os factos e com as palavras. O seu segmento sobre a Hispania continua com a seguinte observação: “O território mais ocidental chama-se Portugal” (其在最西者曰波爾杜瓦爾). A formulação chinesa parece vaga. Gramaticalmente, o primeiro caracter poderia querer dizer que Portugal é a parte mais ocidental de Espanha, uma dependência (de pequenas a médias dimensões). É certo que Aleni não criou um segmento separado para Portugal. Pode haver uma razão simples para esta disposição inesperada: O seu livro foi publicado quando Portugal estava sob o domínio da coroa espanhola; Aleni menciona-o. No entanto, também podemos perguntar, se ele favorecia Castela, a nação beligerante da Península Ibérica?

Aleni evita deliberadamente o uso do antigo e controverso nome Folangji 佛郎機, assinalando que os muçulmanos (Huihui 回回) o haviam usado para todos os “Ocidentais” (xituren 西土人). Ele também parece justo quando afirma que Lisboa é a porta da Europa para o Extremo Oriente. De Lisboa, os barcos navegavamm via Dalangshan 大浪山 (Cabo das Tormentas) até à India e Macau. Mas, ainda mais importante, Portugal tem muitas igrejas e uma excelente infra-estrutura educacional. No entanto, pode haver algo mais a acrescentar.

Aleni passou muito tempo em Zhejiang e em Fujian. Fujian estava em contacto directo com Manila. Espanha era forte, Macau um pequeno enclave português que tinha acabado de sobreviver ao ataque holandês (1622). Aos olhos de alguns Jesuítas, Macau era certamente mais fraco do que Manila. Será que isso importava? Desejaria Aleni dizer à sua clientela chinesa que a Espanha poderia oferecer protecção, que o apoio das Filipinas era uma opção a longo prazo para a missão da China?

Espanha era um dos principais actores da cena global. Entre as suas muitas dependências encontravam-se as Ilhas Canárias. Tanto Ricci como Aleni referem-se-lhes sob o nome de Fudao 福島, literalmente Insulae fortunatae – um nome com ligações aos tempos Greco-Romanos e a lendas antigas. Naqueles tempos, Hierro, uma das ilhas das Canárias, foi importante porque os cartógrafos geralmente desenhavam o meridiano zero sobre ela. Os italianos chamavam a este meridiano Meridiano di Ferro ou Meridiano dell’Isola del Ferro. Daí o nome chinês da ilha: Tiedao 鐵島 (literalmente “Ilha de Ferro”).

Não muito longe das Canárias, situa-se a Madeira. Kunyu wanguo quantu, uma brochura ilustrada com um mapa, que atribuía a este belo local o nome chinês de Mudao 木島, literalmente “Ilha das Árvores”. Entre outras coisas, o texto elogia a rica vegetação da ilha.

O Mapa de Ricci também regista os Açores. Aparecem dois nomes: Hedao 鶴島 (Ilha do Corvo) e Disanqidao 第三起島 (Terceira). A sequência disan(qi)dao, “terceira ilha”, transcreve o significado do nome português; ao mesmo tempo, foneticamente as duas as versões estão relacionadas entre si. O caracter he no primeiro nome normalmente designa o grou, uma ave que simboliza vida longa no folclore chinês.

Em contrapartida, o corvo, or wu 烏 em chinês, tem conotações negativas, muito diferente da tradição europeia, onde este pássaro simboliza a sagacidade. Em relação à ilha do “Corvo” – este nome já se encontra numa antiga carta náutica de meados do século XIV, que regista a Insula Corvi Marini (Ilha do Corvo Marinho). Evidentemente, Ricci conhecia o nome da ilha, mas não estava disposto a usá-lo, porque os leitores chineses o considerariam como um símbolo negativo. Consequentemente, criou a “Ilha dos Grous” e aumentou muito seu tamanho no mapa.

Possivelmente podemos associar uma outra conotação a esta mesma ilha.: Hedao aparece na margem direita de Kunyu wanguo quantu. Assim, num certo sentido, pertence ao “extremo oriente”. Na China, o Oriente está sempre ligado a elementos positivos; o grou estava apto a ser associado a essa imagem. No entanto, é preciso ter cuidado.

Noutro lugar do seu mapa, Ricci descreve uma localização com o nome Airenguo 矮人國, o “País dos Anões”. O texto diz que os grous muitas vezes devoravam esses pigmeus. É uma narrativa que também se encontra em Plinius’ Naturalis Historiae. A conclusão poderia então ser a seguinte: o grou tem duas representações, uma positiva e, simultaneamente, outra perigosa.

Nada disto aparece no texto de Aleni. As imagens são diferentes. Na verdade, o Zhifang waiji não regista os Açores nem menciona a Madeira. Estas ilhas são apenas vagamente exibidas nos mapas associados ao texto de Aleni. No entanto, Aleni dá uma descrição das Ilhas Canárias, e esta descrição é ligeiramente mais alargada do que a que consta no mapa de Ricci. Podemos perguntar mais uma vez: Existe alguma razão para tal disposição?

Aleni e os Animais Marinhos

Como já foi mencionado, Aleni joga com vários elementos narrativos. Podemos encontrar bons exemplos na secção sobre animais marinhos, que fazem parte do último juan. Aqui encontramos diversos monstros perigosos, mas também algumas criaturas benignas. Um peixe estranho é a baleya 把勒亞, uma transcrição fonética de baleia. Quando ameaça um navio, deve atirar-se ao mar vários barris de madeira com álcool. A baleia vai engoli-los, baixa a cabeça e desaparece.

Existe uma outra história relacionada com renyu 仁魚, literalmente “peixes benevolentes”. Ren 仁 é uma das virtudes centrais da filosofia confucionista. O conceito de ren é bastante complexo e encontram-se-lhe muitas referências em Mengzi 孟子, o livro de Mêncio, e noutros textos. O renyu, assim conta a história, uma vez levou uma criança pequena para a costa, mas não prestou atenção e o pobre rapaz morreu de um ferimento. O peixe sentiu-se muito mal com esta tragédia, por isso atirou-se contra uma rocha e também perdeu a vida. Então Aleni insere esta história num outro contexto: No “país do Ocidente” (xiguo 西國) o renyu ajudava os pescadores a capturar golfinhos. Qual é a intenção subjacente a este breve relato? Será que Aleni quer dizer aos seus leitores que ren é um conceito e um fenómeno real muito importante – algo que não se encontra apenas na China, mas até mesmo no mundo animal?

Há também breves descrições do crocodilo, com referências às lágrimas de crocodilo, e ao yigouman 乙狗滿, i.e., o ichneumon, ou mangusto. Embora estes não sejam animais marinhos, entraram no texto de Aleni, provavelmente porque o autor tinha lido as secções que lhes diziam respeito na Naturalis Historiae. De facto, diversas partes da secção dos animais marinhos têm origem nesta obra clássica.

Para além destes e de outros animais, encontramos peixes voadores, o bolibo 薄里波 (pólipo), e a hainü 海女 (sereia). Os ossos desta última podem ser transformados em nianzhu 念珠 (rosários) e também podem ser usados para estancar sangramentos. Diz-se também de outas criaturas, meio humanas, meio peixes, que podem perceber as pessoas, mas que não conseguem falar. Esta quimera marítima também aparece em textos chineses antigos, nomeadamente em Shanhai jing. Recebem nomes diferentes: jiaoren 鮫人, quanxian 泉先, quanke 泉客, etc. Hoje em dia a internet está cheia de histórias e de imagens relacionadas com estas fantasias. Na antiguidade, sem dúvida que também despertavam muita curiosidade. Daí, que ao dissertar sobre a “fauna” marinha, Aleni tenha tido a certeza de vir a prender a atenção dos leitores.

Para completar a nossa imagem do mundo animal, podemos dizer que muitos segmentos encontrados no juan 5 de Zhifang waiji vieram mais tarde a ser integrados no Kunyu tushuo 坤輿圖説 (1674), um texto escrito por Ferdinand Verbiest (Nan Huairen 南懷仁; 1623–1688). Também podemos encontrar alguns dos nomes em Aomen jilüe 澳門記略 (prefácios 1751), uma das mais importantes obras chinesas sobre os primórdios de Macau, e noutros textos do período Qing. Como foi dito, Aleni deixou muitas marcas no Oriente.

Rumo a uma Dimensão Superior: O Vinho

Não seria justo descrever os missionários Jesuítas, instalados na China no período Ming, como seres supra-humanos exclusivamente interessados em pregar a sua religião e em desenvolver um trabalho académico sério. Não, de forma alguma. Através de Macau, os padres recebiam chocolate das Américas e também algum vinho. Para eles, aparentemente, o vinho era um tesouro. Durante as Dinastias Tang e Yuan, bebidas alcoólicas produzidas a partir de uvas estavam disponíveis em abundância no Norte da China, mas a Dinastia Ming seguiu por outro caminho; preferiram licores fortes e chá, enquanto noutras alturas o Governo tentava controlar, ou mesmo reduzir o consumo de bebidas espirituosas.

No entanto, os padres vindos do mundo mediterrânico, tinham crescido a beber vinho e precisavam dele. De facto, o vinho, nessa altura, era muito consumido na maior parte da Europa, possivelmente ainda mais do que hoje é. Não sabemos em que quantidades é que Aleni o conseguia obter, enquanto esteve em Zhejiang e em Fujian, a uma certa distância de Macau, mas pelo menos sabemos que ele não esqueceu as boas e velhas tradições do mundo latino.

Assim, não devemos ficar surpreendidos por ele se referir ao vinho no seu livro. Aqui, de novo, parece seguir o exemplo de Ricci. Este último, registou no seu mapa a excelência do vinho da Madeira. Aleni também menciona o vinho nas Insulae fortunatae, e claro que estas ilhas eram descritas como pequenos paraísos, tal como o seu nome sugere. Assim, aí tudo crescia por si só, o trabalho do campo era desnecessário, as pessoas viviam uma vida confortável – com vinho.

O vinho está disponível em muitos outros lugares. Sobre o vinho português dizia que não lhe conseguia resistir, que era “soberbo” (zui jia 最佳). Elejiya 厄勒祭亞 (Ellas, Grécia) também produz vinho, especialmente na ilha de Ge’erfu 哥而府 (Corfu). O vinho de Chipre é belíssimo” (ji mei 極美). Até mesmo em Yalemaniya 亞勒瑪尼亞 (Alemanha) podem encontrar-se uvas e vinho, como podemos ler na obra de Magini. Na verdade, toda a Europa tem vinho e, embora as pessoas estejam acostumadas a beber muito, não encorajam os outros a fazer o mesmo. De facto, ficar bêbado envergonha uma pessoa para o resto da vida – Aleni ajoelha-se perante a sua clientela.

O vinho pode ser conservado durante várias décadas; o vinho velho é maravilhoso e pode ser servido em ocasiões especiais, por exemplo, em bodas. Vinho, cerimónias e cortesia – estão de acordo com o conceito de li 禮, os ritos confucionistas. E também parecem estar de acordo com o que alguns académicos modernos dizem de Confúcio:

Acreditam que o grande mestre consumia regularmente jiu 酒, possivelmente vinho de uva (embora jiu seja um termo muito genérico). Claramente, pôr os princípios confucionistas em acção exige uma boa disposição espiritual.

A China foi, e ainda é, a principal cultura jiu, do mundo inteiro. Sem dúvida, vindo de Itália, Aleni foi bem-vindo no outro extremo do continente Euroasiático. O eixo espiritual tinha um lado muito prático. No entanto, havia uma pequena diferença: Ele também elogiava as azeitonas e o azeite, ambos desconhecidos na China….

As referências ao vinho no livro de Aleni e no mapa de Ricci parecem abrir mais portas. As Insulae fortunatae ficam no extremo ocidental. Tinham vinho, como já foi dito. As ilhas chinesas paradisíacas, as Penglai 蓬萊, ficam perto da costa de Shandong, a leste. Lendas antigos mencionam outras ilhas, lugares divinos cheios de maravilhas, localizados na mesma direcção. Nesta altura, a “Ilha dos Grous” vêm-nos à ideia. As direcções celestiais tiveram sempre importância no pensamento chinês. Por vezes, o Ocidente está associado ao metal. Assim, vista da China, Hierro / Tiedao perto da costa de Marrocos, fica no extremo ocidentalt; e isso também faz sentido.

No entanto, algumas coisas não se encaixam. Mu 木, para Madeira, deveria designar o leste, mas a Madeira fica perto das Canárias, no ocidente. Esse nome vem da palavra latina canis, que quer dizer cão. Ricci situou Gouguo, o “País do Cão”, perto do Estreito de Bering. Existe uma espécie de paralelismo intencional?? Cães no ocidente, cães no oriente? Pior ainda, do ponto de vista fonético, o nome chinês “Gouguo” lembra-nos o “Gog” Satanico (e Magog).

Mapas europeus registaram essas tribos no leste da Sibéria. Ricci tê-las-á colocado – juntamente com os nomes de outras tribos inspiradoras – perto do Estreito de Bering para simbolicamente impedir a Espanha de expandir a sua esfera de influência através do Pacifico para a China? Nos últimos anos do século XVI, Manila propôs-se realmente a atacar o Império do Meio! Os Jesuítas do Padroado sabiam disso. A Espanha nem sempre foi bem-vinda.

Mas, e Aleni? Ele não menciona Gouguo. Sente-se “em casa” em Zhejiang e em Fujian, não muito longe do domínio espanhol. Isso implica que existiam diferenças subtis entre o seu pensamento geo-político e os pontos de vista de Ricci?

Como podemos ver, o campo está aberto para investigações posteriores. Se tivesse nascido um pouco mais tarde, Confúcio teria provavelmente citado a biblía de forma descontraída: In principio erat vinum, et vinum erat apud Deum, et Deus semper erat felix. Aleni deixou pégadas gigantes, o seu Zhifang waiji, publicado há quatrocentos anos, é uma caixa de tesouros.

Fontes Seleccionadas

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