Portugal é um paraíso

Há alguns anos passei por Vinhais. Era uma localidade pobre com cerca de quatro mil habitantes, no distrito de Bragança e uma sub-região do Alto de Trás-os-Montes. Sede de município com 35 freguesias.

Pouco ou nada tinha que atraísse o visitante. A dada altura foi para presidente da edilidade o socialista Américo Afonso Pereira e um amigo que residia em Vinhais foi-me informando que a terra estava a ter um desenvolvimento surpreendente e as obras estavam a aparecer como cogumelos. É uma região marcada por lameiros (prados permanentes), com grandes extensões de carvalhos negros, soutos de castanheiros e searas de trigo e essencialmente centeio, sendo o maior produtor nacional de castanhas.

No território existe uma particularidade que vale a pena realçar: rochas de xisto que os arqueólogos indicam ter uma idade de mais de 400 milhões de anos. Com o decorrer dos anos sob a batuta do edil socialista Afonso Pereira casado com a secretária de Estado da Agricultura que tomou posse na semana passada.

E aqui é que começa o espanto: o casal tem várias contas bancárias conjuntas e o marido está acusado pelo Ministério Público de corrupção e de não ter declarado ao fisco centenas de milhares de euros. Segundo as autoridades judiciais que pedem o julgamento do autarca, acusando-o entre outros factos de informar alguns amigos de terrenos que ele próprio iria oficializar na Câmara como locais para habitação, logo, os amigos adquiriam esses extensos terrenos.

Resultou que a investigação judicial concluiu que o casal recebia anualmente muito mais dinheiro nas suas contas bancárias do que o pecúlio indicado às Finanças e cujas contas bancárias já foram arrestadas.

A bronca está lançada. É mais um caso no Governo português onde já 10 dos seus membros saíram empurrados pelas costas em face de casos que bradaram aos céus, incluindo um ministro que sem dar satisfação a ninguém anunciou que seriam construídos dois novos aeroportos, no Montijo e Alcochete, e que o de Lisboa seria completamente remodelado e melhorado. Desta vez, a semana terminou com a vergonha de uma secretária de Estado que acabara de tomar posse estar metida em cambalachos quando foi funcionária da Câmara de Vinhais com o marido em presidente da autarquia. E já se pede a demissão da ministra da Agricultura.

Mas, neste país só reina a corrupção? Claro que não. Há gente séria, competente, dedicada. Essas pessoas não as vimos a ser convidadas para governar seriamente o país. Como é que pode ser possível que o primeiro-ministro escolha uma pessoa para governante quando antecipadamente lhe chamam a atenção da possibilidade de existir investigação e até acusação de actos ilegais que comportam essa escolha? Porquê é que tem de ser uma secretária de Estado para a Agricultura uma cidadã que juntamente com o seu marido está debaixo do foro judicial? O povo começa a não tolerar que assiduamente os políticos se dediquem ao que não é legal.

A políticos que passam de uma fracção de um prédio para uma vivenda de luxo com piscina em Cascais ou em Sintra. O povo está farto de políticos que saem de um cargo bem remunerado e repleto de mordomias e que entram de seguida em outra função que um salário escandaloso, como salários mensais na ordem dos 30 mil euros, com carro conduzido por um motorista. O povo está farto de deputados que ao deixarem o parlamento ficam a receber vitaliciamente uma reforma choruda. O povo está farto de ouvir o Presidente da República a mandar recados para o Governo sem agir com as competências que lhe estão destinadas, nomeadamente a promoção de eleições antecipadas, porque o Governo não governa.

Portugal está a passar uma crise grave. Os pobres estão cada vez mais pobres. Os funcionários públicos e os trabalhadores das empresas privadas voltaram ao hábito de levar para o local de trabalho as suas lancheiras com o almoço. A própria classe média está a sentir a inflação galopante que já a priva de ir jantar fora ou passar o fim de semana num turismo rural. Isso acabou. Os cidadãos estão a perder o poder de compra e vão ao supermercado olhar primeiramente para os preços e só depois é que escolhem os poucos produtos para consumir. Um exemplo simples: tenho um vizinho que é engenheiro.

Todas as semanas comprava uma garrafa de vinho e mensalmente uma de whisky. O referido engenheiro transmitiu-me que já não compra qualquer tipo de bebida alcoólica porque o orçamento familiar não chega para desvarios. Desvarios? Beber uma garrafinha de vinho por semana passou a ser um desvario? É um exemplo realista e simples da situação em que nos encontramos. Tal como o grande número de pessoas que está a vender os seus automóveis por não conseguir pagar o combustível e a manutenção dos veículos.

Portugal está a receber milhares de milhões de euros da União Europeia e ninguém vê qualquer progresso e onde é que esse dinheiro é empregue. Os hospitais estão a atender os doentes nas urgências ao fim de 13 horas. E não se constroem mais estabelecimentos hospitalares, não se evita que os médicos e enfermeiros emigrem ou que abandonem o Serviço Nacional de Saúde e optem pelos hospitais privados.

As estradas do interior do país vão-se degradando e em parte alguma aparecem os operários para as reparar as mesmas. As greves sucedem-se semanalmente e no ensino há alunos que chegam a não ter aulas durante uma ou duas semanas porque os professores entraram em greve, ou reformaram-se ou ainda, foram para o estrangeiro.

Assim não dá, não é viver, não existe esperança de melhores dias. Dois milhões de portugueses estão no limite da pobreza vivendo em más condições habitacionais sem se construir um bairro social. Portugal é óptimo, sabem para quem? Para os estrangeiros que vêm gozar o bom clima ou adquirir uma casa para viver depois de se reformarem na Dinamarca, Holanda, Alemanha ou outo país qualquer. Para esses europeus, Portugal é um paraíso.

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