Análise | Economistas e residentes aplaudem relaxamento de medidas

Hong Kong já não tem quarentena à chegada e Macau adoptou o isolamento domiciliário para contactos próximos. O alívio gradual das medidas de combate à covid-19 é aplaudido por economistas e residentes contactados pelo HM, que acreditam numa verdadeira recuperação do território a nível sócio-económico nos próximos meses

 

Três anos depois do início da pandemia que mudou o mundo, Macau parece estar a reagir com o alívio das restrições. As novas regras surgiram em catadupa: com o Conselho de Estado a decretar dez novas medidas menos severas no combate à covid-19, eis que Macau decidiu reduzir as restrições introduzindo, por exemplo, a quarentena domiciliária para contactos próximos. Ao mesmo tempo, desde ontem que não é necessário cumprir quarentena para quem chega a Hong Kong.

Dois economistas contactados pelo HM congratulam-se com estas medidas, que acreditam ser um primeiro sinal para a recuperação económica há muito esperada pelos residentes.

“As notícias do fim da quarentena em Hong Kong para quem chega do exterior, e a provável aplicação da mesma medida a residentes de Hong Kong que visitam a China trazem imensas esperanças a todos os que se preocupam com a situação económica de Macau, a começar pelos próprios comerciantes e estendendo-se a toda a sociedade”, adiantou José Sales Marques.

O economista alerta para um súbito aumento de casos no território com o alívio de medidas, mas cabe às autoridades dar a volta à situação, com “a adopção de medidas preventivas adequadas e uma maior insistência na vacinação, sobretudo da população mais idosa”, incluindo “uma gestão tranquila da crise, sem pânicos desnecessários”.

“Com o fim previsto da quarentena, a economia de Macau vai voltar a respirar sem necessidade de apoios artificiais e, oxalá, os muitos planos existentes para a sua recuperação vão finalmente encontrar condições objectivas e subjectivas para alcançarem sucesso”, declarou ainda Sales Marques.

Para José Félix Pontes, também economista, “mais vale tarde do que nunca” para a adopção de medidas menos restritivas de movimentos e liberdades individuais. “O abandono das medidas drásticas que nos foram impostas deveria ter acontecido há mais tempo. Macau tem sido um seguidista cego do que tem sido implementado na China. O país alterou, de forma repentina e sem anúncio prévio, as regras de prevenção e Macau, para ser coerente, tem de adoptá-las.”

Para o economista, a realização do Mundial de Futebol do Catar trouxe a lume a evidência de que o mundo já tinha voltado à normalidade no que à covid-19 diz respeito. “Fazia pouco sentido que, de uma população mundial com oito mil milhões de pessoas, apenas 16 por cento tivessem de seguir medidas drásticas, enquanto os restantes 84 por cento passaram a conviver com o vírus sem quaisquer problemas. A transmissão televisiva dos jogos do Mundial foi um dos gatilhos para a mudança levada a cabo pelas autoridades chinesas”, disse.

José Félix Pontes dá o exemplo de Hong Kong, que “há alguns meses resolveu, e bem, relaxar as medidas de prevenção”. “Penso que dentro em breve a política que foi defendida pelas nossas autoridades de saúde vai ser banida do léxico das notícias sobre a covid. Eu faço a minha parte: já me esqueci do seu nome!”, salientou.

Algum alarme

O anúncio do alívio das medidas aconteceu na última semana e só desde esta quarta-feira é permitida a quarentena em casa para contactos próximos. O número de casos tem aumentado em flecha e já há registo de uma morte, uma idosa de 80 anos não vacinada.

Rita Gonçalves, residente, aplaude o alívio das restrições, mas mostra algum receio sobre a forma repentina como tudo se processou.

“No geral diria que os residentes estrangeiros ocidentais estão entusiasmados e optimistas, mas também estamos um pouco alarmados pela forma como este ‘rebentar da bolha’ se vai desenvolver”, contou.

Mãe de três filhos, Rita Gonçalves diz ainda não ter certezas sobre a vacinação dos filhos nesta nova fase da pandemia, por serem dispersas as informações fornecidas pelas autoridades. “A informação é muito geral e depois somos constantemente abordados por SMS para vacinarmos as crianças. Até agora não o fiz por não haver necessidade, uma vez que tenho vivido nesta bolha, mas estou quase decidida a fazê-lo, para que os miúdos tenham menos possibilidade de ficar doentes quando a ‘bolha rebentar’.”

Mas a residente diz “não confiar nos hospitais de Macau, especialmente no que diz respeito ao factor humano”. “Depois de tanto tempo aqui presos, penso que os profissionais de saúde vão exagerar e falhar nos diagnósticos”, apontou.

Quarentena sem sentido

No caso de Nelson Rocha, proprietário de um restaurante, “estas medidas são insuficientes, vêm demasiado tarde e na pior altura”. Na visão do empresário, o alívio das restrições deveria ter ocorrido após o surto de Junho. “Tinha sido mais fácil para a população do que fazer isto antes do que agora, no pico do frio, além de que a população deveria ter sido avisada primeiro tal como se fez em Hong Kong, onde as autoridades avisaram três meses antes que iam abrir”, contou ao HM.

Mesmo com esperança de dias melhores para o sector da restauração, Nelson Rocha fala em “desorganização” com “consequências”, uma vez que “há muitas pessoas preocupadas com a abertura repentina”.

“Termos insistido nas quarentenas quando o vírus se tornou mais fraco foi um erro, mas agora então não faz qualquer sentido termos quarentenas, à semelhança da China, quando já temos o vírus espalhado na comunidade. Macau, ao contrário da China, precisa de turistas. A população da China é suficiente para trabalhar a sua economia enquanto a de Macau não é, pelo que não faz sentido continuar esta tortura psicológica da população e da economia local para uma doença que, felizmente, hoje em dia se cura na grande maioria sem um quadro clínico grave”, concluiu.

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