Livro de Annie Ernaux sobre morte dos pais reeditado depois de 20 anos esgotado

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“Um lugar ao sol seguido de Uma mulher”, obra conjunta de dois textos de Annie Ernaux, em que a autora disseca as mortes dos pais, volta a estar disponível no final deste mês, depois de 20 anos esgotada. Esta republicação de uma das obras mais emblemáticas da mais recente Prémio Nobel da Literatura acontece no dia 30 de novembro, pela Colecção Dois Mundos, da Livros do Brasil, editora que publicou anteriormente “Os anos” e “O acontecimento”.

A obra aborda duas mortes, “infinitamente marcantes, digeridas pela autora através da escrita”, a primeira, publicada em 1984 e vencedora do Prémio Renaudot, sobre a perda do pai, e a segunda, lançada quatro anos depois, sobre a mãe.

Dois meses depois de passar nos exames finais para se tornar professora, o pai de Annie Ernaux morreu. Revisitando a memória da sua vida, no que ela teve de mais particular, repleta de confiança no trabalho árduo e igual dose de sonhos frustrados, complexos de inferioridade e vergonha, a filha procura preencher um vazio, traçando em simultâneo um retrato colectivo sobre uma época, um meio social e uma ligação familiar. Sobre este livro, a autora confessou que talvez o tivesse escrito, porque ela e o pai não tinham nada para dizer um ao outro.

Elo quebrado

Pouco depois, também a mãe desapareceu, após uma doença prolongada que lhe arrasou a existência, intelectual e física, e mais uma vez coube à filha restaurar, através da palavra escrita, a sua presença na História. Sobre aquela que considera ter sido “a única mulher que contou verdadeiramente”, Annie Ernaux confessou: “Parece-me que agora escrevo sobre a minha mãe para, por minha vez, a trazer ao mundo”.

“Um lugar ao sol seguido de Uma mulher” são “peças literárias fulgurantes, misto de biografia, sociologia e história, onde resplandece a ambivalência dos sentimentos que unem filhos e pais e o impacto doloroso da quebra desse elo vital”, descreve a editora.

A Colecção Dois Mundos lançou também recentemente uma nova edição do romance “Uma paixão simples”, que já tinha saído no ano passado pela Colecção Miniatura. Publicado originalmente em 1991, “Uma paixão simples” surpreendeu o panorama literário francês, quebrando os estereótipos do romance sentimental pelo seu erotismo e pela sua honestidade.

Esta obra foi adaptada ao cinema em 2020 por Danielle Arbid, num filme já exibido em Portugal. Nascida em Lillebonne, na Normandia, em 1940, Annie Ernaux estudou nas universidades de Rouen e de Bordéus, sendo formada em Letras Modernas.

Atualmente é considerada uma das vozes mais importantes da literatura francesa, destacando-se por uma escrita onde se fundem a autobiografia e a sociologia, a memória e a história dos eventos recentes.

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