Habitação | Proprietários de casas inacabadas na China recusam pagar prestações

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Proprietários de habitações na China, cuja obra ficou inacabada devido à situação precária das construtoras, estão a recusar pagar as prestações dos imóveis, disseram fontes do sector que atravessa uma crise de liquidez

 

Em pelo menos uma centena de projectos imobiliários na China, os donos de casas estão a recusar pagar as prestações mensais, de acordo com dados da empresa especializada no sector CRIC, publicados ontem. Estes projectos estão espalhados por 50 cidades diferentes.

“A lista [de projectos afectados] duplicou nos últimos três dias”, apontaram, num relatório, analistas do banco de investimento norte-americano Jefferies, estimando um défice para as construtoras em 388 mil milhões de yuans.
As pré-vendas são a maneira mais comum na China de vender imóveis.

A crise no imobiliário tem fortes implicações para a classe média do país. Face a um mercado de capitais exíguo, o sector concentra uma enorme parcela da riqueza das famílias chinesas – cerca de 70 por cento, segundo diferentes estimativas.

As incertezas ligadas à política da China de ‘zero casos’ de covid-19, que penaliza a actividade económica e pesa no rendimento das famílias, estão a fragilizar o mercado, numa altura em que muitos grupos imobiliários no país se encontram já em dificuldades financeiras.

No ano passado, os reguladores chineses passaram a exigir às construtoras um tecto de 70 por cento na relação entre passivo e activos e um limite de 100 por cento da dívida líquida sobre o património, suscitando uma crise de liquidez no sector.

Devido à falta de dinheiro em caixa, algumas construtoras não conseguem terminar projectos e entregar propriedades que foram já vendidas.

Tijolo e cimento

O sector imobiliário e a construção pesam mais de um quarto no PIB (Produto Interno Bruto) da China e foram um importante motor do crescimento económico do país nas duas últimas décadas.

Nos últimos meses, as construtoras Sunac e Shimao tornaram-se as mais recentes construtoras chinesas a entrar em incumprimento. O caso mais emblemático envolve a Evergrande Group, cujo passivo supera o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal.

A crise da Evergrande, a maior construtora da China, está a penalizar indirectamente os seus concorrentes, com os compradores a mostrarem-se cada vez mais relutantes em investir em imobiliário.

A recusa em pagar as prestações é “particularmente preocupante”, porque ameaça também o sistema financeiro, alertou ontem o banco Nomura.

Segundo a agência de informação financeira Bloomberg, o ministério da Habitação chinês realizou esta semana várias reuniões de emergência com os reguladores financeiros e os grandes bancos do país.

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