Manchete SociedadeJogo | Steve Vickers prevê maior controlo do fluxo de capitais Andreia Sofia Silva - 6 Jan 2022 As autoridades deverão focar atenções este ano no fluxo de capitais oriundo da China, apostando nos pagamentos digitais como forma de controlo e em mais transacções em yuan. Estas são algumas das conclusões do relatório do analista Steve Vickers sobre os riscos para a zona da Ásia-Pacífico em 2022 Steve Vickers, especialista em consultoria política e corporativa, estima que a “preocupação de 2022 será o tratamento do fluxo de capitais da China para Macau”. A informação consta no relatório “Asia Risk Assessment Report” divulgado ontem que, tal como o nome indica, traça os grandes riscos económicos e geopolíticos para a zona da Ásia-Pacífico. Para o analista, “as autoridades do continente e de Macau podem procurar garantir que o máximo da actividade de jogo seja [transaccionada] em yuan (não afectando a balança de capitais da China) e que as transferências sejam feitas através de meios digitais (e desta forma mais rastreados)”. Tal abordagem “pode reforçar o controlo do Governo, mas irá danificar os interesses do sector do jogo”, lê-se. No capítulo dedicado a Macau, Steve Vickers destaca a detenção de Alvin Chau, CEO do grupo Suncity como um acontecimento que sugere que “os governos de Pequim e Macau não vão mais permitir que o modelo dos junkets continue a operar segundo o formato actual”. “Os investidores devem preparar-se para obter menos receitas”, aponta o relatório, uma vez que as mudanças no sector VIP, como consequência desta detenção, “vão prevenir uma crescente escalada de infracções ao controlo sobre os capitais chineses”. Relativamente à revisão da lei do jogo, cujo processo de consulta pública terminou há semanas, Steve Vickers chama atenção para as tentativas de controlo público sobre o pagamento de dividendos aos accionistas das concessionárias, algo que “vai afectar a indústria”. “As operadoras de jogo norte-americanas vão estar em grande desvantagem com estas mudanças”, refere ainda o analista, que critica a “falta de clareza” das informações sobre os direitos das concessionárias ou o futuro concurso público para as novas licenças. Zero absoluto Ainda relativamente ao sector do jogo, o relatório refere que “o iminente fim das concessões de jogo, em meados deste ano, e a intensa repressão dos promotores de jogo constituem presságios para um ano extremamente desafiante para o sector, e por sua vez para a economia”. Steve Vickers revela também dúvidas “sobre o grau de autonomia que Macau terá dentro da política ‘Um País, Dois Sistemas’, tendo em conta a ênfase dada pelo Governo Central à iniciativa da Grande Baía”. Em termos gerais, o relatório não esquece o impacto da covid-19 na região, nem “a baixa taxa de vacinação em alguns países (como a Indonésia) e a emergência de novas variantes”. O analista alerta também para o impacto económico da política de “zero casos” adoptada pela China, Macau e Hong Kong e “que a sua continuação pode levar a um processo de dissociação económica”.