Manchete SociedadeDescendentes de Fundadores do Teatro D. Pedro V criticam utilização João Santos Filipe e Nunu Wu - 3 Set 2021 Exposições com porcos de peluches, ornamentos com desenhos animados japoneses e misses do Vietname. A utilização do Teatro D. Pedro V está a ser criticada por falta de elementos que respeitem o seu passado cultural. No entanto, um representante da associação de proprietários diz que estas actividades são “expressões da cultura chinesa” Descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V criticam a forma como o espaço está a ser utilizado, principalmente devido a exposições e ornamentos que não respeitam o que consideram ser a sua tradição artística. Em causa está uma exposição organizada em 2019, com peluches de porcos e fotografias de misses (alguns dos materiais ainda estão no espaço), assim como desenhos animados japoneses e outras decorações, que adornam o teatro construído em 1860. Ao HM, Henrique Nolasco da Silva, bisneto de um dos fundadores e filho de antigo presidente da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, aponta que a decoração desprestigia o espaço. “Essas exposições nada têm a ver com o património cultural de Macau, considerando que se trata de um edifício classificado como tendo valor cultural, não só para a RAEM como também para a Humanidade”, começou por considerar Nolasco da Silva. “Nenhum daqueles temas tem alguma relação, próxima ou remota, com Macau. São realizações que desprestigiam o imóvel, desvirtuam o fim para que ele foi construído e subvertem os pressupostos da sua classificação pela UNESCO”, acrescentou. Questionado sobre se o espaço tem ignorado as comunidades portuguesa e macaense, Henrique Nolasco da Silva aceitou a hipótese e promete acompanhar o caso: “Completamente [ignoradas]. As exposições e actividades que ali estão a ser realizadas são legítimas, mas noutro local, não ali. Os porcos de peluche cor-de-rosa, por exemplo, podem ficar enquadrados numa feira de domingo no Tap Seac, mas não ali”, disse. “Esta questão do Teatro D. Pedro V deve ser objecto de uma reflexão colectiva, pelo que o grupo de descendentes dos fundadores e dirigentes históricos do Teatro vai continuar a dedicar-lhe particular atenção”, prometeu. Elogios ao Instituto Cultural Também Catarina Canavarro Ramos, neta de outros dos fundadores, afirmou estar preocupada com a utilização do espaço. “A preservação física do imóvel está bem feita, mérito do Instituto Cultural e a sua utilização pelo IC respeita a história do Teatro, mas a utilização feita pela suposta Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V é, como já foi dito, absolutamente imprópria, só possível por parte de quem não faça ideia do passado do Teatro”, apontou a descendente. “O indivíduo que se apresenta como Presidente da Direcção tentou vendê-lo ao IC. Não é por acaso. Deve referir-se que essa má utilização pode estar a ser feita com o apoio ou, pelo menos, a inércia do Clube Macau que ocupava uma parte do edifício”, acrescentou. “Portanto, o espaço, embora preservado fisicamente, é culturalmente abusado por essas pessoas e, nessa medida, não está a ser preservado”, concluiu. Responsabilidades alheias Confrontado com as críticas, Ma Lin Chong, representante da Direcção da Associação dos Proprietários do Teatro D. Pedro V, explicou que o conteúdo das exposições é dos organizadores, a quem o espaço é disponibilizado sem qualquer custo. “A exposição já foi um evento de 2019, o espaço serve principalmente a finalidade para emprestar. Se pergunta se os conteúdos da exposição são correctos ou não, se pergunta se as pessoas se queixam ou não, cada um tem sua opinião”, afirmou Ma. “Os membros da associação de proprietários têm autonomia para decidir, e a nossa prática é deixar o público utilizar o espaço para qualquer actividade, desde que não violem as leis”, acrescentou. Nas declarações prestadas ao HM, em momento alguns os descendentes dos fundadores do Teatro D. Pedro V questionaram actividades ligadas à cultura chinesa, como as estátuas taoistas, símbolos nacionais ou a realização de ópera cantonesa. A postura demonstrada foi de aceitação da expressão artística das várias comunidades de Macau. Porém, Ma Lin Chong considera que o problema dos fundadores é de promoção dos valores chineses, como diz ter acontecido na exposição com fotografias de misses do Vietname: “A escultura em bambu [com misses do Vietname e porcos de peluche] é uma das artes da China. Acho que estas queixas são 100 por cento injustas. Na verdade, a soberania de Macau já foi transferida [para a China], e a divulgação da cultura chinesa corresponde à tendência corrente”, respondeu.