GP F3 | Prestígio da prova aguenta um segundo cancelamento

O anúncio da pretérita semana dos organizadores do Campeonato da China de Fórmula 4, em que se revelou que o Grande Prémio de Macau faz parte do calendário para 2021, relembra-nos que se a evolução da pandemia não melhorar, uma tradição com quase quarentena anos poderá novamente não se repetir este ano: o Grande Prémio de Macau de Fórmula 3

 

Como dizia Trevor Carlin, o fundador da equipa de Fórmula 3 Carlin, “Novembro não é Novembro, sem a ida a Macau”. Sem surpresas, portanto, o último Conselho Mundial da Federação Internacional do Automóvel (FIA) decidiu colocar a Taça do Mundo de Fórmula 3 da FIA no calendário internacional, mas esta acção não é vinculativa.

A última palavra, sobre a realização da prova, está sempre do lado da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau e das autoridades de saúde. Recorde-se que no ano passado a prova de Fórmula 3 não se realizou, pois os catorze dias de quarentena obrigatórios à chegada não eram viáveis para as equipas provenientes do estrangeiro.

O macaense Mário Sin, ex-membro da Comissão Organizadora do Grande Prémio de Macau, acredita que hoje as prioridades são outras. “O Grande Prémio de Macau é propriedade do Governo, não tem um problema de sobrevivência, daí a prioridade que o Governo tem agora é evitar ao máximo o contágio da COVID-19. Sendo assim, é muito provável que não vá baixar a guarda que tem tido até agora”, afirma esta figura incontornável do automobilismo local, acrescentando que “possivelmente não vamos receber a corrida de Fórmula 3 e outras se [o Governo] achar que a situação não é aconselhável. Veja que a China, por causa da pandemia, também abdicou da sua corrida de Fórmula 1. Por isso, se Macau tiver que desistir [da corrida de F3], está apenas a seguir os ‘bons’ conselhos de segurança da China em relação ao novo coronavírus”.

O piloto português Álvaro Parente, campeão britânico de Fórmula 3 em 2005 e que correu no Circuito da Guia tanto na prova de Fórmula 3, como na Taça do Mundo de GT da FIA, reconheceu ao HM que “é evidente que não é a situação ideal, dado que seria já o segundo ano sem competições internacionais em Macau. Mas atendendo à situação actual, é compreensível, dado que vão muitos pilotos e equipas da Europa e existem riscos na presente conjectura. Contudo, penso que o Grande Prémio de Macau é um nome muito forte no mundo do automobilismo e acredito que conseguirá manter o seu estatuto depois de dois anos sem provas internacionais”.

Estatuto intacto

O rumo que a FIA escolheu para a Fórmula 3 não é consensual. O que em tempos era uma competição que colocava frente a frente diversos construtores de chassis e motores é hoje uma competição monomarca Dallara-Mecachrome, o que tem sido alvo de várias críticas de alguns sectores.

“A F3 real perdeu a sua tradição quando a FIA passou de uma fórmula livre com competições em vários países para uma competição única, a FIA F3. Infelizmente, [Gerhard] Berger não ajudou enquanto presidente da Comissão de Monolugares da FIA, pois quis fechar os campeonatos nacionais para tornar a F3 europeia mais forte”, explicou ao HM Peter Briggs, ex-presidente da FOTA – Formula Three Association.

O inglês e ex-chefe de equipa que em tempos colaborou com Barry Bland, quando este último co-organizava a corrida de Fórmula 3 no território, afirma que “infelizmente, com o GP a tornar-se um evento de uma competição só (FIA F3), perdeu o seu sabor internacional de quando as equipas japonesas podiam encontrar as equipas europeias”.

Contudo, nem todos partilham da mesma opinião, como esclarece Álvaro Parente: “É um evento em que muitos pilotos gostam e querem participar. Estou seguro de que quando voltar a ter provas internacionais, Macau voltará a ser um evento com a projecção de que gozou até ao ano passado.”

Mesmo que não se realize a prova de Fórmula 3 nas ruas da RAEM este ano, tudo indica que isto não quererá dizer que a prova vai perder fôlego. Aliás, enquanto Macau conseguiu manter o seu evento de pé em 2020, outros, como o Grande Prémio de Pau, em França, ou até mesmo o Grande Prémio do Mónaco, não foram capazes de o fazer.

“O circuito da Guia não tem outro igual para uma prova de Fórmula 3 e a FIA há-de voltar com a Taça do Mundo”, sustenta Mário Sin. “Precisamos é manter a ‘nossa tradição’ de continuamente organizar o Grande Prémio de Macau, todos os anos e sem interrupção quaisquer que sejam as circunstâncias. É o único circuito que correu 65 anos sem parar, isto é uma mais valia que temos no nosso Grande Prémio de Macau e não deve haver um outro circuito das mesmas condições”.

A escolha possível

A escolha do campeonato chinês de Fórmula 4, como prova de substituição da corrida de Fórmula 3, fez franzir alguns sobrolhos, mas a realidade é que esta foi a única alternativa à disposição da organização do evento, visto que nenhuma outra competição de monolugares estava disposta a cumprir as zelosas imposições das autoridades de saúde locais. Para Peter Briggs, a solução encontrada “foi boa para os locais, mas para mais ninguém”.

“Caso o Governo consiga eliminar a situação obrigatória da quarentena para entrar em Macau, todo o problema ficará resolvido”, realça Mário Sin, no entanto, “quem sabe, um dia, um dos pilotos chineses que correram em Macau aparece nos campeonatos internacionais e possivelmente chegue até à F1. Daqui a alguns anos podemos orgulhosamente mencionar que este ou aquele piloto chinês correu aqui no Circuito da Guia”.

O Grande Prémio de Macau está agendado provisoriamente de 18 a 21 de Novembro, pendendo ainda de uma decisão final do Governo sobre se o evento avança e se sim, em que moldes. Para além de estar no calendário internacional como Taça do Mundo FIA de Fórmula 3 e aparecer no Campeonato da China de Fórmula 4, o Grande Prémio também faz parte dos calendários da Taça do Mundo de Carros de Turismo da FIA – WTCR e do Campeonato da China de GT.

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