China erradica pobreza extrema nas vésperas do centenário do Partido Comunista

Por João Pimenta, da agência Lusa

 

No interior da região de Guangxi, sudoeste da China, blocos de apartamentos, auto-estradas, fábricas ou cooperativas agrícolas erguem-se onde outrora o isolamento e êxodo dos mais jovens ditavam a pobreza extrema de milhões de camponeses. “Agora, tenho uma fábrica perto de minha casa”, diz Wang Xiaoyuan, operária fabril, de 32 anos, residente na prefeitura de Fangchenggang, no extremo sul da província.

O emprego na fábrica de têxteis, onde o som acompassado das máquinas atesta a monotonia do trabalho de tecelagem, paga o equivalente a 380 euros por mês, mas Wang, que passou a maior parte da juventude a cerca de 2.000 quilómetros de casa, está “satisfeita”. “Depois do trabalho, posso voltar a casa e cuidar dos meus filhos”, descreve à agência Lusa.

Longe do espectacular desenvolvimento económico que se formou no litoral da China, com mega metrópoles e uma classe média composta por mais de 500 milhões de pessoas, o interior do país asiático permaneceu sobretudo pobre. Porém, com o aproximar do seu centésimo aniversário, em Julho de 2021, o Partido Comunista Chinês (PCC) acorreu a cumprir com um dos principais desígnios da sua fundação: garantir prosperidade para todos, num país historicamente de grandes desigualdades sociais.

Residentes rurais idosos receberam doações em dinheiro e o Governo lançou esquemas para fomentar a criação de emprego para quem dependia da agricultura de subsistência, incluindo através da formação de cooperativas agrícolas ou da abertura de fábricas.

“Certamente não falharemos, apenas o sucesso é possível”, assegura Zhang Zhenguo, vice-secretário do PCC em Fangchenggang, à Lusa. “Os funcionários do Partido Comunista têm de concluir a política delineada pelo Comité Central”, aponta.

Na vila de Xingren, no norte de Guangxi, bancos agrícolas detidos pelo Estado concederam às famílias locais empréstimos isentos de juros, até ao equivalente a sete mil euros, para impulsionar a abertura de negócios.

“Uma das medidas consiste em disponibilizar empréstimos a famílias pobres, para que desenvolvam as suas indústrias”, explica à Lusa Li Xiang, secretário local do PCC e um de milhares de quadros do Partido enviados para áreas remotas do país.

“Algumas [famílias] investem na criação de porcos, gado ou bicho-da-seda, ou no cultivo da amora silvestre”, descreve. Ao fim da tarde, no inverno ameno de Guangxi, as ruas dos bairros, recentemente construídos entre as formações cársticas típicas da região, enchem-se de crianças. Os mais velhos jogam cartas nos espaços comuns.

Segundo dados oficiais, Pequim gastou o equivalente a mais de 77 mil milhões de euros, entre 2016 e 2020, para eliminar a pobreza extrema. Críticos dizem que os programas de redução da pobreza na China dependem fortemente de financiamento público, levantando questões sobre a sua sustentabilidade a longo prazo.

Mas Liu Yuanju, investigador no Instituto de Direito e Finanças de Xangai, argumenta que a campanha adotou uma “abordagem orientada para o mercado”, recorrendo ao comércio eletrónico para escoar a produção das áreas rurais.

“Os empréstimos servem para apoiar a produção, não são apenas uma oferta, mas antes um incentivo ao desenvolvimento das indústrias e empresas locais”, diz à Lusa. “Através das plataformas de comércio eletrónico é possível conectar a produção de áreas remotas com os consumidores das grandes cidades de forma muito eficiente”, sintetiza.

O país asiático continua a registar grandes desigualdades sociais, que foram agravadas pela pandemia da covid-19. Em 2020, o consumo na China caiu 5%, mas as compras de produtos de luxo subiram quase 50%, face ao ano anterior. A China tem também mais bilionários do que os Estados Unidos e a Índia juntos. No entanto, cerca de 600 milhões de pessoas ganham o equivalente a 120 euros ou menos, segundo dados do Governo chinês.

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