Manchete SociedadeQuarentena | Autoridades sugeriram a residente que regressasse a Taiwan João Santos Filipe - 28 Dez 2020 Ou chamar uma ambulância ou abortar a quarentena e regressar à Formosa. Foi esta a resposta do Centro de Controlo e Prevenção da Doença a um residente que se queixou de ter de passar 21 dias num quarto de hotel sem luz nem ar naturais Um residente queixou-se da falta de ar e de luz natural no quarto em que está a cumprir a quarentena, implorou por uma solução e ouviu como sugestão que poderia regressar a Taiwan, a última paragem antes da chegada a Macau. O caso foi relatado ao HM por Jorge Pinheiro, residente local a estudar em Portugal, que queria passar o ano novo com a família. A cumprir quarentena desde 13 de Dezembro num quarto do Hotel Royal Dragon, no ZAPE, Jorge acusou a pressão de estar num ambiente sem luz nem ar naturais. Por esse motivo, decidiu que devia contactar o Centro de Controlo e Prevenção da Doença (CDC) para tentar encontrar uma solução. “As janelas do quarto são amareladas, o que faz com que a luz natural não entre. Temos de estar às escuras ou com luz artificial. Só que ao fim de quase um mês nesta situação, uma pessoa sente-se mal. Não estamos preparados para estar com luz artificial todos os dias, durante quase um mês”, lamentou-se. O contacto a queixar-se sobre o problema foi feito a 25 de Dezembro, quando foi informado, por telefone, sobre a necessidade de ficar 21 dias de quarentena, em vez dos 14 inicialmente previstos. “Estou preso num quarto sem luz natural nem ar natural há 13 dias e ainda tenho de ficar mais oito dias. Segundo a Organização Mundial de Saúde, a luz e ventilação naturais são necessárias para o bem-estar de uma pessoa”, pode ler-se na mensagem enviada ao CDC. “Os 14 dias de quarentena aguentam-se bem, mas ficar 21 dias é demasiado, considerando estas condições. Todos estes problemas estão a fazer com que me sinta em stress e ansioso, por isso peço às autoridades para que resolvam estes problemas e melhorem as condições de quem cumpre quarentena”, acrescentou, ao mesmo tempo que implorou por uma solução. A queixa de Jorge Pinheiro foi enviada a 25 de Dezembro e ontem, na resposta, foram-lhe apresentadas duas alternativas: ou chamava uma ambulância, caso se sentisse mal, ou cancelava a quarentena e era enviado para Taiwan, o último ponto de embarque, numa viagem que começou em Portugal. “Primeiro, disseram que se me estivesse a sentir mal que podia telefonar para chamar uma ambulância […] Depois, disseram-me que podia sempre cancelar o isolamento”, relatou Jorge Pinheiro. “Eu perguntei: ‘Como assim?’ e depois de me perguntarem os dados pessoais e de onde tinha vindo, disseram-me que podiam mandar-me de volta para Taiwan”, relatou. Apanhado de surpresa A resposta apanhou de surpresa o residente, nascido em Macau. “Ter uma pessoa que trabalha na CDC a dizer que pode mandar-me de volta para Taiwan… Eu senti-me quase insultado. Venho para passar as férias com a minha família, que não vejo há quase um ano, e tenho funcionários a dizerem que me mandam de volta […] Eu nem estou a pedir para me tirarem da quarentena, só esperava que tentassem ao máximo arranjar uma solução”, desabafou. A cumprir isolamento desde 13 de Dezembro, Jorge Pinheiro estava pronto para passar o Natal longe da família. Porém, admite ter ficado desiludido por a extensão do período de quarentena afectar também a noite de entrada no ano novo. Apesar de ter ficado a saber da extensão logo no dia 21 de Dezembro, através das notícias, oficialmente só foi informado a 25 de Dezembro, num telefonema de rotina em que lhe pediram para medir a temperatura. “Não me informaram sobre a necessidade de cumprir 21 dias. Tive de descobrir pelas notícias. O que me deram foram duas folhas em chinês. Eu sei falar chinês, mas não sei ler. […]. Pedi que pelo menos me entregassem um papel em português, ou o mínimo dos mínimos, em inglês, mas até agora não me entregaram nada. Só fui informado mesmo pelo telefone”, relatou. Após a medida ter sido anunciada, Leong Iek Hou, coordenadora do Núcleo de Prevenção de Doenças Infecciosas e Vigilância de Doença, admitiu que os avisos iam ser feitos caso a caso. “Temos vindo a monitorizar o estado de saúde dos indivíduos em observação médica, de maneira que temos vindo a telefonar um a um, sobre este arranjo novo. Não é um número pequeno, por isso alguns já receberam o nosso telefonema e outros ainda não foram contactados”, afirmou a responsável no dia 23 de Dezembro. O HM tentou ainda obter uma reacção às queixas junto dos Serviços de Saúde, mas até ao fecho da edição não recebeu resposta.