EventosMúsica | Burnie, DJ local, lança EP em editora britânica este Verão Andreia Sofia Silva e João Luz - 22 Mai 2020 Há 10 anos a produzir música electrónica e a animar pistas de dança, Burnie é um dos bravos DJs locais que tentam trazer ritmo a uma Macau sem grande cultura de clubbing. Na calha tem um disco, que deverá ser lançado por uma editora de Macau, e um EP através de uma label britânica [dropcap]A[/dropcap]s ruelas estreitas do Porto Interior são o habitat de Burnie, um DJ local apaixonado pela música electrónica desproporcional à popularidade do género em Macau. Durante a adolescência, os sons alternativos do Indie Rock praticamente monopolizaram as colunas e headphones do jovem residente. Entretanto, chegou a altura de ir para a universidade e, com toda a sociabilização que esses tempos implicam, foi apresentado ao mundo da música electrónica por um grupo de amigos. Burnie estudou na Universidade de Macau e, apesar de nunca ter vivido no Reino Unido, a ligação à onda electrónica britânica foi-se aprofundando, disco após disco. “Comecei a conhecer a cena dos clubes de música de dança com amigos e apaixonei-me pela electrónica, em especial house, garage, breaks e drum & bass”, recorda o músico ao HM. Aos poucos, a vontade de fazer a sua própria música foi crescendo até que em 2010 começou a produzir as primeiras faixas no MacBook. As músicas foram ocupando cada vez mais espaço no computador, sem nunca saírem da esfera privada, além de partilhas no portal Soundcloud. Havia chegado à altura de procurar formas para editar as faixas que produzira. “Fiz uma pesquisa sobre lojas online e uma lista de editoras discográficas que poderiam estar interessadas no meu som e comecei a enviar demos”, recorda. Muitas vezes, o DJ local não recebia resposta, ou então a réplica vinha com bónus pedagógicos e conselhos ao nível da produção. Trabalho árduo “Obviamente, não sou um génio. Tive de reeditar algumas demos incessantemente, desde a primeira vaga de faixas que enviei a editoras”, refere. O trabalho deu frutos e, um ano e meio depois, voltou à carga no contacto com labels que poderiam dar outra visibilidade à música que tinha o computadore e no Soundcloud. A aposta resultou na primeira hipótese para editar um EP pela britânica Slime Recordings e, assim, nasceu “Atlantic EP” em 2013. “Depois da edição do meu primeiro EP, voltei a tentar melhorar as faixas que tinha composto e a bombardear editoras com novas versões. Um método que me ajudou a melhorar”. O resultado foi a edição de mais quatro EPs. Depois de vários anos a produzir batidas inspiradas em estilos musicais que rebentaram em pistas longe de Macau, Burnie decidiu remisturar, dar novas roupagens e ritmos, a alguns temas de cantopop muito populares na região. “Vivo nesta cidade. Como poderei mostrar a um público global que sou de Macau. Além disso, de que forma posso chegar às pessoas de Macau, que apenas ouvem pop, através da minha música como DJ?” Apesar da ponte sonora através da introdução de remixes de músicas mais populares de Macau e Hong Kong nos seus sets, Burnie, como tantos outros DJs locais, vive as dificuldades de estar situado num mercado pequeno para o tipo de música que faz. “Algumas pessoas conseguem ser DJ a tempo inteiro em Macau, mas é algo muito difícil de manter. Portanto, para mim, ser DJ e produzir música é um hobby, algo que faço por prazer nos tempos livres”, conta. Burnie tem um emprego a tempo inteiro, o que significa que não depende monetariamente da música, algo que o liberta em termos criativos. “Só toco aquilo que gosto de tocar, não preciso de me preocupar com dinheiro, não tenho essa pressão e assim posso focar-me na música apenas como forma de me expressar livremente, e de partilhá-la com quem quiser. Sinto-me muito confortável com este método.” Em relação a projectos que tem na calha, Burnie prepara-se para lançar um novo EP pela label britânica Downplay Recordings, enquanto trabalha num disco para o próximo ano. “Estou em conversações com uma editora de Macau, a 4daz-le Records, mas também tenho algumas datas este ano em Macau, Hong Kong e noutros sítios, mas tudo depende da evolução da pandemia da covid-19”.