VozesCaça às bruxas Salomé Fernandes - 20 Abr 2020 [dropcap]A[/dropcap] força da natureza deu ao Governo de Hong Kong um período de interregno dos protestos que devia ter sido aproveitado para repensar como gerir o descontentamento político na região. O novo tipo de coronavírus conseguiu o que nenhuma outra medida ao longo de meses atingiu: fechar as pessoas em casa e motivar saídas à rua com uma distância de segurança. Mas ainda que a saúde pública seja o tema dominante da actualidade, a detenção de mais de uma dúzia de activistas do movimento pró-democrático por parte da polícia de Hong Kong dificilmente vai passar em branco. Tanto que já foi condenada pelos EUA e pelo Reino Unido. Por muito que o argumento usado tenha sido a organização e participação em protestos não autorizados no ano passado, não deixa de ter um cunho político associado. Uma iniciativa desta dimensão parece uma tentativa de intimidação para reprimir a oposição – e com ela liberdades fundamentais. Mas tendo em conta a resistência da população face a gás lacrimogéneo e pimenta, é de esperar que este tipo de acção leve a uma maior revolta, em vez do silêncio desejado. É difícil não temer pelos “dois sistemas” prometidos. Esperemos que a Justiça proceda de forma transparente de forma a restaurar alguma confiança no sistema e na protecção dos cidadãos contra abusos de poder.