Covid-19 | Automobilismo também ajuda no combate à pandemia

Várias vezes criticado pelo seu balanço carbónico negativo ou pela sua imagem frívola, o automobilismo, em particular os seus agentes, não fizeram como a avestruz num período difícil para a humanidade e estão a contribuir na luta contra a pandemia do novo coronavírus

 

[dropcap]C[/dropcap]omo grandes centros tecnológicos que são, as equipas de Fórmula 1 são aquelas que estão na linha da frente. Engenheiros da University College London (UCL) e clínicos do hospital associado UCLH estão a trabalhar com a Mercedes-AMG Petronas F1 Team, em particular com o seu departamento de motores (High Performance Powertrains em Brixworth), no desenvolvimento de um aparelho respiratório que foi aprovado e que está agora ser testado em hospitais. Este aparelho, um CPAP (pressão positiva contínua das vias respiratórias), tem sido amplamente utilizado em hospitais em Itália e na China para ajudar pacientes da covid-19, com infecções pulmonares graves, a respirar com maior facilidade, quando o oxigénio é insuficiente. A equipa do campeão em título Lewis Hamilton também já tinha doado mais de 4 milhões de euros em equipamentos a um hospital na Malásia.

As sete equipas de Fórmula 1 que têm base em Inglaterra – Red Bull Racing, Racing Point, Haas, McLaren, Mercedes-AMG, Renault e Williams – fazem parte do consórcio VentilatorChallengeUK, que conta também com a Airbus, GKN, Rolls-Royce ou a Siemens, que recebeu um pedido para 10,000 ventiladores por parte do governo britânico. Este projecto reunirá os recursos tecnológicos e humanos das equipas da melhor forma possível, concentrando as principais habilidades da indústria: desenvolvimento de modelos CAD 3D, fabricação de protótipos, teste e montagem qualificada. A capacidade única das equipas de Fórmula 1 em responder rapidamente aos desafios tecnológicos e de engenharia permite que este grupo agregue valor à resposta mais ampla do sector de engenharia britânico.

Em Itália, a família Agnelli, proprietária da Scuderia Ferrari, doou 10 milhões de euros à Protecção Civil italiana e comprou à China 150 ventiladores e material médico em falta. O construtor de Maranello, em paralelo com a FIAT Chrysler Automobiles, foi mais além, dando as mãos à Siare Engineering International Group, empresa especializada na produção de ventiladores. Esta não é a primeira vez que a Ferrari coloca o seu potencial fabril ao serviço da medicina. Há cerca de quinze anos, uma delegação do hospital infantil Great Ormond Street, em Londres, deslocou-se a Maranello, a sede da Ferrari, para tentar incrementar a eficiência do funcionamento das salas de cirurgia e do método utilizado na deslocação dos doentes.

Além da F1

Mas não só são as equipas de Fórmula 1 que estão a trabalhar em prol da comunidade. A Automobili Lamborghini transformou vários departamentos da sua fábrica de produção de superdesportivos em Sant’Agata Bolognese, de onde saem os carros para a Taça GT Macau, para produzir máscaras e viseiras de protecção em plexiglass. As máscaras serão doadas ao Hospital Sant’Orsola-Malpighi, de Bolonha. O trabalho desta iniciativa solidária será realizado pelo pessoal encarregue do fabrico de interiores e personalização dos automóveis de Lamborghini, que produzirá 1000 máscaras por dia. Quanto às viseiras de proteção, serão fabricadas diariamente 200 unidades, utilizando impressoras 3D nos departamentos de fibra de carbono e de Investigação e Desenvolvimento.

A Pirelli, que tem o exclusivo da Taça do Mundo de Fórmula 3 e GT do Grande Prémio de Macau, tem trabalhado de perto com o governo da Lombardia, uma das regiões mais martirizadas em Itália, e já ofereceu 65 aparelhos de assistência respiratória, 5000 combinações de protecção e mais de 20,000 máscaras. Os seus trabalhadores doaram 7,000 horas de trabalho, cerca de 220 mil euros ao Hospital Luigi Sacco, em Milão. Esta soma juntou-se aos 500 mil euros que a marca italiana de accionistas chineses já tinha reunido junto dos seus parceiros.

A empresa francesa Stand21, que faz equipamento de protecção para os pilotos, desde fatos a capacetes, dedica-se estes dias à produção de máscaras de protecção respiratórias. A Prodrive, que, entre muitas coisas, constrói os Aston Martin Vantage de corridas, colocou à disposição a sua infra-estrutura e “know-how” para a rápida montagem de aparelhos respiratórios produzidos em Inglaterra. E como quem não produz, pode sempre contribuir de outras formas, o piloto espanhol Fernando Alonso doou 300 mil máscaras e 4 mil “kits” de proteção individual à UNICEF.

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