Irão vai continuar a reduzir compromissos sobre programa nuclear, diz Ali Khamenei

[dropcap]O[/dropcap] Irão vai “obviamente continuar” a reduzir os compromissos que adoptou no acordo internacional sobre o seu programa nuclear de 2015, avisou hoje o líder supremo iraniano, ayatollah Ali Khamenei.

“Nós ainda só começámos a reduzir os compromissos e o processo vai obviamente continuar”, afirmou o guia supremo do Irão num discurso emitido pela televisão estatal iraniana. Ali Khamenei, o mais alto dignitário religioso do Islão xiita, acusou ainda os europeus de não terem respeitado o acordo do nuclear concluído há quatro anos entre Teerão e o chamado grupo dos Seis (Estados Unidos, China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha).

O acordo de 2015, concluído após vários anos de esforços diplomáticos, prevê uma limitação do programa nuclear iraniano em troca do levantamento das sanções internacionais contra o país.

No entanto, em maio de 2018, os Estados Unidos decidiram retirar-se unilateralmente do acordo e restabeleceram sanções punitivas contra o Irão, impedindo a recuperação económica pretendida por Teerão.

Um ano depois, em Maio deste ano, e após ter aguardado sem sucesso que as outras partes do acordo ajudassem o país a contornar as novas sanções norte-americanas, o Irão anunciou que ia alterar progressivamente alguns dos compromissos assumidos.

No início de Julho, Teerão anunciou o aumento do limite imposto às suas reservas de urânio enriquecido para 4,5%, e que ultrapassa o máximo autorizado pelo acordo (3,67%). Entretanto, o ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão sugeriu hoje, pela primeira vez, que o programa de mísseis balísticos do país pode ser alvo de negociações com os Estados Unidos.

A declaração constitui uma possível abertura a conversações com Washington, numa altura em que a tensão entre Teerão e Washington está muito alta. Mohammad Javad Zarif pediu que estas negociações fiquem dependentes de os Estados Unidos deixarem de vender armas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos, dois aliados importantes dos EUA no Golfo Pérsico.

O programa de mísseis balísticos do país permanece sob o controlo da Guarda Revolucionária iraniana, que responde apenas ao líder supremo, o ayatollah Ali Khamenei. Os ministros dos Negócios Estrangeiros dos Estados da União Europeia reuniram-se na segunda-feira, em Bruxelas, para discutir formas de manter o acordo do nuclear.

O Irão apelou à adopção de medidas “práticas, eficazes e responsáveis” pelos europeus para preservar o acordo, insistindo na “reciprocidade dos direitos e dos deveres” entre as partes.

Hoje, a China reagiu, considerando que a manutenção do acordo existente é a única forma de lidar com as preocupações sobre o programa nuclear do Irão. Considerando o acordo de 2015 “insubstituível”, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês, Geng Shuang, disse que “a implementação completa e efectiva do acordo é a única forma viável e eficaz de resolver a questão e aliviar as tensões”.

A China responsabiliza os Estados Unidos pela actual tensão ao retirar-se unilateralmente do acordo e pediu à administração Trump que pare de exercer pressão sobre o Irão e crie condições para uma solução política e diplomática.

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