EventosFAM | Fim-de-semana teatral do classicismo grego à comédia em patuá João Luz - 17 Mai 201917 Mai 2019 O Festival de Artes de Macau tem duas propostas de teatro conceptualmente paternais para este fim-de-semana. “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”, do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, sobe ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, enquanto no pequeno auditório a companhia alemã Thalia Theatre apresenta “Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero”, que conta a história de dois filhos a braços com o passado do pai [dropcap]E[/dropcap]m jeito de celebração teatral da paternidade, o Festival de Artes de Macau (FAM) apresenta este fim-de-semana duas peças de teatro cujo conceito central é a figura do pai. O grande destaque vai para “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)”, do Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, que oferece mais uma vez um espectáculo pleno de sentido de humor acutilante e crítico, com a graça e a peculiaridade única do patuá. Sob a batuta da dramaturgia e direcção de Miguel de Senna Fernandes, “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)” satiriza uma das grandes promessas políticas do território. A narrativa gira em torno de uma terapeuta ocupacional, Emília, que vem para Macau trabalhar no Departamento de Psiquiatria do recém-inaugurado Hospital do Cotai. Além da carreira profissional, Emília busca no território vestígios do pai biológico, com quem perdeu o contacto. Quer o destino e o guião da peça que a terapeuta encontre o pai precisamente na ala psiquiátrica do hospital, onde é paciente. A partir daí, desenrola-se um drama familiar que tem como pano de fundo a crítica social e política. Em declarações aos jornalistas, aquando da apresentação do cartaz, Miguel de Senna Fernandes explicou a peça que sobe amanhã e sábado ao palco do grande auditório do Centro Cultural de Macau, às 20h. “É mais uma rábula que tem como pano de fundo algo que faz parte da curiosidade de toda a gente, neste caso a história do novo hospital. É a segunda vez que abordamos esta questão, mas desta vez ainda com mais premência porque toda a gente fala do hospital do Cotai e nada se vê. Já nos falaram deste hospital vezes sem conta, mas é claro que ninguém vai explorar as razões de nada acontecer. É uma questão recorrente e vamos falar dele à boa maneira da comédia.” Hinos a Homero Ao mesmo tempo que o patuá toma conta do grande auditório, também no sábado e domingo às 20h mas no pequeno auditório, a companhia alemã Thalia Theater apresenta uma versão contemporânea da Odisseia de Homero. “Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero” foca-se nos temas característica do teatro clássico grego, nas jornadas épicas que implicam o exílio perdido e o retorno. Dirigido por Antú Romero Nunes, que tem curiosamente descendência portuguesa e chinesa, a peça centra-se no encontro de dois irmãos, Telemachus e Telegonous, que procuram assimilar em conjunto o passado sanguinário e violento do pai na guerra de Troia. Assente em diálogos humorados, um conflito fraticida ganha dimensão entre os dois, à sombra da ausência do pai já morto. Com uma cenografia minimalista a pender para o oculto, a narrativa salpicada de humor negro condensa em 90 minutos os grandes temas da “Odisseia” de Homero, protagonizada pelas representações de Thomas Niehaus e Paul Schröder. Até ontem ainda havia lugares para as duas peças, de acordo com o Instituto Cultural. Os bilhetes para “Tirâ Pai na Putau (Tirar o Pai da Forca)” custam entre 150 e 250 patacas, enquanto para “Odisseia – Uma viagem errante baseada em Homero” custam entre 150 e 200 patacas. E ainda Também durante o fim-de-semana, mas no Edifício do Antigo Tribunal, o grupo de dança local Four Dimension Spatial apresenta “Mau Tan, Kat Cheong”, um espectáculo com nome inspirado em dois edifícios situados no bairro do Iao Hon que receberam um grande número de imigrantes e trabalhadores ilegais desde a década de 80. A performance foi pensada tendo como referência a chegada à chamada “terra dos sonhos” de muitos imigrantes do Interior da China, parte fundamental da mão-de-obra que trabalhou para o desenvolvimento económico de Macau. Passaram-se três décadas. Quantos deles realizaram os seus sonhos e quantos voltaram em glória para casa? Respostas a estas questões e a transformação social e urbana de Macau são os pontos cardiais que orientam a performance do grupo de dança local. “Mau Tan, Kat Cheong” será apresentado amanhã às 20h e no domingo às 15h no 2º andar do Edifício do Antigo Tribunal. Os bilhetes custam 180 patacas.