Cristãos chineses assumem clandestinamente a fé

Segundo a organização Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, apesar dos recentes sinais de aproximação entre o Vaticano e as autoridades chinesas, a repressão sobre as actividades cristãs continua sem dar sinais de abrandamento

 

[dropcap]A[/dropcap] Fundação AIS alertou sexta-feira que a repressão das autoridades na China está a levar os cristãos a assumir de forma clandestina a sua fé, apesar do acordo provisório assinado entre a Santa Sé e Pequim.

Em comunicado de imprensa, a Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) indica que, apesar do acordo provisório para a nomeação dos bispos católicos para a República Popular da China, são vários os sinais de que as autoridades “não têm abrandado em algumas províncias a repressão contra a comunidade cristã”.
A Fundação AIS, cita o portal da Internet Bitter Winter que publicou inúmeros casos concretos de repressão por parte das autoridades contra comunidades cristãs.

Este portal, que monitoriza as questões relacionadas com a liberdade religiosa na China, mencionou o caso na cidade de Tieling, na província de Liaoning, onde os cristãos estão “a viver a sua fé de forma cada vez mais clandestina”, face ao encerramento de locais de culto.

Também a agência católica de notícias, Asia News, verificou esta situação referindo que vários sacerdotes desistiram mesmo da sua missão “por uma questão de consciência”.

A Fundação AIS alertou igualmente para a onda de repressão das autoridades contra a comunidade cristã dando como exemplo o caso na província de Henan, onde várias igrejas foram encerradas e transformadas em teatros, salas de jogos e outros locais de entretenimento.

Entre as igrejas ocupadas pelas autoridades estão, entre outras, as de Caowu, Nanyang e Youzhai.
Nestas três localidades, “as igrejas deixaram de ser locais de culto para se transformarem, por vezes, em locais de propaganda comunista”, explicou a Fundação AIS.

De acordo com o Bitter Winter, a igreja localizada na vila de Caowu ostenta há cerca de dois meses um cartaz em que enaltece os “valores fundamentais socialistas” e onde se lia “Igreja Cristã” encontra-se agora a frase “grande amor à China”.

Questão sensível

Em entrevista publicada no L’Osservatore Romano e citada pela Fundação AIS, o prefeito da Congregação para a Evangelização dos Povos, cardeal Fernando Filoni, reconheceu que existe uma situação delicada e complexa no relacionamento entre a comunidade cristã clandestina, fiel ao papa Francisco e ao Vaticano, e os responsáveis chineses que tutelam a intitulada igreja patriótica que responde perante Pequim.

“Não podem ser ignorados os anos de conflitos e de incompreensão”, realçou Filoni ao jornal do Vaticano.
“Acima de tudo, é necessário reconstruir a confiança, talvez o aspecto mais difícil, pelas autoridades civis e religiosas encarregadas dos assuntos religiosos e entre as chamadas correntes eclesiais, oficiais e não oficiais”, acrescentou.

Sobre o futuro do cristianismo na China, o cardeal Fernando Filoni mostrou-se confiante afirmando acreditar que “somente a falta da verdadeira liberdade e as tentações de bem-estar podem sufocar uma boa parte das sementes lançadas já há muitos séculos atrás”.

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