h | Artes, Letras e IdeiasMensagem (Botschaft) António de Castro Caeiro - 18 Set 201814 Out 2018 [dropcap]E[/dropcap]u tinha pensado de mim para mim que dias mais lindos Só aqueles poderiam ser chamados, quando nós, ao falar, Transformávamos a paisagem diante dos olhos num domínio Da nossa alma: quando nós, colina acima, Subíamos para o bosque na direcção da sombra, Aí, onde tudo nos envolvia como algo de já vivido, Pois, aí, nos prados distantes, nós encontrávamos, em sossego, o sonho das vidas passadas de criaturas jamais supostas. Encontrávamos aí vestígios do seu terem por lá andado e do seu beber E sobre o lago: uma conversa a deslizar Reflectia abóbadas mais fundas do que o céu. Eu tinha, então, pensado naqueles dias, E que a seguir a estas três coisas: ter saúde, Fruir do próprio corpo e da vida, E de pensamentos, asas de jovens águias, Apenas uma coisa conta: Estar na companhia de amigos. Assim, eu quero que tu venhas e comigo bebas Daquelas taças que são a minha herança, Adornado com folhagem e crianças aladas, E que comigo te sentes no muro do Jardim. Dois jovens estão de guarda no seu portão. Nas suas cabeças, com um olhar absorto e Meio desviado, há um destino monstruoso Que te olha para te empedernir: quero que te cales E olhes para a paisagem Que tu vês estender-se à tua frente; Pois, talvez, então, um verso teu me aconchegue Na solidão futura e que, de quando em quando, Uma lembrança tua se aninhe na sombra E que, ao cair da noite, a estrada entre as copas escuras role, E que caminhos sem sombra rolem e rolem para aí Como relâmpagos do ouro mais fino.