Poesia | Carlos André lança novo livro com imagens do Oriente

 

“O sol, logo em nascendo, vê primeiro” é o título do novo livro de poesia de Carlos André, com o qual finalmente se assume como poeta. Editado pela Livros do Oriente, a obra espelha aquilo que o autor sentiu e viu nas muitas viagens que já fez deste lado do mundo

 

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] poeta caminhou na estrada até Baalbek, no Líbano, imaginou as histórias que contam as seculares pedras de Angkor Wat, no Cambodja, e procurou no Vale de Beqaa, também no Líbano, por onde andam a luz ou o mel.

Carlos André, o poeta, também coordenador do Centro Pedagógico e Científico da Língua Portuguesa do Instituto Politécnico de Macau (IPM), escreveu o seu terceiro livro de poesia quase por acaso ou instinto, muito antes de perceber que os seus poemas se transformariam na obra “O sol, logo em nascendo, vê primeiro”, editado pela Livros do Oriente.

Muito antes de vir para a China abraçar o projecto do IPM, Carlos André escreveu em Quioto, no Japão, e no Líbano. “No princípio não tinha sequer a intenção de fazer um livro”, contou ao HM.

“A poesia acontece desta forma. Em determinado dou comigo a fazer um poema, nos poetas isso é normal. Quatro desses poemas foram escritos há muito tempo. A ideia de que poderia fazer um livro com estas impressões de viagem aconteceu na China, nas viagens que fui fazendo. A partir de certa altura começou mesmo a ser um projecto pessoal, e como gosto muito de fazer fotografia, juntei essa parte”, acrescentou.

Ao editar o terceiro livro de poesia, Carlos André assume-se, finalmente, um poeta, além de ser um professor e académico, especialista em literatura clássica e também tradutor.

“Apesar de já aceitar um pouco a designação de poeta, tenho por hábito dizer que o meu compromisso é com a minha profissão. Sou professor, tenho de escrever coisas científicas e académicas, e aí tenho muitos projectos em cima da mesa…o resto, se me acontecer, fico muito feliz.”

“O sol, em nascendo, vê primeiro” é sobretudo o resultado de muitas imagens que o poeta viu de perto, e que se traduziram em palavras.

“Muitas destas palavras são explosões. Acontecem de repente e depois precisam de se arrumar. Olho para uma determinada paisagem aquilo está à minha frente e isto tem de ser traduzido num poema. Mas não há duas circunstâncias iguais.”

Carlos André assume que “transmitiu para o papel” à semelhança de quando um pintor transpõe um sentimento ou uma ideia para a tela, cheia de cores e formas.

“O poeta tem um conjunto de sensações perante uma determinada circunstância e perante uma imagem. No meu caso, na maior parte das situações, tratam-se de imagens, e traduzo essas emoções em palavras, com alguma carga estética, para o papel.”

Quando percebeu que os seus escritos poderiam ser publicados, “quis partilhar com as outras pessoas as minhas emoções”.

A influência dos clássicos

Especialista em Línguas e Literaturas Clássicas, Renascimento e Humanismo, Carlos André explicou que o seu terceiro livro de poesia revela algo diferente de todos os outros: essa ligação aos clássicos, no que diz respeito à forma como os poemas foram escritos.

“A quase totalidade este livro é feito de formas clássicas e obviamente que a minha formação está aí. São textos em oitavas heróicas, são sonetos, quadras no sentido mais tradicional. São formas clássicas com rima, métrica. Foi o que deu, não sei dizer de outra forma.”

Essa influência acabou por surgir de forma espontânea ou até inconsciente.

“Como poetas somos filhos de tudo o que lemos, porque nos está atravessado no subconsciente. Há um conjunto de imagens que, ainda que não tenha consciência delas, elas estão lá”, disse.

A referência a Camões

O poeta pensou em vários títulos para o seu terceiro livro, até que resolveu utilizar o verso escrito por Luís de Camões, quando este, n’Os Lusíadas, se dirige ao rei D.Sebastião.

“[O sol, logo em nascendo, vê primeiro] é a expressão que Camões utiliza para descrever os lados do então império português, para se referir às terras do sol nascente, ao Oriente. Poderia dizer, simplesmente, ‘Poemas do Oriente’, andei às voltas com muitos títulos e achei que seria muito interessante [utilizar este verso]. Aí vem a minha formação clássica”, frisou.

Carlos André assume que escreve como respira, mas quando traduz outros autores opta por não escrever os seus poemas, por “estar demasiado concentrado na tentativa de captação das emoções do outro”.

Enquanto académico Carlos André tem um outro ritmo. “[Escrever poesia] tem a ver com aquele momento e todas as circunstâncias que o envolvem. O poeta tem essa sensação, é completamente diferente do que se passa com os meus escritos académicos. Chega-se a estes através de um trabalho atento, com muita leitura ou reflexão. A poesia não é assim. As impressões traduzem-se em palavras na expectativa de que haja algo entre alguma coisa e outra”, concluiu.

A apresentação da obra de Carlos André decorre na próxima terça-feira na Fundação Rui Cunha.

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