Leocardo VozesMea culpa (pois) [dropcap style≠’circle’]P[/dropcap]assei um destes últimos fins-de-semana em Hong Kong, e mais uma vez levei “um banho” de aquilo que não temos aqui deste lado. Já sei que fazer comparações entre os dois lados do delta não é de bom tom, é território minado, e não me livro com toda a certeza de alguns “estás mal muda-te” sussurrados entre dentes, mas é assim mesmo: isto é a minha opinião, e é aquilo que os meus sentidos apuraram. A culpa é minha, que tal? Primeiro “Mea culpa”, pronto. Não dói assim tanto. Não dói de todo. Primeiro a descontracção, que é um valor que eu prezo. Saí à noite em Tsim Sha Tsui, e depois de tentar um ou dois bares (que estavam cheios) em Knutsford Terrace, deparei um bar catita, situado num dos andares de um edifício comercial ali perto. Talvez por este último motivo podia-se fumar dentro do bar – pasme-se. Mas não foi só com esse pormenor que deparei quando subi entrei; havia música, “snooker”, dardos, muita animação. Gente toda ela mais jovem que eu, mas num ambiente super-descontraído, onde entre a risota e a música podia-se berrar “Daaarby!” sem ninguém ficar a pensar que estamos escangalhados da cachola. Foi uma mudança em relação à noite aqui em Macau, onde se nota o constrangimento em dar um murro na mesa, ou se dizer alto que se está ou é feliz. Há muito olhar por cima de um ombro, muitos “ai tu aqui?” ou o risco de no dia seguinte alguém nos dizer “ontem vi-te” – sabem como é. Mas mesmo assim deixem lá, que vos carregos essa cruz também: a culpa é só minha. Mea culpa ao quadrado. Aguenta-se bem. Falemos de comida para o estômago e para a alma. Em Hong Kong come-se bem, barato e caro, e há sempre qualquer coisa para se ver ou para comprar. Fazem-se coisas mais ousadas, também, que houve quem ensinasse às gentes aqui do lado a pensar fora do chapéu, e olhar para além do próprio nariz. Aqui tivemos agora o Festival Rota das Letras, que vai na sexta edição. Acho óptimo, e cada ano tem sido melhor, e o futuro da iniciativa parece assegurado. No entanto não posso deixar de concordar com um opinador de uma publicação compita deste jornal, que lamentou a “falta de tempo”. Sim, de facto o Rota das Letras é muito coelheiro: vai ser tão bom, não foi? Eu espero com mais tempo e mais orçamento se possa dar mais atenção e apreciar com mais cuidado uma iniciativa destas, que este ano trouxe a Macau nomes como Raquel Ochoa, Sérgio Godinho e José Rodrigues dos Santos – só este ano. Mas aí está, eu é que não tive lugar na agenda, paciência, e salta o terceiro Mea culpa. Amén. Falámos de Hong Kong e do Festival Rota das Letras, falemos agora dos Doçi Papiaçam de Macau, que vão estar no Festival de Artes com uma nova peça, onde a RAEHK entra também no enredo. O título ficou qualquer coisa como “Sorte em Terra de Tufões”, não sei ao certo, mas conta a história de um maquista que ganha o “Mark Six”, e por culpa de um tufão fica impedido de ir à Sociedade de Lotarias de HK reclamar o prémio. Consigo imaginar o que vem a seguir, pois tendo em conta que a tal sociedade entrega o prémio a qualquer um que apareça com o bilhete, o tal sortudo vai ter um dia cheio de novas “amizades”. Se calhar era melhor ter ficado calado, e eu calo-me já também. Dos Doçi nunca sei bem o que esperar – e isso é óptimo – mas de mim eles podem contar com o mesmo dos últimos 9 anos: uma “review” no blogue. Ok, pode ser que alguém ache isto mau, ou que eu “não devia”, mas penso que não estaria a fazer-lhes nenhum ficando calado. Não sai uma Mea culpa aqui, que de boas intenções está um certo lugar cheio. E não é Hong Kong. Pois…
Hoje Macau China / ÁsiaRadar do sistema antimíssil THAAD montado em Março na Coreia do Sul [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Sul e os Estados Unidos prevêem instalar durante o mês de Março o radar do escudo antimíssil THAAD para que o equipamento esteja operacional em Abril, disseram ontem fontes militares em Seul. A instalação do sistema de defesa antimíssil está a provocar fortes protestos da República Popular da China. O potente radar de banda X é um componente essencial do sistema que Seul e Washington querem implementar, mas que está a ser criticado por Pequim por recear que venha a ser utilizado para a obtenção de informações sobre bases chinesas na zona de fronteira com a Coreia do Norte. O dispositivo de detecção vai começar a ser instalado durante o corrente mês na zona de Seongju, no centro do país, a cerca de 300 quilómetros a sudeste de Seul para realizar “testes operacionais”, disseram fontes do Exército sul-coreano à agência Yonhap. A montagem do radar vai decorrer durante as próximas semanas e prevê-se esteja funcional no final de Abril. Primeiros passos Na terça-feira, os exércitos da Coreia do Sul e dos Estados Unidos anunciaram a chegada a território sul-coreano dos primeiros componentes do Sistema de Defesa Terminal de Área a Grande Altitude (THAAD, na sigla em inglês), no quadro das decisões tomadas pelos dois países em Julho de 2016. Aos primeiros componentes, dois lança mísseis e o radar, vão mais tarde adicionar-se os restantes elementos do sistema que vão ficar inicialmente na base aérea de Osan (70 quilómetros de Seul), para depois serem instalados em Seongju. O início da montagem do sistema coincide com o lançamento efectuado na segunda-feira pela Coreia do Norte de quatro mísseis balísticos que atingiram o Mar do Japão. Os ensaios de Pyongyang são vistos como uma resposta do regime norte-coreano contra as manobras militares dos Estados Unidos e da Coreia do Sul no Paralelo 38. A instalação do THAAD tem sido especialmente criticada pelo governo da República Popular da China que já decidiu proceder ao boicote às empresas de turismo sul-coreanas, assim como aos produtos comerciais da Coreia do Sul. O ministro dos Negócios Estrangeiros de Pequim, Wang Yi, sublinhou ontem numa conferência de imprensa em Pequim que a instalação do THAAD é uma decisão errada sendo que já na semana passada a China afirmava que o país iria adoptar as medidas “necessárias” para protecção dos interesses nacionais.
Hoje Macau SociedadeAmbiente | “Lai-si” recolhidos poupam 61 árvores [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Direcção dos Serviços de Protecção Ambiental (DSPA) recolheu mais de um milhão e meio de envelopes de “lai si” durante uma campanha de incentivo à reciclagem deste tipo de material, muito utilizado por altura do ano novo chinês. O programa terminou no passado sábado, com a DSPA a dar conta agora dos resultados e a elogiar a adesão da população à iniciativa. Ao todo, foram recolhidos quase 4500 quilogramas de envelopes vermelhos. Depois de terem sido seleccionados, foram contados cerca de 610 mil – ou 1800 quilogramas – que podem ser reciclados. Para a direcção de serviços, “o programa alcançou a eficácia pretendida”. O programa foi lançado a 2 de Fevereiro. Foram disponibilizados mais de 200 postos de recolha em diversas zonas de Macau, sendo que a DSPA contou com o apoio de diversos serviços públicos, associações, escolas, bancos, supermercados, empresas de jogo e hotéis. Pretendeu-se assim “facilitar aos cidadãos a prática dos actos ambientais através de uma rede comunitária”. Os envelopes recolhidos tinham de estar intactos, para poderem ser reutilizados. “Ofereceu-se, assim, o apoio aos trabalhos de carácter ambiental através de acções pessoais e reduziu-se o desperdício de materiais”, sublinha a DSPA no balanço da iniciativa. Segundo as estimativas da direcção de serviços, os “lai si” aproveitados na campanha evitam o abate de 61 árvores. “Alguns envelopes serão utilizados como materiais amigos de ambiente em actividades e workshops, e os envelopes de melhor qualidade serão distribuídos ao público através da colaboração” com várias associações para que possam ser de novo usados. A DSPA promete continuar com campanhas relacionadas com a reciclagem e redução de resíduos.
Hoje Macau SociedadeJogo | Recrutamento subiu na recta final de 2016 [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] número de trabalhadores recrutados para o sector das lotarias e outros jogos de aposta em Macau subiu 76,1 por cento no último trimestre de 2016, em comparação com o mesmo período do ano anterior, revelam dados oficiais. Segundo os Serviços de Estatística e Censos, nos últimos três meses do ano passado, foram recrutados 662 trabalhadores, um número significativamente superior aos 376 registados no quarto trimestre de 2015. No final do trimestre, 55.794 pessoas trabalhavam a tempo inteiro no sector das lotarias e outros jogos de aposta, menos 0,8 por cento em relação ao fim do mesmo trimestre em 2015 – destes, 24.039 eram croupiers, que diminuíram 2,4 por cento em termos anuais. Ainda assim, a remuneração média subiu: os trabalhadores do sector das lotarias e outros jogos de aposta auferiam 21.990 patacas em Dezembro de 2016, mais 1,7 por cento do que no mês homólogo de 2015. Os croupiers, em particular, ganhavam 18.840 patacas mensais, mais 0,3 por cento que em Dezembro de 2015. No fim do trimestre em questão existiam 555 postos de trabalho vagos no sector das lotarias e outros jogos de aposta, mais 93 que no quarto trimestre de 2015. A maioria das vagas dizia respeito a “empregos administrativos” e “pessoal dos serviços e vendedores”. A maioria destas vagas requeria habilitações académicas iguais ou superiores ao ensino secundário complementar (85,2 por cento) e o domínio do mandarim (94,8 por cento), e 43,6 por cento exigiam domínio do inglês.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA liderança ambiental no Grande Delta do Rio das Pérolas “Environmental leaders confront complicated and seemingly intractable problems. They consider the impacts of a growing world population, increased energy demand, and resource scarcity. They wrestle with misconceptions of the trade-offs between economic growth and environmental protection. Environmental leaders help us understand the environmental impacts of our actions and design the educational programs that reach out to the world’s inhabitants.” “Environmental Leadership: A Reference Handbook” – Deborah R. Gallagher [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Grande Delta do Rio das Pérolas (GPRD na sigla em língua inglesa) é uma região de megacidade no sul da China, composta por Dongguan, Foshan, Guangzhou, Hong Kong, Huizhou, Jiangmen, Macau, Shenzhen, Zhaoqing, Zhongshan e Zhuhai como principais cidades na província de Guangdong, e duas regiões administrativas especiais de Hong Kong e Macau. O GPRD tem uma população de mais de cinquenta milhões de habitantes e abrange uma superfície de quarenta e três mil quilómetros quadrados. Além da província de Guandong e das Regiões Administrativas Especiais de Hong Kong e Macau, ainda engloba as províncias de Fujian, Jiangxi, Hunan, Guangxi, Hainan, Sichuan, Guizhou e Yunnan, representando na sua totalidade um quinto da superfície do país, um terço da sua população e do seu PIB. A sua população é similar à dos Estados-Membros da União Europeia. Tendo em consideração apenas a província de Guangdong como parte do GPRD, é de recordar que há aproximadamente vinte e cinco anos a província de Guangdong era constituída em grande parte por aldeias rurais subdesenvolvidas. A partir de 1991 tem-se produzido uma enorme transformação. A política de reforma e abertura da China teve um impacto dramático na sociedade e na economia nos últimos trinta e cinco anos, permitindo que o país entrasse numa era de rápido desenvolvimento. As regiões de megacidade, como o GPRD, são um dos precursores desta transformação. Mas esta rápida mudança levou a um desenvolvimento que não só é enviesado em termos de progresso económico, mas também criou uma sociedade com desigualdades e carências. O GPRD, economicamente, tornou-se uma fábrica de renome mundial, enquanto Hong Kong foi reestruturado como um centro de serviço regional, fornecendo indústrias com funções “frontend”, tais como pesquisa, marketing e distribuição. Uma divisão regional do trabalho, o modelo das “front shops, back factories” começou a tomar forma na década de 1990. O GPRD, em termos espaciais, como um todo tornou-se cada vez mais policêntrico e muitas cidades e vilas que antes eram áreas periféricas e rurais desenvolveram-se em centros económicos activos. A forma espacial policêntrica combinou-se com a ascensão do empreendedorismo urbano, resultando em um ambiente político em rápido desenvolvimento que incentiva as cidades a competir umas com as outras por mobilidade do capital. Ao contrário do que muitos defendem não se descortinam consequências indesejáveis da fragmentação política que estão a tornar-se cada vez mais agudas, bem como os impactos de Hong Kong e Macau, sob o modelo de um país, dois sistemas, possam vir a ser complicações adicionais a esta fragmentação. Assim, não será também de levar em conta que as fronteiras políticas impedem o planeamento coordenado, bem como socialmente, o GPRD tenha enfrentado desafios causados pelo aumento da população residente, que tem esmagado os governos locais. A inundação da migração rural para as áreas urbanas agravou a infra-estrutura nas cidades e levou a um tremendo crescimento de áreas urbanas mal preparadas, onde milhões de trabalhadores migrantes não têm acesso a serviços básicos. Há também uma necessidade urgente de enfrentar os problemas de uso generalizado da terra, expansão urbana, congestionamento do tráfego, saneamento deficiente e qualidade de vida em declínio em todas as cidades, especialmente naquelas que estão ameaçadas por crescimento rápido e frequentemente descontrolado, inadequado e mal conservadas infra-estrutura, industrialização e a crescente circulação de automóveis e motocicletas. A sustentabilidade na urbanização está estreitamente ligada à competitividade, especialmente a económica. No entanto, a competitividade não inclui o sucesso não económico ou aceita as consequências, como a polarização social e a poluição ambiental. O favorecimento do crescimento económico tem consequências sociais problemáticas mais amplas. Logo, o conceito de competitividade está a ser modificado para incorporar critérios sociais e ambientais, pois afecta a qualidade de vida. O estudo “Measuring the urban competitiveness of Chinese cities in 2000” de Yihong Jianga e Jianfa Shen, publicado em 2010, sugere que a competitividade global de Guangzhou entre 20 cidades chinesas está a cair devido ao menor desempenho social e ambiental. A competitividade de Guangzhou exige um equilíbrio do crescimento económico com o desempenho social e ambiental, o que, por sua vez, afecta significativamente a qualidade de vida. É importante referir neste contexto o “Programa Asiático de Incubação de Líderes Ambientais (APIEL sigla na língua inglesa) da Universidade de Tóquio, que se recomenda e propôs ajudar a entender esse equilíbrio. A APIEL é um programa educacional projectado para promover líderes ambientais, especialmente direccionados para questões de sustentabilidade na Ásia, em que parte do seu conteúdo descreve a estrutura e discute as circunstâncias sob as quais a teoria da actividade, pode ser usada para um programa de liderança ambiental, e para ajudar a construir uma melhor qualidade de vida nas cidades, dentro da região do GPRD, que se urbanizam rapidamente. Tal unidade assume a liderança ambiental como uma ferramenta para melhorar a qualidade de vida durante a rápida urbanização, bem como o desenvolvimento sustentável no GPRD. Além disso, essa unidade ilustra o uso da liderança ambiental para um futuro sustentável nas cidades do GPRD, utilizando a estrutura da teoria da actividade e estudos de casos, concentrando-se principalmente em domínios importantes para a qualidade de vida urbana, explorando o intrincado relacionamento com a urbanização, bem como são utilizados métodos baseados na teoria da actividade para conduzir a dita unidade e gerir os processos de colheita e análise de dados, concluindo com uma discussão da relevância e adequação da teoria da actividade como modelo para os problemas complexos actuais na promoção de futuros líderes ambientais. A teoria da actividade é sócia psicológica com raízes no trabalho do psicólogo russo Lev Vygotsky, realizado durante a primeira metade do século XX. A percepção importante de Vygotsky sobre a dinâmica da consciência, é de ser essencialmente subjectiva e moldada pela experiência social e cultural de cada pessoa. Além disso, o psicólogo viu a actividade humana como distinta de entidades não humanas. É mediada por ferramentas, sendo a mais significativa, a linguagem. A teoria da actividade teve várias influências posteriores, tendo actualmente como fundamento, a ideia de que as pessoas mudam ou aprendem quando se envolvem na actividade produtiva, e nessa actividade também mudam o seu sistema. A teoria da actividade para promover futuros líderes futuros sugere que a liderança ocorre através da interacção do líder com outros componentes de um sistema de actividade, como as ferramentas que têm disponíveis e as pessoas com quem interagem numa divisão de trabalho. A procura por um futuro sustentável tornou essencial a promoção de líderes ambientais, especialmente para a mediação entre as sociedades do conhecimento e a comunidade. Estudos têm mostrado três comportamentos que parecem relevantes para a liderança ambiental, como sejam os de articular uma visão atraente com elementos ambientais, mudar percepções sobre questões ambientais e tomar acções simbólicas, para demonstrar um compromisso pessoal com as questões ambientais. A APIEL relativamente ao GPRD enfatiza seis atributos para a educação em liderança ambiental, como a informação, ou a capacidade de encontrar, entender e transmitir a inclusão de informações necessárias ou ouvir e usar todas as habilidades e ideias disponíveis; a decisão ou definir e prosseguir uma agenda de acção; a expedição (acção), ou fazer as coisas agora, em vez de mais tarde; a definição de padrões, ou formular a definição de sucesso e a humanidade, ou usando empatia e humor a lidar com os outros. A APIEL, nos últimos anos, construiu redes amplas entre as universidades da Ásia. Os laços com a Universidade de Ciência e Tecnologia de Hong Kong (HKUST na sigla na língua inglesa) e a Universidade de Sun Yat-sen (SYSU na sigla na língua inglesa) cresceram fortemente através da realização de um exercício de campo denominado GRPD Unit durante três anos consecutivos. Durante o primeiro ano do programa (2010), usando estudos de casos, foram analisadas matérias relativas às questões ambientais e a necessidade de líderes ambientais na Ásia. Os temas amplos de discussão incluíram o ambiente, a necessidade de líderes ambientais, exemplos de liderança na Ásia, bem como um ambiente sustentável e gestão no GPRD. O programa nos anos seguintes focou o desenvolvimento urbano sustentável no GPRD, tendo sido discutidas a deslocalização urbana sustentável e a regeneração de regiões industriais. Desde que o GPRD é uma das principais regiões económicas no sul da China e um grande centro de manufactura, combinado com a economia em expansão e as influências ocidentais de Hong Kong, criou um portal económico atraindo capital estrangeiro para a China. Nesse âmbito, vários tópicos foram escolhidos para os participantes discutir, e ao fazê-lo, construir as suas habilidades de liderança. Os temas incluíram questões transfronteiriças e programas colaborativos para combater a poluição atmosférica regional e por sua vez, lidar com as alterações climáticas, a regeneração urbana e a deslocalização da indústria para o desenvolvimento sustentável no GPRD. Foram ainda revistas as abordagens que foram utilizadas para o desenvolvimento urbano do GPRD e as cargas ambientais relacionadas nas últimas três décadas, ou seja, as abordagens utilizadas na orientação do desenvolvimento urbano foram estudadas e discutidas. Além disso, o peso ambiental relacionado com as últimas três décadas foi estudado, tendo em Março de 2008, o ex-chefe executivo da Região Administrativa Especial de Hong Kong, Sir Donald Tsang Yam-kuen, proposto ao secretário do partido de Guangdong, Wang Yang, que os dois territórios deviam formar conjuntamente um “Círculo de Vida de Qualidade Verde no Grande Delta do Rio das Pérolas”. Os princípios norteadores foram a promoção da protecção ambiental e do desenvolvimento sustentável. O exercício foi realizado em 2012 e os estudos recaíram sobre o desenvolvimento urbano do GPRD, incluindo a formação urbana, a deslocalização da indústria, o desenvolvimento económico, a equidade social e a conservação da biodiversidade. A liderança ambiental é sobre crescimento pessoal ou mudança dentro de um grupo para orientar o desenvolvimento positivo em direcção a uma visão de um futuro ambientalmente amigável e melhor, pelo que encontrar assunto comum, negociação e cooperação são mais adequados para a maioria dos problemas complexos e de longo prazo enfrentados pelos líderes ambientais. Sendo o GPRD uma das regiões de maior desenvolvimento mundial e tendo a liderança ambiental um papel preponderante, é de considerar as futuras estratégias e políticas futuras neste âmbito.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasDesejos de mais luz Santa Bárbara, 26 Fevereiro Antero de Quental por Almada Negreiros, retrato patente na exposição da Fundação Calouste Gulbenkian [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]ontinuo sem perceber este preconceito em relação ao conto, que o desvaloriza como mero exercício literário entre a sublime poesia e o trabalhoso romance, que o arruma sem mais na prateleira das fracas audiências. Que género se aplicaria melhor ao ritmo de vida de hoje, ao nosso nível de literacia, ao tamanho do metropolitano de Lisboa? Ainda assim, há quem insista, por exemplo, em traduzir o cubano Virgilio Piñera, um dos grandes contistas latino-americanos, além de poeta, enfim, intelectual, a merecer leituras em cabal que inclui dramaturgia, romance, ensaio e percurso. Aliás, na lista de projectos, desesperante para apenas 24 horas em cada dia e uma conta bancária despida, tenho a edição do seu notabilíssimo La isla en peso, traduzido pelo Cabrita. Deixemos para depois o depois que acontecerá e concentremo-nos na certeza deste «O Grande Baro e Outras Histórias», com escolha e tradução de Rui Manuel Amaral, a partir de três volumes (de 1956, 1970 e no póstumo de 1987). O cubano cria ambientes claustrofóbicos, constrói exímias arquitecturas narrativas, esculpe íntimas personagens tendo o absurdo como pano de fundo, mas sustentando-se em uma cirúrgica atenção aos mecanismos do quotidiano. No beco sem saída dos dias, a escapatória pode estar no muro. A nenhum conto, maior ou menor, lhe falta a lógica interna de uma granada, com diálogos afiados, detalhes luxuriantes e olhar raiado de ironia. Leia-se pedaço d’«A Carne», que abre o cuidado volume (e rima com a contracapa). «Ali chegado, fez saber que cada pessoa deveria cortar da nádega esquerda dois bifes, em tudo semelhante a uma amostra de gesso que pendia de um reluzente arame. E declarou que deveriam ser dois bifes e não um, porque se ele próprio cortara da nádega esquerda um belo bife, convinha que a coisa avançasse a bom ritmo, isto é, que ninguém comesse um bife a menos. Assentes estes pontos, todos se dedicaram a cortar dois bifes das respectivas nádegas esquerdas. Era um espectáculo glorioso, mas que dispensa mais descrições». Detalhe de importância: assim começa a Snob, editora que absorve a livraria homónima de Guimarães, entretanto arrumada em caixas e tornada nómada pelo Duarte Pereira, com a cumplicidade da Rosa Azevedo. Procura, além de personalidade literária virada para raridades, estratégias outras de financiamento e circulação. Longa vida ao absurdo de editar! Santa Bárbara, 28 Fevereiro Perdido nas correrias, nem vi chegar a festa da carne. Não consegui a pausa, apenas o bálsamo de umas quantas páginas editadas por outros. A Anne, da Chandeigne, no meio da confusão da abertura da nova Librairie des éditeurs associés, teve tempo e gentileza para me enviar o encantatório álbum Le Chant du Marais, no qual Pascal Quignard vai de compor, com a ajuda ilustrativa de Gabriel Schemoul, uma perturbadora melodia sobre o desejo e a inveja. Um jovem cantor mata o seu concorrente sem com isso conseguir calar a voz que maravilhava a Paris do século XVI. Ainda parece ganhar com o sucedido, mas apenas o tempo necessário para que a armadilha se estenda em barroco esplendor. Schemoul põe a passar, em baixo contínuo, uma corrente de naturezas mortas, flores e raízes, restos, aqui um peixe, pequenos seres obreiros da decomposição, mariposas, ali um crânio. O fluxo passa por construções de carpintaria absurda, cruzamento de instrumento de tortura com exercício de geometria descritiva. Poderosa metáfora, a inveja feita máquina que se alimenta dos restos mortais do desejo. Nestas águas navega também «O Arquivo das Confissões – Bernardo Vasques e a Inveja», assinado pelo director do Hoje Macau. (Hesitei em escrever nestas páginas sobre ele, evitando mal-entendidos talvez morais. No espírito do diário, entendo dever obediência apenas aos apetites do dia, pelo que). Qual contador, são inúmeras as gavetas, portas, passagens e compartimentos secretos deste poderoso romance disfarçado de histórico, que fervilha de ideias. Pisando o chão do milenar confronto entre metades do mundo, possui como núcleo o projecto católico, centrado em Macau, de um arquivo de confissões destinado a facilitar o entendimento dos males do mundo. Dele se extrai caso exemplar, este de Vasques. Com ele andaremos por Coimbra, pelo desejo de partida, baloiçaremos em caravelas, instigaremos motins, conheceremos o exótico, o delírio, mas sobretudo o fel pestilento da inveja. Vasques rouba manuscrito de Camões e por ele se deixa devorar em crescendo. «Aquela obra era demasiado genial para lhe ser permitida a existência. Nós, os mortais, não aguentaríamos viver à sua sombra. Destruí-la seria um acto humanitário, uma bondade digna do grande amigo do Homem.» O achado desta narrativa, a pimenta desta viagem encontra-se na construção fantasmática de Camões, que nunca aparece estando omnipresente, magnífica e tóxica paisagem. Por instantes desfaz-se em volutas de perfume, quase sempre se ergue tornado arrasador. Causado sempre por aquele que em seu escravo se converteu. A inveja faz de nós escravos necrófagos. Biblioteca Pública, Ponta Delgada, 2 Março «Amem a noite os magros crapulosos,/ E os que sonham com virgens impossíveis,/E os que se inclinam, mudos e impassíveis,/ À borda dos abismos silenciosos…» O lançamento da Poesia Completa de Antero, na sua terra natal, aconteceu intenso por via do atentíssimo Luiz Fagundes Duarte, pelo olhar esclarecido de Leonor Sampaio, pelas leituras de Nelson Cabral, e as versões criadas por Ana Paula Andrade para a voz dos alunos do Conservatório Regional. Mas não consigo esquecer a carta. A Biblioteca, pela mão de Iva Matos e de Margarida Mota Oliveira, preparou pequena mostra de manuscritos e primeiras edições. E nela brilha com a luz do enigma uma simples missiva dirigida, como hoje, uma quinta-feira, «á noite», ao seu médico. «Peço-lhe o obséquio d’uma nova visita sua, amanhã, por qualquer hora que mais lhe convier, desde a uma da tarde até ao anoitecer. Sinto-me cada vez peor e desejaria ser novamente interrogado e examinado.» No dia seguinte, ao anoitecer, suicidava-se não longe daqui. Ajudará este volume a vencer esta morte? «Eu amarei a santa madrugada,/ E o meio-dia, em vida refervendo,/E a tarde rumorosa e repousada.//Viva e trabalhe em plena luz: depois,/Seja-me dado ainda ver, morrendo,/O claro sol, amigo dos heróis!» (de Mais Luz!)
Julie Oyang h | Artes, Letras e IdeiasO que tem a Primavera chinesa a ver com Picasso? 毕加索的山水画 Pois, realmente o que será? Vou começar por uma pessoa que quase ninguém conhece [dropcap style≠’circle’]G[/dropcap]uo Xi 郭熙 (1020 – 1090) foi um pintor chinês shanshui que viveu durante a Dinastia Song do Norte. Era um cortesão, um literato, um pintor culto que desenvolveu um sistema incrivelmente detalhado de pinceladas distintivas. Este sistema veio a revelar-se importante para artistas que vieram depois dele. Guo X- “Árvores velhas, distância nivelada” (1080) O que é uma pintura Shanshui. As pinturas Shanshui retratam montanhas e temas aquáticos e implicam um grande rigor na criação de um equilíbrio quase místico entre uma série de requisitos complexos, a composição e a forma. Todas as pinturas shanshui devem ter três componentes básicos: Os Trilhos – Os trilhos nunca devem ser a direito. Devem ser sinuosos como um curso de água. Este truque ajuda a dar profundidade à paisagem conferindo-lhe vários planos. O trilho, ou passagem, pode ser um rio, o caminho que o ladeia, ou um raio de sol que atravessa o céu sobre o dorso da montanha. Prevalece o conceito de nunca criar padrões inorgânicos, mas sim de mimar os padrões criados pela Natureza. O Limiar – Os trilhos devem conduzir a um limiar. O limiar está lá para nos receber e para nos dar umas especiais boas vindas. O limiar pode ser uma montanha, a sua sombra projectada no solo, ou o seu recorte contra o horizonte. A ideia é que a montanha, ou o que a contorna, sejam definidos claramente. O Coração – O coração é o ponto focal da pintura e todos os elementos devem conduzir-nos a ele. O coração define o significado do quadro. Cada quadro deve ter um único ponto focal e todas as linhas desenhadas devem levar-nos directamente para lá. Uma verdadeira pintura shanshui não deve representar a paisagem que o pintor viu, mas sim a paisagem que o pintor “pensou”. Ninguém quer saber se as cores e as formas do quadro são parecidas com a realidade. A pintura shanshui vai contra as ideias feitas sobre o que um quadro deve ser. Os quadros não são uma janela aberta aos nossos olhos, são uma janela aberta à nossa mente. A pintura shanshui é um veículo para a Filosofia. Guo Xi – “Primavera Antecipada” (datada de 1072)Colecção do Museu do Palácio Nacional, Taiwan Uma das obras Shanshui mais famosas de Guo Xi é a Primavera Antecipada, datada de 1072. Nela podemos ver as técnicas inovadoras na criação de múltiplas perspectivas, que ele designava por “ângulo da totalidade”, mas que também ficou conhecida por “Perspectiva Flutuante,” uma técnica que faz deslocar o observador e o seu olhar. As montanhas de Guo e os seus cursos de água primaveris são luminosos e sedutores como um sorriso… O jardim do Templo Ditoku-ji em Quioto, construído originalmente em 1509, é uma cópia viva das pinturas de Guo Xi, inspirado na estética da Perspectiva Flutuante. Para apreciar cada canto e cada pedra do jardim, o visitante deve deslocar-se à sua volta e mudar de posição. Aqui, o jardim passou a ser um modo de vida. Muitos anos mais tarde, quando ainda estava na China e andava no Liceu, vi pela primeira vez rostos e corpos femininos de Picasso e aí compreendi, de repente, o significado do “ângulo da totalidade” de Guo Xi.
Andreia Sofia Silva Ócios & Negócios PessoasHouse of Beijo, loja de vinhos e conservas | Douro, um amor tardio Natural de Hong Kong, Gordon Yue já importava vinhos de vários países, mas o sabor do néctar português não o fascinava. Um convite à região do Douro mudou tudo. Há dois anos abriu a House of Beijo, loja de vinhos, conservas e produtos de cosmética, por ser uma palavra que apela ao amor e à felicidade, juntamente com um copo na mão [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]ão foi amor à primeira vista. Até há quatro anos, Gordon Yuen não conseguia encontrar um único vinho português de que gostasse. “Sempre achei que o sabor era uma porcaria. De verdade. Naquela altura, quando vinha a Macau e tentava provar algum vinho, todos tinham um mau sabor”, contou ao HM. Um convite para ir à região do Douro acabou por mudar a sua percepção sobre os produtos e, hoje, a loja que Gordon Yuen possui na Calçada do Amparo, em Macau, obteve o nome graças a uma das zonas com mais história em termos de produção de vinhos. House of Beijo, ou Casa do Beijo, roubou o nome ao vinho “Quinta do Beijo”. “Recebi um convite para ir ao Douro, então pensei ‘nunca estive em Portugal e tenho aqui uma viagem grátis, com tudo pago’. Foi a primeira vez que fui ao Douro. Havia uma prova de vinhos e achei o vinho incrível. Não conhecia nada sobre aquela região, e comecei a partir daí a adorar esse vinho e a promovê-lo”, contou ao HM. As viagens a Portugal começaram a ser uma constante. “Vou ao Douro, a Lisboa, a várias zonas produtoras de vinho. Mas continuo a achar que o vinho do Douro é o melhor.” O português é que vende Durante a entrevista, Gordon Yuen foi à estante buscar uma garrafa de “Quinta do Beijo”, enquanto degustava um copo de vinho de outra nacionalidade. A razão? As fracas vendas dos vinhos franceses, americanos ou espanhóis na loja, e o sucesso do vinho português junto dos turistas. “Se abrisse a loja de novo não escolheria esta localização e levava a maioria dos vinhos para Hong Kong, à excepção dos portugueses e do vinho do Porto. São os melhores. Todos os clientes que chegam aqui, sejam da China, de Taiwan ou da Coreia, só procuram vinhos portugueses. Não sabem que há vinhos franceses ou italianos. Compram três e quatro garrafas. Os outros fazem-me perder tempo, acabo por ser eu a bebê-los”, apontou. O sabor das conservas Além das estantes cheias de garrafas de vinho, a House of Beijo tem também várias conservas, um sucesso junto de quase todos os turistas que por ali passam. Gostam da qualidade do produto, do sabor do peixe com os vários temperos. Há também produtos de cosmética para a pele e cabelo, vindos de França e feitos com ingredientes naturais. Voltando ao vinho, Gordon Yuen assegura que, na hora de vender para casinos e hotéis, é o vinho francês que acaba por ser sinónimo de qualidade e elegância dentro de um copo. “Quando os clientes vão jogar procuram mais esses vinhos”, aponta, referindo que a culpa é da falta de estratégia de marketing por parte dos portugueses. “O vinho francês é mais conhecido. O vinho português é muitas vezes considerado um vinho barato e nem todos os clientes VIP gostam. Um vinho francês é quase sempre considerado muito bom.” Os entraves Com as portas abertas há dois anos, e com o negócio de importação a correr sobre rodas em Hong Kong, Gordon Yuen explica que o volume de vendas na House of Beijo poderia ser maior. “Tenho de dizer que a localização desta loja não é a ideal, porque não há muita gente a passar por aqui. Está um pouco aquém das minhas expectativas. Se abrisse de novo não escolhia esta localização”, referiu. Gordon Yuen falou ainda dos entraves que podem existir na relação empresarial com os produtores portugueses. “Em Portugal, o estilo de vida é considerado mais importante do que o negócio. Se eu disser que quero este e aquele produto, dizem-me: ‘ok, está acordado’, mas três meses mais tarde continuo a não ter a minha encomenda. Não é fácil fazer negócio, sobretudo na área dos vinhos. Precisam de ter grandes encomendas para enviar aos importadores, para não ser tão caro, e precisamos de esperar.” Tudo isto é dito com o sorriso de quem ultrapassa as diferenças culturais na hora de negociar.
João Luz PolíticaElla Lei preocupada com trabalhadores que vivem na pobreza [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] deputada Ella Lei instou o Executivo a achar solução para as famílias que, apesar de empregadas, vivem no limiar da pobreza. Ao problema social acresce a ausência de salário mínimo em Macau e restrições no acesso a subsídios sociais. O problema de quem trabalha mas que, ainda assim, vive em situação de pobreza foi um tema tratado numa interpelação escrita dirigida ao Executivo. A deputada argumentou que um dos problemas nesta matéria é o facto de não existir um salário mínimo estabelecido para todos os sectores laborais. Neste momento, apenas “trabalhadores das áreas da limpeza e segurança na actividade de administração predial” têm um rendimento mínimo estabelecido, como se pode ler na interpelação. Ella Lei acrescenta que outro dos problemas prende-se com as restrições nas medidas provisórias do subsídio complementar aos rendimentos do trabalho. O problema é que só se aplica a quem tenha “completado 40 anos de idade, cumpra o número de horas de trabalho fixadas por mês e que seja trabalhador a tempo inteiro com um rendimento total inferior a 15 mil patacas por trimestre”, explica. A deputada considera que estas limitações deixam muitas pessoas de fora. Nomeadamente, famílias de trabalhadores de classes mais baixas que têm dificuldades para assegurar a subsistência do agregado familiar. Trabalhar para pouco Apesar dos apoios prestados pelo Instituto de Acção Social (IAS), Ella Lei considera que o Executivo deve pensar na situação das pessoas que ganham um pouco mais do que o índice que garanta as prestações sociais. Aquilo a que chama de “working poor”. Ella Lei é da opinião de que a sociedade deve incentivar a auto-sustentação das pessoas. “Portanto, o Governo deve definir políticas públicas para reconhecimento e apoio às famílias com baixos rendimentos, com vista a promover a sua motivação para trabalhar.” A deputada acrescenta que Macau devia tomar o exemplo de Hong Kong e “implementar o subsídio de apoio às famílias empregadas e com baixos rendimentos”. Esta medida tem como objectivo incentivar a auto-sustentabilidade e atenuar a transmissão intergeracional da pobreza. No mesmo sentido, a deputada acrescenta na interpelação que o IAS devia prestar apoio financeiro e colocar os serviços sociais ao dispor de famílias empregadas com baixos rendimentos.
Andreia Sofia Silva PolíticaTabaco | Comissão volta a analisar o diploma na Assembleia Há mais de seis meses que os deputados não se debruçam sobre a revisão do regime de prevenção e controlo do tabagismo, que prevê o fim das salas de fumo nos casinos. O regresso à análise na especialidade de um diploma polémico está marcado para a próxima terça-feira [dropcap style≠’circle’]É[/dropcap] uma lei cujo processo de revisão tem sido feito de avanços e recuos, mas parece que, desta vez, vão ser dados passos em frente. Há mais de seis meses que a 2.ª Comissão Permanente da Assembleia Legislativa (AL) não se encontra para analisar na especialidade o regime de prevenção e controlo do tabagismo, mas está agendada uma nova reunião para a próxima terça-feira. Esta sessão de trabalho decorre depois de o Governo ter mostrado abertura para a permanência de salas de fumo nos casinos, desde que com padrões mais rígidos. No período em que a análise na especialidade ficou em banho-maria, as operadoras de jogo tornaram públicos dois relatórios que comprovam que, afinal, as salas de fumo desempenham bem o seu papel. Do outro lado, as associações de trabalhadores do jogo têm refutado essas conclusões. A última vez que a comissão presidida pelo deputado Chan Chak Mo reuniu foi em Junho do ano passado. Nessa altura, foi referido que a elaboração de uma nova proposta iria atrasar os trabalhos, uma vez que sete deputados da comissão se mostravam a favor das salas de fumo e apenas dois estavam a favor da proibição total do tabaco nos casinos. Muitos consideravam então o documento de trabalho de revisão da lei “parcial”, pelo que se impunha a necessidade de prolongar a análise. “É para ser mais democrático. Há deputados que entendem que o memorando não está bem redigido porque não reflecte bem as suas opiniões”, referiu Chan Chak Mo na altura. Em Agosto, o deputado Au Kam San mostrou-se preocupado com a possibilidade de o diploma ficar esquecido nas gavetas do hemiciclo. Na altura, o HM questionou a Assembleia sobre o facto da discussão em torno do diploma estar parada, sendo que muitos deputados defenderam que a revisão não era prioritária. Ng Kuok Cheong, o seu colega de bancada, chegou mesmo a dizer que poucos gostariam de ver a revisão da lei avançar. As contradições Pelo meio falou-se de uma contradição: se na generalidade a revisão da proposta de lei passou com a aprovação da maioria dos deputados, no seio da comissão as opiniões revelaram ser diferentes. Numa ocasião pública, o deputado Leong Veng Chai frisou isso mesmo. “Na altura, a maioria dos deputados votou a favor mas depois, quando chegou à comissão, só dois deputados mantiveram essa opinião. Percebem a contradição?”, questionou. Em Fevereiro deste ano chegaram as declarações que, segundo o Governo, não representam uma reacção a pressões. “Se as salas de fumo forem bem instaladas e não afectarem os outros, então não há problema”, disse Alexis Tam, secretário para os Assuntos Sociais e Cultura. Resta saber quais as conclusões da próxima reunião da 2.ª comissão permanente da AL.
Isabel Castro Entrevista MancheteSérgio Godinho, músico e escritor: “Voltar é mesmo uma alegria” [vc_row][vc_column][vc_column_text] Regressar a cidades onde já se esteve é ter a sensação de que o mundo não é só a nossa casa. Sérgio Godinho está a caminho de Macau, desta vez como romancista, para participar no festival Rota das Letras. Ainda em Lisboa, contou ao HM como nasceu o primeiro romance, que relação é esta com um novo tipo de escrita, e falou do disco novo que sai depois do Verão. Um álbum com uma cinematográfica ligação ao território [dropcap]C[/dropcap]Como é que aparece este “Coração Mais que Perfeito”? Aparece um pouco na sequência, ao nível do ofício da escrita, do livro de contos que saiu há dois anos, “VidaDupla”. São nove contos nos quais descobri uma vontade de escrever e também uma linguagem própria, uma voz própria. Surgiu um pouco por acaso, porque me pediram um conto – que está no “VidaDupla” – e depois apeteceu-me continuar. Quando acabei, senti que tinha de me abalançar, no sentido de ter vontade e de ter esse ímpeto criativo, a algo de mais fôlego, mais extenso, em que estivesse mais tempo com as personagens, onde as criasse e elas convivessem comigo e crescessem, fossem aparecendo outras. O romance não tem muitas personagens: tem duas principais. Tem uma mulher, que é a personagem principal, e um homem que é muito importante para a acção. Depois, tem mais algumas – poucas – personagens. Mas foi esse fôlego mais longo no qual me abalancei durante ano e meio. Não sou pessoa que escreva muito por dia, mas todos os dias tenho vontade de escrever. Não me obrigo. E por isso foi um grande prazer. Como é que se passa da escrita da canção para o poema, que tem outra estrutura, para o conto e, de repente, para o romance, que implica um envolvimento muito maior com as personagens e com a construção da narrativa? Foi uma aventura nova para mim porque nunca tinha tido uma coisa de continuidade assim, com todo esse tempo de maturação da história, das personagens, dos novos acontecimentos que vou descobrindo à medida que vou escrevendo. Não tinha uma estrutura fixa à partida. Tinha uma ideia de condução do fio da narrativa mas, depois, muitas coisas aconteceram, felizmente. Não tinha o esquema todo feito. Agora, como é que se passa? Não se passa. Embora nas canções, muitas vezes, haja personagens e narrativas, são actos completamente diferentes. A escrita de canções, desde logo, joga duas formas de expressão – a música e as palavras, as frases. A música tem códigos muito estritos, tem harmonias, tem progressões harmónicas, tem estribilhos, geralmente, tem regras muito fixas, dentro das quais há uma grande liberdade. As palavras têm uma métrica muito própria, que tem de ser musical, e não é por acaso que começo geralmente pela música. As palavras, quando aparecem, estão já a espraiar-se numa determinada frase musical. E têm rimas, quase sempre, é raro não ter uma canção com rimas, até porque gosto delas. Depois, há a conjugação dessas duas formas de expressão, para que pareça uma coisa única. A grande vitória de uma canção é nós sentirmos que aquela letra e aquela música sempre conviveram, e não podiam existir uma sem a outra. É evidente que também tenho versões instrumentais e já publiquei textos das minhas canções, mas é sempre uma parte de um todo. O todo é a canção, é o objecto canção. Portanto, são abordagens completamente diferentes. A escrita de ficção é uma escrita que vai acontecendo continuamente e que se vai estruturando. Uma canção é uma peça de joalharia. Ou de relojoaria. “Coração Mais que Perfeito” é uma história de amor – e eu diria que não poderia ser de outra maneira. Eugénia é uma mulher que nos é apresentada através de um acontecimento trágico. Depois vamos voltar atrás mas, de facto, há um suicídio, embora não seja completamente expresso, de um grande amor – e foi um amor mútuo. O amor não se degradou, simplesmente o homem, o Artur, começou a ter um processo de decadência psíquica em que vai perdendo o pé e ninguém o pode agarrar. E quem é esta Eugénia? “Fala de ti própria, Eugénia”, lê-se no primeiro capítulo. Eugénia é uma mulher forte – é uma sobrevivente –, embora os seus valores não sejam sempre os mais recomendáveis. Ela não é um exemplo, mas também não é um livro pedagógico, não tem de ser uma personagem exemplar. É uma mulher cheia de defeitos, os valores dela são fortes mas, por vezes, também são um pouco voláteis. Não tem muitas referências: a mãe não é referência para nada, o pai desaparece muito cedo, e ela vai vogando na vida sem grande rumo. Os trabalhos dela não têm um fito profissional, ela vai vivendo as coisas. Mas vai vivendo com intensidade. Há uma altura em que resolve prostituir-se, durante pouco tempo, porque sim, porque uma amiga o faz e ela tem uma certa atracção por isso, por experimentar – mas, a certa altura, aquilo corre mal. É o contrário dele: ele é um actor, que esteve na escola de teatro, que sempre teve um fito na vida. Quando comecei a construir as personagens, não descobri logo o que é que ele faria, qual seria a sua profissão, porque achei que deveria ter uma profissão que o interessasse. A personagem do actor sempre me interessou porque eu estou a criar personagens – no fim de contas, estou a ser um dramaturgo. E o actor, à sua maneira, está a criar personagens – já existem, mas está a dar-lhes o seu corpo, a sua intenção, a sua voz estilística. E esse sim, é mais próximo de mim, porque também já fiz trabalho de actor e achei que esse desdobramento de uma vida noutras vidas era interessante. Como se verá, é também por essa outra vida que tem que ver com o teatro que ele começa a perder o pé psiquicamente. Depois fica mesmo psicótico, mas é um processo longo, que ocupa a segunda parte do romance. Esse desdobramento de uma vida noutras vidas acontece também no segundo romance, que já está escrito? Não. É outra coisa, é um assunto completamente diferente. Está escrito. Daqui a um ano, espero, falaremos outra vez, mas não. É um assunto diferente, um romance mais concentrado, no sentido em que tem quase exclusivamente duas personagens e, a dois terços do livro, aparece uma terceira. É mesmo outro assunto. Este assunto passa-se ao longo de vários anos, num período extenso de tempo, e o outro não. O terceiro [livro] está parado porque estou a canções. Este ano sairá ainda um novo álbum, lá para Setembro. Sobre esse novo disco, o que é que já está pensado? O disco vai ter várias parcerias musicais. Já aconteceu, nalgumas canções, outros compositores fazerem as músicas e eu fazer as letras todas – desde as colaborações brasileiras aos Clã, com “O Sopro do Coração”, que tem música do Hélder Gonçalves e letra minha. Aqui, quis levar um pouco mais longe isso e, portanto, há canções que vão estar neste disco em que a música não é minha, mas em que estou a fazer também esses casamentos. Há duas canções – e essas são letra e música minha – que são originalmente do filme do Ivo Ferreira que está a ser rodado aí em Macau, e que são cantadas no filme pela Margarida Vila-Nova. O filme tem três canções minhas – duas delas, vou cantar à minha maneira no álbum. Há quase seis anos, quando falámos a propósito dos 40 anos de carreira, dizia que tinha vontade de voltar a Macau. Na altura, não era algo que estivesse em perspectiva. Depois disso, já houve dois convites e uma participação num filme que está a ser rodado aqui. Macau está a entranhar-se cada vez mais. É a sexta vez que vou a Macau. A primeira vez que fui, Macau era muito diferente, como é evidente. Foi em 1990. A Fundação Oriente convidou-me e fiz aí um concerto, depois também fomos a Goa e a Pangim, fui para a abertura oficial da delegação. Na altura, o Lisboa era o grande casino e depois havia os casinos flutuantes. Depois, há quase 12 anos, estive no Festival de Artes de Macau, mas entretanto tinha voltado lá. Estive no 10 de Junho há dois anos e agora regresso. Macau está a tornar-se cada vez mais familiar, porque vou conhecendo gente, outras pessoas com quem me cruzo. Estou muito curioso em relação ao festival Rota das Letras. Há dois anos, tinha estado com o Hélder Beja e o Ricardo Pinto, que tinham manifestado a vontade de ir ao festival e o aparecimento do romance propiciou isso. É mesmo com alegria que volto a Macau. Gosto muito de voltar aos lugares que vou conhecendo, ver o que está intacto, o que mudou, passear por ruas que já me foram familiares. Gosto muito de descobrir lugares, mas também gosto muito de voltar. Estive no início do ano no Rio de Janeiro, um lugar onde tenho onde ficar, em casa de amigos, que é uma cidade extremamente familiar e é muito bom tornar a calcorrear aquelas ruas. É a sensação de que o mundo também nos pertence. Sou um observador do que está à volta – observador em todos os aspectos, até no criativo – e voltar a Macau é mesmo uma alegria.[/vc_column_text][vc_cta h2=”Palavras e música no Rota das Letras” h2_font_container=”font_size:40px” h2_google_fonts=”font_family:Oswald%3A300%2Cregular%2C700|font_style:300%20light%20regular%3A300%3Anormal” h2_css_animation=”none” shape=”square” style=”flat” color=”chino” use_custom_fonts_h2=”true” css=”.vc_custom_1488974315816{margin-bottom: 0px !important;border-top-width: 1px !important;border-right-width: 1px !important;border-bottom-width: 1px !important;border-left-width: 1px !important;padding-top: 20px !important;padding-right: 20px !important;padding-bottom: 20px !important;padding-left: 30px !important;border-radius: 1px !important;}”]A primeira intervenção de Sérgio Godinho no festival literário de Macau está marcada para o próximo domingo, dia 12. Às 19h, no edifício do antigo tribunal, é apresentado o livro “Coração Mais que Perfeito”. No dia seguinte, no local que serve de sede ao Rota as Letras, pelas 18h, participa numa sessão com o autor guineense Abdulai Silá, em que vai estar em discussão o papel do escritor na construção da identidade nacional. Sérgio Godinho vai ainda participar nas sessões destinadas aos mais novos: na segunda-feira, está na Escola Portuguesa e, no dia seguinte, na Escola Luso-Chinesa Luís Gonzaga Gomes. Na quarta-feira, o escritor de canções sobe ao palco do teatro do Venetian, para um concerto que começa às 20h30. O músico vem acompanhado pelo pianista Filipe Raposo.[/vc_cta][/vc_column][/vc_row][vc_row][vc_column][/vc_column][/vc_row]
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaInstituto do Desporto em silêncio sobre processo de adesão ao Comité Olímpico Depois de o Chefe do Executivo ter dito que Macau aceita o facto de não ser um Estado soberano para pertencer ao Comité Olímpico Internacional, o Instituto do Desporto nada diz sobre o que tem sido feito nesse sentido desde 2007. Resta a promessa de participação em eventos do Conselho Olímpico da Ásia [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Instituto do Desporto (ID) não adianta qualquer informação sobre as etapas que têm sido levadas a cabo na tentativa de adesão de Macau ao Comité Olímpico Internacional (COI). O HM quis saber o que tem sido feito nos últimos dez anos, bem como se Macau iria mesmo “desistir” do processo de adesão ao COI, após as declarações do Chefe do Executivo, Chui Sai On. Contudo, o ID apenas afirmou que os atletas locais e as instituições desportivas vão continuar a participar em eventos sob alçada do Conselho Olímpico da Ásia (COA). “O ID vai continuar o seu esforço no apoio ao desenvolvimento do desporto em Macau e, enquanto membro do COA, Macau vai participar de forma activa nos eventos por si organizados e em outras competições internacionais. [Tal irá] providenciar o desenvolvimento do desporto local, o qual irá realizar-se com condições favoráveis por forma a atingir novas metas de desenvolvimento”, explicou o organismo ao HM através de resposta escrita. Esta segunda-feira, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, Chui Sai On disse que a RAEM “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”. Hong Kong que, tal como Macau, não é um país, faz parte do COI desde 1951. Mais do mesmo Da parte do ID, nada mais há a acrescentar à história oficial que já se conhece. “No seguimento da criação do Comité Olímpico de Macau, em 1987, foi submetida a candidatura de adesão ao COI e ao COA. Enquanto que a candidatura ao COA foi aprovada em 1989, a revisão dos estatutos do COI feita em 1996 significou que apenas ‘Estados independentes’ seriam reconhecidos, e Macau não poderia ser aceite como membro do COI.” Em declarações ao HM, Manuel Silvério, antigo presidente do ID, considerou que as palavras do Chefe do Executivo não representam a total desistência da RAEM, tendo dito ainda que, em 2007, o território estava prestes a fazer parte do COI. “Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou Manuel Silvério.
Isabel Castro Manchete SociedadeCasinos | Trabalhadoras dizem-se discriminadas na progressão profissional Estão em maioria, mas não são elas as escolhidas quando chega a hora de subir na carreira. As funcionárias do sector do jogo queixam-se de discriminação e dizem que não é fácil conjugar turnos e família. As ideias foram deixadas num colóquio para assinalar o Dia Internacional da Mulher Com Vítor Ng [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]s mulheres que trabalham na principal indústria do território continuam a sentir-se discriminadas em relação aos homens, apesar de estarem em maioria. Além disso, dizem ter dificuldades na conciliação da profissão com a vida familiar, devido ao trabalho por turnos. Depois, há ainda a falta de flexibilidade das entidades patronais durante a gravidez. Estas foram algumas das queixas ouvidas ontem num colóquio organizado pela Associação Aliança de Povo de Instituição de Macau, uma iniciativa liderada por Song Pek Kei, deputada à Assembleia Legislativa e vice-presidente da organização. Em debate estiveram assuntos relacionados com a vida e o trabalho das funcionárias dos casinos – o objectivo foi oferecer uma plataforma para que os problemas possam ser discutidos. Ao HM, Song Pek Kei explicou que espera que, através das opiniões deixadas, se incentive a criação de um mecanismo de protecção e estratégias de apoio para que se possam resolver os dilemas dos trabalhadores do jogo, sobretudo do sexo feminino. “Nos dias que correm, as mulheres, além do trabalho, precisam de cuidar da família. Por isso, o stress que têm pode ser muito grande”, apontou a deputada. “A indústria de jogo é a parte principal da economia de Macau e há muitas mulheres que trabalham como croupiers”, acrescentou. “Como sabemos, os croupiers trabalham por turnos. As mulheres têm um stress maior, uma vez que têm de conciliar o trabalho e a família”, sublinhou Song Pek Kei. Grávidas com turnos De acordo com os dados deixados no debate, em meados do ano passado havia 55.708 funcionários a tempo inteiro no sector do jogo, com as mulheres a ocuparem 56,4 por cento dos postos de trabalho. Do total, 92,7 por cento de trabalhadores dos casinos estavam sujeitos ao trabalho por turnos. Song Pek Kei explicou que as funcionárias grávidas têm mais problemas relacionados com a saúde por causa do trabalho. “Algumas delas esperam que as operadoras possam ajustar, de forma flexível, as funções que podem desempenhar”, contou. A ideia é garantir às mulheres grávidas um horário laboral fixo, sem estarem sujeitas a turnos. Este sector da população activa também sente dificuldades na conciliação do trabalho com os filhos. Mais uma vez, são os turnos que criam obstáculos. “Algumas mães não conseguem ter um contacto constante com as crianças porque, quando chegam a casa, os filhos já estão a dormir. Por isso, não conseguem ter tempo suficiente para as crianças, o que poderá ter consequências para a relação entre mães e filhos”, observou. Não são só as questões familiares que preocupam as mulheres. “De facto, hoje em dia muitas delas apontam a questão da ascensão profissional, porque alguns chefes preferem dar aos homens a oportunidade de progressão na carreira”, lamentou Song Pek Kei. “As trabalhadoras do sector do jogo querem que as empresas lhes dêem possibilidade de frequentarem acções de formação e ajustem os horários de modo flexível, porque algumas delas não conseguem assistir a estes cursos por causa da família.”
João Luz EventosBienal de Veneza | James Wong leva a Itália “O Bonsai dos Meus Sonhos” Foi apresentada uma mostra do trabalho de James Wong que vai representar Macau na 57.ª Exposição Internacional de Artes – Bienal de Veneza 2017. O artista plástico leva à reputada exposição um conjunto de trabalhos intitulados “O Bonsai dos Meus Sonhos” [dropcap style≠’circle’]N[/dropcap]o sentido contrário da viagem de Marco Polo, James Wong vai do Oriente à conquista de Veneza. São hoje expedidas para Itália 17 peças do artista local a fim de representar Macau na 57.ª Bienal de Veneza. “Espero que todas as peças cheguem em segurança”, comentou à margem da apresentação de uma pequena amostra dos trabalhos que vai mostrar no prestigiado certame. As peças que leva a Itália são, sobretudo, tridimensionais. As esculturas dominam a colectânea, onde também pontificam fotografias, quadros e instalação. O título da exposição, “O Bonsai dos Meus Sonhos”, aponta para um cenário onírico que reflecte o desejo da vida ascética, simples e plena de elegância. A peça principal, que dá título à colecção, é a representação de uma cabeça cortada por um jardim numa das vistas emblemáticas da cidade. “É um reflexo da minha sensação pessoal de Macau, da sua evolução, do espaço onde nos movemos que está cada vez mais tenso e estreito”, desvenda James Wong. Assim sendo, o artista procurou mostrar nesta escultura o desejo de criar “um pequeno jardim, ou um bonsai, a crescer na cidade, um lugar” para onde se possa retirar, comenta. Esta peça surgiu naturalmente, uma vez que o criador gosta de subir à Colina da Penha, em especial à noite, e deixar que a inspiração lhe surja da vista da cidade. Do clássico ao moderno Uma das inspirações centrais para o conceito da colecção é o classicismo chinês, daí não ser de estranhar que um dos fios condutores transversais sejam as descrições no clássico chinês Shan Hai Jing (Clássico das Montanhas e dos Mares). James Wong retirou destes escritos ancestrais informação sobre religião, história e geografia da China Antiga de há dois milénios. Este foi o veio condutor, assim como a imaginação do autor influenciado pelas vistas e as vivências de Macau. O artista tinha esta exposição guardada no seu imaginário, a apurar, há anos. “Já tinha tido as ideias originais há muito tempo”, estavam espalhadas em livros de anotações, foi apenas uma questão de as escolher e torná-las físicas. Nesse aspecto, James não trabalhou com os materiais que queria, ferro, por exemplo, que levariam a que algumas peças pudessem chegar às duas toneladas. Dessa forma, a criação teve de respeitar todos os aspectos logísticos do local onde será exposta. James Wong passou dois meses a preparar esta exposição. O curador do Museu de Arte de Macau, Ng Fong Chao, revela que o artista é influenciado pela ambivalência da cidade, onde se podem encontrar “cultura ocidental e oriental”. “Podemos encontrar vestígios de clássicos asiáticos, assim como traços de catolicismo no seu trabalho, vistos, por exemplo, nas vestimentas das esculturas que se assemelham às dos missionários católicos”, explica o curador. A exposição que James Wong leva a Veneza expressa o seu ponto de vista destes dois mundos que se intersectam, filtrados pela visão e experiência do artista. O Pavilhão de Macau na Bienal estará aberto de 13 de Maio a 12 de Novembro.
Hoje Macau SociedadeSegurança | Entrou em vigor novo sistema de alerta de viagens Macau passou a ter um novo sistema de alerta para os cidadãos que queiram viajar. O objectivo é permitir aos residentes obterem informações sobre as condições que vão encontrar nos destinos que pretendem visitar [dropcap style≠’circle’]Q[/dropcap]uem mora em Macau passou a poder planear melhor as suas férias, ou deslocações de trabalho, em segurança, com a entrada em vigor do sistema de alerta de viagens. É pelo menos essa a expectativa do Governo, com a revisão do esquema de alerta de viagens. O sistema é gerido pelo Gabinete de Gestão de Crises do Turismo (GGCT) e tem como objectivo permitir, de forma fácil, disponibilizar informação relativa a situações de crise, emergência ou catástrofe que afectem diferentes partes do mundo. Desta forma, quem viaja pode tomar decisões com maior consciência da situação no terreno. O dispositivo cobre os 77 países, ou destinos de viagem, mais procurados pelos residentes de Macau, categorizando-os em três níveis diferentes, e progressivos, de perigosidade. Num primeiro nível de gravidade os residentes que estejam prestes a viajar para o destino em questão, ou que lá se encontrem, devem manter-se alerta quando à sua segurança pessoal. Neste patamar é sugerido que se mantenham atentos ao desenvolvimento dos acontecimentos potencialmente perigosos para o seu bem-estar. Outros níveis O segundo patamar de alerta representa um aumento do grau de ameaça à segurança pessoal do viajante. Neste nível de perigosidade é aconselhado aos residentes de Macau que reconsiderem a viagem. Aliás, todas as deslocações ao país em questão que não sejam essenciais devem ser evitadas. O nível três é o que representa uma ameaça pessoal extrema para os viajantes. Neste estágio de perigosidade é aconselhável que as pessoas compreendam a gravidade da situação e da assistência oficial que pode ser prestada em casos de necessidade de ajuda eminente. Para estes destinos, o GGCT sugere que se cancelem as viagens ou que quem lá esteja abandone o local de imediato. As situações de segurança que este sistema de alerta abarca são o terrorismo, situações extremas de condições meteorológicas adversas, conflitos políticos e armados, ou questões relacionadas com a saúde pública. Além da precaução no planeamento das viagens, o GGCT aconselha o uso dos seguros de viagem, com opção de cobertura para o Sistema de Alerta de Viagens da RAEM e evacuação médica de emergência internacional. Os residentes que estejam em processo de planear uma viagem, se se quiserem precaver, podem consultar o sistema de alerta no site do GGCT. Acrescente-se que os alertas são meramente consultivos, pelo que fica ao critério de cada um segui-los ou não.
Hoje Macau China / ÁsiaEmpresas europeias denunciam favorecimento chinês às firmas locais [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Câmara do Comércio da União Europeia (UE) na China denunciou ontem o favorecimento dado pelo Governo chinês às empresas locais, em prejuízo das firmas estrangeiras, no seu projecto de modernização da indústria nacional “Made in China 2025”. Num comunicado publicado na terça-feira, em Pequim, o grupo reclama um tratamento igual para todas as empresas, independentemente do país de origem, em cumprimento com a lei chinesa. A iniciativa “Made in China 2025” foi lançada em Maio de 2015 para potenciar o desenvolvimento de sectores considerados estratégicos pelas autoridades para o futuro da economia chinesa, como a robótica ou a biomedicina. Segundo a Câmara do Comércio, o plano de modernização da estrutura industrial da segunda maior economia do mundo supõe investimentos de centenas de milhões de euros. “O aparecimento (do conceito) de ‘inovação indígena’, em conjunto com referências à necessidade de alcançar a ‘auto-suficiência’ é particularmente importante”, lê-se no relatório. “Sugere que as políticas chinesas vão distorcer a paisagem competitiva a favor das firmas domésticas”, explica. A mesma nota denuncia que algumas empresas europeias tiveram “problemas” ao participarem naquele plano, como fabricantes de automóveis que produzem veículos movidos a “novas fontes de energia” e que foram pressionados para “ceder” tecnologia avançada, como condição para entrar no mercado chinês. Outras queixas O relatório advertiu ainda que os subsídios de Pequim ao sector da robótica “estão a contribuir para gerar excesso de capacidade” nos segmentos médio e baixo e que, para algumas firmas europeias do sector das tecnologias de informação, o acesso ao mercado chinês “se tornou ainda mais difícil”. A Câmara de Comércio da UE lamentou também que a implementação desta estratégia industrial não siga os princípios da economia de mercado e que os funcionários chineses tenham escolhidos eles mesmos os sectores que acreditam que vão conduzir a economia chinesa no futuro. No entanto, o grupo empresarial reconheceu que o plano “apresenta oportunidades atractivas para algumas empresas europeias” e que muitas destas se associaram com firmas locais para proporcionar componentes e tecnologia.
Hoje Macau China / ÁsiaPyongyang proíbe cidadãos da Malásia de saírem do país [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Coreia do Norte anunciou ontem que proíbe todos os cidadãos da Malásia de saírem do país até que o caso do homicídio do meio-irmão do líder norte-coreano em Kuala Lumpur “se resolva adequadamente”. A Malásia acusa Pyongyang de fazer dos malaios “reféns” e reagiu com outra interdição, proibindo a saída de diplomatas norte-coreanos. O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Coreia do Norte notificou a embaixada da Malásia em Pyongyang de que não permitirá a saída a nenhum malaio do país, até que seja garantida a segurança dos cidadãos norte-coreanos na Malásia. O anúncio surge um dia depois de Pyongyang ter declarado o embaixador da Malásia na Coreia do Norte persona non grata, em represália pela expulsão do seu embaixador na Malásia, Kang Chol, ordenada por Kuala Lumpur no passado sábado depois das suas críticas à investigação pelo homicídio de Kim Jong-nam, meio-irmão de Kim Jong-un. Kim Jong-nam, meio-irmão do líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, foi assassinado, a 13 de Fevereiro, por duas mulheres que, segundo as autoridades malaias, lançaram veneno VX contra o seu rosto, provocando a sua morte poucos minutos depois Na quinta-feira, um emissário da Coreia do Norte enviado à Malásia para reclamar o cadáver de Kim Jong-nam negou que este tenha sido assassinado com veneno e atribuiu a sua morte a um ataque de coração. Pyongyang defende que a morte foi causada por um ataque cardíaco e acusou as autoridades malaias de conspirarem com os seus inimigos. Resposta malaia Em resposta, as autoridades da Malásia anunciaram que os funcionários diplomáticos da Coreia do Norte estão impedidos de abandonaram o país. “Nenhum oficial ou funcionário da embaixada da Coreia do Norte está autorizado a abandonar o país”, refere o Ministério do Interior da Malásia em comunicado. Os cidadãos da Malásia estão reféns na Coreia do Norte, disse ontem o primeiro-ministro, após Pyongyang ter proibido de sair do país todos os malaios no âmbito da disputa sobre o homicídio do meio-irmão do líder norte-coreano. “Este acto é horrendo, os nossos cidadãos estão efectivamente a ser mantidos reféns, em total desrespeito de todas as leis e normas internacionais diplomáticas”, disse o primeiro-ministro da Malásia, Najib Razak em comunicado. Najib Razad exigiu a libertação imediata de todos os cidadãos malaios retidos na Coreia do Norte e convocou uma reunião de emergência do Conselho de Segurança Nacional.
Andreia Sofia Silva Entrevista MancheteRaquel Ochoa, autora da biografia de Manuel Vicente: “O seu génio era, por natureza, caótico” No meio dos esquissos pragmáticos fazia poesia e filosofia, buscava eternamente um desconhecido para o conhecer e criar uma outra coisa. A paixão pela arquitectura durou até ao fim, tal como o lado pop que marcou um génio “irrepetível”. O livro “Manuel Vicente: A Desmontagem do Desconhecido” é hoje apresentado no edifício do antigo tribunal, no âmbito do festival Rota das Letras [dropcap]C[/dropcap]omo é que chegou a Manuel Vicente e à possibilidade de escrever a sua biografia? É uma aventura com muitos anos, porque escrever sobre Manuel Vicente é tudo menos fácil. Não é uma pessoa com um carácter e um percurso linear. Nenhum ser humano é, mas o Manuel Vicente destaca-se. O seu génio era, por natureza, caótico. Ele costumava dizer que a maneira de se ordenar era utilizando aquelas grelhas que ele usava muito na sua arquitectura. Quanto ao resto não seguia um padrão, não tinha uma forma de querer agradar a um qualquer parâmetro. Começámos este trabalho com o apoio do Centro Cultural e Científico de Macau. Um amigo que foi aluno dele, o Sérgio Xavier, disse-me: ‘Tu que escreves biografias vais adorar o meu professor, que é um homem que eu adoraria que alguém que não tem nada que ver com a arquitectura tentasse capturar a sua personalidade’. Fui um pouco sem saber ao que ia, mas fiquei imediatamente convencida. Comecei então a entrevistar Manuel Vicente, a conhecer alguns dos seus amigos. Isto durou dois anos e nunca pensámos que iria demorar tanto tempo a ser publicado o livro. O que levou a isso? Ele adoeceu e, antes disso, estava com trabalho e menos tempo. Por causa da doença afastámo-nos, ele afastou-se de toda a gente. Após a morte dele demorei a encontrar a finalização do projecto. Porquê? Este trabalho não é uma biografia, chamo-lhe ensaio biográfico. Se estava pensado para ser uma biografia, não pôde ser no final devido à sua partida. Houve histórias que ficaram por contar. O meu trabalho não ficou completo e tinha de assumir um risco. Ou finalizava a biografia com um método que não é o meu ou tinha de chamar-lhe outra coisa, e torná-lo num documento interessante e importante para entender a vida de Manuel Vicente. Aí foi essencial a aproximação e interesse de Rui Leão, que foi seu colega e que o conheceu muito bem. Deu-me algum apoio e a sua equipa direccionou-me onde estava perdida. Depois fiz várias entrevistas e pude completar esta biografia. Tive acesso a um trabalho do Bruno Alves, que fez uma tese de mestrado sobre o arquitecto. Que Manuel Vicente podemos ter no livro? Vamos ter o homem caótico ou o arquitecto que gosta de pop art? É uma pergunta à qual é difícil responder. Sempre quis mostrar o Manuel Vicente íntimo, que não era nada fácil. O meu foco não é, de todo, a arquitectura. Esta aparece porque é a linguagem dele, é a maneira como ele se projecta na sua construção como pessoa. Percebo pouco ou nada de arquitectura e, aliás, a feitura deste livro muda-me completamente a visão que tenho sobre ela, sobre as cidades. As conversas com ele alteraram também a minha maneira de olhar o mundo. Há uma alteração entre a Raquel que não conhece o Manuel Vicente e a Raquel que passa a conhecê-lo. Fascina-me o carácter, o pensamento filosófico. O que me interessou partilhar foi: porque é que este homem consegue pensar desta maneira. Ele próprio era uma pessoa do mundo. Muitos consideram-no um arquitecto de Macau, mas ele não gostava muito dessa designação. Não posso com toda a certeza dizer que não gostava, mas posso dizer que ele se via como um arquitecto do mundo. E com muito mundo. Essa é uma das facetas que tento ao máximo apresentar de uma forma muito simples, contando episódios passados em várias partes do mundo e as pessoas que o influenciaram. Uma das coisas que mais gosto de fazer na vida é viajar e identifiquei-me muito com o Manuel Vicente viajante. Há episódios incríveis na vida dele. Há um episódio em que ele tem a oportunidade de dar quase a volta ao mundo durante seis ou sete meses. A primeira mulher está grávida e, por um acidente de percurso ele perde um transporte, e quando chega à maternidade a mulher já tinha tido o filho. Obviamente ela não gostou, ele conta isto com imensa pena, mas este episódio revela bem o viajante que Manuel Vicente era e também o que é viajar: faz-nos também perder muitas coisas. Até ao fim da vida, lidou com as consequências de ser um viajante e de não ser um homem que assentou só num sítio. Falo nomeadamente da dificuldade que é estudar a obra arquitectónica dele, que é uma obra dispersa. Que pessoa foi o Manuel Vicente que não está espelhada nos edifícios que desenhou? Há outro lado? Sem dúvida. Qualquer pessoa que tenha tido a oportunidade de privar com ele entende essa espontaneidade com que ele falava e se incorporava nas coisas. Ele tinha uma forma de ver esta planta que aqui está numa rua, numa cidade, num projecto. Tinha uma maneira de emergir nas coisas. Incorporava-se nas coisas com um mergulho completamente louco, de uma maneira incansável. São épicas as histórias dos seus ateliers, em que todos viviam praticamente neles. Ele impunha esse ritmo, mas aquilo era uma festa, não era nada imposto. Esta é talvez a faceta mais conhecida dele, a maneira fogosa com que ele vivia as coisas. Para mim, o mais interessante foi captar tudo isso em discurso directo. É ouvir a maneira como ele sussurrava as coisas. Em pormenores tentei ao máximo trazer essa voz dele, dos tempos que precisava para começar a falar das coisas. Não o vejo ou nunca o vi como arquitecto, como os outros olham para ele e têm um enorme respeito pela sua arquitectura. Entendo esse respeito, mas o que me fascinou foi o pensador Manuel Vicente. A maneira como ele pensa sobre a construção de uma identidade, de um povo. Quando pensamos na arquitectura pensamos em algo estático, com números, linhas, e ele ia além disso. Ia além desse pensamento pragmático. Sim. Ele tinha uma objectividade que é clara nas suas obras, mas era dentro dessas linhas que ele criava poesia. Eu também o via como poeta. Estava sempre a fazer grandes anotações de frases que ele dizia e que eram autêntica poesia. Confesso que vi o meu trabalho inacabado, mas chegámos a um produto final que vale a pena. Não é por acaso que não existem milhares de biografias sobre ele. É muito difícil encontrar um fio condutor para a história da vida dele. Era um homem de uma errância em relação ao pensamento e espaço físico onde viveu, e à própria arte que praticava. Ele recebeu influências de arquitectos também eles completamente erráticos e fora do sistema, e tudo isso é difícil de compilar e colocar numa obra biográfica. Nessas conversas como surgia Macau? Surgia de forma espontânea, era um território que lhe dizia muito? Macau surgiu nas nossas conversas constantemente. Não houve uma conversa em que Macau não surgisse. Era muito giro, porque ele tinha várias Macau na sua vida. Tinha a Macau que guardava de forma cinematográfica na sua cabeça, do período em que chegou [ao território], daquilo que foi a primeira grande paragem em termos profissionais. Depois tem a fase de Macau de grande trabalho e intervenção na cidade. Depois há uma terceira Macau, de fazer o seu trabalho olhando para as condições políticas que aqui existiam. [Desse período] também tem bastantes histórias para contar, mas sempre reservado. Muitas das informações nem surgem em discurso directo, mas sim com base em jornais. Há depois uma última Macau, quando ele tem cá o atelier, mas está baseado em Lisboa. É a Macau em que tudo o que ele é e sente vem daqui mas, ao mesmo tempo, com algumas amarguras, nomeadamente a história do Fai Chi Kei. Quando demoliram o complexo de habitação pública. Ele tem um episódio que acho curial. Quando lhe perguntei o que achava desta demolição, conta que, durante os primeiros anos de Macau, houve alguém que tentou alterar a fachada de um edifício que ele tinha feito e que aquilo o transtornou por completo. Aí era o Manuel Vicente ainda jovem. Ele disse-me isso de uma maneira muito gira: ‘A minha tensão arterial foi para um nível que nunca mais saiu de lá. Percebi nesse momento que as minhas obras são as minhas obras, e eu sou eu’. Então, em relação ao Fai Chi Kei, ele dizia que era uma pena, mas que as cidades evoluem. Que lhe custava, mas que não ia pensar muito nisso. Que outras mágoas levou de Macau? Ele não era um homem de muitas mágoas. Esta é a resposta politicamente correcta, mas é verdadeira. Ele era um homem que respirava a projectar e dizia que a vida dele era fazer arquitectura. A única mágoa dele foi talvez não lhe terem dado mais trabalho. Acredito que o projecto da Expo 98 que foi demolido também tenha sido uma mágoa para ele, por ser a obra lindíssima que era. Teria outras, mas estas eram as mais evidentes. Ele era uma pessoa que explodia quando tinha de explodir, eu ainda tive uma quota-parte disso, mas não se compara a outras situações que aconteceram. O Manuel Vicente que conheci, nos últimos anos, é alguém completamente resolvido, à excepção de não se conformar com o facto de ter menos trabalho. A arquitectura esteve à frente da vida pessoal? Não sei se tenho estatuto para responder a isso. Sei que pôs a arquitectura à frente de tudo e mais alguma coisa, muitas vezes. Não sei se fazia isso de forma sistemática. A arquitectura era a sua grande paixão, mas adorava os filhos. Sempre que podia falava da segunda mulher, Teresa, falava com imenso respeito da primeira mulher, e a legião de amigos era muito referida. Era um homem de afectos, terá tido muitas loucuras e, nessa busca pela arquitectura, terá feito alguns atropelos. O livro chama-se “A Desmontagem do Desconhecido”. É o desconhecido para além do que foi edificado? É enigmático, foi difícil pensar um título à altura. A desmontagem vem da maneira que ele tinha de ver as coisas, de as desmontar. O desconhecido surgiu porque tudo o que era novo, o que ele não conhecia, era o que o animava. Percebi isso nele: ele queria ir em busca do desconhecido para depois desmontar e montar de novo à maneira dele. Há muitas histórias da infância neste livro, sobre a deficiência que ele tinha numa anca. Teve uma infância demolidora, passou 12 anos numa cama. Talvez venha daí a vontade de ir à aventura. Sim. Quando entendemos a infância que ele teve e de como a família o apoiou, que ele talvez não contasse no escritório, é interessante percebermos isso. É como a aventura na Índia, que o marca enquanto jovem. Ele tem também uma aventura em Karachi, no Paquistão, e o regresso da Índia é uma viagem que dá um livro. São coisas que se narram de forma breve e consistente neste livro, e que nos fazem aproximar de novo desta pessoa, que é muito saudosa para Macau e Portugal, para o mundo da arquitectura e dos pensantes que gostam de falar com alegria, a sorrir. Ele era essa pessoa. Que legado deixa ele? Há muita gente que, a partir do momento em que entra em contacto com ele e com a sua obra, percebe que Manuel Vicente é irrepetível. Tem este lado pop, uma linguagem apelativa para um jovem que goste do lado disruptivo da arquitectura. Acho que as pessoas que se interessam por este mundo não consensual da arquitectura o vão procurar e estudar.
Hoje Macau PolíticaNg Kuok Cheong pede sustentabilidade do Fundo de Segurança Social [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Ng Kuok Cheong exige ao Governo a garantia de um desenvolvimento sustentável do Fundo de Segurança Social (FSS). Em interpelação escrita dirigida ao Executivo, o deputado pró-democrata considera que o Governo já tem condições para estimar o desenvolvimento do FSS tendo em conta as mudanças da estrutura social do território. “A pensão de idosos foi ajustada e o regime de contribuições entre as partes laboral e patronal também foi actualizado”, justifica. De acordo com os dados do Governo, o número de idosos com idade superior a 65 anos representava, em 2015, nove por cento da população e as estimativas para o ano de 2036 apontam para 20,7 por cento. “A população idosa está em permanente crescimento”, afirma Ng Kuok Cheong, recordando que não é a primeira vez que defende, junto do Executivo, a necessidade de mobilização dos recursos para garantir o futuro do FSS. Trocos públicos O tribuno apela ainda à divulgação das transacções financeiras efectuadas entre o cofre público e o FSS de modo a poder prever as receitas e despesas para os próximos 20 anos. O objectivo, considera, é analisar se “as contribuições regulares podem satisfazer as despesas relativas às pensões para os idosos e às acções relacionadas com as necessidades causadas pelo envelhecimento populacional”. Pretende-se, assim, conseguir mobilizar os recursos públicos para responder às necessidades. De acordo com a interpelação, o Governo transferiu para o FSS fundos do cofre público, entre 2013 e 2016, para aumentar a capacidade de resposta. No entanto, os valores nunca foram revelados, diz Ng Kuok Cheong. Para este ano, aponta o deputado, já não estão previstos movimentos deste género pelo Governo. Para o tribuno, está na altura de divulgar as contas e, caso seja encontrada alguma “lacuna no financiamento deste fundo, deve ser tratada, uma vez que ainda há recursos que podem ser mobilizados”, afirma.
João Luz PolíticaInterpelação | Zheng Anting volta a levantar dúvidas sobre Lei de Terras O deputado Zheng Anting questionou o Governo sobre os problemas com a recuperação do terreno Pearl Horizon e a caducidade das concessões dos setes terrenos de Seac Pai Van. Deixou o aviso de que a Lei de Terras pode esconder ainda muitas bombas por explodir [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] aplicação da Lei de Terras continua a suscitar dúvidas entre os membros da Assembleia Legislativa (AL). Zheng Anting interpelou o Executivo, oralmente, sobre a forma como este deve remediar os casos dos terrenos que não tiveram aproveitamento antes do fim do prazo de concessão. Em particular, nas situações em que o deputado entende que o Governo foi o culpado da falta de exploração das áreas concessionadas. O deputado alerta que “ainda não há soluções para os vários problemas decorrentes da nova Lei de Terras, na qual se escondem ainda mais bombas que podem vir a explodir a qualquer momento”. Zheng Anting advertiu o Executivo para a situação dos compradores de fracções em construção no Pearl Horizon, que investiram somas avultadas antes da retoma dos terrenos para o domínio público e que hoje se encontram em dificuldades financeiras. Acresce neste caso a especulação imobiliária que levou a que estas fracções tenham mudado de mãos duas ou três vezes, de acordo com a interpelação. O tribuno lamenta que nada seja feito por estas pessoas que, hoje em dia, apenas possuem “uma certidão de registo predial que neste momento é lixo”, e avultadas dívidas aos bancos. E Seac Pai Van? Um dos principais problemas, segundo a interpelação, é a opacidade na aplicação da lei. Uma situação patente nos próprios trabalhos da AL, exemplificado no episódio em que o próprio presidente decidiu ouvir as gravações das reuniões para tentar perceber a intenção legislativa inicial. Zheng Anting acrescentou que “a Administração cometeu erros de cálculos da área de construção”, o que complicou o aproveitamento dos terrenos no prazo fixado no contrato. Como tal, o deputado imputa ao Executivo a culpa para os incumprimentos que levaram à retoma dos terrenos. Outro exemplo dado pelo tribuno foi a caso dos sete terrenos de Seac Pai Van, cuja caducidade da concessão foi declarada pelo Governo em 2016. Nesta situação, Zheng Anting questionou a posição do Executivo que mudou a finalidade dos terrenos. A reconversão terá custado tempo precioso aos concessionários, que ainda tiveram de esperar pelo novo planeamento por parte do Governo, que teve de aprovar as novas plantas. O deputado sublinhou o facto de que o Executivo não chegou a emitir qualquer licença para execução de obras, nem plantas de alinhamento, o que terá levado à impossibilidade de os concessionários aproveitarem os terrenos dentro do prazo contratado. Pontos de interrogação Na sequência das dúvidas suscitadas, Zheng Anting questionou o Governo no sentido de saber se será criada uma comissão interdepartamental, liderada pela secretária para a Administração e Justiça. Tal organismo deve ter como missão, de acordo com o deputado, saber que acção tomar nos casos em que a culpa da falta de aproveitamento dos terrenos foi do Executivo. No que diz respeito à opacidade na aplicação da Lei de Terras, o deputado questionou o Governo se deve ser criado um “mecanismo para acompanhar e promover o processo de divulgação da intenção legislativa”.
Hoje Macau PolíticaMobilidade | Lam Heong Sang pede plano pedonal [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] deputado Lam Heong Sang quer saber o que tem sido feito para promover a mobilidade pedonal em Macau. Em interpelação oral, o deputado questiona o Executivo quanto às medidas concretas que pretende implementar de modo a facilitar a circulação de peões no território. O tribuno recorre ao relatório da revisão intercalar da política geral do trânsito e transportes terrestres de Macau (2010-2020) onde se lê que “a península de Macau tem uma área pequena e uma densidade elevada, características ambientais e dimensionais propícias ao desenvolvimento de um sistema pedonal”. No entanto, para Lam Heong Sang, o Governo carece da execução de um planeamento ponderado e abrangente, pelo que “os residentes e os turistas não podem usufruir de transportes públicos e de um sistema pedonal convenientes e facilitadores”. Os transportes públicos são também alvo de críticas por parte do deputado, que quer ver o sistema melhorado. “Actualmente, viajam diariamente de autocarro quase 600 mil pessoas, mas os cidadãos querem que seja exigido às operadoras o aumento da frequência e da cobertura das carreiras”. Ainda no que respeita às deslocações no território, Lam Heong Sang quer saber “de que medidas concretas e viáveis dispõe o Governo para resolver as dificuldades de estacionamento e como é que os proprietários de veículos poderão colaborar na implementação das mesmas”.
Andreia Sofia Silva Manchete PolíticaComité Olímpico | Manuel Silvério entende que Macau ainda não desistiu O Chefe do Executivo disse ontem que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar” o Comité Olímpico Internacional. Manuel Silvério, antigo presidente do Instituto do Desporto, afirma que não se trata de uma desistência. E diz que o processo não deve ser suspenso [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]orria o ano de 1989 quando Macau escreveu uma carta de intenções a pedir para integrar o Comité Olímpico Internacional (COI), processo que continua pendente por não ser um país, apesar da mudança de estatutos da organização em 1997. Hong Kong faz parte do COI desde 1951. Ontem, no âmbito de um encontro com Gou Zhongwen, director da Administração Geral do Desporto e presidente do Comité Olímpico da China, o Chefe do Executivo, Chui Sai On, disse que Macau “compreende que, por não ser um país soberano, não poderá integrar o Comité Internacional, apesar das alterações introduzidas nas regras do COI”. Ao HM, Manuel Silvério, ex-presidente do Instituto do Desporto (ID) que acompanhou o processo de tentativa de adesão ao COI até 2008, ano em que se reformou, não está em causa uma desistência por parte da RAEM. “Analiso esta declaração não como uma desistência, mas como uma grande esperança de ser a República Popular da China a apoiar, a levantar e a forçar o processo. Se não tiver vontade política, de certeza que o Chefe do Executivo sabe que não pode forçar, nem trabalhar nesse sentido.” Manuel Silvério considera que, segundo a Lei Básica, Macau tem direito a pertencer ao COI, se colocar a designação “Macau, China”, “tal como o que aconteceu com Hong Kong”, apontou. Apesar disso, o impasse persiste. “Todos os dirigentes do COI admitem que o pedido de Macau é diferente dos outros. Não devem castigar Macau por uma decisão tardia e adiada pelo próprio COI [sobre a mudança dos estatutos].” Manuel Silvério diz não conseguir explicar porque é que este processo ainda não ficou concluído. “Não devo ser eu a responder a isso, e julgo que os actuais dirigentes do Comité Olímpico de Macau também não saberão responder ou nem têm coragem para responder.” “Como pessoa ligada ao desporto e residente digo que, se Macau desistir, e se as pessoas pensarem em não levar para a frente essa luta, não estamos a fazer as coisas de acordo com a Lei Básica, não estamos a fazer as coisas como Hong Kong fez e somos nós próprios que estamos a recusar um direito que é nosso”, acrescentou. As tais declarações Manuel Silvério recorda o passado para ir buscar palavras de Chui Sai On, na Assembleia Legislativa, acerca da adesão da RAEM ao COI. “A única pessoa que disse, publicamente, e na Assembleia, foi o actual Chefe do Executivo, de que Macau não estaria interessado. Para mim ele está a tentar rectificar o que afirmou há uns anos.” O ex-presidente do ID garante que a China sempre apoiou uma adesão de Macau ao COI. “Pelo que sei, a RPC e o Comité Olímpico da China sempre apoiaram esse desiderato de Macau. Nunca, nem formalmente nem informalmente, a China falou dos inconvenientes dessa afiliação. Nenhum dirigente, nem o actual nem os anteriores, mostraram que a China não quer que Macau participe.” A adesão esteve prestes a ser uma realidade há dez anos, mas Manuel Silvério não adianta quais foram os entraves que evitaram que isso acontecesse. “Há uns anos, em 2007, faltava apenas um passo para Macau entrar no COI. Nessa altura, o presidente do COI visitou Macau e assistiu à abertura dos Jogos Asiáticos em Recinto Coberto.” No encontro com Gou Zhongwen, Chui Sai On referiu ainda que o facto de Macau ser membro da direcção do Conselho Olímpico da Ásia (COA) permitiu “desenvolver as modalidades desportivas em alta competição, sendo também um enorme incentivo para os atletas locais”.
Sofia Margarida Mota SociedadeMacau junta-se a projecto destinado a crianças carenciadas [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] “Dress a Girl Around the World” é a campanha que pretende vestir e proteger crianças carenciadas e mais vulneráveis a abusos. A iniciativa integra o programa da organização não-governamental Hope 4 Women e começa a dar os primeiros passos em Macau, pelas mãos de Ana Cristina Vilas. “Passa pelo território porque sou uma curiosa e tento fazer coisas à mão, como é o caso da costura. Como conheço este projecto que, no ano passado, também teve início em Portugal, resolvi avançar em Macau”, explicou a responsável ao HM. A ideia é a realização de peças de vestuário para meninas a partir do ano de idade e até aos 14. Desta vez o objectivo não é, “como o habitual”, levar as peças feitas para África, mas sim fazer com que cheguem às populações mais carenciadas do continente asiático. A questão da entrega na Ásia está ligada à própria situação geográfica do território e, “se calhar, África é o alvo de grande parte das organizações ao nível mundial por ser um continente com mais problemas conhecidos”. No entanto, a Ásia também precisa de ajuda: “Tanto o Camboja, como as Filipinas são identificados como países carenciados, de risco para os menores, e são locais onde já foram feitas campanhas da ‘Dress a Girl Around the World’”. Meninas salvaguardadas Cada vestido é acompanhado de uma peça de roupa interior etiquetada com a marca da organização. A ideia é “marcar estas crianças como estando protegidas e prevenir crimes praticados contra menores, que vão desde a violação ao tráfico humano”. A equipa de Macau ainda está no início, mas já se começa a organizar. O espaço para a confecção das peças será cedido pela Casa de Portugal, onde Ana Cristina Vilas costuma fazer workshops. A responsável está neste momento a angariar tecidos para fazer kits e Abril é o mês pensado para o primeiro evento de costura solidária. “Numa primeira fase, vou contar com as pessoas que já conheço, que têm as suas máquinas de costura, e o meu papel será o de acompanhamento”, diz Ana Cristina Vilas. Os kits permitem facilitar a tarefa dos interessados e são compostos por tecidos já cortados em moldes e distribuídos segundo idades. “Os interessados só têm de aparecer na iniciativa. É uma questão de lá chegarem, coserem e porem a fita que identifica a origem da peça.” O destino dos vestidos ainda está longe no tempo e muito possivelmente só “lá para o final do ano é que as peças chegarão às crianças”.
Hoje Macau SociedadeDemografia | População não diminuía desde 2009 Há menos gente a viver hoje no território. Com a conclusão dos resorts no Cotai, muitos trabalhadores ligados à construção fizeram as malas e regressaram a casa. No ano passado, nasceram mais crianças, mas registaram-se também mais mortes. E a população está a envelhecer há duas décadas [dropcap style≠’circle’]M[/dropcap]acau tinha 644.900 pessoas no final do ano passado, menos 1900 em relação a 2015. Trata-se da primeira queda desde 2009 e deve-se, de acordo com os Serviços de Estatística e Censos, à diminuição do número dos trabalhadores não residentes. Os dados revelados agora demonstram que, à entrada em 2017, a maioria da população – 52,6 por cento – era do sexo feminino. Em relação a 2015, verificou-se um aumento de 0,8 pontos percentuais na população. As pessoas com idade igual ou superior a 65 anos representavam 9,8 por cento da população total. A população adulta, entre os 15 e os 64 anos, equivalia a 77,7 por cento, tendo diminuído 1,4 pontos percentuais. O índice de envelhecimento foi de 78,9 por cento, o que representa uma subida de 3,3 pontos percentuais. Este índice aumentou durante 20 anos consecutivos o que, assinalam as Estatísticas, significa que a população tem envelhecido continuamente. Em 2016, o número de nados-vivos totalizou 7146, mais 91 face ao ano 2015. A taxa de natalidade situou-se em 11 por cento, sendo idêntica à do ano anterior. Nasceram mais rapazes do que raparigas, com uma relação de 109,4 bebés do sexo masculino para 100 nados-vivos femininos. Quanto aos óbitos, morreram 2248 pessoas, mais 246 em termos anuais. Destes óbitos, 56,7 por cento eram do sexo masculino. O número de mortes devido a tumores malignos (815) foi o mais elevado, correspondendo a 36,3 por cento do total, mais 0,1 pontos percentuais relativamente ao ano de 2015. Os números de mortes devido a pneumonia e gripe (296) e a doenças hipertensivas (187) representaram 13,2 por cento e 8,3 por cento, respectivamente, tendo ambos aumentado 0,5 pontos percentuais na comparação anual. Mútuo consentimento No que toca aos trabalhadores não residentes, eram 177.638 no final de 2016 – menos 4008 pessoas. Os Serviços de Estatística e Censos salientam que a maior queda, superior a 20 por cento, verificou-se no sector da construção (menos 8868), devido à conclusão de empreendimentos de entretenimento de grande envergadura. Havia 6327 imigrantes chineses, tendo-se registado aqui também um decréscimo de 2141 face a 2015. A maioria destes imigrantes – 4876 – era proveniente da província de Guangdong. Também aqui o sexo feminino está em maioria, com as mulheres a representarem 60,9 por cento do total. Foram autorizados a residir em Macau 1447 indivíduos, menos 337 do que em 2015. Para a China Continental foram repatriados 1290 imigrantes chineses ilegais, menos 488 indivíduos em relação ao ano anterior. Noutros dados, as Estatísticas explicam que foram contraídos 3891 matrimónios, mais 172. A mediana de idade do primeiro casamento foi de 28,7 anos para os homens e de 27,3 anos para as mulheres, mais 0,3 e 0,4 anos, respectivamente, em termos anuais. Quanto aos divórcios, registaram-se 1245 divórcios, um aumento de 77 na comparação com 2015. Quase 92 por cento dos casais se divorciaram por mútuo consentimento. No final de 2016, o número de agregados familiares era de 189.200, tendo caído 3500. HM