SociedadeTufão Hato | Associação de Psicologia alerta para stress pós-traumático João Luz - 7 Set 2017 Na sequência de um desastre natural, como a passagem do tufão Hato, podem surgir situações de stress pós-traumático. Estes incidentes podem revelar-se em perturbações de sono, irritabilidade e falta de apetite. Cintia Chan, directora da Associação de Psicologia de Macau, aponta saídas para quem possa ter ficado com sequelas psicológicas [dropcap style≠’circle’]H[/dropcap]á feridas que não se vêem, ou que podem não ser evidentes à primeira vista. As dores psicológicas podem encaixar-se nestas características. O stress pós-traumático pode levar a consequências com gravidade variável. “Eventos stressantes, como o tufão Hato, podem resultar em reacções e sintomas que podem durar vários dias, ou semanas, mas vão decrescendo com o tempo”, explica Cintia Chan, directora da Associação de Psicologia de Macau (APM). Este tipo de reacção psicológica pode levar a uma alteração duradoura da personalidade, o que não é muito frequente em casos de calamidades naturais como um tufão. Passar por uma situação que cause trauma psicológico pode, inclusive, levar ao reforço da resiliência pessoal, mas também pode resultar em fragilização psicológica. Nesse caso é importante estar atento aos sintomas. “Quem passa por um evento traumático pode experimentar flashbacks recorrentes sobre a situação levando a sensações intrusivas de desconforto, medo, ansiedade”, revela Cintia Chan. A psicóloga acrescenta ainda à lista de sintomas a irritabilidade, raiva, perturbações de sono, falta de concentração, diminuição de apetite, palpitações e dificuldades em respirar. Quem sofre de stress pós-traumático pode chegar mesmo chegar a evitar tudo o que avive a memória do evento, incluindo conversas. Estas são as reacções normais a uma situação, em tudo, anormal e das quais a maioria das pessoas recupera sem necessidade de recorrer a acompanhamento terapêutico. Ainda assim, “se depois de um mês as reacções ao evento afectarem significativamente a rotina diária da pessoa, esta deve procurar ajuda profissional”, revela Cintia Chan. Circunstâncias como ficar sem água ou electricidade, sofrer com os efeitos de cheias podem dar azo a efeitos psicológicos numa escala abrangente da sociedade. Porém, num espectro alargado de população o restabelecimento da vida normal, regressar ao trabalho, pode ser o catalisador para restabelecer o equilíbrio. Ajuda necessária Normalmente o stress decorrente de se ter passado por algo como um tufão com efeitos devastadores vai diminuindo com o tempo. No entanto, existem formas de acelerar o processo de recuperação como, por exemplo, falar do acontecimento com a família e amigos, fazer exercício físico, envolvimento comunitário, fazer voluntariado e expressar gratidão. “Por vezes, actos simples como dar uma mão ao nosso vizinho pode ajudar, aliás, estas reacções não são sinais de fraqueza”, descodifica a psicóloga. Um estudo da Organização Mundial de Saúde (OMS), que incidiu sobre 21 países, revela que 21,8 por cento dos inquiridos testemunharam violência, 18,8 por cento participaram em violência, 17,7 por cento sofreram acidentes e 16,2 por cento foram expostos a situações de guerra. Segundo as estimativas da OMS, 3,6 por cento da população mundial sofreu de stress pós-traumático no ano de 2012. Cintia Chan recorda que não basta a experiência de viver algo como um tufão de sinal 10 para afectar alguém. Perder alguém próximo, passar por outra situação que coloque em perigo a vida pode levar a um vasto leque de diagnósticos no espectro do trauma. De acordo com a APM, o Governo lançou uma série de serviços de reabilitação para responder à “crise psicológica” após a passagem do tufão Hato. A própria associação, em cooperação com o Instituto de Acção Social e a Serviços de Administração e Função Pública, realizou uma acção de formação em psicologia na semana passada. Frequentaram a formação cerca de 600 profissionais de acção social, de forma a ficarem habilitados a fornecer informação, identificar e gerir situações de stress numa primeira abordagem. Depois da passagem do tufão Hato por Macau, as redes sociais foram inundadas com vídeos, fotografias e mensagens. Rever constantemente os vídeos do evento é algo que pode aprofundar as feridas psicológicas, assim como sentir que pode estar próximo outro fenómeno similar. Além de demonstrações de altruísmo, circularam na Internet informações de dúbia veracidade. De forma a fornecer informação correcta sobre os efeitos psicológicos de calamidades como o Hato, a APM lançou um site chamado “Psychological Recovery and Resources After Typhoon Hato” (recuperação psicológica pós-tufão Hato). No entanto, o site tem informação disponível apenas em cantonês. Apesar terem decorrido duas semanas da passagem de um dos maiores tufões de que há memória em Macau, o próprio içar de sinais de alerta pode despoletar memórias traumáticas que ficaram por sarar.