China / ÁsiaChina | Aldeias e cidades rendem-se às vantagens do comércio electrónico Hoje Macau - 26 Jun 2017 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] chinesa Yao Yao há muito que deixou de fazer a lista de compras, carregar sacos do supermercado ou ter dinheiro na carteira, beneficiando da difusão ímpar do comércio electrónico e carteiras digitais na China. “Quando saio de casa, nem levo carteira. Basta-me o telemóvel”, conta a chinesa natural de Pequim, que diz fazer “entre 70 a 80%” das suas compras na rede. Não é um caso único: cada vez mais chineses recorrem unicamente às ferramentas digitais para chamar um táxi, pagar a conta no restaurante ou até as despesas na farmácia. No ano passado, o comércio ‘online’ na China cresceu 26,2%, em termos homólogos, para 752 mil milhões de dólares – um valor equivalente a quase quatro vezes o Produto Interno Bruto (PIB) português. O país asiático é responsável por cerca de metade do conjunto mundial de vendas pela Internet. Nas ruas de Pequim ou Xangai, o frenesim das motorizadas que fazem entregas rápidas ao domicílio é constante e, ao longo do dia, as encomendas amontoam-se à entrada dos bairros. O fenómeno alastrou-se já às aldeias do país, onde vivem quase metade dos 1.375 milhões de chineses, através de estações abertas pelo grupo Alibaba, que controla 90% do comércio electrónico na China. Retalho a vê-los passar Wang Huan’e dirige uma estação aberta pela plataforma Taobao na aldeia de Huangwan, a cerca de três horas de carro de Pequim, onde recebe as encomendas feitas pelos locais e ajuda os mais idosos a fazerem compras ‘online’. “Antes desta estação abrir, os habitantes da aldeia tinham de se deslocar à cidade mais próxima para fazer compras”, recorda à Lusa. “Agora não, basta pegarem no telemóvel e podem comprar o que quiserem, seja de manhã, ao acordarem, ou de noite, antes de irem dormir”. A proliferação do comércio electrónico beneficia também os empresários, que conseguem colocar os seus produtos em qualquer ponto da China, sem depender de retalhistas. “É um espaço e mercado totalmente livre”, explica à agência Lusa Li Guocun, cofundador de uma fábrica de produtos para crianças, cujas vendas são feitas exclusivamente através do Taobao. A firma emprega vinte operários numa aldeia da província de Hebei e seis funcionários num escritório no norte de Pequim, onde é feita a gestão da loja ‘online’ e o apoio ao cliente. Li trata do design dos produtos e das fotos para o catálogo. A extensa rede logística da China encarrega-se do resto. Consumidor perfilado Para o empresário, a outra vantagem do comércio ‘online’ reside no ‘Big Data’, a análise dos dados dos consumidores, que permite moldar o produto à procura do mercado. Através dos dados coletados pelo Taobao, “conseguimos ver o perfil do consumidor, a que segmento ele pertence, os seus gostos, hábitos de consumo ou área de residência”, afirma. “Temos uma visão transparente do mercado”. Numa altura em que Pequim anuncia a extinção de quase dois milhões de posto de trabalho na indústria secundária, visando combater o excesso de capacidade de produção, o negócio da Internet pode gerar novas oportunidades. “Toda a gente pode ter uma loja ‘online’, basta ter acesso à rede”, defende Li. “O investimento necessário é baixo, só é preciso ter vontade”. Portugal está atento ao fenómeno. Portugal na rede chinesa Procurando pelo termo ‘Putaoya’ (Portugal, em chinês) no Taobao.com, os resultados mostram utensílios de cozinha, mobília, produtos de cortiça, vinho ou azeite português. No mês passado, o secretário de Estado da Internacionalização, Jorge Costa Oliveira, anunciou um acordo para a abertura de uma loja ‘online’ só para produtos portugueses. “Há cinco ou dez anos era impensável para uma pequena ou média empresa de Portugal tentar abrir uma loja ou uma rede de lojas [na China], porque os custos fixos eram enormes e era uma aposta de enormíssimo risco”, afirmou. Hoje, “com a possibilidade de utilizar as plataformas online, a existência de centros de distribuição e logística físicos em partes da China é, obviamente, um complemento extraordinariamente importante”, disse. João Pimenta, Agência Lusa