h | Artes, Letras e IdeiasVoar em 1904: o primeiro romance chinês de ficção científica《月球殖民地小说》 Julie Oyang - 12 Abr 2017 [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] China lançou o primeiro satélite, o Dongfanghong, em 1970. Treze anos depois do Sputnik, nove anos depois do primeiro cosmonauta ter visitado o espaço e uma semana depois da Apollo 13 ter regressado da Lua. A 16 de Agosto de 2016 a China lançou o primeiro satélite de comunicação quântica do mundo, baptizado de Micius, em honra do emblemático filósofo chinês Micius/Mozi, e concebido para teleportar dados para além dos limites do espaço e do tempo. Tornou-se normal que a China esteja diariamente na origem destes títulos sensacionais, embora inconcebíveis e incompreensíveis. Mas quando é que terá tido o seu primeiro romance de ficção científica? Isto deu-me que pensar. 1904 estava destinado a ser um ano extraordinário para a literatura chinesa, mas acabou por ser esquecido. A China ainda é conhecida como o país da (finada) Dinastia Qing. Uma importante revista literária, a “Ficção Ilustrada” 《绣像小说》, publicou em fascículos 《月球殖民地小说》(Colónia: Lua), um romance de ficção científica, com uma estrutura narrativa clássica na literatura chinesa. O autor assinava 荒江钓鱼叟 (Velho pescador do rio agreste), mas a sua identidade permanece um mistério. O romance inacabado contém 35 capítulos, com um total de 13 milhões de palavras impressas. Conta-nos a história do valente Li Anwu e do seu amigo japonês Fujita Tamataro, que ajudaram Long Menghua, do Distrito de Xiang na província de Hunan, a fugir de uma tentativa de assassinato e a reunir-se à mulher e ao filho, há muito perdidos. Long Menghua viveu várias aventuras à volta da Terra nas naves de guerra voadoras de Tamataro. No final, toda a família Long imigra para a Lua, para onde o filho vai, obviamente, estudar. Como se fosse um símbolo mágico, em cada ilustração do romance aparece um balão de ar quente, que parece simbolizar a aspiração colectiva da Dinastia Qing: voar. No mesmo romance, o autor desconhecido também se pôs a reflectir sobre a relação entre a Terra e os outros corpos do sistema solar: “Da sua nave espacial Fujita Tamataro observava que as naves do povo da Lua eram enormes, frágeis e brilhantes. Arrumou as armas e pensou: a Lua é pequena, mas que civilização tão avançada! Desde essa altura, Tamataro dedicou-se completamente à sua investigação. Queria inventar uma nova máquina voadora que pudesse voar livremente pelo universo.” Piscadela de olho.