Ryoma Ochiai, terapeuta e DJ | O japonês suave

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]e existem pessoas que personificam aquilo a que se chama de “boa onda”, Ryoma Ochiai é, definitivamente, uma delas. Ar descontraído, sorriso sempre pronto a desatar em gargalhada, tudo atributos que já se podem ver no seu pequeno filho, Gil. Vive em Macau há quase seis anos. “Cheguei em Março de 2011 para ver como era o panorama dos cafés na cidade, vim apalpar terreno, conhecer esta área”, conta.

Chegou com um amigo que lhe pediu ajuda para abrir um café na cidade. Tudo começou assim, por acaso, com a leveza que o caracteriza. A sua natureza de ávido viajante foi a porta de entrada na região, esta abertura de espírito valeu-lhe o convite profissional. Tinha andado um pouco por toda a Ásia, no seu estilo, mochileiro, calcorreando a Índia e a Tailândia, por exemplo. Mas Macau sempre lhe escapou no itinerário. Em criança, Ryoma tinha visitado Hong Kong com os pais, mas nunca tinha passado para este lado que, na sua opinião, “é totalmente oposto”. Quando veio foi para ficar.

“Apesar de não saber chinês, gosto muito da cultura, mas não sabia absolutamente nada de Macau, não li, não pesquisei antes de cá chegar”, confessa o massagista. A chegada ao território fascinou-o mas também o deixou chocado. Toda a azáfama, a profusão de culturas, os excessos dos casinos. Principalmente a sensação de que os sítios mais tradicionais nunca são total e exclusivamente portugueses, ou chineses. Na sua opinião, aqui vive-se “uma mistura de culturas muito interessante”.

Partilhar felicidade

Uma das primeiras coisas que espicaçou os sentidos do japonês foi a comida. Apesar de gostar de tudo o que é gastronomia chinesa, e de em Macau esta ser um pouco diferente, já a conhecia. Mas a comida portuguesa era uma novidade. “É muito boa, e como vocês têm muitos pratos com arroz, para mim, enquanto japonês, é óptimo”, diz, com uma gargalhada sonora.

Quando veio para Macau, apesar de concentrado na abertura do café, fez alguns amigos DJs, da forma simples como as pessoas com interesses em comum se conhecem e juntam. Então, um dia, surgiu a oportunidade de organizar uma festa num local que já não existe: o Clube Lotus, no Hotel Venetian. “Foi muito bom, apareceu muita gente e a festa contou com muitos convidados e DJs internacionais.”

Nesta altura, a cidade era uma novidade para Ryoma. “Quando vim para cá tudo era novo, tudo era divertido, sempre a fazer novos amigos, a conhecer lugares novos, comida nova, era como estar em viagem”, lembra. Até que a dimensão de Macau o apanhou, mas nunca de uma forma opressiva, até porque esta cidade é especial, “é como um pequeno país, até tem leis diferentes”.

Em termos profissionais, Ryoma divide-se entre os pratos a passar música e as massagens que dá no Yoga Loft Macau. Enquanto estudava sociologia, Ryoma já fazia sets de DJ no Japão, ao mesmo tempo que trabalhava como recepcionista num centro de massagens tailandesas. As duas actividades continuaram ao longo da vida, assim como a intensa ligação à natureza e o prazer em viajar. Tudo se conjugou. Antes de se fazer à estrada pensou no que poderia fazer, em termos de trabalho, para arranjar dinheiro e esticar a viagem. Então, fez-se luz. Massagens! A resposta estava ao seu alcance. Aprendeu a massajar e foi mundo fora. “As massagens são boas porque, mesmo que não entenda a língua, posso sempre olhar para o corpo e ver o que se passa, tirar alguma lógica”, explica.

Voltando à vida de Macau, Ryoma sente que, como esta é uma cidade onde se pode fazer dinheiro, acaba por atrair pessoas que olham para o cifrão como a sua primeira prioridade de vida. Este não é o seu desígnio, “esteja no Japão, na Índia, ou aqui”. Claro que tem de fazer dinheiro para se sustentar, mas o seu objectivo “é tornar a vida excitante e partilhar com os outros”. Daí o prazer que sente em organizar festas, ou a fazer massagens. Seja à mesa, ou num clube de dança, o japonês quer partilhar algo fascinante, e tornar as pessoas em seu redor um pouquinho mais felizes.

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