VozesDois tiros no porta-aviões e um no contratorpedeiro Fernando Eloy - 11 Mai 201611 Mai 2016 [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]dmito a minha ingenuidade. Admito até a tendência para tomar as coisas pelo seu valor nominal, mas é assim. Vamos imaginar um cenário, provavelmente irreal, mas possível. Chui Sai On, que um dia deixará a chefia do executivo, terá de viver de alguma a coisa nessa altura. Da fortuna de família, dos negócios que aquela tem, claro que sim. Tudo normal. Mas imagine-se que acontece uma desgraça e tem mesmo de arranjar emprego como o comum dos mortais. Nessa circunstância, ser vice-presidente remunerado do Conselho Geral de uma universidade não parece uma solução de descartar. Portanto, o argumento de que não tem qualquer tipo de interesse pessoal na universidade não faz qualquer sentido. Não em termos formais. E quando o assunto são decisões políticas e dinheiros públicos todas as questões são formais. Em termos práticos, como presidente do Conselho de Curadores da Fundação Macau, o Chefe do Executivo autorizou a ida de dinheiro público para uma instituição que até lhe pode vir a dar emprego no futuro. Uma situação puramente académica, mas possível. À mulher de César… Contudo, o problema maior nem sequer é este. O apoio à Universidade Jinan pode também ser entendido como mais dois tiros no porta-aviões do segundo sistema e um tiro no contratorpedeiro que deveria ser a educação superior local. Como diz o povo, e bem, é pela boca que morre o peixe, e o ouvido do Governo para justificar a benesse à Jinan diz que aquela universidade é crucial para formação de funcionários do território. Primeiro tiro no porta-aviões. Diz ainda o Governo ir parte do dinheiro, ou todo, irrelevante, para construir um edifício da Faculdade de Comunicação Social daquela instituição do continente. Segundo tiro no porta-aviões. Ou seja, poderá o segundo sistema ser interpretado condignamente com pessoas formadas no primeiro? Fará sentido defender o segundo sistema, quando um dos seus apanágios é uma imprensa livre, investindo-se numa faculdade de comunicação social num país onde esta não o é? Uma no cravo e outra na ferradura? Estaria esta estratégia presente nos ideais de Deng Xiao Ping quando imaginou o princípio “Um País, dois Sistemas” ou, tudo somado, e revelamos o espectro do contra-senso? O tiro no contratorpedeiro é dado quando o Secretário Alexis Tam justifica o investimento dos 100 milhões com o facto de Macau ter cerca de 20 mil quadros formados naquela universidade. Ou seja, podemos daqui inferir a incapacidade da universidade local em formar quadros para a RAEM? Se assim for, porque assim é? A sensação que me fica é que por qualquer lado que tentemos pegar neste assunto, não encontramos ponta por onde se lhe pegue. É por estas e por outras que Taiwan cada vez acredita menos no princípio do velho Deng. “Watch That Man” David Bowie (1973) “Watch that man! Oh honey, watch that man He talks like a jerk but he could eat you with a fork and spoon Watch that man! Oh honey, watch that man He walks like a jerk But he’s only taking care of the room Must be in tune”