Miguel Rosa Duque: “Partilhar conhecimentos é essencial e um prazer”

Miguel tem 39 anos, nasceu em Macau, é mestre em Design de Ambientes Virtuais pela Universidade de São José e bacharel em Multimédia (Artes) da Curtin University em Perth, Austrália. Foi para lá em 1999 após terminar o liceu em Macau pois, por estes lados, não existia qualquer oferta de formação na área da multimédia como ele pretendia.
Considera-se um escultor digital, que define como “uma forma de arte e um meio de exprimir a imaginação por via da tecnologia”. Para além disso, atenta que é uma actividade que lhe permite “trabalhar de maneira aleatória dando forma a várias [ideias] e pensamentos”.
Uma especialidade que, para além da aplicação na indústria cinematográfica pode, inclusivamente, gerar outras áreas de negócio: “imagina produzir a tua imagem num ambiente virtual e depois imprimi-la em 3D. Ficas com um bonequinho que és tu.” Produzir retratos realistas de pessoas em 3D é mesmo uma paixão “porque é um grande desafio”, considera. “Há inúmeros detalhes a que precisamos de ter atenção. E conseguir fazer algo em que a pessoas se reconhecem é um gozo”, garante.
Teve mesmo dois trabalhos em 3D que foram publicados em dois números diferentes da 3D Artist Magazine, uma revista britânica de impacto no sector. Eram elas “Alien Cherokee” e “Captain Beleza”.
Actualmente, trabalha como Director Criativo na Hogo Digital onde gere uma equipa de mais três designers, dedicando-se, não só mas especialmente, à produção de websites – uma actividade a que se dedica há 22 anos e na qual se especializou. Um sector que o jovem entende necessitar muito de evoluir em Macau, especialmente no que se refere à usabilidade e acessibilidade dos sítios, considerando que grande parte dos existentes têm graves lacunas a esse nível.
Para Miguel, facilitaria o trabalho de mudança de consciências para a necessidade de comunicar melhor se o Governo tivesse mais cuidado com os seus próprios sítios. “Vamo-nos deixar de bonecadas”, diz Miguel, “porque um website do Governo é feito para adultos, para informar e deve preocupar-se mais com a estrutura, com a forma, com a navegação e menos com decorações acessórias e ridículas”, explica. Um assunto, aliás, que na sua opinião, daria para um grande debate.

Daqui para Hollywood? Não

Trabalhar em Hollywood na produção de objectos digitais para cinema, “podia ser uma hipótese mas apenas como experiência”, diz Miguel Duque, porque o que gosta mesmo é de ensinar “e fazer pesquisa”, garante.
Foi professor durante quase cinco anos no Politécnico. Dava aulas nocturnas, em part-time, porque ainda não tinha o doutoramento, algo em que está realmente focado agora, inscrito no curso de Comunicação, com especialização em Negócios Online e Redes Sociais, da Faculdade de Ciências Sociais da Universidade de Macau.
“Gosto é de dar aulas e espero fazê-lo a tempo inteiro”, confessa-nos. Para Miguel “partilhar conhecimentos é essencial e um prazer”. Além disso, como apaixonado pela pesquisa, foca-se na área das tendências do design no mundo online e em formas de comunicação tanto a nível pessoal e de relacionamentos como de negócio. Na experiência que teve como professor ficou a achar que “apenas uma mão cheia dos alunos sabe o que quer”. Para Miguel Duque “há uma falta de foco” na maioria dos aprendizes de designer, algo que desconfia estender-se também um pouco aos jovens de Macau em geral.

Quem sou

A mãe é de Santarém, o pai de cá… “macaense como eu, mistura”, explica Miguel, referindo ainda origens escocesas e, claro, chinesas, o que nos leva a pensar num dos assuntos do dia: a identidade macaense. Miguel enfrenta o debate de uma forma desassombrada dizendo: “nós estamos em vias de extinção porque o que faz o macaense é a fusão do chinês com o português e isso hoje acontece menos”, explica.
A extinção acontece “porque os portugueses já não olham tanto para os chineses de Macau, mas sim para os orientais de uma forma geral, de Taiwan à Tailândia”, diz Miguel.
Os porquês dessa realidade, ele atribui-os à mudança da sociedade de Macau que “tornou-se muito materialista”, diz, e talvez daí as razões de procurar amor noutras paragens.
Orgulhoso dos seus dois filhos – “tenho uma filha linda de 11 anos, em Inglaterra, de mãe inglesa e o meu chinoquinha, como eu lhe chamo, que tem uma mãe sino-americana, que vive cá e vai fazer 6 anos em breve” – Miguel considera que ser pai é uma grande responsabilidade, mas algo difícil em Macau pelo tempo e, especialmente, pelo dinheiro que isso requer. As questões económicas são mesmo a grande razão pela qual não pensa em ter mais filhos.
“É muito caro e as casas estão pela hora da morte”, diz-nos, adiantando que “ou o Governo se mete no meio ou estamos todos tramados com os preços das casas porque a tendência parece ser só subir”.
O que nos leva à sua opinião sobre viver por aqui. Macau, confessa-nos, é para si “o pior sítio para se começar uma família”. Para além do preço das habitações, a falta de espaços verdes “essenciais para que as crianças se liguem à Natureza” e a poluição do ar, que considera ser “do pior”, são factores decisivos para a sua opinião. “Agora até querem acabar com Coloane”, lamenta-se.
Mas nem tudo é mau, considerando que a grande vantagem de Macau “é ser pequeno” pois isso permite mais tempo para a família e amigos. Além disso, define a terra como um verdadeiro hub que permite partir para lugares completamente diferentes em muito pouco tempo e com viagens a preços acessíveis. “Essa é mesmo a maior vantagem de Macau”, garante.

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