SociedadeTese |Vanessa Amaro analisa padrões de comportamento em portugueses em Macau Hoje Macau - 29 Fev 2016 [dropcap style=’circle’]U[/dropcap]m estudo com 60 portugueses que emigraram para Macau antes e depois da transferência para a China identificou padrões de comportamento e discurso, como a ideia de que estadia tem carácter “temporário”. Vanessa Amaro, que defendeu, na sexta-feira, na Universidade de Macau, a tese de doutoramento “Identidade e questões do estatuto sociocultural na comunidade portuguesa na Macau pós-colonial”, dividiu a amostra entre os que chegaram antes de 1999 e os que vieram na onda de um novo fluxo migratório, principalmente desde 2005. “Uma coisa comum é que todos pensam Macau como uma coisa muito temporária”, disse à Lusa Vanessa Amaro, ex-editora do HM, recordando que muitos dos que chegaram antes da transição nunca compraram casa, não aprenderam Chinês nem criaram relações profundas com a comunidade chinesa porque sempre tiveram a intenção de “um dia ir embora”. Os mais recentes têm o mesmo discurso e olham o território como “um trampolim profissional, como uma forma de ganhar experiência profissional e de fazer poupanças, para depois se mudarem para um destino que não necessariamente Portugal”. Outro denominador comum é a recusa do termo “emigrante” para definir um português que vive em Macau, por ser “pejorativo”. Agarram-se, por um lado, ao “peso da história”, considerando ter um “papel importante” a desempenhar e “uma posição privilegiada”, soando como “uma ofensa” colocá-los em pé de igualdade como outras comunidades, como os filipinos. Por outro lado, “querem distanciar-se da figura do típico português dos anos 60/70, pouco qualificado”, vendo-se “diferentes” de outros portugueses espalhados pelo mundo, explicou Vanessa Amaro, com a ressalva de que não se pode generalizar. “Encontrei muita gente a tentar encontrar outro termo”, contou a investigadora, considerando que “tem muito a ver com a necessidade de a comunidade se tentar posicionar como elite”. Neste âmbito, destaca a “bolha” em que vivem alguns portugueses, que adoptaram a ideia de que podem fazer a sua vida sem precisar de aprender Chinês porque “têm as suas rotinas, os seus amigos, fecham-se nos seus grupos e fazem toda a sua vida no circuito português”. Só seis dos entrevistados falavam fluentemente Cantonense. A barreira cultural da língua pesa e “essa cortina de vidro sempre existiu e sempre houve intermediários (…), mas a questão é que não há interesse da comunidade portuguesa em aprender de forma generalizada”, considerou. “Todos concordam que são muito importantes para o futuro, não só pela história, mas também pelo próprio desenvolvimento, para manter a identidade única de Macau, para evitar que a cultura portuguesa seja modificada, vendida, embrulhada para os chineses como uma coisa de Macau. Acham que é importante também manter o que é português como português e não como uma coisa de Macau”, como é o caso do simples pastel de nata, ilustrou. O estudo também identificou padrões nas razões que trouxeram os portugueses a Macau antes e depois de 1999 e nos motivos que os levam a permanecer, como as questões financeiras.