João Santos Filipe Manchete SociedadeNúmero de mortes atinge valor mais elevado desde 2016 Entre Janeiro e Maio, antes do confinamento, morreram mais 55 pessoas do que no mesmo período do ano passado. O número de suicídios explica o aumento de mortalidade no primeiro trimestre de 2022 Desde 2016 que não se morria tanto em Macau no período entre Janeiro e Maio. Segundo os dados da Direcção de Serviços de Estatística e Censos (DSEC), nos primeiros cinco meses morreram 1.016 pessoas em Macau. O número de mortes até Maio, antes do mais recente confinamento, é o mais alto desde 2016, quando no período em causa foram registados 1.049 óbitos. Segundo a estatística mais recente disponibilizada pela DSEC, em comparação com o ano passado, houve um aumento da mortalidade em 55 casos, ou seja, de 5,7 por cento. Nos primeiros cinco meses de 2021 tinham morrido 961 pessoas. Nesta estatística saltam à vista duas tendências diferentes. Entre Janeiro e Fevereiro, a mortalidade estava a diminuir, com 205 e 187 óbitos, respectivamente, correspondendo a uma redução de 3,3 por cento e 3,1 por cento face ao ano anterior. No entanto, a partir de Março o número de óbitos começou a aumentar, o que fez com que o primeiro trimestre fosse mais mortal do que no ano passado. Em Março, foram registadas 218 ocorrências, o que representou um aumento de 16 por cento, face aos 188 casos de 2021, e que elevou as mortes do primeiro trimestre para 610, face às 593 do ano anterior. A tendência negativa não parou em Março, e em Abril, com 205 óbitos, e Maio, 201, agravando a situação face aos períodos homólogos de 9,6 por cento e 11 por cento, respectivamente. O peso dos suicídios Um dos motivos que contribuiu para o aumento das mortes foi o número de suicídios. Dados divulgados pelo Canal Macau da TDM, mostram que até ao final de Maio o número de suicídios se fixara em 43, mas não permitem a comparação com o mesmo período do ano passado. Também a estatística sobre as mortes em Junho ainda não foi divulgada pela DSEC. O peso dos suicídios para a mortalidade pode assim ser avaliado pelos dados do primeiro trimestre. Anteriormente, os Serviços de Saúde (SSM) divulgaram que entre Janeiro e Março 28 pessoas puseram termo à sua vida. Segundo os mesmos dados, os 28 casos correspondem a um aumento de 18 ocorrências face ao período homólogo. No primeiro trimestre o número de óbitos cresceu de 593, em 2021, para 610, este ano, no que foi um aumento de 17 ocorrências. No mesmo período o número de suicídios aumentou em 18 casos, subindo de 10 para 28 ocorrências. Apesar de representarem uma proporção de 4,6 por cento de todas as mortes, os números mostram que se o fenómeno do suicídio tivesse sido controlado através de políticas de reforço de saúde mental, e não tivesse havido um aumento das ocorrências, a mortalidade teria diminuído. Além disso, entre o primeiro trimestre de 2021 e o primeiro trimestre de 2022, a proporção de suicídios na mortalidade geral cresceu de 1,7 por cento para 4,6 por cento. Este número significa que em cada 20 mortes houve um suicídio, numa altura em que ainda não tinham sido impostas as medidas de confinamento.
João Santos Filipe Manchete SociedadeSuicídios | Mais de 50 casos desde Janeiro. Registadas 10 mortes entre Junho e Julho Desde Janeiro registaram-se 53 suicídios em Macau, número que se aproxima dos totais de 2021 (60), 2020 (76) e 2019 (66). Destes, 10 coincidiram com a imposição de apertadas medidas anti-epidémicas durante o surto, incluindo o confinamento parcial da cidade. As autoridades de saúde admitem o problema e apelam à população para estar atenta e pedir ajuda psicológica É um registo negro que continua a adensar-se à medida que o tempo passa e a normalidade tarda em chegar, devido as medidas de prevenção inerentes à covid-19. Desde o início do ano até à passada sexta-feira, ou seja, em menos de sete meses, registaram-se 53 suicídios em Macau, número que se aproxima do valor total dos anos 2021 (60), 2020 (76) e 2019 (66). Os dados foram revelados no sábado pela TDM-Canal Macau, com base em informação compilada a partir de notificações da Polícia Judiciária (PJ), enviadas aos meios de comunicação social aquando da ocorrência destes casos. Segundo a análise, é possível ver que, entre Janeiro e Julho de 2022, houve quase tantos suicídios do que os registados ao longo de todo o ano de 2021, período em que houve, no total, 60 ocorrências. Além disso, dos 53 casos reportados pela PJ, 10 ocorreram entre Junho e Julho, meses marcados pela imposição de rigorosas medidas restritivas à população, nomeadamente o confinamento parcial da cidade e o encerramento de praticamente todas as actividades consideradas “não essenciais”. Recorde-se que, durante parte deste período, os cidadãos foram proibidos de sair à rua, incluindo para fazer exercício físico ou passear animais de estimação, estando limitados à compra de bens em supermercados e à participação em testes em massa. Dos 53 casos registados desde o início do ano, o último ocorreu na passada sexta-feira e diz respeito a uma mulher de 24 anos que saltou de um prédio localizado na Taipa. A partir da compilação de dados feita pela TDM-Canal Macau é possível ver que, do total, 46 pessoas são residentes de Macau e sete são não-residentes. A maioria dos casos pertence às faixas etárias entre 30 e 40 anos, 50 e 60 anos e entre 70 e 80 anos. De frisar ainda que, das 53 mortes por suicídio, 12 sofriam de doenças, quatro estavam desempregados e não conseguiam arranjar trabalho e que 12 deixaram notas à família. No último mês registou-se ainda uma tentativa de suicídio numa zona vermelha, referente a um homem de 30 anos que pretendia saltar do edifício onde estava confinado, mas acabou persuadido pelos bombeiros a desistir da ideia. Recorde-se que, no primeiro trimestre deste ano, o número de mortes por suicídio em Macau quase triplicou, dado que, entre Janeiro e Março de 2022, 28 pessoas cometeram suicídio, ou seja, mais 18 casos (180 por cento) em comparação com o mesmo período do ano passado, altura em que foram registados 10 casos. Na altura, os Serviços de Saúde disseram que a situação “não pode ser ignorada” e apontaram como possíveis causas dos suicídios registados no primeiro trimestre de 2022, problemas financeiros, relacionados com jogos de azar e ainda, doenças crónicas, físicas ou mentais. Além disso aconselharam “manter um estilo de vida saudável”, que inclua uma dieta equilibrada, exercício físico e sono adequado, que prescinda do consumo de tabaco e álcool e privilegie o “relaxamento”, soluções parcialmente impedidas de ser concretizadas devido às medidas impostas durante o último surto, que teve início a 18 de Junho. Poucas soluções Confrontadas com os 53 casos dos últimos sete meses, as autoridades de saúde admitiram o problema e aconselharam os residentes com problemas de saúde mental, devido ao confinamento, a pedir ajuda. “Muitas pessoas tiveram que ficar em isolamento, inclusivamente as pessoas infectadas tiveram que ficar mais tempo em observação médica. O Instituto de Acção Social [IAS] tem vindo a acompanhar de perto estes casos”, começou por dizer, o médico-adjunto da direcção do Centro Hospitalar Conde de São Januário, Lei Wai Seng, segundo a TDM-Canal Macau. “Para alem de receberem tratamento, as pessoas que estão em isolamento também podem pedir aconselhamento psicológico. Podemos ver que há muita pressão na nossa sociedade, incluindo a questão do emprego ou até conflitos familiares devido ao período de isolamento. Apelo que, caso os residentes tenham essa necessidade, podem ligar ao IAS, pedir apoio através do website ou ligar para a linha de aconselhamento psicológico, não devendo acumular esses problemas e chegar a uma situação extrema. Os nossos serviços de urgência também prestam tratamento psicológico para as pessoas necessitadas”, acrescentou. De frisar que, os Centros de Saúde do Tap Seac, Fai Chi Kei, Areia Preta, Ilha Verde, Jardins do Oceano, Nossa Senhora do Carmo — Lago, e Praia do Manduco, subordinados dos Serviços de Saúde, foram abertas consultas externas de saúde mental. Caso tenha pensamentos suicidas e necessite de auxílio, pode ligar para o Serviço de Auxílio da Cáritas, através do número 2852 5222, em chinês, ou do número 2852 5777, em inglês.