Hoje Macau Eventos25 de Abril | Associação “Somos!” traz Pedro Jóia e José Salgueiro a Macau A “Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa” vai celebrar os 50 anos do 25 de Abril com um concerto comemorativo. No dia 13 de Abril, os músicos Pedro Jóia e José Salgueiro apresentam o espectáculo “Zeca” no Teatro D. Pedro V O Teatro D. Pedro V recebe no dia 13 de Abril um concerto comemorativo do 25 de Abril de 1974, a revolução portuguesa cujo 50º aniversário se celebra este ano. “Zeca”, nome do espectáculo promovido pela “Somos! – Associação de Comunicação em Língua Portuguesa” (Somos – ACLP), junta em palco o guitarrista Pedro Jóia e o percussionista José Salgueiro, dois instrumentistas de topo do panorama musical português. Segundo um comunicado da “Somos!”, “Zeca” pretende ir “além da força do repertório de Zeca Afonso, com reinterpretações de versões instrumentais de parte da melhor música portuguesa produzida no último meio século”. O músico José Afonso, que ficou conhecido na história da música portuguesa como Zeca Afonso, é tido como “uma das figuras incontornáveis da história artística e do processo revolucionário português”. A organização do evento indica que no espectáculo “vai ressoar grande parte da sua obra”, nomeadamente o disco “Zeca”, onde Pedro Jóia transformou canções do músico de intervenção em versões instrumentais. O repertório do concerto irá incluir ainda a interpretação de temas de outros músicos portugueses, nomeadamente Carlos Paredes, compositor e mestre de guitarra portuguesa, ou ainda algumas músicas originais compostas por Pedro Jóia, registadas em oito discos ao longo dos últimos vinte cinco anos de carreira. Destaque ainda para a presença do instrumentista Fang Teng, da Orquestra Chinesa de Macau. O músico convidado irá interpretar obras emblemáticas da música portuguesa, “fortalecendo, desta forma, laços que unem os nossos povos há séculos e criando um momento de perfeito vínculo musical e cultural”. Um disco nos palcos Lançado em Maio de 2020, “Zeca” obteve bastante sucesso nas tabelas de vendas em Portugal e já percorreu vários palcos, dentro e fora do país, chegando agora a Macau. O disco desperta “uma ampla gama de emoções apenas com a linguagem poética dos instrumentos em palco e a evocação de reminiscências e íntimas reflexões”, aponta a “Somos!”. A “Somos!” descreve ainda que Fang Teng “pontuará as notas da música portuguesa com a capacidade dramática e melancólica do erhu, um instrumento tradicional chinês de duas cordas tocado com um arco. Um apontamento que promete encantar e comover a audiência”. O espectáculo começa às 21h e os bilhetes custam 200 patacas. Pedro Jóia fez estudos em guitarra clássica no Conservatório Nacional, além de ter estudado guitarra flamenca. Em 2008, recebeu o Prémio Carlos Paredes com o álbum “À Espera de Armandinho” e recebe a mesma distinção em 2020 com “Zeca”. No caso de José Salgueiro, a carreira na música tem-se pautado pela bateria e percussão. Estudou na Academia dos Amadores de Música, Conservatório Nacional, Hot Clube de Portugal e no Taller de Músics, em Barcelona. A sua actividade musical passou por concertos, gravações de discos e espectáculos de televisão com vários artistas nacionais. Em 2017 lançou o seu primeiro trabalho a solo, intitulado “Transporte Colectivo”. Fang Teng terminou em 2015 o curso no Conservatório de Macau e foi admitido no Conservatório Central de Música. Foi professor de erhu na Escola de Educação Contínua do Conservatório Central de Música, músico convidado da Orquestra Chinesa de Macau, e actualmente é professor desse instrumento tradicional na Escola Secundária Hou Kong de Macau.
Hoje Macau InternacionalFamília de Zeca Afonso rejeita trasladação para Panteão Nacional [dropcap style=’circle’]A[/dropcap]família do compositor José Afonso rejeitou a proposta da Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) de trasladação dos restos mortais do músico para o Panteão Nacional. “José Afonso rejeitou em vida as condecorações oficiais que lhe haviam sido propostas. Foi, a seu pedido, enterrado em campa rasa e sem cerimónias oficiais, em total coerência com a sua vida e pensamento. Por isso, apesar da meritória intenção que inspira a proposta, é a sua vontade que deve ser respeitada” refere uma nota divulgada pela família do criador de “Grândola, Vila Morena”. A nota, assinada por Pedro Afonso, um dos quatro filhos do músico, adianta que “a família considera fundamental a salvaguarda e fruição da obra de José Afonso e a defesa dos seus direitos de autor, contando para tal com o superior envolvimento do Estado Português e da SPA, nomeadamente para que se garanta a recuperação e preservação das gravações originais”. Em comunicado divulgado na terça-feira, a SPA defendeu a trasladação dos restos mortais de José Afonso para o Panteão Nacional, em Lisboa considerando que “é este o tributo e é esta homenagem que Portugal deve a quem como mais ninguém o soube cantar em nome dos valores da liberdade, da democracia, da cultura e da cidadania”. Em Maio de 1983, o músico foi homenageado pelo município de Coimbra, tendo recebido a Medalha de Ouro da cidade. Na ocasião o então presidente da câmara, Mendes Silva, agradeceu a José Afonso a quem se dirigiu tendo afirmado: “Volta sempre, a casa é tua”. O compositor retorquiu: “Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem”. Também nesse ano, o então Presidente da República, António Ramalho Eanes, atribuiu a José Afonso a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusou-se a preencher o formulário. Em 1994, o Presidente da República, Mário Soares, tentou condecorar postumamente José Afonso com a Ordem da Liberdade, mas Zélia Afonso recusou, alegando que o músico não desejou a distinção em vida e também não seria condecorado após a sua morte.
João Paulo Cotrim h | Artes, Letras e IdeiasDesacertos na recta do tempo Santa Bárbara, 16 Abril [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] silêncio de um editor é sempre ofensa, falta de consideração, desrespeito, desatenção. De Profundis, diz o outro. «Não quero martelo e rima/Aqui no Largo da Graça/Quero ficar onde estou/para saudar a quem passa.» Horta Seca, Lisboa, 18 Abril Os dias andam tristes. Talvez nem tanto, apenas embrulhados em circunstâncias miúdas que não permitem abrir os braços e acolher de peito feito a cidade. Eis se não quando uma dúzia de páginas tintadas de azul e vermelho chegam pelo correio e impõem paragens. A história breve de uma solidão faz-se desdobrar por Bárbara R. em grandes planos e geometrismos e desacertos neste pequeno álbum auto-editado. O Sol da Sra. Azul celebra a vizinhança, a atenção ao outro, com simplicidade extrema. Detalhe: fá-lo assente na imperfeição. A impressão riso deste meu exemplar 51 em 90 torna-o único e não me canso de nele descobrir pormenores: de gente, de casas, de percursos. A gentileza de Bárbara deu-me a ver os velhos que ainda cruzam as ruas da cidade dos turistas cegos. Sim, ainda há velhos em Lisboa. Não sei se há sol ou Primavera. Monumental, Lisboa, 19 Abril Autismo, do mano Valério, dobra os 1500 exemplares em três anos bem medidos e atira-se em segunda edição. As sobras no armazém parecem desmenti-lo, mas há leitores para romances assim. De choque, dizem alguns. De rasgo, digo eu. Horta Seca, Lisboa, 20 Abril Faz 30 anos que Rui Baião, Al Berto e o mesmo Paulo da Costa Domingos, que passa a deixar-me prova de vida da frenesi, agora em edição viúva (!), cozinharam antologia que daria brado: Sião. Escolhas pessoalíssimas, a reinventar-se poema único de fôlego capaz de estabelecer correspondências íntimas de Antero a Fernando Luís Sampaio. «Nenhum detém uma ciência, sequer empírica, dos destinos da Poesia. Nenhum propôs a outrem cânone que não constituísse já a sua coluna vertebral e fado seu, irreversível». Palavras do ímpar editor, noutra ocasião comemorativa, de 1991, e que agora revela, entre outras mais ou menos provocatórias na brochura Sião – Doc. Interno, publicada a pretexto da exposição que comemora, na associação cultural do Porto, Sismógrafo, as tais três décadas da Sião. E que celebrava «o centro urbano, as sociedades nocturnas, pessimistas, decadentistas e que se afastavam da escrita agrária, bucólica do século XIX.» Numa altura em que surgem editoras como cogumelos, mesmos nos dias em que não chove, incautas que julgam que para editar basta imprimir livros, as reflexões suscitadas pelas dezenas de títulos postos a nu no chão ao longo da parede são de extrema importância. Contra o esquecimento, pela afirmação de uma ética. Uma editora faz-se, antes de mais, lugar de resistência pela reflexão, contra a vida, apesar dela, em nome de uma ideia de literatura que nos desarruma, que investe língua adentro, que experimenta, que pensa cada aspecto do não. O logótipo da faz-se «de um cabrito alado em silhueta, e era originalmente a asa de um recipiente persa, em ouro, talvez um jarro». A espiral foi inscrita pelo Paulo Costa Domingos e não deixou ainda de girar sobre si. A palavra vem de verso de Mário de Sá-Carneiro: «Um frenesi hialino arripiou/Pra sempre a minha carne e a minha vida.» A frenesi arrepiou. A frenesi arrepia. Basta subir, página a página, à última cidade do Armagedão. Casa da Cultura, Setúbal, 21 Abril E 30 anos passaram desde a morte do Zeca. Quantas décadas contém cada canção sua? As granadas de mão estão cheias de referências, supostas impurezas, nomes concretos, de lugares exactos, insultos dirigidos, asneiras de criar bicho, múltiplos sinais do seu tempo, que só tolos acharão passados pois são afinal palmos de terra sobre os quais se erguem cabanas, lares, fortalezas. Sopram nelas ventos que confluem em espiral, forças de assombrar futuros. Olha ele a cantar-me ao ouvido: «a fadiga é um dom da natureza/ Chiça!/ Com as minhas tamanquinhas/Com as minhas/ Com as minhas tamanquinhas/ P’ra quem não faz fortuna/ Mata as penas e faz covinhas». Desconfio, não tenho certezas, aprendi com ele a world music ou que o surrealismo era redondo vocábulo e isto de viver uma soma agreste. Utilidades, portanto. «Era um redondo vocábulo /uma soma agreste/revelavam-se ondas/em maninhos dedos/polpas seus cabelos/resíduos de lar». Onde andam os vinis da minha infância a querer-se outra coisa? Mas Quem Vencer Esta Meta Que Diga Se a Linha é Recta comemora estes anos todos, os dele feitos meus. O mano José Teófilo [Duarte], que fez dele boa causa, comemorou o design na obra do José Afonso a partir da arte de José Santa-Bárbara, José Brandão, João de Azevedo, Alberto Lopes, produtores das imagens que me forram a memória. Venham mais cinco será o meu preferido? Ou antes Com as minhas tamanquinhas? Onde rodam os discos da minha infância pouco farta, mas rica? Conheci há pouco um velho amigo, o João Azevedo, que traz perfumes das quatro partidas do mundo, sendo nele mais intenso o de Moçambique, que por um triz não visito agora. As linhas não são todas rectas. O João vem de celebrar 50 anos de pinturas, em boa companhia de mais três nados na Figueira da Foz de costas para terra. Folheio o testemunho impresso, passeio pelas cores, pelos rostos. Invisto tempo nos Ícaros, divertem-me os crocodilos, céu apesar de quedas, horizontes que mordem. Pinta agora barcos apinhados de gente, refugiados. Parecem farpas as suas cores. Mas há sempre rostos, quase gritos. «A formiga no carreiro/andava à roda da vida/caiu em cima/de uma espinhela caída.» Mudemos de rumo.
Hoje Macau Eventos25 de Abril | Memorial a Zeca Afonso inaugurado em Lisboa [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m memorial dedicado ao músico Zeca Afonso vai ser inaugurado no dia 25 de Abril no Jardim das Francesinhas, junto à Assembleia da República, em Lisboa, numa cerimónia que vai contar com o presidente da Câmara Municipal da capital portuguesa, Fernando Medina. O Memorial a José Afonso “nasce de uma proposta de Orçamento Participativo e foi desenvolvida em parceria com a Associação José Afonso – AJA”, referiu em comunicado a Câmara Municipal de Lisboa. “Este memorial reúne um conjunto de elementos biográficos patentes na sua construção e na sua localização: o jardim encontra-se junto ao poder político da Assembleia da República, do Ensino e da Juventude (aqui corporizado pelo ISEG) e da própria AJA, entidade que promove o conhecimento e a valorização da vida e obra do cantautor”, destacou a autarquia. O município acrescentou que “a esta simbologia acresce o facto de o memorial, propriamente dito, ter sido concebido como parte do trabalho de curso dos alunos de Escultura da Faculdade de Belas-Artes, sob orientação do professor Sérgio Vicente, e a placa em bronze concebida por Luísa Barros Amaral”. Segundo a Câmara, o Memorial a José Afonso, recuado no espaço do jardim, pretende, no futuro, ser ponto de encontro para leituras de poesia e outros momentos de celebração cultural dinamizados pela AJA. José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro. Estudou em Coimbra, no curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras, foi professor em vários pontos do país e também viveu em Moçambique. Ao longo da sua carreira como cantor e músico interpretou o fado de Coimbra, mas ficou mais conhecido pelas suas canções de intervenção, contra o regime ditatorial. Morreu, aos 57 anos, a 23 de Fevereiro de 1987.