Paul Chan Wai Chi Um Grito no Deserto VozesA vida é um jogo de xadrez O ano de 2022 vai definitivamente ser de grandes mudanças a nível mundial. O rumo para melhor ou para pior destas mudanças vai depender dos que têm o poder de adicionar vários factores ao panorama geral. De acordo com o Budismo, os resultados das acções dependem sempre das pessoas. Quer sejamos activos, ou quer nos remetamos ao silêncio, influenciaremos sempre o curso dos acontecimentos e seremos responsáveis pelas suas consequências. Existe um ditado chinês que afirma que “aqueles que assistem a um jogo de xadrez sem se pronunciarem sobre os movimentos das peças são boas pessoas”. E isto porque fazer antevisões demasiado cedo, ou chegar a conclusões prematuramente não é bem visto pelos jogadores de xadrez, que vão encarar essa atitude como causadora de problemas. É mais apropriado analisar as movimentações das peças no final do jogo, embora mesmo isso possa ser considerado irresponsável. A análise posterior das situações gerou sempre contradição e sofrimento nos meios intelectuais. O ataque da Rússia à Ucrânia é uma jogada política entre dois campos poderosos. Até agora, foram estes dois países os que mais sofreram. Se a guerra não chegar rapidamente ao fim, o ódio entre os diferentes povos eslavos vai aumentar e a economia russa vai entrar em recessão, enquanto a China, que tem um papel como mediador para o cessar fogo, também será afectada. Avaliações desadequadas e aconselhamento tendencioso tornaram a Ucrânia num tabuleiro de xadrez onde as maiores potências fazem as suas jogadas. Provavelmente, algumas pessoas já perceberam que os políticos semeiam discórdia e incutem hostilidade e que a excessiva auto-confiança destes jogadores não os deixa ouvir outras opiniões. Quando os espectadores são silenciados, ou só lhes é permitido o aplauso, fica difícil voltar trás depois de uma movimentação errada. A situação em Hong Kong e em Macau, não é auspiciosa devido a uma série de factores provocados pelas pessoas. A eleição do Chefe do Executivo marcada para 1 de Julho próximo deixou de atrair a atenção da população. Ganhe quem ganhar esta eleição, o facto de o Governo Central governar e exercer total controlo sobre Hong Kong permanecerá inalterável. Enquanto os membros da Oposição abandonaram Hong Kong, foram presos, ou aguardam julgamento, a cidade perdeu o seu equilíbrio e o seu sistema de monitorização. Perante esta situação, como é que a actuação do Governo pode ser justificada? O resultado do jogo de xadrez de Hong Kong está basicamente decidido, a menos que haja uma movimentação mágica que crie um imprevisto. As previsões para Macau são igualmente pouco optimistas. Se a política chinesa encontra paralelismo no jogo Go, o princípio “um país, dois sistemas” deixa dois finais em aberto no reino do socialismo, que permitem desenvolvimentos flexíveis tendo em vista a vitória do Jogo. Se os dois finais abertos forem bloqueados, o tabuleiro do Jogo Go será dominado pelas pedras de uma só cor, o que implica uma perda de flexibilidade política. Actualmente, a Assembleia Legislativa de Macau está a rever o Regime Jurídico da Exploração de Jogos de Fortuna ou Azar em Casino”. Na ausência de contraditório e com a total cooperação dos poderes executivo e legislativo, o sector que gera as maiores receitas de Macau está a ser submetido a uma cirurgia reconstrutiva. Recentemente, várias empresas promotoras do jogo fecharam umas atrás das outras e há rumores sobre o fecho eminente de outras filiais. Então, se não houver ramos nem folhas, como é que o tronco pode sobreviver? Todos os jogos de xadrez são diferentes e têm resultados imprevisíveis. A série de movimentos dos jogadores determinam o vencedor e o vencido. Tomando Singapura como exemplo, e de acordo com dados online não actualizados, a cidade-estado já teve 1,07 milhões de casos de Covid-19, 1.254 mortes com uma taxa de vacinação nacional de 87.2 por cento, ligeiramente inferior à da China, que está nos 87.9 por cento. Hong Kong já teve 1.14 milhões de casos de Covid-19 cases, 7.420 mortes e uma taxa de vacinação de 76.7 por cento, enquanto Macau registou apenas 82 casos de Covid-19, zero mortes e uma taxa de vacinação de 78.5 por cento. Entretanto, Singapura anunciou que, a partir de Abril, os viajantes vacinados não serão submetidos a quarentena, as medidas de distanciamento social vão ser levantadas e a economia vai ser aberta ao mundo exterior. Desta forma, é provável que Singapura seja a primeira zona asiática a recuperar da pandemia. O “modelo de Singapura” com a criação de condições assentes na sua capacidade e na construção da auto-confiança é seguramente a chave para se avançar na decisiva vitória sobre a pandemia. No momento em que escrevi este artigo, estavam a decorrer as conversações entre a Rússia e a Ucrânia. Estou confiante que estas conversações vão dar frutos, porque, caso contrário, a Ucrânia será destruída se se vier a tornar palco de uma guerra nuclear. Depois da bem-sucedida implementação do “Modelo de Singapura”, como forma de lidar com a pandemia, acredito que as vidas das pessoas irão gradualmente voltar ao normal. O Imperador romano, Marco Aurélio, afirmou na sua famosa obre “Meditações” que “O olho saudável deve enxergar todas as coisas visíveis e não desejar ver o mundo todo de uma só cor; porque nesse caso estaria doente.” A este respeito, uma mente saudável deve estar preparada para tudo o que acontece e muito mais se espera dos jogadores de xadrez.
Hoje Macau China / ÁsiaXadrez : Campeã mundial recusa jogar na Arábia Saudita [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] ucraniana Anna Muzychuk, de 27 anos, é dupla campeã mundial de xadrez. A sua irmã, Mariya Muzychuk, dois anos mais nova, seguiu-lhe os passos. E não apenas no desporto, mas também nas convicções. Entre 26 e 30 de Dezembro realiza-se o campeonato mundial de xadrez na Arábia Saudita e as irmãs não vão estar presentes: recusam-se a usar uma veste feminina saudita, a abaya [túnica larga]. Num post no Facebook, partilhado a 23 de Dezembro, a campeã explicou o motivo da decisão. “Em poucos dias vou perder dois títulos mundiais, um a um. Apenas porque decidi não ir à Arábia Saudita. Por não jogar com as regras de outros, por não usar abaya, por não ter de ir acompanhada à rua, e finalmente por não me sentir uma criatura secundária”, lê-se. Na imagem partilhada, Anna surge com as duas medalhas recebidas o ano passado, sorridente. “Há exactamente um ano ganhei estes dois títulos e era a pessoa mais feliz no mundo do xadrez, mas agora sinto-me muito mal. Estou preparada para lutar pelos meus princípios e faltar a este evento, onde, em cinco dias, esperava ganhar mais do que numa dezena de competições”, refere a campeã. Contudo, a publicação serve principalmente para marcar uma posição, demonstrando as diferenças existentes entre os vários países, no que toca às mulheres. “Tudo isto é irritante, mas o mais perturbador é quase ninguém se importar realmente. Este é um sentimento amargo, mas ainda não é o que vai mudar a minha opinião e os meus princípios. O mesmo vale para a minha irmã Mariya — e estou muito feliz por partilharmos este ponto de vista. E sim, para aqueles poucos que se importam — vamos voltar!” Esta não é, contudo, a primeira vez que uma jogadora se nega a participar numa competição por motivos de vestuário feminino dos países em questão, conta o El País. Em Fevereiro de 2017, Nazi Paikidze, campeã americana, não competiu no Irão por se recusar a cobrir a cabeça com o hijab [véu islâmico]. Neste campeonato, Anna Muzychuk esteve presente e competiu de véu na cabeça. Em Outubro, Dorsa Derakhshani, campeã de xadrez iraniana, foi proibida de jogar pelo seu país por também recusar o véu islâmico, passando depois a jogar pelos Estados Unidos. No passado mês de Novembro, quando Anna soube do campeonato na Arábia, marcou a sua posição, defendida agora. “Primeiro Irão, depois Arábia Saudita… Pergunto-me onde serão organizados os próximos campeonatos mundiais femininos. Apesar do recorde de títulos, não vou jogar em Ryad, o que significa perder dois títulos de campeã mundial. Para arriscar a tua vida, para usar abaya o tempo todo? Tudo tem os seus limites e os véus no Irão já foram mais do que suficientes”. A publicação desta semana já foi partilhada mais de 6 mil vezes e são muitos os comentários de apoio às irmãs. Até ao momento não há qualquer reacção por parte da organização do Campeonato do Mundo de Xadrez, que apenas refere no seu site que o campeão mundial masculino, o norueguês Magnus Carlsen, estará presente nos torneios. A FIDE, Federação Mundial de Xadrez, também não se manifestou quanto ao sucedido, publicando apenas no Twitter a indicação dos sorteios femininos.
Hoje Macau DesportoMundial de Xadrez | Campeão renova título João Valle Roxo [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] norueguês Magnus Carlsen reteve o título de campeão do mundo de xadrez de partidas clássicas pelos próximos dois anos no desempate por partidas rápidas contra o russo Sergei Karjakin. Conforme tínhamos noticiado aqui na passada semana, entre 11 e 28 de Novembro, disputou-se em Nova Iorque o campeonato do mundo de xadrez, onde o campeão, Magnus Carlsen defendia o seu título frente a Sergei Karjakin. Era um match de doze partidas e, em caso de empate, decidir-se-ia tudo dois dias mais tarde em partidas rápidas (25 minutos para cada jogador mais um incremento automático de 10 segundos por jogada). Caso se mantivesse, ainda assim, o empate, partir-se-ia para a decisão por meio de partidas Blitz (5 minutos para cada jogador mais um incremento de 3 segundos por jogada). Na Sexta-feira passada Karjakin tinha tomado a dianteira do match após 7 empates consecutivos, vencendo a partida nº 8. Na partida 9, novo empate, com Karjakin muito perto de vencer – o que deveria arrumar o match – mas a deixar o adversário fugir-lhe por entre os dedos. Porém, na partida 10, Karjakin cometeu vários pequenos erros que deixaram Carlsen em vantagem posicional e este não perdoou, ganhando a partida e igualando o match. Seguiram-se outros 2 empates nas partidas 11 e 12 e terminado o match a pontuação cifrou-se em 6-6. O título teria que ser decidido, infelizmente, em partidas rápidas. Infelizmente porque se trata de um campeonato de clássicas, do verdadeiro xadrez, cuja duração de uma partida pode ir até às 8 horas, e não parece justo que o campeão do mundo de clássicas ganhe esse título através de uma partida … não clássica. Como já dizia o mais famoso xadrezista de sempre, o americano Bobby Fisher, nestas situações o mais justo seria um prolongamento do match. De qualquer forma, eram estas as regras do jogo, com as quais ambos os adversários já haviam concordado quando assinaram os respectivos contratos. Ganhou Carlsen por 3-1 e não podia ter recebido melhor prenda de anos, pois ganhou no dia do seu 26º aniversário, no dia 30 de Novembro de 2016. Na primeira partida rápida, Carlsen, de negras, surpreendeu com uma novidade da Partida Espanhola, conseguindo facilmente igualar e empatar. Na segunda partida, Carlsen, de brancas dominou mas, em posição muito difícil, “Houdini” Karjakin conseguiu escapar e manter o empate. Porém, na terceira partida e logo com as peças brancas, Karjakin não esteve ao seu melhor nível, talvez fatigado pela partida anterior que muito lhe tinha exigido. Em contrapartida, Carlsen esteve ao seu melhor, com um jogo tão preciso quão electrizante e venceu de forma inapelável. O match ficava em 2-1 a favor de Carlsen e só faltava uma partida. Chegados à 4ª e última partida rápida, Karjakin viu-se então numa situação de ter obrigatoriamente que vencer para manter o match vivo, ao passo que a Carlsen bastava o empate para manter o título. O norueguês construiu uma posição digna do antigo “catenaccio” italiano do futebol e, tal como vimos acontecer em muitos jogos da selecção italiana nessa altura, a posição estava “fechada à chave”. O campeão defendeu porfiadamente até que o seu adversário teve que arriscar tudo por tudo, mais especulativamente do que com propriedade. O resultado foi então o oposto: como um contra-ataque brilhante no futebol, o campeão, numa só jogada genial, verdadeiramente genial e artística, aproveitou uma oportunidade para fazer um sacrifício que já raramente é possível ver nos nossos tempos de um xadrez quase totalmente matematizado: o sacrifício da peça mais poderosa, a Rainha ou Dama. Diagrama 1: Analisando esta posição, vemos que as brancas têm a Rainha, duas Torres e quatro peões e as negras têm a Rainha, uma Torre, um Bispo e também 4 peões, o que significa que, materialmente, as brancas têm a vantagem aproximada de 2 peões. Mas as negras têm um peão passado em “b6” que virá a ser muito perigoso caso consiga trocar de Rainhas e, mais importante, de momento estão a ameaçar Xeque-Mate se jogarem a sua Rainha para f1, sendo que as brancas têm de defender esta ameaça sem poderem mover a sua Rainha da diagonal que vai de “b1” a “h2” porque senão desprotegem essa casa “h2” e sofrem um diferente mate, com a captura desse peão pela Rainha negra, que está protegida pela sua Torre. Como defender, então, esta dupla ameaça? Neste caso, caso de um génio em acção, … dando-se xeque-mate primeiro e de forma artística: As brancas jogaram a sua Rainha para “h6” e Karjakin abandonou a partida. Tentem descobrir porquê. No artigo seguinte vem a solução.
Hoje Macau DesportoCampeonato mundial de Xadrez | O sábio contra o génio João Valle Roxo [dropcap style≠’circle’]C[/dropcap]omeçou no passado dia 11 de Novembro o campeonato mundial de xadrez em Nova Iorque, em plena Manhatan no Southsea Sport, ao lado de Wall Street e da Ponte de Brooklin. Coloca frente a frente o ucraniano naturalizado russo Sergei Karjakin e o bi-campeão mundial, o norueguês Magnus Carlsen. Karjakin tem 26 anos e sagrou-se o mais jovem Grande-Mestre da história do xadrez com 12 anos. Tal feito foi logo no ano seguinte batido por Magnus Carlsen, actualmente com 25 anos, por alguns dias de diferença. Somadas as idades de ambos os rivais (51 anos) trata-se do mais jovem campeonato do mundo até hoje. Além do título, o vencedor arrecadará cerca de um milhão de dólares. Carlsen é o nº 1 do mundo, enquanto Karjakin é o nº 9, daí que a generalidade dos aficionados veja naturalmente o norueguês como favorito. Mas um jogo não é um torneio e tudo pode acontecer. Como disse antes do jogo se iniciar um dos mais reputados comentadores, Daniel King, Grande Mestre ligado ao mais popular website xadrezístico (www.chessbase.com) : “Although on paper Carlsen is favorite, in this kind of match I don’t see the World Champion’s usual strengths coming into play. Carlsen has great physical stamina that often allows him to power through in the latter half of a tournament; Karjakin has been training hard on his physical fitness and will match the Norwegian in this regard. Carlsen is deadly at killing off the weaker players in a tournament, but there is only one opponent here. Carlsen’s nerves are strong; the same can be said about the stolid Karjakin. His calm performance in winning the Candidates was impressive. Although Carlsen has won two World Championship finals, this is the first time he is facing a player of his own generation, so to some extent he is also facing a new challenge. “ E, na verdade, ao início da segunda metade do jogo, isto é, decorridas as primeiras sete partidas das doze previstas, o resultado era um estonteante 3,5/3,5, correspondente a sete empates. Nas partidas 1 e 2 Karjakin empatou sem grande esforço, mas nas partidas 3 e 4, que duraram umas boas 7 horas cada uma, Carlsen esteve quase a conseguir alcançar a vitória. Todavia, Karjakin exibiu miraculosos recursos defendendo uma posição inferior e acabando por conseguir obter o empate. O mundo xadrezísitico, boquiaberto, não tardou a encontrar um epíteto à altura das circunstâncias, cognominando-o de Sergei “Houdini” Karjakin. Carlsen acusou psicologicamente a pressão decorrente da frustração de possivelmente ter tido “o pássaro na mão para o ver fugir” e na quinta partida esteve menos bem, tendo sido Karjakin a deixar escapar a vitória. A consequência foi que o actual campeão em título procurou dois empates balsâmicos nas partidas 6 e 7, sem que o aspirante também tenha corrido quaisquer riscos, o que produziu as duas partidas menos interessantes do match até agora. Anteontem tudo foi diferente. A oitava partida trouxe uma batalha intensa e dramática. Magnus Carlsen jogava com as brancas e queria ganhar a todo o custo. Infelizmente para ele o tiro saiu-lhe pela culatra. Após a abertura e algumas longas manobras de peças no meio jogo a partida estava equilibrada e nada parecia indicar outro resultado à vista senão mais um empate. Mas Carlsen estava disposto a tudo para evitar mais um empate. Ao 19º lance decidiu arriscar através de um movimento de Cavalo para “b5”que “convidava” Karjakin a preparar um ataque pelo seu flanco de Rei, enquanto que Carlsen lançaria o seu ataque pelo flanco de Dama, em qualquer caso, um jogo que dificilmente terminaria com um empate. Aqui, o aspirante tinha duas opções: aceitar mudar para um jogo agudo jogando 19…Dg5, recheado de possibilidades mas com alguns riscos, ou recusar esta via e continuar no caminho que tem vindo a seguir, de preferir ter que defender uma posição menos boa mas com fortes chances de empate se tal defesa for mesmo excelente. Karjakin optou pela segunda via jogando antes 19 …Bc6. Em consequência, Carlsen viu a sua posição melhorar. Mas entretanto a complexidade dos cálculos reflectia-se no relógio e chegou uma altura em que ambos os jogadores poucos minutos dispunham para realizarem vários lances a fim de atingirem o 40º lance nas duas horas de tempo regulamentar. Seguiu-se uma troca de golpes rápidos onde parecia que Carlsen melhorava cada vez mais a sua posição até que ao 35º lance este faz um duvidoso sacrifício de peão na casa “c5”. Aqui, Karjakin aceita o peão logo depois de trocar torres com 35…TxT, 36. DxT Cxc5. Agora é este último quem adquire uma pequena vantagem posicional. Porém, de novo o tempo é implacável e ao 37º lance, depois de Carlsen jogar 37. Dd6, Karjakin não vê a jogada de Dama que lhe daria uma vantagem ainda mais significativa (37…Da4) e escolhe a casa errada para a colocar jogando 37…Dd3. Imediatamente a seguir Carlsen sacrifica um Cavalo por um peão para recuperar o Cavalo na jogada seguinte com 38.Cxe6 fxe6, 39.De7 + Rg8, 40.Dxf6 a4, 41.e4 Dd7. Atingido o controle de duas horas com ambos os jogadores a terem completado 40 jogadas e dissipado o fumo da pólvora, as brancas estão ao ataque, mas as negras têm dois perigosos peões passados em “a” e “b”. A partida prosseguiu com 42.Dxg6+ Rg7, 43.De8+ Df8, 44.Dc6 Dd8, 45.f5 a3, 46.fxe6 Rg7 e concluído o 46º lance, as brancas conseguem também ter um peão passado em ”e6” e até têm um peão a mais, mas os peões “a” e “b” das negras são perigosíssimos. Nada está decidido. As brancas sacrificam o seu peão em “e” mais avançado mas capturam o peão “b” das negras, com: 47. E7 Dxe7, 48.Dxb6 Cd3. Agora, as negras têm um peão passado em “a3” e as brancas um peão passado em “e4”. Resultado imprevisível. A partida prossegue com: 49. Da5 Dc5, 50.Da6 Ce5. Todos estão à espera de um complexo final em que o mais pequeno passo em falso é a derrota. É então que acontece um momento de génio. Karjakin aproveita uma jogada das brancas ao lance 51. De6 que parecia boa, para uma resposta profunda e refinada, tão simples quão eficaz, e joga 51. h5, ameaçando jogar de seguida 52… “h4” furando as defesas do Rei branco. Carlsen sente o perigo e faz uma jogada que parecia perfeitamente normal: jogou 52.h4, evitando o tal plano de ruptura das negras. É então que Karjakin responde com uma jogada que vai chocar os largos milhões de aficionados que seguiam a partida, os comentadores e o próprio campeão mundial, movendo o seu peão de “a3” para “a2”, a uma casa de “a1” onde seria promovido a Dama selando o desfecho da partida. Mas essa casa “a2” está controlada pela Dama branca em “e6”. Que significa isto? Terá o russo endoidecido, oferecendo assim a mais-valia das negras e a partida ao seu adversário? Não, nada disso. É que se o Campeão captura o peão em “a2”, as negras têm mate em 3 lances a menos que as brancas sacrifiquem a sua Dama Cavalo das negras. Aqui, nesta posição, a ameaça é que se 53. Dxa2? As negras jogam 53….Cg4+ e o Rei branco só pode fugir para “h3”, única casa de fuga. Mas aí, segue Dg1!! , com ameaça de mate na jogada seguinte através de Dh2++. As brancas não têm um contra-ataque disponível, por exemplo através de um xeque perpétuo ao Rei negro com a sua Dama, e a sua única defesa será responder com Bf3 abrindo a fila “2” à sua Dama que, assim, pode defender a casa crítica do mate à vista, “h2”. Só que aí as negras jogam antes Cf2 + e as brancas teriam que trocar a sua Dama pelo Cavalo, para evitar xeque-Mate, o que equivaleria a uma derrota certa alguns lances mais à frente. Daí que, assim que Karjiakin jogou 52…a2, Carlsen depois de reflectir um pouco abandonou a partida. No fim do jogo o campeão mundial estava em estado de choque e não foi capaz de participar na conferência de imprensa. Quanto ao russo, sempre modesto e acessível, apesar da vitória sabe que ainda é muito cedo para celebrar o título apesar de só faltarem 4 partidas. “ é claro que estou muito contente porque tenho um ponto de vantagem, mas ainda faltam 4 partidas e Carlsen é bem capaz de recuperar. Não posso pensar em ganhar o título até que o duelo tenha terminado realmente”. Simferópol (Crimeia), 1995. Os participantes do torneio que está prestes a começar reúnem-se para votar se permitem a participação do prodigioso Sergei Karjakin, que aos cinco anos joga como os anjos mas que, porém, ainda não sabe apontar as jogadas. Decidem que sim, Sergei ganha a primeira partida e sai da sala dando piruetas acrobáticas, de que gosta quase tanto como do xadrez. Depois desta partida, Karjakin deve ter saído anteontem do Southsea Port, Fulton Market Building, como um menino com vontade de fazer piruetas. Podem acompanhar gratuitamente o jogo através do website www.chess24.com, mas as partidas começam às duas da manhã locais. Relativamente a esta partida que será sem dúvida histórica, aqui vão todos os seus lances, do princípio até ao fim: Nova Iorque, 21/11/2016 Magnus Carlsen vs Sergei Karjakin
Hoje Macau DesportoXadrez | Equipa chinesa campeã do mundo faz visita a Macau [dropcap style=’circle’]P[/dropcap]ela primeira vez na história do xadrez, a China sagrou-se campeã do mundo, no ano de 2015. E, ocasião única, também pela primeira vez vem esta equipa a Macau. A equipa campeã chega este sábado, 9 de Janeiro, à RAEM, onde permanecerá até segunda-feira, inclusivé, para promover o xadrez, também num acto de amizade da Associação de Xadrez da China para apoiar o trabalho de desenvolvimento de xadrez que está a ser feito pela Associação de Xadrez de Macau, Grupo de Xadrez de Macau. Trata-se, também, de um exemplo de feliz coordenação do Governo Central com a RAEM. Por um lado, esta equipa é verdadeiramente um dos bons “rostos” da RPC no mundo, numa arena particularmente querida que é a dos jogos mentais. Por outro lado, e verdade seja dita, o xadrez em Macau tem vindo a ser inteligentemente apoiado pelo IDM e este é mais um bom exemplo de visão. O outro, por enquanto menos visível porque planificado para o médio e longo prazo, é o programa de divulgação do xadrez nas escolas que se encontra em curso desde o ano passado. Efectivamente, a Associação de Xadrez de Macau, assistida pelo Governo, está actualmente envolvida num programa de ensino de xadrez, iniciado em 2015, em 16 escolas, que envolve cerca de 400 estudantes primários e secundários. Não por acaso, a equipa chinesa vai também visitar algumas das escolas na segunda-feira para compartilhar alguns dos seus conhecimentos e para tirar uma foto com os jovens alunos de xadrez, disseminando ainda mais a sua prática. Voltando concretamente à delegação chinesa, falamos de um alto dirigente, 4 xadrezistas que fazem parte do lote dos melhores jogadores do mundo e que jogam ao mais alto nível nos mesmos torneios internacionais em que figura, por exemplo, o campeão mundial Magnus Carlsen, bem como toda a elite xadrezística mundial e ainda treinadores, também eles Grandes-Mestres mas menos no activo, antes tendo por missão a preparação física, mental e psicológica da equipa, ao detalhe, à boa maneira chinesa. A composição da delegação é a seguinte: Capitão: Sra. Tian Hongwei (田红卫), Vice-Delegada Geral da Federação de Xadrez da China; Treinadores: GM Xu Jun (徐俊) e GM Yu Shaoteng (余少 腾); Jogadores: GM Wang Yue (王 玥), GM Bu Xiangzhi (卜祥志), GM Yu Yangyi (余 泱 漪), GM Wei Yi (韦奕).Estamos na presença de alguns dos mais altos QI’s do mundo. Os campeões vão jogar este domingo, a partir das 10:00, no pavilhão Desportivo do Tap Seac, uma exibição simultânea de xadrez, gratuita, limitada a 200 jogadores do público que os queiram desafiar, com inscrição e admissão entre as 9h00-9h30. Cada um, irá enfrentar, simultaneamente (daí o nome, “partida simultânea”) 50 adversários e todos estes, cada qual com o seu tabuleiro, cada qual com a sua partida, o enfrentam a ele. Mas, note-se, espera-se uma simultânea eclética onde a par de jogadores oficiais de Macau estarão outros que apenas gostam de jogar. Também se pretende divulgar a modalidade junto das crianças e dos jovens, tenham muitos ou poucos conhecimentos de xadrez, desde que se interessem. Qualquer pai pode vir com os seus filhos, mesmo que eles só conheçam as regras e os movimentos das peças, desde que gostem de jogar. Entretanto, fica prometida uma entrevista com todos eles para depois desta passagem por Macau, a ser aqui publicada. Os jogadores Wang Yue ( 王玥; nascido a 31 de Março de 1987) tornou-se, em 2004, no 18º GM chinês com a idade de 17 anos. De Março a Dezembro de 2008, Wang Yue esteve 85 jogos consecutivos sem uma derrota, um feito histórico. Foi também o primeiro jogador chinês a entrar no top 10 do xadrez mundial, o que aconteceu em Janeiro de 2010. Foi o tabuleiro nº 1 da selecção olímpica chinesa que ganhou a medalha de ouro em 2014. Wang é actualmente um estudante de “Estudos de Comunicação” na Faculdadede de Artes Liberais da Universidade de Nankai em Tianjin. Yu Yangyi (余泱漪; nascido em 8 de Junho de 1994) chegou a Grande Mestre com 14 anos, 11 meses e 23 dias em 2009. Em Dezembro de 2014, venceu o 1º Open de Mestres do Qatar, tendo vencido, entre outros, o russo Vladimir Kramnik e o holandês Anish Giri, actualmente, os nºs. 2 e 3 do mundo. Em Dezembro passado, no 2º open de Mestres do Qatar terminou em primeiro lugar ex-aequo com o actual campeão do mundo, Magnus Carlsen, tendo este feito juz às suas credenciais de campeão no desempate por partidas Blitz, ao ganhar-lhe por 2-0. Fez parte da equipa da China que venceu os Jogos Olímpicos de xadrez de 2014 e da equipa da China que recentemente venceu o Campeonato Mundial de xadrez por Países em 2015. Foi medalha de ouro individual no tabuleiro nº 3 com a melhor “performance” de todo o evento. Fora do mundo do xadrez, Yu estuda Economia do Desporto na Universidade do Desporto de Pequim. Bu Xiangzhi (祥志; nascido em 10 de Dezembro de 1985) foi campeão da China em 2004 e também fez parte da selecção nacional que ganhou os jogos Olímpicos de 2014 e o campeonato por Países de 2015. Em 1999, ele tornou-se no 10º Grande Mestre da China com 13 anos, 10 meses e 13 dias, na altura, o mais jovem GM do mundo na história do xadrez. Já esteve em Macau em 2007, por altura dos Jogos Asiáticos, onde me concedeu uma interessante entrevista que aqui foi então publicada. Wei Yi (韦奕; nascido em 2 de Junho de 1999) é um jovem prodígio do xadrez. Em 1 de Março de 2013 alcançou o título de GM aos 13 anos, 8 meses e 23 dias de idade, sendo, na altura, o quarto mais jovem a consegui-lo na história do xadrez. Em Novembro de 2014, Wei, tornou-se o mais jovem jogador a ultrapassar a barreira dos 2600 pontos “Elo” (Sistema de “rating” do xadrez, semelhante ao “ATP”, do ténis) , quebrando o recorde histórico que era até aí detido pelo filipino naturalizado americano, Wesley So. Wei tem um estilo de jogo audaz, pleno de imaginação e recentemente foi alvo das atenções de todo mundo xadrezístico, incluíndo Garry Kasparov, por uma partida das mais belas da contemporaneidade, por alguns considerada a partida da década, em Danzhou, em 07/04/2015. Foi ao estilo antigo e romântico, com sacrifícios de peças uns atrás dos outros que obrigaram o Rei adversário a fugir por todo o tabuleiro até levar Xeque-Mate, que Wei Yi derrotou o GM cubano Lazaro Bruzon e que espero poder aqui trazer brevemente. Texto de João Valle-Roxo