Mundial de Xadrez | Campeão renova título

João Valle Roxo

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] norueguês Magnus Carlsen reteve o título de campeão do mundo de xadrez de partidas clássicas pelos próximos dois anos no desempate por partidas rápidas contra o russo Sergei Karjakin.

Conforme tínhamos noticiado aqui na passada semana, entre 11 e 28 de Novembro, disputou-se em Nova Iorque o campeonato do mundo de xadrez, onde o campeão, Magnus Carlsen defendia o seu título frente a Sergei Karjakin.  Era um match de doze partidas e, em caso de empate, decidir-se-ia tudo dois dias mais tarde em partidas rápidas (25 minutos para cada jogador mais um incremento automático de 10 segundos por jogada). Caso se mantivesse, ainda assim, o empate, partir-se-ia para a decisão por meio de partidas Blitz (5 minutos para cada jogador mais um incremento de 3 segundos por jogada).

Na Sexta-feira passada Karjakin tinha tomado a dianteira do match após 7 empates consecutivos, vencendo a partida nº 8. Na partida 9, novo empate, com Karjakin muito perto de vencer – o que deveria arrumar o match – mas a deixar o adversário fugir-lhe por entre os dedos. Porém, na partida 10, Karjakin cometeu vários pequenos erros que deixaram Carlsen em vantagem posicional e este não perdoou, ganhando a partida e igualando o match. Seguiram-se outros 2 empates nas partidas 11 e 12 e terminado o match a pontuação cifrou-se em 6-6.

O título teria que ser decidido, infelizmente, em partidas rápidas. Infelizmente porque se trata de um campeonato de clássicas, do verdadeiro xadrez, cuja duração de uma partida pode ir até às 8 horas, e não parece justo que o campeão do mundo de clássicas ganhe esse título através de uma partida … não clássica. Como já dizia o mais famoso xadrezista de sempre, o americano Bobby Fisher, nestas situações o mais justo seria um prolongamento do match.

De qualquer forma, eram estas as regras do jogo, com as quais ambos os adversários já haviam concordado quando assinaram os respectivos contratos. Ganhou Carlsen por 3-1 e não podia ter recebido melhor prenda de anos, pois ganhou no dia do seu 26º aniversário, no dia 30 de Novembro de 2016. Na primeira partida rápida, Carlsen, de negras, surpreendeu com uma novidade da Partida Espanhola, conseguindo facilmente igualar e  empatar. Na segunda partida, Carlsen, de brancas dominou mas, em posição muito difícil, “Houdini” Karjakin conseguiu escapar e manter o empate.  Porém, na terceira partida e logo com as peças brancas, Karjakin não esteve ao seu melhor nível, talvez fatigado pela partida anterior que muito lhe tinha exigido. Em contrapartida, Carlsen esteve ao seu melhor, com um jogo tão preciso quão electrizante e venceu de forma inapelável. O match ficava em 2-1 a favor de Carlsen e só faltava uma partida.

Chegados à 4ª e última partida rápida, Karjakin viu-se então numa situação de ter obrigatoriamente que vencer para manter o match vivo, ao passo que a Carlsen bastava o empate para manter o título. O norueguês construiu uma posição digna do antigo “catenaccio” italiano do futebol e, tal como vimos acontecer em muitos jogos da selecção italiana nessa altura,  a posição estava “fechada à chave”. O campeão defendeu porfiadamente até que o seu adversário teve que arriscar tudo por tudo, mais especulativamente do que com propriedade. O resultado foi então o oposto: como um contra-ataque brilhante no futebol, o campeão, numa só jogada genial, verdadeiramente genial e artística, aproveitou uma oportunidade para fazer um sacrifício que já raramente é possível ver nos nossos tempos de um xadrez quase totalmente matematizado: o sacrifício da peça mais poderosa, a Rainha ou Dama.

Diagrama 1:

Analisando esta posição, vemos que as brancas têm a Rainha, duas Torres e quatro peões e as negras têm a Rainha, uma Torre, um Bispo e também 4 peões, o que significa que, materialmente, as brancas têm a vantagem aproximada de 2 peões. Mas as negras têm um peão passado em “b6” que virá a ser muito perigoso caso consiga trocar de Rainhas e, mais importante, de momento estão a ameaçar Xeque-Mate se jogarem a sua Rainha para f1, sendo que as brancas têm de defender esta ameaça sem poderem mover a sua Rainha da diagonal que vai de “b1” a “h2” porque senão desprotegem essa casa “h2” e sofrem um diferente mate, com a captura desse peão pela Rainha negra, que está protegida pela sua Torre. Como defender, então, esta dupla ameaça?  Neste caso, caso de um génio em acção, … dando-se xeque-mate primeiro e de forma artística: As brancas jogaram a sua Rainha para “h6” e Karjakin abandonou a partida.

Tentem descobrir porquê. No artigo seguinte vem a solução.

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