Andreia Sofia Silva EventosTeatro | Espectáculo musical “Canções de Faca e de Alguidar” estreia hoje Estreia hoje o novo espectáculo da companhia teatral “D’As Entranhas”, muito ligado à música e ao universo cultural dos anos 80. “Canções de Faca e de Alguidar” é produzido com actores amadores e promete um registo “kitsch” e “trágico-cómico”, protagonizado no feminino O auditório da Casa Garden recebe hoje o espectáculo “Canções de Faca e de Alguidar”, a nova produção musical da companhia “D’As Entranhas”. A concepção e direcção artística está a cargo de Vera Paz, co-fundadora “D’As Entranhas”, e também intérprete nesta produção. Ao seu lado, no palco, juntam-se actores amadores e outros com formação e experiência nas lides teatrais, como é o caso de Mónica Coteriano, Catarina Cortesāo, Célia Brás ou Jorge Vale, entre outros. Sem querer desvendar muito a narrativa que dá o mote ao espectáculo, Vera Paz revela apenas que são histórias com “canções de faca e alguidar, protagonizadas no feminino, com um homem”. As mulheres que sobem ao palco têm cerca de 50 anos e “uma história de vida de amores e desamores, com muitas lágrimas, lençóis e cicatrizes”. Este promete ser um “espectáculo com quadros vivos, separadores, e com uma componente vídeo e áudio muito marcada, como acontece sempre com os nossos espectáculos. É um registo kitsh, trágico-cómico, e a acção situa-se nos anos 80”. A homenagem aos anos 80 surgiu como natural, por ter marcado a geração de Vera Paz. “Era tudo muito sentimental e emocional, e, face aos tempos que correm em que tudo é digital, é preciso que os sentimentos estejam à flor da pele e se possam revelar. Queremos homenagear este período das nossas memórias, embora também tenhamos músicas dos anos 70 ou 50. Só não temos músicas do yé-yé dos anos 60, porque não gosto nada desse movimento (risos)”, contou Vera Paz ao HM. O prazer do amador “Canções de Faca e de Alguidar” tem uma segunda sessão amanhã, mas os espectáculos já estão esgotados, sem que haja possibilidade de realizar uma terceira sessão. O facto de Vera Paz ter trabalhado com actores amadores não se revelou uma dificuldade acrescida, pelo contrário. “Foi um desafio trabalhar com este elenco. Tenho dois actores profissionais, a Mónica Coteriano e o Jorge Vale que já têm alguma experiência na área. A Catarina [Cortesão] também alguma experiência no teatro universitário.” “Gosto muito de trabalhar com actores amadores”, por serem “actores-verdade”, declarou Vera Paz. “Demora mais tempo a lá chegar, porque tecnicamente não têm defesas nem recursos, mas têm uma enorme entrega. São pessoas que se identificaram com o projecto e isso foi muito positivo e gratificante. A equipa está equilibrada.” A companhia promete apresentar, em Novembro, um outro espectáculo, mas desta vez baseado na obra poética de Adília Lopes. “A história será também sobre uma mulher. Só trabalho sobre o universo feminino, que me é caro. O amor sempre em pano de fundo, as interrogações sobre tudo isto e as relações. O amor vale sempre a pena, até ao fim”, rematou a co-fundadora “D’As Entranhas”. As duas sessões do espectáculo começam às 21h.
Andreia Sofia Silva EventosTeatro | D’As Entranhas Macau apresenta “A Boda” no fim-de-semana Vera Paz interpreta uma mulher que sofre o fim de uma relação amorosa em “A Boda”, que sobe ao palco da sala Black Box no edifício do Antigo Tribunal este sábado e domingo, a partir das 20h30. O texto nasce de obras como “A Voz Humana”, de Jean Cocteau, e outros autores contemporâneos O fim de uma relação traz muitas vezes o sentimento de vazio, ausência, pensamento sobre um amor que não perdurou. Esta é a ideia por detrás do novo espectáculo que a companhia teatral D’As Entranhas Macau leva ao palco da sala Black Box, do edifício do Antigo Tribunal, no sábado e domingo a partir das 20h30. Vera Paz, directora artística D’As Entranhas Macau e actriz que encarna a protagonista da peça, contou ao HM o processo de feitura de um espectáculo que, inicialmente, foi pensado para celebrar os 20 anos D’As Entranhas em Portugal, mas que devido à pandemia foi reestruturado, porque os actores não conseguiram viajar até Macau. “Transformámos ‘A Boda’ num monólogo com uma mulher sobre o fim do amor, e o que acontece depois disso. É um solo com uma mulher num espaço vazio, claustrofóbico, presa na memória do que foi aquela relação que acabou.” Este é um espectáculo em que a “acção não é linear”, uma vez que essa personagem principal “vive num espaço com lapsos [ligados] ao passado, ao que aconteceu e ao que vai acontecer”. Trata-se de uma “acção disruptiva”. Vera Paz, também autora do texto da peça, inspirou-se em obras de autores como Bertolt Brecht e Jean Cocteau. Com a “Voz Humana”, de Jean Cocteau, surge o telefone como um símbolo das tensões em que vive esta mulher. “É um catalisador da estrutura e tem um papel fundamental nessa ligação com o elemento ausente.” “A Boda” é um espectáculo “com uma componente plástica grande e sonora”, com imagens que explicam o texto e a história mesmo que o público não domine a língua portuguesa. Sem os actores vindos de Portugal, Vera Paz introduziu vozes no espectáculo como se fossem alucinações da personagem. Tudo “para criar ainda mais essa dimensão em que vive a cabeça dela”, pois “nunca se percebe o que é realidade e ficção”. Uma personagem difícil O nome “A Boda” surge como a representação do fim de um ritual. “É como se fosse uma promessa e um pacto que foi quebrado. Depois existe sempre na memória, no tempo. Fica sempre gravado, só não se percebe o que é real e o que ela perde, o que fica.” Vera Paz assume que esta foi uma personagem difícil de preparar, pois tem de garantir sempre um equilíbrio “para não cair no melodrama nem na tragédia”. “É quase uma coisa crua, não é fácil encontrar o tom. A perda é sempre um tema difícil, e lidar com esse vazio e ausência. Não é uma personagem fácil.” A directora artística D’As Entranhas espera que a peça chegue a todos, mesmo com um público multilingue. “O amor é uma coisa universal. A forma de o vivermos e de como reagimos a esta realidade pode ser diferente. Pessoas com 40 anos, independentemente da sua nacionalidade, já terão passado por situações destas. Não sei se haverá uma identificação ou uma espécie de confronto. Sempre que faço uma peça espero que chegue [a alguém], independentemente da língua. Tento criar sempre as imagens que ultrapassam essa barreira”, concluiu.
Salomé Fernandes EventosFotografia | Exposição “Sombras” inaugurada na próxima semana na Casa Garden A Casa Garden abre portas na próxima semana para a exposição “Sombras”, com 49 fotografias de Vera Paz. A mostra apresenta sequências narrativas com imagens captadas em Macau e diversos locais de Portugal ao longo de vários anos, através de telemóvel Foi com recurso à câmara de um Iphone8 que Vera Paz captou as imagens da sua sombra que compõem agora a exposição “Sombras”. A inauguração da exposição decorre na quinta-feira da próxima semana, na Casa Garden, pelas 18h30. O ensaio fotográfico da autoria de Vera Paz apresenta 49 fotografias sobre Kline e uma caixa de luz em plexiglass, e foi criado a partir do registo de 500 fotografias capturadas entre 2017 e 2020, através de telemóvel. “Nesta fase da minha vida e ao fim destes anos de repente comecei a olhar e percebi que tinha mais de 500 imagens de sombras. E pensei: porque não fazer um exercício ou ensaio sobre estas figuras? Sobre estas sombras projectadas que narram um percurso e uma existência de mim? No fundo é uma auto-representação”, descreveu. “A exposição reflecte a memória de um tempo e do seu devir, ao longo dos anos, em sequências narrativas onde a figura humana se materializa em sombras projectadas”, comunicou a associação cultural d’As Entranhas, que organiza a exposição. Vera Paz, que é actriz, começou a tirar as fotografias pelo seu gosto por sombras. “Sempre gostei de tirar fotografias mas não tenho conhecimentos técnicos. E hoje em dia os telemóveis são um recurso, quase uma extensão de nós próprios”, observou. Num tempo marcado pelo “ruído” e “caras”, as sombras interrompem essa sensação. “Aquela imagem que fica ali é como se fosse o negativo daquele tempo. (…) E para mim as sombras são sempre muito silenciosas”, notou. Estado de alma As fotografias foram tiradas em Macau e em diversas cidades e vilas de Portugal, e o contexto torna-se visível no resultado final. De acordo com a autora, as fotografias de Portugal são mais luminosas e as texturas também marcam pela diferença. “São universos diferentes, são estados de alma diferentes”, disse a artista. A nota d’As Entranhas, da qual Vera Paz é directora artística, descreve ainda que se trata de uma cartografia de lugares “desenhados” através das sombras no exterior, nos espaços públicos das cidades e também das sombras em espaços interiores e privados. “O contorno da luz, do traço instantâneo da silhueta na sua repetição e diferença, marca a presença ausente de um tempo habitado”, pode ler-se. Esta não é a primeira exposição de fotografia de Vera Paz. Em 2018 realizou uma mostra sobre noivas de São Lázaro que abrangia também outras vertentes, como o audiovisual. A exposição fica patente ao público de 15 de Abril a 15 de Maio e é de entrada livre.