Hoje Macau China / ÁsiaInstituições forçadas a escolher entre dinheiro e censura [dropcap style≠’circle’]U[/dropcap]m caso de censura na China envolvendo a editora da universidade britânica de Cambridge despertou o alarme para o risco da extensão do totalitarismo político de Pequim além-fronteiras, face ao seu crescente peso económico. Na semana passada, a editora Cambridge University Press (CUP) cumpriu com um pedido da Administração Estatal da Rádio, Cinema e Televisão da China e bloqueou 300 artigos da versão electrónica da publicação The China Quarterly no país. Os artigos censurados abordam assuntos sensíveis para o regime chinês, como o massacre na praça Tiananmen, em 1989, a Revolução Cultural (1966-76) e a questão do Tibete. Para justificar a decisão, a CUP citou o receio partilhado por muitas empresas: ver o seu acesso ao vasto mercado chinês ser fechado, a menos que cumprisse com as exigências do regime. Não seria uma novidade. O motor de busca Google, por exemplo, está bloqueado na China desde 2010, quando acusou Pequim de espiar o correio electrónico no Gmail de dissidentes e rejeitou compactuar com a censura do regime. Um dos casos mais badalados dos últimos anos envolvendo a censura chinesa além-fronteiras ocorreu em Portugal, durante uma conferência que reuniu centenas de sinólogos na Universidade do Minho. Páginas do programa contendo informação sobre a Fundação Chiang Ching-kuo, uma organização académica de Taiwan que promove o estudo do chinês, foram arrancadas, a mando da diretora-geral do Instituto Confúcio, organismo patrocinado por Pequim para assegurar o ensino da língua chinesa. O episódio passou-se em Braga, mas as autoridades chinesas justificaram a sua atitude com a necessidade de cumprir com as “regulações chinesas”. O acto foi publicamente condenado pela Associação Europeia de Estudos Chineses, como uma “interferência totalmente inaceitável”. O Wall Street Journal descreveu-o como “violência contra a liberdade académica”. Sinal de alerta No caso que envolveu o China Quarterly, a publicação voltou a colocar os artigos ‘online’ esta semana, face aos protestos de vários académicos. Mas Jonathan Sullivan, um dos membros do comité executivo da publicação e autor de um dos artigos censurados, afirmou que o incidente deve servir de alerta. “Temos prestado pouca atenção à forma como devemos lidar com esta nova tentativa [da China] de importar as normas da cultura política chinesa para salas de aulas ocidentais cheias de alunos chineses, ou como manter os valores académicos face a tentativas de censurar o nosso trabalho”, escreveu Sullivan. Na Feira Internacional do Livro de Pequim, cuja edição deste ano decorre esta semana, a autocensura há muito que é prática corrente. Citado pela agência France-Presse, o director da Mosaic8, uma editora de livros para ensino, lembra que cabe ao Governo autorizar a venda dos livros na China. “Por isso, é do interesse das editoras não publicar nada que irrite as autoridades”, afirmou Lowe. Em editorial, um jornal do PCC colocou a questão da seguinte forma: “Se as instituições ocidentais pensam que o mercado da Internet chinesa é tão importante que não o podem perder, têm de respeitar a lei chinesa e adaptar-se aos costumes locais”. No caso da CUP, “não é verdade que ‘qualquer pessoa pode ter a sua opinião’, lembrou o Global Times, jornal de língua inglesa do grupo do Diário do Povo, o órgão central do PCC. “Trata-se de um jogo de poder. Só o tempo dirá quem está certo”, acrescentou.
Hoje Macau China / ÁsiaChina | Universidade de Cambridge repõe artigos censurados [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Universidade britânica de Cambridge vai repor mais de 300 artigos politicamente sensíveis, removidos de uma das suas publicações na China a pedido das autoridades locais, anunciou na segunda-feira o editor daqueles conteúdos. Tim Pringle, editor do The China Quarterly, disse à agência noticiosa Associated Press (AP) que a publicação concordou em repor os artigos imediatamente. A decisão surgiu depois de vários académicos terem assinado uma petição para que a editora da universidade recuse compactuar com a censura imposta pelo Governo chinês. “Estou encantado com o apoio da comunidade académica internacional”, afirmou Pringle, citado pela AP. Na sexta-feira, a Cambridge University Press (CUP) afirmou ter cumprido um pedido para bloquear alguns artigos da versão electrónica da publicação The China Quarterly, na China. Os artigos censurados abordam assuntos sensíveis para o regime chinês, como o massacre na praça Tiananmen, em 1989, a Revolução Cultural (1966-76) e a questão do Tibete. “O acesso a material publicado da mais alta qualidade é uma componente essencial da pesquisa académica”, escreveu Pringle na rede de mensagens instantâneas Twitter. “Impedir esse acesso não é o papel de publicações respeitadas mundialmente, como a CUP”, acrescentou. Sob controlo Académicos indicaram que as universidades têm também sido submetidas a um crescente controlo ideológico, incluindo acompanhamento frequente nas salas de aula. Christopher Balding, professor associado de economia na Peking University HSBC Business School, na cidade de Shenzhen, disse ter lançado o abaixo-assinado, para pressionar a CUP e universidades e académicos que interagem com a China, e para que as instituições se revoltem contra a censura oficial. À medida que as instituições de ensino superior chinesas contratam cada vez mais professores estrangeiros, o Governo está preocupado que as universidades percam “adesão ideológica”. A petição apela à CUP para que recuse acatar a censura do Governo chinês, afirmando que académicos e universidades têm o direito de boicotar a instituição e as suas publicações, caso cedam às exigências das autoridades. “O motivo fundamental é simplesmente exercer controlo, tentar impor o que eles pensam como a forma correta de pensar”, disse Balding. De acordo com o texto, que acompanha o abaixo-assinado, os académicos acreditam no intercâmbio livre e aberto de ideias e informação e que é “perturbador que a China esteja a tentar exportar a sua censura em assuntos que não se encaixam na sua narrativa preferida”.