Abrigos da Anima severamente afectados pela passagem do Higos

[dropcap]O[/dropcap]s abrigos da Sociedade Protectora dos Animais de Macau (ANIMA) destinados a cães e gatos ficaram ontem severamente danificados pela passagem do tufão Higos, afectando, no total, 700 animais. O prejuízo total dos estragos deverá situar-se entre as 400 e as 500 mil patacas, apontou ontem ao HM o ex-presidente da Anima, Albano Martins. O objectivo passa agora por reparar os estragos, o quanto antes, e angariar fundos para as reparações.

“Pelo que vi, o valor dos estragos deve situar-se entre as 400 a 500 mil patacas. Era bom que conseguíssemos angariar esse valor. Até numa zona mais resguardada houve uma porta que foi arrancada”, começou por dizer Albano Martins. “Fomos afectados no abrigo dos cães e no paraíso dos gatos. Só no primeiro temos cerca de 400 animais e no abrigo dos gatos temos 300 animais”, acrescentou.

Essencialmente, explicou Albano, os estragos resultaram da queda de árvores que destruíram várias estruturas, como vedações e telhados que acabaram arrancados. Além disso, houve também zonas que ficaram inundadas porque as árvores obstruíram as canalizações de saída das águas. “Muitas casas individuais dos animais foram destruídas”, vincou.

Apesar de admitir ser ainda difícil fazer um ponto de situação, o ex-presidente garante que “nenhum animal ficou ferido”. Sobre o tufão Higos, que motivou o içar do sinal 10 durante a madrugada de ontem, Albano afirma que a Anima não foi apanhada de surpresa, apesar da intensidade inesperada.

“Quando saímos ontem [terça-feira] deixámos tudo preparado. Já sabíamos que havia tufão e, portanto, o pessoal já tinha alinhado quem vinha, sendo esperado um tufão de nível 8. No entanto, as medidas que tomámos, tomaríamos também para um tufão de nível 10, que foi o que acabou por acontecer”, explicou.

Sobre a reparação que está a ser feita, as dificuldades são muitas, sobretudo no que toca à remoção de árvores e limpeza de entulho. Tendo em conta que os animais não podem sair do espaço “porque não têm alternativa”, o objectivo imediato passa agora “por limpar e dar mais decência ao espaço para os animais ficarem bem”.

Ajuda preciosa

Já Zoe Tang, representante da Anima, espera que, através da campanha de angariação de fundos, o organismo consiga reunir “pelo menos 400 mil patacas”. Até porque, antecipa, este ano, devido à situação gerada pela covid-19, a Anima “vai passar dificuldades adicionais”, porque não existe a mesma ajuda por parte dos casinos.

Tang espera ainda que possam “aparecer mais voluntários” para ajudar nos trabalhos de reparação, estimando que sejam necessárias três semanas, para retirar as árvores tombadas nas instalações da Anima. Após a passagem do Hato, recorda, foi necessário um mês, para reparar os estragos.

20 Ago 2020

Higos | Tufão causou 15 feridos e levou à retirada de 2.722 residentes

Durante a noite e madrugada as autoridades registaram 274 incidentes e, no final das operações, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak deixou elogios às equipas envolvidas nas operações de protecção civil

 

[dropcap]A[/dropcap] passagem do Tufão Higos resultou em 15 feridos e na retirada de 2.722 cidadãos das respectivas casas, sobretudo das situadas nas zonas baixas do território e que, por isso, são mais susceptíveis de sofrerem inundações com a subida do nível da água. Além disso, foram ainda registados 274 incidentes.

O período mais intenso decorreu entre as 05h e as 07h30, quando foi içado o sinal n.º 10 de tufão e o vento registou uma velocidade máxima média de 138 km/h, com a rajada mais forte a atingir os 215 km/h. Este último valor é o mais alto de sempre registado em Macau, desde que há dados, à excepção da passagem do Hato, quando a rajada mais forte chegou aos 217,4 km/h, uma diferença de apenas 2,4 km/h.

Quanto ao estado dos 15 feridos, segundo os Serviços de Saúde, três apresentaram ferimentos médios e 12 ligeiros, o que foi considerado pelo Governo, em comunicado, “um bom estado”. Todas as lesões estavam relacionadas com “cortes e arranhões”.

O rescaldo da operação do Centro Operacional de Protecção Civil contabilizou também a evacuação de 3.338 casas, num total de 2.722 residentes. Ao mesmo tempo, os centros de abrigo acolheram 192 pessoas, entre os quais 93 residentes, 80 turistas do Interior, três de Hong Kong e 16 de outros países.

Ao longo da passagem do Higos, as autoridades registaram ainda 274 incidentes, entre os quais 138 ligadas à queda de reboco, reclamos, janelas, toldos ou outros objectos, 61 por queda de candeeiros e árvores, 16 por quedas de andaimes, gruas ou outros equipamentos para obras. Já oito ocorrências, foram motivadas por problemas com fios de electricidade e antenas, houve ainda dois incêndios, o caso de uma pessoa presa num elevador e uma ocorrência de fumo numa caixa de electricidade. Os restantes 47 casos foram classificados como “outros”.

Elogios aos trabalhadores

Durante o período em que esteve activo, o Centro de Operações de Protecção Civil (COPC) recebeu a visita do Chefe do Executivo, Ho Iat Seng.

Segundo um comunicado emitido pelo Governo, Ho prestou especial atenção às operações de retirada das pessoas das zonas baixas e pediu aos membros das forças de segurança que fizessem o trabalho de forma rápida e rigorosa.

Por sua vez, o secretário para a Segurança, Wong Sio Chak, que coordenou os trabalhos, deixou elogios ao desempenho de todos os envolvidos principalmente o pessoal “da linha da frente”.

Wong destacou também que a 15 de Setembro vai entrar em vigor a nova Lei de Protecção Civil, que criminaliza as “informações falsas”, por considerar que vai permitir criar “alicerces mais sólidos nas actividades” de protecção civil.

20 Ago 2020

Tufão | Testemunhos apontam para ausência de danos graves

Houve quem não dormisse com o vento e a chuva que afectaram o território durante a passagem do “Higos”, e ao final da manhã eram visíveis os trabalhos de limpeza. O cenário, após a tempestade, é de uma destruição inferior à deixada por outros tufões de nível semelhante

 

[dropcap]O[/dropcap]s avisos do nível de tempestade tropical foram aumentando ao longo da madrugada, e com eles o volume das rajadas do vento que soprou entre as ruas e testou a resistência das janelas. O nascer do dia tornou visíveis as marcas da passagem do “Higos”: árvores que cederam, lojas onde a água não pediu licença para entrar e lixo disperso. Os alertas apontavam para cheias até à hora de almoço, mas nessa altura já algumas zonas baixas da cidade começavam a regressar à normalidade.

Nos negócios afectados pela torneira que o céu abriu sobre a cidade durante a madrugada, viam-se funcionários munidos de vassouras a expulsar a água para a estrada. Ainda assim, perto da rua Cinco de Outubro, várias lojas mostravam danos inferiores aos provocados por tufões de anos anteriores. As barreiras anti-inundações deram luta à força da natureza.

“O impacto não foi grande, nomeadamente as inundações. Só houve algumas fugas de água que precisamos de limpar”, disse Chang , responsável por três lojas. Duas delas tiveram infiltrações de água, enquanto a outra escapou ao problema. “Elevámos o chão quando fizemos remodelações porque previmos a hipótese de inundações”, indicou o proprietário de 63 anos ao HM.

Quando recebeu as notícias de que o tufão ia passar por Macau, teve entre cinco a seis horas para mudar a arrumação dos produtos. Foram deixados em locais mais altos – uma táctica que impediu perdas. “Depois da limpeza, podemos voltar a fazer negócio”, lançou. Chang mora no Jardins do Oceano, na Taipa, onde ouviu bem alto o som do vento e sentiu a casa a tremer. Depois de o tufão atravessar o território e voltar a sentir-se seguro, pediu aos funcionários para voltarem ao trabalho nas lojas.

Na mesma rua, o dono de uma loja de marisco seco chegou mesmo a descrever a ocorrência como algo sem grande importância. “Não foi muito grave, foi um bom tufão”, disse o proprietário de apelido Leong. Quando a tempestade tropical chegou já estava tudo preparado para a receber. “Não tive problemas na preparação, se tivesse já estaria a chorar. (…) Eu também moro nesta zona, o vento foi muito forte. Desta vez as inundações não foram muito altas, na loja a água chegou a cerca de 20 centímetros de altura”, disse.

Não muito distante, no Estabelecimento de Comidas Veng Meng, as comportas anti-inundações foram pedidas, mas ainda não tinham sido instaladas. Foi o que contou um funcionário que não quis divulgar o nome. No entanto, a altura a que as coisas foram arrumadas evitou maiores prejuízos. De acordo com a sua descrição, houve marisco, num valor de cerca de mil e cem patacas, a morrer por causa do aquário ficar em baixo.

Acordar estremunhado

Poucos minutos tinham passado desde que o sinal 8 deu finalmente lugar a algum início de paz, quando a zona da Barra acordava também ela desordenada. A espaços algumas sirenes. Mas tudo aparentemente calmo. As bancas de fruta junto ao mercado de São Lourenço estavam desmebradas ou pareciam ter ficado por arrumar do dia anterior, mas sem fruta para vender.

Na Travessa dos Vendilhões, as barreiras de protecção contra inundações começam aos poucos a ser desmontadas. Gary, tem 40 anos e admitiu ter ficado assustado com o comportamento do tufão Higos durante a madrugada. Contudo, prevê abrir as portas da clínica que gere, como habitualmente.

“Tivemos medo durante a noite e chegámos a tirar os equipamentos mais valiosos para outro local, mas agora está tudo bem e não prevemos encontrar estragos quando abrirmos as portas”, contou ao HM enquanto dá uso à chave inglesa para aliviar as trancas das barreiras de protecção, com a ajuda da mulher.

Já há estabelecimentos abertos para servir alguma normalidade a quem ganhou coragem de sair, entretanto, à rua. Debaixo das arcadas da Rua do Almirante Sérgio, vassouradas empurram água acumulada em excesso, mas não parecem motivar grandes preocupações, embora as máquinas estejam ainda desligadas.

“Entrou alguma água dentro da loja, mas não houve estragos de maior”, confirmou a funcionária de um restaurante. “Agora, temos de tratar disto”, atirou visivelmente atarefada.

No chão, há ainda pedaços de néons que não voltarão a anunciar mais nada. O painel onde estavam, ainda abana e quem passa, olha para cima e repara que falta ali qualquer coisa. Subindo a Escada Quebra-Costas, o Largo do Lilau está mais verde do que o habitual, fruto dos ramos e folhas caídas e que decoram agora o chão. Em cima deles, um contentor do lixo tombado.

Por entre entulho e roupa caída dos estendais, a Rua do Padre António termina numa igreja de São Lourenço onde as folhas também estão onde não deviam estar. Junto à entrada principal uma árvore foi arrancada do chão, enquanto do outro lado da rua, vários ramos impedem o acesso às escadas.

Um bombeiro, que estava na zona, confirma a manhã atarefada com a ocorrência de “várias operações de limpeza”. Apesar disso, considera que a situação está “bastante controlada”.

Mais abaixo, a Sede do Governo está também com ar de quem pouco dormiu. Várias funcionárias vestidas de azul esfregam as portadas das janelas com vassouras e os jardineiros afastam os ramos das árvores com a água atirada das mangueiras.

À frente da entrada principal, uma equipa munida com uma grua móvel tenta remover um tronco que quase fugiu para a Avenida da Praia Grande. Um agente, que coordenava a operação, assegura que a normalidade está assegurada. “Há muitas árvores e troncos que caíram, mas está tudo bem. Os estragos são ligeiros”, confirmou.

Noite mal dormida

Com 84 anos, a senhora Ip seguiu a recomendação das autoridades, que na noite de terça-feira apelaram a que voltasse para casa em vez de ficar na loja. “Claro que nós saímos porque este edifício é muito velho”, disse. Durante a noite, dormiu um pouco e viu televisão. E foi alternando entre as duas opções até saber que tinha sido içado o sinal 10. À semelhança da sua casa, o tufão não teve impacto no negócio das Frutas Tong Vo Chan, gerido pelo filho. “Desta vez não houve inundações na loja. Além disso, já tínhamos deixado os produtos nos lugares mais altos”, comentou.

Para a senhora Au Ieong, da loja em frente, foi uma noite passada em branco. “Este tufão foi muito forte. Eu moro numa fracção que fica acima do vigésimo andar, na Taipa, e senti que a fracção estava a tremer e as luzes [piscavam], não dormi toda a noite e estive atenta às novidades do tufão. Às cinco horas começou a ficar mais forte, e às seis começou a acalmar”, descreveu. Algumas janelas deixaram entrar água, mas a casa resistiu à tempestade sem danos maiores.

O vento impressionou, mas o negócio do marido – a loja de Frutas Kung Loi Fu Kei – conseguiu resistir às inundações. Se ainda é visível na parede o nível que a água atingiu durante o tufão Hato, desta vez o chão estava praticamente seco. “Não tivemos perdas. Estávamos preocupados com as inundações e deixámos os bens em lugares mais altos”. O empregado voltou à loja às quatro da manhã, acompanhado de amigos, para colocar os produtos em lugares mais altos e ajudar a evitar o impacto de inundações, explicou.

Missão pós-tufão

O interior tranquilo da loja contrastava com o exterior, onde os bombeiros tentavam resolver a queda de um painel. Em causa, estava uma estrutura de zinco e ferro que os donos instalaram no edifício da loja por ter mais de cem anos e fugas de água. “Não conseguimos preencher todas as lacunas, por isso instalámos este quadro para cobrir o edifício”, explicou Au Ieong. Acabaria por ser arrastado pelo vento e quando chegou ao local de manhã, já os bombeiros estavam a cortar ferro.

Como uma oficina a céu aberto – que não parou apesar da chuva que decidiu voltar a cair sobre o território a meio do dia – a equipa de bombeiros trabalhava para retirar o painel que caiu durante a tempestade. As fagulhas laranjas para o cortar contrastavam com as fardas escuras, e as veias dos braços sobressaiam com o esforço físico necessário para dobrar o metal. Oito bombeiros e muito barulho depois, a estrutura mudou de forma e tornou-se passível de ser transportada com mais facilidade.

Lam era um dos bombeiros em acção. Encara a sua profissão como uma forma de servir a população: “é uma missão”. Explica que foram várias as zonas a sofrer o impacto do tufão e que o volume de trabalhos aumentou. “Esperamos ajudar os residentes o mais possível para limpar e recuperar os sítios que sofreram com o tufão. Todo o pessoal faz os maiores esforços para ajudar a sociedade”, disse. O soldado da paz, de mais de 40 anos, comentou que estavam no Corpo de Bombeiros de alerta para os pedidos de ajuda.

20 Ago 2020

“Higos” | Sinal 8 de tempestade deverá ser içado esta madrugada

[dropcap]O[/dropcap]s Serviços Meteorológicos e Geofísicos (SMG) prevêem içar o sinal 8 de tempestade tropical entre a noite de hoje e a madrugada desta quarta-feira, dia 19. Além disso, “espera-se que na noite do dia 18 e no dia 19 de Agosto o vento se intensifique na região significativamente, havendo aguaceiros fortes acompanhados de trovoadas”.

O mesmo comunicado dá conta que o “Higos” “tomou um rumo sensivelmente mais para norte do que o previsto e vai cruzar o ponto mais próximo do território, a cerca de 150 quilómetros de Macau”.

Segundo as últimas informações disponíveis, o ciclone tropical “Higos” continua a intensificar-se, devendo mover-se a uma velocidade “relativamente rápida” para noroeste, dirigindo-se à costa oeste da província de Guangdong.

Os SMG alertam ainda para a ocorrência de inundações nas zonas baixas do território. “Devido à influência da maré astronómica, associado com o efeito de ‘Storm Surge’, no dia 19 de manhã podem ocorrer inundações em zonas baixas. A altura de inundação máxima prevista será entre 0,5 e 1,0 metros”, pode ler-se.

18 Ago 2020