Hoje Macau SociedadePelo menos 1,6 milhões de oriundos de Macau e luso-asiáticos espalhados pelo mundo A diáspora oriunda de Macau e luso-asiática, que mantém viva “uma cultura única”, é composta por 1,6 milhões de pessoas, disse à Lusa Roy Eric Xavier, director do Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses na Universidade de Berkeley. “Fiz estudos e pesquisas populacionais e colaborei com vários genealogistas e demógrafos e determinámos que há pelo menos 1,6 milhões de macaenses e luso-asiáticos espalhados pelo mundo, que olham para Macau como a pátria cultural”, afirmou o investigador. “É uma cultura única, com elementos específicos”, caracterizou Xavier, indicando que um dos motivos pelos quais a diáspora macaense se mantém activa é não só a acção das Casas de Macau, mas também a dinâmica dos fóruns, websites e páginas nas redes sociais. O luso-asiático, que publicou recentemente o livro “The Macanese Chronicles: A History of Luso-Asians in a Global Economy”, referiu que “as organizações tendem a incubar e proteger a cultura”. No entanto, Roy Eric Xavier avisou para a necessidade de uma acção concertada mais activa para cativar os jovens. “As associações que é suposto atraírem a diáspora macaense não estão a fazer o seu trabalho”, considerou. “Têm um acordo com a China para cativar as novas gerações e manter as ligações culturais e potencialmente trabalhar em mais conexões de negócio, mas não têm ido atrás dos membros mais jovens, que são muito mais experientes em tecnologia”. “Não tem havido incentivos para irem atrás de novos mercados”, considerou, sublinhando que algumas organizações “têm sido mais bem-sucedidas que outras”. Mudança de pele Segundo o investigador, que nasceu na comunidade oriunda de Macau em Hong Kong e depois se mudou para os Estados Unidos, começa a haver um desligamento das novas gerações. “Não acho que seja permanente, mas penso que há uma ruptura entre a velha guarda e a nova guarda que está a surgir”, apontou. “Entre a velha guarda, há uma suspeita de que as gerações mais novas não têm a afiliação nem o sentido de história que deviam ter”. Essa é uma das razões pelas quais publicou o livro que abarca oito anos de investigação e muitas entrevistas e faz um retrato da história de Macau, com destaque para o seu papel económico. “É para que as pessoas compreendam a sua história, dentro e fora de Macau”, afirmou. “Não é apenas para macaenses, mas para muita gente que quer compreender como esta região se desenvolveu e que oportunidades potenciais lá existem”.
Andreia Sofia Silva SociedadeLíderes de associações contestam conclusões de novo livro de Roy Eric Xavier “The Macanese Chronicles: A History of Luso-Asians in a Global Economy” é o título do mais recente livro de Roy Eric Xavier, académico da Universidade de Berkeley. Roy Eric Xavier defende que as associações macaenses não estão a desenvolver devidamente o seu papel de ligação entre a diáspora e as oportunidades económicas da Grande Baía e da China, mas Miguel de Senna Fernandes e Jorge Valente contestam: não só o interesse da diáspora é pouco como as associações não têm meios para fazerem esse trabalho [dropcap]O[/dropcap] mais recente livro de Roy Eric Xavier, macaense e académico da Universidade de Berkeley, Califórnia, traça o retrato das comunidades luso-asiáticas ao longo dos séculos e o seu papel na construção da primeira economia a ligar a Europa à Ásia. Publicado pelo jornal Ponto Final e pela Far East Currents Publishing, e distribuído pela Amazon, a obra “The Macanese Chronicles: A History of Luso-Asians in a Global Economy” traça também o retrato da comunidade macaense desde os seus primórdios, sobretudo o seu papel económico. Mas Roy Eric Xavier não deixa de lançar algumas críticas sobre a actuação das associações de matriz macaense quanto ao fraco aproveitamento das oportunidades económicas lançadas pela China nos dias de hoje, nomeadamente no que diz respeito ao projecto da Grande Baía Guangdong-Hong Kong-Macau. “Os líderes macaenses em Macau têm tido dificuldades em definir o seu próprio legado histórico enquanto tentam definir o papel da comunidade na agenda geopolítica da China”, lê-se nas conclusões do livro. O autor fala de falhas na comunicação entre associações e membros da comunidade macaense na diáspora que “procuram informação sobre oportunidades regionais de comércio e de negócios”. Há uma “apatia” e uma “falta de ligação com as empresas”, aponta Roy Eric Xavier. “A falta de capacidade dos líderes macaenses de incluir empresários e profissionais de turismo” em actividades como os Encontros da Comunidade Macaense pode ter efeitos negativos, aponta o livro. “A indiferença em relação a novos negócios em Macau pode minar a relação dos macaenses com a China em geral”, lê-se. Ao HM, o autor defendeu que “as oportunidades que os líderes macaenses obtiveram da China desde a transição não foram utilizadas plenamente”. E dá exemplos. “O fundo recebido nos últimos 20 anos pelo Conselho das Comunidades Macaenses (CCM) foi dado para encorajar as trocas culturais, de turismo e empresariais com a diáspora macaense, mas o CCM não conseguiu atrair as gerações mais jovens.” Roy Eric Xavier alerta ainda para o decréscimo crescente da participação dos mais jovens nos Encontros, “na maioria devido ao facto de o CCM não envolver os macaenses jovens que querem trazer novas oportunidades de negócio para Macau”. “O CCM evita questões durante os Encontros sobre visitas a zonas tecnológicas em Shenzhen. Isto poderia ser apenas uma de muitas oportunidades para desenvolver parcerias, e para ajudar a diversificar a economia de Macau através do turismo cultural. Mas estas oportunidades não foram aproveitadas”, acrescentou. Objectivos distintos Roy Eric Xavier disse também ao HM que reuniu e comunicou com os líderes do CCM várias vezes, mas que teve sempre não como resposta às suas sugestões. “Disseram-me sempre que o seu interesse não passa pelo envolvimento nos negócios. Além disso, comunicaram com os líderes das casas de Macau na diáspora para não darem crédito à minha investigação ou a outras tentativas de envolvimento. Mas eu não vou desistir”, confessou. Para o autor, “é importante que a China reconheça os macaenses a nível internacional, especialmente os que residem nos EUA, Europa e Austrália, e que estão dispostos a ultrapassar as actuais tensões entre a China e os EUA ao trabalhar com a China, desenvolvendo parcerias empresariais e culturais”. “O CCM e outros líderes macaenses em Macau que desperdiçam esta oportunidade não representam toda a comunidade”, frisou Roy Eric Xavier. Em relação ao projecto da Grande Baía, “alguns líderes macaenses em Macau simplesmente não vêem como o turismo cultural pode trazer novos visitantes às oportunidades de negócio”. “Muitos macaenses da diáspora estão envolvidos nas áreas da tecnologia e indústrias que o projecto da Grande Baía espera atingir. Não tem havido o encorajamento ou convites por parte do CCM ou de outras associações de macaenses para se envolverem”, aponta. Contactado pelo HM, Miguel de Senna Fernandes, presidente da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses (APIM), disse que as associações locais não têm recursos financeiros e humanos para levar para a frente a tarefa que Roy Eric Xavier propõe. “Ele tem uma perspectiva que não é a nossa, a de aproveitar a comunidade para os negócios”, frisou. “Os Encontros não são para fazer negócios, mas se nascerem daí, tudo bem. As pessoas com quem contactamos não têm nada a ver com o mundo dos negócios, para começar. Sabemos as nossas limitações e as nossas associações não estão vocacionadas para isso”, disse Miguel de Senna Fernandes. O presidente da APIM destaca também o facto de serem escassos os pedidos de informações por parte da diáspora macaense para o investimento. “A comunidade macaense que está na diáspora luta pela sobrevivência nos locais onde se encontram e trabalham, e a maioria deles não pensa na Grande Baía. Se é uma pena, claro que sim. Não recebemos pedidos de informações, que eu saiba. Ninguém da diáspora manifestou interesse em desenvolver algum projecto económico aqui.” Acrescentar e não mudar Miguel de Senna Fernandes não tem dúvidas de que, com mais recursos, até se poderia pensar em criar uma plataforma exclusivamente destinada aos negócios, à semelhança de uma câmara de comércio. Mas, para já, é impossível. Quanto a uma possibilidade de mudança na forma de actuação, o presidente da APIM diz que “não vamos mudar, mas podemos acrescentar”. “Há sempre horizontes para mais, desde que haja condições. Mas fora deste âmbito não é fácil ter esse tipo de ambição porque não temos meios. Caso contrário a própria comunidade portuguesa teria outra dinâmica. Mas com uma câmara de comércio não seria apenas para a comunidade, teríamos inevitavelmente de incluir membros que não têm nada a ver com a comunidade macaense. E assim seria apenas mais uma organização.” Jorge Valente, presidente da Associação de Jovens Macaenses, fala também de escassos pedidos de informação por parte da diáspora, uma média de dois por ano, um número que considera muito baixo. “As oportunidades da Grande Baía estão a ser mal aproveitadas não apenas pelos macaenses, mas por Macau inteiro. Até agora não houve o devido aproveitamento, mas com esta crise da covid-19 penso que as pessoas estão seriamente a querer aproveitar essas oportunidades”, declarou ao HM. Quanto ao papel dos Encontros da comunidade macaense, “sempre foi uma decisão dos líderes de que não serviria apenas para reviver o passado ou como um espaço de convívio, mas para que tivesse também uma componente comercial de forma duradoura”. “Foi uma pena que isso não tenha acontecido, mas é algo que não podemos forçar e que os participantes também têm de desenvolver”, acrescentou. Os programas dos Encontros da comunidade macaense passaram a incluir algumas visitas ao Interior da China e a Hengqin nos últimos anos, com a economia à espreita, mas a verdade é que é difícil contabilizar os resultados práticos. “Quando vamos a Hengqin e quando visitamos empresas na China ou em Macau isso faz parte da componente empresarial, mas não dizemos que esta pessoa vai assinar um contrato com aquela empresa, por exemplo. Para isso acontecer teria de estar tudo bem negociado, os Encontros servem mais como um primeiro passo para esse contacto.” Jorge Valente não concorda que as associações mudem a sua matriz em função da vertente económica. “As pessoas têm é de saber os objectivos de cada associação e contactarem a associação certa para fazer as perguntas certas. Há perguntas que nos fazem e transmitimos essas questões a outras associações que têm a informação mais completa, ou dizemos para se deslocarem ao IPIM”, por exemplo. O HM tentou chegar à fala com Leonel Alves, presidente do CCM, mas até ao fecho desta edição não foi possível estabelecer contacto. Comunidades esquecidas Este livro nasceu de alguns artigos já publicados no blogue Far East Currents, mas é sobretudo um retrato “das migrações [dos macaenses] e o desenvolvimento da sua cultura até ao presente”. “Queria destacar a grande comunidade macaense de Hong Kong, onde nasci. A segunda parte do livro conta-nos várias histórias de individualidades e eventos que, em conjunto, mostram a deterioração gradual das relações dos macaenses da segunda geração com o Governo colonial britânico. Esta é uma história que não está devidamente explorada e escrevi o livro também para encorajar mais investigações e bolsas para esta área”, defendeu ao HM. Mas o livro é também o retrato do desenvolvimento de várias comunidades luso-asiáticas em locais como Goa e Malaca. Comunidades essas que têm sido destinadas ao esquecimento, defende Roy Eric Xavier. “Os Governos e instituições de todo o mundo deveriam reconhecer e celebrar as contribuições destas comunidades para a cultura de cada país. Há muitas influências que não são reconhecidas, incluindo a língua, arte e diferentes gastronomias. O facto de muitas destas comunidades terem mantido estas tradições desde o século XVI sugere a longevidade e a força destas culturas, bem como as contribuições que os portugueses trouxeram a diferentes culturas no mundo”, rematou.
Andreia Sofia Silva SociedadeMacaenses | Inquérito da Universidade da Califórnia destaca mais jovens na diáspora Roy Eric Xavier, director do Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses da Universidade da Califórnia, lançou este ano uma nova edição de um inquérito feito à comunidade macaense na Diáspora. Os resultados revelam “um ressurgimento dos jovens na comunidade portuguesa oriunda da Ásia”, quando antes os reformados estavam em maioria. O académico nota também um maior envolvimento destes jovens com as suas origens e mais interesse nas relações comerciais com a China, algo que não está a ser devidamente aproveitado [dropcap]H[/dropcap]á novos dados da comunidade macaense e luso-asiática oriundos do inquérito desenvolvido no âmbito do Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses da Universidade da Califórnia, liderado pelo académico Roy Eric Xavier. O professor universitário lançou uma nova edição do inquérito este ano, tendo feito algumas alterações face às questões colocadas em 2013. Os resultados preliminares deste novo inquérito, disponíveis no website “Far East Currents”, revelam que houve um “ressurgimento dos jovens na comunidade portuguesa oriunda da Ásia”, uma vez que “mais de 66 por cento das respostas chegaram dos adultos empregados (idades entre 19 e 64 anos)”. Por comparação, em 2012 e 2013 “70 por cento dos inquiridos estavam reformados, tendo mais de 65 anos”. Tal “sugere que as gerações mais jovens podem estar mais conscientes da sua cultura e estão agora em maioria”. Se os primeiros resultados, de 2012, falavam de uma comunidade na diáspora entre 149.240 a 155.764 pessoas, esse número aumentou para 1.687 milhão de macaenses ou luso-asiáticos em 35 países, e a contagem não fica por aqui, como disse Roy Eric Xavier ao HM. “Devo enfatizar que isto é apenas uma estimativa, mas baseada em dados e corroborada por académicos desta área de estudos, que acreditam que os números são bem mais elevados do que antes”, disse. De entre os inquiridos, 16,57 por cento dizem ser portugueses, enquanto que 61,14 por cento dizem ser macaenses. Apenas 20 por cento afirma ser euroasiático. Origem nos bairros O inquérito de 2019 mostra ainda que 66 por cento dos inquiridos vivem nos Estados Unidos, enquanto que 24 por cento vive no Canadá, Austrália e Europa (muitos deles em Portugal) e os restantes 9 por cento no Japão, Filipinas, Macau e Hong Kong. Além disso, “mais de 72 por cento afirmaram que têm laços familiares com Macau, sendo que 63 por cento têm ligações com Hong Kong”. “Mais de 52 por cento têm antecedentes em Portugal, e mais de 33 por cento com Xangai”, além de que “de forma significativa, em mais de 27 por dos casos os antecessores são oriundos de Goa, Cantão, Japão, Malásia, Singapura e Timor”. Para Roy Eric Xavier, esta é outra novidade trazida pelo inquérito de 2019: a de que há muitos descendentes de bairros portugueses espalhados pela Ásia. “Confirmámos que muitas famílias possuem histórias de emigração ligadas a bairros portugueses de Goa, Cantão, Japão, Malásia, Singapura e Timor, sendo que a grande maioria tem laços com Macau, Hong Kong e Xangai, uma vez que a maior parte dessas zonas foram formadas antes e depois da Guerra do Ópio.” Roy Eric Xavier aponta que “as histórias de emigração das famílias apenas tinham sido teorizadas em 2013, mas agora temos provas de que os luso-asiáticos emigraram durante o período de 500 anos em que houve presença portuguesa na Ásia e Índia”. Por explorar Estes jovens, descendentes de famílias macaenses ou luso-asiáticas, “são profissionais, na sua maioria, da área empresarial, tecnológica, medicina, finanças, Direito ou investimentos”, entre outros. Isto faz com que exista um potencial nas relações com a China e Macau que não está a ser devidamente aproveitado, aponta o académico. “Quero determinar qual é o potencial das relações empresariais na China através de Macau. Em investigações anteriores descobri que muitos jovens na diáspora, entre 19 e 54 anos, têm cargos de topo na área empresarial, tecnologia e finanças, medicina e educação. Este é um ponto fulcral da diáspora que o Conselho das Comunidades Macaenses em Macau tem virtualmente ignorado, ao focar-se apenas nas gerações mais velhas que participam nos Encontros a cada três anos.” Neste sentido, o inquérito deste ano apresenta uma pergunta sobre o número de familiares que trabalham em empresas com ligações à China. “Cerca de 37 por cento afirmaram que fazem esse trabalho, mas numa outra questão, 59 por cento expressou interesse em saber mais sobre oportunidades internacionais de negócio e culturais relacionados com os portugueses da Ásia”, pode ler-se. Para Roy Eric Xavier, “o potencial para desenvolver relações comerciais, por exemplo, deveria ser mais clarificado, sobretudo desde que as regiões administrativas especiais continuam a beneficiar de protecção que não estão garantidas em muitas cidades portuárias da China”. “Este potencial tem sido ignorado por muitas das organizações de Macau, mas tem vindo a tornar-se muito reconhecido na diáspora”, frisou. Além disso, o académico nota um maior interesse não só na preservação da história, mas também na transmissão de valores aos descendentes. Aqui, as redes sociais assumem um importante papel. “Os sítios no Facebook de portugueses da Ásia aumentaram de cinco, em 2013, para 27 em 2019. Muitos dedicam-se a diferentes temáticas, tal como a comida, história, língua, fotografias ou histórias de família”, aponta o inquérito. “Esta tendência é uma indicação de que a nova geração de luso-asiáticos e macaenses estão agora envolvidos e interessados em passar mais informações para as novas gerações”, frisou Roy Eric Xavier. O inquérito vai continuar a manter-se online “de forma indefinida”, com os resultados a serem publicados periodicamente “para acompanhar as mais recentes tendências”. Roy Eric Xavier explicou ainda que a edição deste ano do questionário foi desenvolvida “para chegar a gerações mais jovens na Diáspora que estão a tornar-se mais conscientes da sua etnicidade e que estão a tentar obter mais informações”. “Retirei uma pergunta sobre se a pessoa deixou ou não de viver na Ásia, uma vez que a maioria nasceu noutro lugar. Também eliminei uma questão sobre línguas, e especificamente sobre a capacidade para falar o patuá, mas irei usá-la no futuro. Contudo, mantive as questões relacionadas com a idade e localizações actuais, bem como a dimensão das famílias ou os diferentes lugares no mundo de onde são oriundos os antepassados”, explicou Roy Eric Xavier. Nestas alterações, “foi feita uma tentativa para ter um panorama mais claro de como são as novas gerações em termos demográficos e culturais”, adiantou.
Andreia Sofia Silva SociedadeMacaenses | Inquérito da Universidade da Califórnia destaca mais jovens na diáspora Roy Eric Xavier, director do Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses da Universidade da Califórnia, lançou este ano uma nova edição de um inquérito feito à comunidade macaense na Diáspora. Os resultados revelam “um ressurgimento dos jovens na comunidade portuguesa oriunda da Ásia”, quando antes os reformados estavam em maioria. O académico nota também um maior envolvimento destes jovens com as suas origens e mais interesse nas relações comerciais com a China, algo que não está a ser devidamente aproveitado [dropcap]H[/dropcap]á novos dados da comunidade macaense e luso-asiática oriundos do inquérito desenvolvido no âmbito do Projecto de Estudos Portugueses e Macaenses da Universidade da Califórnia, liderado pelo académico Roy Eric Xavier. O professor universitário lançou uma nova edição do inquérito este ano, tendo feito algumas alterações face às questões colocadas em 2013. Os resultados preliminares deste novo inquérito, disponíveis no website “Far East Currents”, revelam que houve um “ressurgimento dos jovens na comunidade portuguesa oriunda da Ásia”, uma vez que “mais de 66 por cento das respostas chegaram dos adultos empregados (idades entre 19 e 64 anos)”. Por comparação, em 2012 e 2013 “70 por cento dos inquiridos estavam reformados, tendo mais de 65 anos”. Tal “sugere que as gerações mais jovens podem estar mais conscientes da sua cultura e estão agora em maioria”. Se os primeiros resultados, de 2012, falavam de uma comunidade na diáspora entre 149.240 a 155.764 pessoas, esse número aumentou para 1.687 milhão de macaenses ou luso-asiáticos em 35 países, e a contagem não fica por aqui, como disse Roy Eric Xavier ao HM. “Devo enfatizar que isto é apenas uma estimativa, mas baseada em dados e corroborada por académicos desta área de estudos, que acreditam que os números são bem mais elevados do que antes”, disse. De entre os inquiridos, 16,57 por cento dizem ser portugueses, enquanto que 61,14 por cento dizem ser macaenses. Apenas 20 por cento afirma ser euroasiático. Origem nos bairros O inquérito de 2019 mostra ainda que 66 por cento dos inquiridos vivem nos Estados Unidos, enquanto que 24 por cento vive no Canadá, Austrália e Europa (muitos deles em Portugal) e os restantes 9 por cento no Japão, Filipinas, Macau e Hong Kong. Além disso, “mais de 72 por cento afirmaram que têm laços familiares com Macau, sendo que 63 por cento têm ligações com Hong Kong”. “Mais de 52 por cento têm antecedentes em Portugal, e mais de 33 por cento com Xangai”, além de que “de forma significativa, em mais de 27 por dos casos os antecessores são oriundos de Goa, Cantão, Japão, Malásia, Singapura e Timor”. Para Roy Eric Xavier, esta é outra novidade trazida pelo inquérito de 2019: a de que há muitos descendentes de bairros portugueses espalhados pela Ásia. “Confirmámos que muitas famílias possuem histórias de emigração ligadas a bairros portugueses de Goa, Cantão, Japão, Malásia, Singapura e Timor, sendo que a grande maioria tem laços com Macau, Hong Kong e Xangai, uma vez que a maior parte dessas zonas foram formadas antes e depois da Guerra do Ópio.” Roy Eric Xavier aponta que “as histórias de emigração das famílias apenas tinham sido teorizadas em 2013, mas agora temos provas de que os luso-asiáticos emigraram durante o período de 500 anos em que houve presença portuguesa na Ásia e Índia”. Por explorar Estes jovens, descendentes de famílias macaenses ou luso-asiáticas, “são profissionais, na sua maioria, da área empresarial, tecnológica, medicina, finanças, Direito ou investimentos”, entre outros. Isto faz com que exista um potencial nas relações com a China e Macau que não está a ser devidamente aproveitado, aponta o académico. “Quero determinar qual é o potencial das relações empresariais na China através de Macau. Em investigações anteriores descobri que muitos jovens na diáspora, entre 19 e 54 anos, têm cargos de topo na área empresarial, tecnologia e finanças, medicina e educação. Este é um ponto fulcral da diáspora que o Conselho das Comunidades Macaenses em Macau tem virtualmente ignorado, ao focar-se apenas nas gerações mais velhas que participam nos Encontros a cada três anos.” Neste sentido, o inquérito deste ano apresenta uma pergunta sobre o número de familiares que trabalham em empresas com ligações à China. “Cerca de 37 por cento afirmaram que fazem esse trabalho, mas numa outra questão, 59 por cento expressou interesse em saber mais sobre oportunidades internacionais de negócio e culturais relacionados com os portugueses da Ásia”, pode ler-se. Para Roy Eric Xavier, “o potencial para desenvolver relações comerciais, por exemplo, deveria ser mais clarificado, sobretudo desde que as regiões administrativas especiais continuam a beneficiar de protecção que não estão garantidas em muitas cidades portuárias da China”. “Este potencial tem sido ignorado por muitas das organizações de Macau, mas tem vindo a tornar-se muito reconhecido na diáspora”, frisou. Além disso, o académico nota um maior interesse não só na preservação da história, mas também na transmissão de valores aos descendentes. Aqui, as redes sociais assumem um importante papel. “Os sítios no Facebook de portugueses da Ásia aumentaram de cinco, em 2013, para 27 em 2019. Muitos dedicam-se a diferentes temáticas, tal como a comida, história, língua, fotografias ou histórias de família”, aponta o inquérito. “Esta tendência é uma indicação de que a nova geração de luso-asiáticos e macaenses estão agora envolvidos e interessados em passar mais informações para as novas gerações”, frisou Roy Eric Xavier. O inquérito vai continuar a manter-se online “de forma indefinida”, com os resultados a serem publicados periodicamente “para acompanhar as mais recentes tendências”. Roy Eric Xavier explicou ainda que a edição deste ano do questionário foi desenvolvida “para chegar a gerações mais jovens na Diáspora que estão a tornar-se mais conscientes da sua etnicidade e que estão a tentar obter mais informações”. “Retirei uma pergunta sobre se a pessoa deixou ou não de viver na Ásia, uma vez que a maioria nasceu noutro lugar. Também eliminei uma questão sobre línguas, e especificamente sobre a capacidade para falar o patuá, mas irei usá-la no futuro. Contudo, mantive as questões relacionadas com a idade e localizações actuais, bem como a dimensão das famílias ou os diferentes lugares no mundo de onde são oriundos os antepassados”, explicou Roy Eric Xavier. Nestas alterações, “foi feita uma tentativa para ter um panorama mais claro de como são as novas gerações em termos demográficos e culturais”, adiantou.