Andreia Sofia Silva Grande Plano MancheteDaniel Cheng, autor de “How I built an Integrated Resort”: A ausência de um “plano abrangente” para a diversificação O analista de jogo e antigo executivo do sector dos casinos Daniel Cheng lançou, em Maio, o livro “How I Built an Integrated Resort” [Como Construí um Resort Integrado], um manual de boas práticas para operadores, investidores e académicos. O autor lamenta que o ónus da diversificação económica de Macau esteja nas concessionárias e aponta a falta um “plano abrangente” do Governo para atingir esse objectivo Porque decidiu lançar um livro sobre este tema? Um resort integrado é a resposta para o desenvolvimento futuro na área do turismo e lazer para muitas regiões? O conceito de resorts integrados ajudou a tornar o jogo em algo mais aceitável em muitas jurisdições, particularmente na Ásia. Especialmente em países e regiões que anteriormente evitavam a legalização dos casinos devido a preocupações sociais e de segurança, e que ultrapassavam os potenciais benefícios económicos. No entanto, muitos dos novos resorts funcionam apenas no nome, não cumprindo os verdadeiros princípios do conceito. Qual é, então, o resort integrado ideal em termos de confiança dos consumidores e de segmento de mercado? Há muitos preceitos fundamentais, mas o mais importante é uma visão partilhada que alinhe os objectivos macro do Governo e os objectivos comerciais dos operadores. Como encara actualmente o mercado de resorts integrados em Macau após as novas licenças de jogo? Quais são as hipóteses de expansão e modernização em relação ao que já existia? O novo regime de jogo de Macau procura realinhar o desfasamento entre a indústria e a visão do Governo, segundo a qual a “Macau 1.0” era meramente uma legitimação da antiga estrutura de jogo existente antes da liberalização do sector. Embora o valor económico do mercado sofra um golpe, principalmente devido à erradicação do sector dos jogos de fortuna e azar e de todos os seus elementos mais obscuros, o novo regime proporcionará uma estabilidade de longo prazo, mesmo que o sector volte a atingir os níveis de glória que rondavam os 50 mil milhões de dólares no passado. Acredita na diversificação do segmento não-jogo em Macau? Acredito, se for orientada pelo mercado. Actualmente, as seis concessionárias estão a investir em activos não relacionados com o jogo de acordo com as directivas da nova lei e não necessariamente com o objectivo principal de gerar receitas não relacionadas com o jogo. Esta situação poderá conduzir a atracções que não correspondem à procura do mercado, levando a que haja um exagero em torno da ideia de Macau ser um grande destino para o segmento não relacionado com o jogo [nas áreas do lazer e entretenimento]. Que diferenças pode apontar entre o modelo de resort integrado de Singapura, como o Marina Bay Sands, e as restantes jurisdições de jogo, tanto na Ásia como nos Estados Unidos? Se colocarmos Singapura e Macau lado a lado, e aplicarmos a lente de um consumidor, a distinção é clara, na medida em que as duas jurisdições possuem sistemas de “hardware” [infra-estruturas e empreendimentos] e “software” [modelos de negócio, sistemas] muito diferentes. No caso de Singapura, trata-se de um importante centro financeiro internacional e uma porta de entrada com uma população muito maior, e altamente qualificada. Enquanto a economia de Macau continua a depender quase exclusivamente dos casinos, Singapura tem uma economia que assenta numa vasta gama de sectores de actividade. O modelo de resort integrado não existe de forma isolada, mas insere-se neste tecido económico e social mais vasto. Assim, se fosse possível reproduzir o modelo do Marina Bay Sands para o Cotai, este não conseguiria atrair tantos visitantes devido às características subjacentes diferentes, além de que iria continuar a servir principalmente os visitantes do Interior da China. O modelo de resort integrado é uma variante do modelo existente em Las Vegas, onde há uma integração do entretenimento nas instalações do casino a fim de atrair segmentos mais vastos de clientes. O que o Governo de Singapura fez foi elevar o segmento não relacionado com o jogo ao mesmo nível do casino, introduzindo salvaguardas sociais. Embora os operadores de Macau e das Filipinas tenham posteriormente adoptado a designação de “resort integrado”, a verdade é que, nestes casos, são empreendimentos categoricamente diferentes, uma vez que são semelhantes aos resorts existentes em Las Vegas, onde o casino tem maior visibilidade e é o centro das atenções. Como vê a evolução do comportamento de consumo dos turistas chineses nos próximos anos, à medida que os mercados de jogo asiáticos se desenvolvem? Dada a enorme dimensão da China, é provável que o seu desenvolvimento económico continue a crescer a partir das áreas metropolitanas durante as próximas décadas. Este crescimento continuará a alimentar a economia de Macau num futuro previsível, dada a sua proximidade com a China, mesmo que a “Macau 2.0” não atinja a visão do Governo de transformar o território num centro mundial de turismo. À medida que os consumidores chineses se vão tornando mais sofisticados, os clientes dos segmentos “premium” e mais experientes passarão a deslocar-se a resorts integrados mais ao estilo de Singapura. Porém, o mercado [de jogo] irá continuar a ser suficientemente grande para sustentar resorts centrados em casinos, como é o caso das Filipinas. Acredita na diversificação económica de Macau como um todo, com a redução do peso do jogo? Concordo com a visão, mas tenho uma dupla posição em relação ao seu sucesso. Porquê? Há um claro desejo de Pequim manifestado na nova lei e licenças de jogo atribuídas. No entanto, o Governo de Macau não pegou nessa visão e não a articulou num plano abrangente, transferindo para as concessionárias o ónus de apresentação de ideias para atracções não relacionadas com o jogo. Este facto sugere que a missão de criar a “Macau 2.0” não é da responsabilidade de uma única entidade. Para agravar esta falta de responsabilidade exclusiva de uma só entidade, o sistema de “harware” turístico do pequeno enclave é limitado, além de que não há muito que se possa fazer em termos do desenvolvimento de novas atracções turísticas para aumentar o seu lado atractivo. Qual é o mercado de jogo asiático mais prometedor actualmente, além de Macau? Quer esteja em desenvolvimento, como a Tailândia, quer já esteja a funcionar em pleno. O Japão e a Tailândia têm ambos um potencial fantástico. No entanto, o seu sucesso depende, em grande medida, do quadro regulamentar e da execução. Já assistimos a alguns erros do Japão e espero que as autoridades tailandesas tenham observado atentamente o desenvolvimento da região nos últimos 20 anos. Se adoptarem as melhores práticas e evitarem os erros do passado, poderão maximizar o seu potencial.
David Chan Macau Visto de Hong Kong VozesQuarentena apetecível Este é o meu primeiro artigo após o Ano Novo chinês. Aproveito para desejar a todos os meus leitores um feliz Ano Novo. Durante os feriados, a comunicação social de Hong Kong anunciou que a Tailândia, para revitalizar o turismo, passou a permitir que os viajantes cumpram a quarentena de 14 dias num dos seus resorts, que possui um campo de golfe. Durante o período de quarentena, os turistas confinados podem dedicar-se a este desporto. Existem seis campos de golfe na Tailândia. O que se encontra no resort que pode servir de local de isolamento, fica a uma hora e meia de Banguecoque de carro. A quarentena é uma medida que é aplicada a quem vem do estrangeiro. Assim que chegam à Tailândia, os turistas têm de fazer um teste ao ácido nucleíco. Se o teste for negativo, a partir do quarto dia de estadia podem jogar golfe. Durante este período, terão de fazer mais três testes. No campo, os grupos de jogadores têm de estar separados por dois buracos. No entanto não têm acesso aos cacifos nem às cafeterias. Como medida de segurança, o clube de golfe não disponibiliza caddies nem outro tipo de pessoal e os turistas não podem sair do resort. O clube de golfe só aceita turistas estrangeiros. Embora estas medidas tentem proporcionar entretenimento durante o período de isolamento, os turistas pagam por ele um preço bastante elevado. Para além da quarentena de 14 dias que têm de cumprir na Tailândia, terão de passar por idêntico período de isolamento quando regressarem aos seus países de origem. Terão ainda de pagar o alojamento no resort. Na actual situação de pandemia, muitos países têm relutância em aceitar turistas. Mas, aparentemente, os tailandeses pensam de forma diferente. Parecem concordar com este plano e acreditam que esta abordagem pode revitalizar a economia, ajudando a trazer divisas para o país através do turismo; mas recusam-se a reduzir o período de isolamento de 14 para 10 dias; porque se mesmo a quarentena de 14 dias não garante que não haja qualquer possibilidade de contágio, a redução para 10 dias é encarada como bastante preocupante. Em última análise, a saúde está em primeiro lugar. O plano de golfe é uma ideia muito inovadora. A epidemia afectou em larga escala os sectores da aviação e do turismo. As pessoas deixaram de viajar. Hoje em dia quase só se viaja por necessidade. Todos nos sentimos inseguros. E, como é evidente, as indústrias da aviação e do turismo estão estagnadas. Este plano permite que os turistas usem as instalações do resort para jogarem golfe durante os 14 dias de isolamento. É um factor que permite atrair turismo para a Tailândia. Quase em toda a parte, a quarentena obriga à permanência em hotéis ou em centros médicos, sem qualquer possibilidade de saídas. As pessoas são obrigadas a estar em confinamento e isoladas. Para além disso, os turistas ainda têm de pagar este alojamento forçado. O plano de golfe tira obviamente partido da possibilidade de circulação ao ar livre, num ambiente em que as hipóteses de contágio são extremamente baixas. A saúde dos turistas fica garantida; além disso ainda lhes é proporcionada a possibilidade de divertimento. O preço que são obrigados a pagar pelo alojamento durante a quarentena garante-lhes isolamento e diversão. Comparado com o isolamento dentro das quatro paredes de um hotel, o plano do golfe apresenta grandes vantagens. Mas claro que a revitalização do turismo na Tailândia não pode contar apenas com esta medida. Ainda teremos de esperar para avaliar a eficácia do plano. Macau usa actualmente um hotel como centro de quarentena. Durante este período, os turistas têm de ficar encerrados no quarto e não podem contactar com ninguém. O mesmo se passa mais ou menos em toda a parte. A política de revitalização da economia em Macau privilegia os casinos em detrimento dos hotéis. Eles são a principal fonte de receitas de Macau, mas a maior parte das suas instalações são constituídas por espaços fechados. Macau e a Tailândia dependem ambos do turismo. A Tailândia decidiu apostar no golfe como forma de aliviar os inconvenientes do isolamento. Este conceito tira partido dos vastos espaços ao ar livre, junto ao local onde os turistas têm de estar alojados. No sector do turismo, é necessário haver constante inovação para que sejam criados novos pontos de interesse, caso contrário os turistas podem vir uma vez a Macau mas já não voltam uma segunda vez. Tendo isto em mente, quando pensarmos o futuro da indústria do turismo na cidade, devemos considerar a construção de instalações em espaços amplos, com acesso a zonas ao ar livre. Por exemplo, Macau pode considerar a construção dos seus resorts em espaços amplos, onde se possa praticar desportos motorizados, construir um parque aquático e campos de golfe. Em tempos normais, os residentes de Macau podem usar o resort. Se tiver de ser usado como um centro de isolamento, todas as valências acima mencionadas podem estar à disposição dos turistas. Desta forma a saúde dos visitantes pode ser protegida, porque a distância social pode ser assegurada; quando não houver necessidade de utilizar estas áreas, o resort pode encerrá-las temporariamente. O Ocean Park de Hong Kong está actualmente num processo de reformas devido à crise financeira. Embora o Ocean Park não seja tão amplo como um campo de golfe, é mesmo assim um local com muito espaço. As zonas interiores do Ocean Park, como os restaurantes, estão fechadas. Se fossem transformadas num centro de quarentena, para que os turistas que chegam a Hong Kong pudessem visitar o parque durante a quarentena, seria uma mais valia para todos e bem melhor do que fechar o Ocean Park durante a pandemia. Os economistas afirmam muitas vezes que os recursos são limitados. Mas todos sabemos que a criatividade humana não tem limites. O segredo está em como usar essa criatividade para benefício da colectividade. Os recursos naturais de Macau são limitados, e como tal, Macau tem de ser criativo se quiser revitalizar as indústrias do jogo e do turismo. O plano de golfe tailandês merece a nossa atenção em profundidade. Consultor Jurídico da Associação para a Promoção do Jazz em Macau Professor Associado da Escola Superior de Ciências de Gestão/ Instituto Politécnico de Macau Blog:http://blog.xuite.net/legalpublications/hkblog Email: legalpublicationsreaders@yahoo.com.hk
João Santos Filipe Manchete SociedadeResort “Lisboeta” recorda a Macau antiga e vai custar cinco mil milhões de dólares de Hong Kong Os elementos das construções mais icónicas do Rei do Jogo, como o Hotel Estoril, Lisboa e Macau Palace, vão juntar-se no novo projecto de Arnaldo Ho para homenagear o pai e mostrar aos turistas como era a cidade nos anos 60 e 70 [dropcap]C[/dropcap]hama-se Lisboeta, vai custar cinco mil milhões de dólares de Hong Kong e abre em 2020. O novo hotel de 4 estrelas que o empresário Arnaldo Ho vai construir no Cotai em memória do pai, Stanley Ho, é inspirado na estética dos hotéis Estoril, Lisboa e Macau Palace. O objectivo é mostrar aos turistas como era Macau nos anos 60 e 70, no auge dos projectos de Stanley Ho, e ao mesmo tempo recordar aos residentes os hotéis que transformaram a cidade no Mónaco do Oriente. “Quando olhei para o Cotai considerei que faltavam elementos de Macau. Por isso, procurei inspiração nos maiores feitos do meu pai, como a construção dos hotéis Estoril, Lisboa e Casino Palace, e decidi que queria levar estes elementos clássicos para o Cotai. É uma grande honra para mim poder levar estes elementos do passado, característicos dos projectos do meu pai, para o futuro”, disse Arnaldo Ho, director da empresa Macau Theme Park and Resort (MTPR), na apresentação do projecto. “O nome Lisboeta tem dois significados, por um lado representa a ligação profunda entre Lisboa e Macau, por outro é a ligação entre a nossa marca e os nossos patronos. Nesta perspectiva, o Lisboeta é um projecto dedicado às pessoas de Macau, que manifestam a cultura e a herança do território”, explicou. Com uma área de 141 mil metros quadrados, o Lisboeta vai reproduzir o famoso Mural do Hotel Estoril, e vai ter uma réplica do Macau Palace, que em 1974 surgiu no filme James Bond: O Homem da Pistola Dourada. Este é um dos temas do projecto, que tem outra abordagem: a Macau do futuro. Com a conjugação destes dois temas, Arnaldo Ho espera atrair visitantes e turistas para o hotel com cerca de 820 quartos. Sem jogo… para já Ontem, Arnaldo Ho afirmou que, por enquanto, o Lisboeta não vai ter mesas de jogo. Porém, vai ter uma ponte pedonal a ligar a unidade hoteleira ao casino da Sociedade de Jogos de Macau, Grand Lisboa Palace, que deverá abrir até ao final de 2019. De acordo com o empresário e filho de Stanley Ho e Angela Leong, há igualmente negociações com o Governo, e com as operadoras, para tentar obter autorização para instalar mesas de jogo no Lisboeta. Contudo, Ho mostrou-se confiante que os hotéis decorados pela marca de cosmética L’Occitane, ou com os desenhos animados Line Friends são um argumento forte para atrair famílias. Outra aposta do director da MTPR são os elementos não-jogo como um cabo para zip-line, entre as torres do hotel, os túneis de vento para skydiving e ainda as salas de cinemas, geridas pela Emperor Entertainment. Adeus, Hello Kitty Arnaldo Ho, na apresentação do resort Lisboeta | FOTO: Bobby Yip/REUTERS O Hotel Lisboeta vai ficar numa parcela do terreno que tinha sido entregue a Angela Leong para a construção de um parque temático. Chegou a ser avançado um projecto que teria como tema o desenho animado Hello Kitty, mas a ideia não se concretizou. “Enquanto os outros hotéis tiveram como limite de construção em altura entre 120 e 160 metros, nós só fomos autorizados a construir até 60 metros”, revelou Arnaldo Ho. “Vamos manter-nos em contacto com o Governo e esperamos que no futuro nos permitam construir o parque temático”, frisou. A construção de um hotel foi ainda explicada com o facto da empresa ter feitos estudos de mercado que indicavam que o projecto não ia singrar em Macau.