Pedro Lemos, produtor de televisão

[dropcap style=’circle’]A[/dropcap]s imagens, reais ou imaginárias, fazem parte do seu dia-a-dia, seja no trabalho, seja nos tempos livres. Pedro Lemos, produtor de televisão, chegou a Macau há quatro anos e continua embrenhado naquilo que o apaixona desde sempre: o mundo das Artes. Licenciado em Som e Imagem pela Universidade Católica do Porto, Pedro Lemos conseguiu adaptar-se ao Oriente e compreender um território tão diferente de Portugal, apesar dos laços históricos que persistem.
“É uma sociedade diferente de lá, não tem o perfeccionismo europeu de que estamos sempre à espera, mas tem outras coisas. É difícil explicar por palavras quando vou lá [a Portugal] e as pessoas me perguntam como é. Por mais que descreva, é muito difícil, porque quando as pessoas cá vêm percebem que por mais palavras que use é complicado descrever esta realidade”, contou ao HM.
Para Pedro Lemos, Macau tem algo que não se encontra em territórios vizinhos como China, Hong Kong ou Taiwan. “Todos esses locais são diferentes. A força trabalhadora que trazem para cá faz com que esta sociedade seja claramente diferente de Hong Kong ou Taiwan. As pessoas que chegam trabalham em casinos ou obras, não é propriamente o género de pessoas que encontramos em Hong Kong, que têm ambições e o desejo de sucesso.”
Antes de se embrenhar pelo mundo das Artes, Pedro Lemos chegou a estudar Desporto, mas depressa percebeu que o seu caminho profissional não passava por aí. 29116P23T1
“Sempre tive queda para as artes no geral, desenhei a vida toda. Sempre tive esta necessidade de criar, de fazer coisas. Era um impulso inevitável, embora goste de praticar desporto. Mas o curso de desporto é mais virado para o ensino e achei que era uma área vazia para a minha personalidade”, apontou.
Terminada a licenciatura, Pedro Lemos teve várias experiências de trabalho, mas só na RAEM encontrou algo que o preenche. “Deram-me aqui a oportunidade de trabalhar nesta área. É mais interessante, não faço só produção”, contou. Em Portugal vivenciou a precariedade do mercado de trabalho. “Trabalhei como freelancer para empresas na área gráfica e também fazia alguns trabalhos de produção. Fazia um pouco de tudo dentro dessa área para sobreviver, não fui servir à mesa”, ironizou.

Desenhos nos tempos livres

Quando não está a editar imagens ou a produzir conteúdos, Pedro Lemos pega no lápis ou na caneta e desenha o que vê ou lhe passa pela mente. Os seus rabiscos mostram sobretudo caras e corpos de homens ou mulheres, ou remetem para algum tipo de mensagem.
“É um impulso, uma expressão muito natural em mim. Desenho tudo o que vejo e, às vezes, viro-me para o inconsciente e desenho o que me dá na cabeça, como caras e corpos. Surge espontaneamente, não tenho uma explicação natural. Há pessoas que escrevem, eu vou mais para o desenho para explicar alguma coisa. Viro-me muito para a figura humana, acho que é interessante. Gosto de misturar personalidades nas caras e nos corpos, nunca é alguém específico. Não estou sempre no mesmo género de desenho, às vezes vou mais para a banda desenhada. Acho que tenho várias personalidades no desenho”, revelou.
Para além do desenho, Pedro Lemos é um apaixonado por cinema. “Vejo bons e maus filmes. Gosto de ver maus filmes porque vê-se o que é mau, o que aconteceu de errado, e por isso é que há bons filmes. Só vendo o mau é que se consegue o bom.”
David Lynch é o primeiro realizador que lhe vem à cabeça, quando lhe perguntámos, pela sua forma diferente de fazer filmes. “Tenho muitos realizadores, apaixono-me por diferentes realizadores. Posso falar de alguns que me educaram, vou para o David Lynch em primeiro lugar, porque no fundo é um designer e usa isso na sonoplastia e na imagem. Usa isso para passar a emoção que quer, porque o cinema é isso, são emoções.”
Após alguns anos a viver na Ásia, Pedro Lemos garante querer continuar deste lado do mundo. “Estou a pensar continuar por aqui, para já. Não estou à espera de nada, estou numa onda mais budista (risos). Não penso tanto assim nisso. Tenho sonhos, sim, mas se mudar de sítio os sonhos continuam lá, não é o local que faz a diferença”, rematou.

29 Jan 2016

Felix Januário Vong: “As minhas memórias estão em Macau”

[dropcap style=’circle’]É[/dropcap] um jovem finalista da licenciatura em Design Gráfico do Instituto Politécnico de Macau (IPM) e conta-nos que o seu grande interesse é ser fotógrafo. Felix Januário Vong nasceu em Macau e por cá cresceu e assume, em conversa connosco, que tem um hábito diário: colocar todos os dias na sua página do Facebook e do Instagram as fotografias que vai tirando. A ideia? Chamar a atenção das pessoas para aquilo que gosta mesmo de fazer.
Apesar de chamar casa a Macau, a verdade é que esta terra não é, para Felix, muito atractiva. Algo que pode ter ajudado o jovem a descobrir a sua paixão: é que o interesse de Félix pela fotografia chegou devido a um problema próprio – depois de não ter descoberto nada mais para fazer, mesmo estando há mais de 20 anos a viver em Macau. A terra era, para ele, demasiado pequena e “uma seca”.
“Quando comecei a sair à rua com a máquina, obriguei-me a ver mais coisas à minha volta”, conta-nos, dizendo que agora até tem um sítio preferido, que é o Leal Senado. “Não tenho um destino certo para tirar fotografias, tiro à vontade. Mas gosto do Leal Senado durante a noite. É o sítio onde passo mais vezes, também é simbólico para Macau. Acho que consigo observar muitas coisas lá.”
Quase todas as suas fotografias são tiradas nas ruas, mas não é só pelo trabalho final que Felix carrega consigo a sua câmara. Para o jovem, este interesse fá-lo também perceber uma coisa.
“Na verdade, as pessoas são muito interessantes, muitas são inesperadas. Por exemplo, tirei a fotografia de um grupo de turistas do interior da China. Eles e nós próprios construímos uma cena interessante e única, porque não se pode tirar a mesma fotografia se eles tivessem viajado em Taiwan ou Hong Kong. As pessoas são as mesmas mas as ruas e os edifícios são de tipo europeu. Acho uma coisa muito interessante e que só nós temos aqui”.

Paixão pela arte

Cada vez que passeava, Felix tirava fotografias das ruas, janelas ou apenas das luzes, que começou depois a colocar nas redes sociais. Os passeios surgiram por necessidade.
“No meu curso tenho sempre muitas horas de aulas e muitos trabalhos. Comecei a ter o hábito de me deitar muito tarde durante vários anos. Assim, quando estou de férias ou não tenho nada para fazer, não consigo dormir à meia-noite. Tento, então, passear nas ruas para conseguir dormir melhor”, disse, acrescentando que começou em 2013.
Na altura nem tinha uma máquina boa. Todas as fotos eram tiradas com o telemóvel. Até porque pensou que o interesse nunca seria tão grande: mesmo tendo uma disciplina obrigatória de fotografia no seu curso, Felix gostava mais de ouvir música nos tempos livres.
Mas, a paixão não se escolhe e cada vez mais Felix se apaixonou pela arte de tirar fotografias. Especialmente a preto e branco. Especialmente tiradas à noite. Vai daí, comprou uma câmara melhor.
“Só comprei uma máquina mais profissional no ano passado. Estabeleci uma meta para mim próprio: tirar uma fotografia por dia e pô-la nas redes sociais. Estou sempre com a máquina, até quando vou à casa de banho”, conta a sorrir.
No final de 2014, Felix conseguiu conhecer vários fotógrafos profissionais que também tiram fotografias nas ruas e assim decidiu desenvolver este interesse mais seriamente. Além das técnicas básicas que aprendeu no seu curso de Design, até agora ainda não tirou um curso profissional de fotografia, sendo que aprendeu apenas por apreciar obras de outros.

Sonhos

Através das fotografias que Felix nos mostra, podemos ver que o jovem vai frequentemente a Hong Kong durante as férias ou festivais especiais. Além de ruas, luz e pessoas, este fotógrafo gosta de capturar circunstâncias acidentais. Mais recentemente, o jovem tenta tirar fotografias onde os objectos olham para o foco da máquina.
Mas, mais do que tudo, para Felix o mais importante é ter histórias para contar. “Quero mostrar personagens nas fotografias, além dos sentimentos e ambientes reais. Por exemplo, quando fotografei um ferreiro, capturei não só a pessoa mas também o ambiente de trabalho lotado, porque esta é uma cultura única que só existe em Macau e Hong Kong. Assim crio um significado e deixa as pessoas a pensar na cultura”.
Para o jovem, actualmente Macau está lotada de pessoas e não é fácil procurar espaços tranquilos. Mesmo assim, Felix conta-nos que consegue descobrir características únicas desta pequena cidade.
“Macau é especial na mistura Oriental e Ocidental e eu gosto disso. Nasci e cresci aqui e, mesmo que existam cada vez mais elementos culturais e políticos diferentes, bem como pensamentos e imagens diferentes, a minha raiz e as minhas memórias estão aqui. Gosto de ficar em Macau”.
O jovem estudante de Design admite ser uma pessoa “aborrecida”. Perguntámos porquê e ele explica, na sua visão, o que quer dizer: além de ser fotógrafo, gosta de assistir concertos de rock, ouvir música indie e electrónica, bem como assistir a exposições.
Olhando para futuro, Felix quer fazer documentários de fotografia depois da licenciatura. Acabou de participar na elaboração de uma curta-metragem onde documenta a situação dos mercados, mercearias, fachadas de antigos prédios e os que simbolizam Macau.
“Agora estou a demonstrar a minha faceta mais artística. No futuro, queria fazer fotografias documentais, porque é uma forma de mostrar preocupação por este mundo”, disse.
Mas, Felix gosta do território e não vê muitas oportunidades para isso em Macau. Por isso é provável que volte a trabalhar na área de Design. Por enquanto, as fotografias que o jovem vai tirando podem ser vistas na sua página do Facebook.

8 Jan 2016

Daisy Semedo, estudante: “Em Macau é tudo muito simples”

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] perfil desta semana nasceu numa ponta do mundo, para crescer noutra e vir parar a uma terceira. Daisy Semedo é uma angolana de sangue, que nasceu em Roma. Mudou-se para a Namíbia, mas é em Macau que vive desde a adolescência. Tudo isto, explica, aconteceu graças ao facto dos seus pais serem diplomatas e terem exercido funções um pouco por todo o mundo.
“Sou quase mais namibiana do que outra coisa”, diz, garantindo, no entanto, que o seu coração está em Macau. “Sinto-me mais daqui, porque foi onde passei a minha juventude, aquela altura em que amadurecemos, em que melhor nos apercebemos das coisas”, conta.
O ensino secundário foi completado na Escola Portuguesa e depois disso, Daisy seguiu para um “gap year” na África da Sul. É aos 20 anos que volta para o território, decidida a ingressar num curso relacionado com Ciências Políticas. Foi então que começou a licenciatura em Estudos Governamentais na Universidade de São José.
Actualmente, vive sozinha na residência universitária, mesmo virada para a Rua do Campo. “Estou num sítio super-central da cidade, tenho tudo aqui, incluindo restaurantes e supermercados”, diz.
Facto inegável é a existência escassa de pessoas africanas no território, embora nos últimos anos o número tenha aumentado devido à promoção das relações entre a China e os Países de Língua Portuguesa.

Da Namíbia, com amor

Questionada sobre a adaptação a um local tão fora do comum – quando comparado com a Namíbia, Itália, Portugal ou Angola – Daisy confessa que “ao início foi difícil”, mas agora está totalmente integrada na sociedade. É até conhecida pelos amigos como “a que conhece toda a gente”.
Para os pais, contudo, a adaptação não foi pêra doce: “a minha mãe raramente saía de casa, tinha dificuldade em fazer amizades e não gostava de algumas coisas”, acrescenta.
No entanto, não pense o leitor que Daisy deixou de ter histórias para contar. A jovem deixou de pensar no número de vezes em que foi abordada na rua, nos cafés e na universidade por pessoas que tendem em achar a diferença peculiar e não censurável.
“Quando cheguei a Macau, achei que ia sofrer muito com racismo, mas passado algum tempo percebi que os chineses ficam simplesmente fascinados e curiosos, até porque alguns nunca viram na vida”, começa por explicar, entre risos.
Daisy admite que chega mesmo a achar “engraçadas” as perguntas que lhe são feitas. Entre a sua lista de favoritas estão questões relacionadas com a sua cor de pele ou ondulação do cabelo.
“Já me perguntaram se na minha terra o sol está mais perto, por ser mais escura que eles, mas as perguntas mais frequentes são sobre o cabelo. Querem tocar e saber se cresce mais rápido do que os outros”, conta.

Não permanente

“O que mais gosto é a diversidade cultural”, adianta. Pena é que Macau seja, como costuma dizer, “uma terra temporária”, onde poucos ficam para sempre, mas muitos passam uns tempos. Este é o facto que, aliado ao conforto e segurança da cidade, faz com que a licenciada queira por cá ficar mais um pouco.
É certamente difícil comparar Macau a uma cidade como Luanda, mas Daisy fê-lo: “Luanda é muito confuso, tem imenso trânsito, muitas pessoas. E em Macau é tudo muito simples”. Já a Namíbia, descreve como “o sítio mais calmo” onde já viveu. “É bom para a reforma”, brinca.
O bichinho da aventura está na família, já que os pais diplomatas pouco gostavam de estar parados. Esta característica deu à jovem a oportunidade de palmilhar o mundo, uma das razões que permitiu a Daisy estar inteiramente à vontade com outras culturas, até porque na Namíbia e na África do Sul há uma harmonização entre população africana e europeia.

Entre dois mundos

Além de estudar, a jovem também trabalhou durante um ano no restaurante vegetariano Blissfull Carrot, na Taipa. “Adorei a experiência, muito em parte por causa das pessoas, que são muito calmas e simpáticas”, admite. A clientela é maioritariamente estrangeira e Daisy ainda lá ajuda quando pedem e quando pode.
Foi precisamente ontem que Daisy completou a sua licenciatura, mas a história não acaba aqui. O próximo passo é aprender Mandarim e seguir com o mestrado em Comércio Internacional. “Eventualmente vou voltar para Angola, mas também gostava de continuar ligada, em termos profissionais, à China”, lembra. A jovem pensa mesmo em manter-se em contacto com ambas as pontas do mundo, colocando até a hipótese de ter uma ponte constantemente criada.

18 Dez 2015

Vanessa Santos, empresária: “Ser macaense é especial”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]studou Gestão Empresarial, em Londres, com o “sonho desde pequena” de se tornar empresária como o pai. “Sou fã número um do meu pai e sinto-me orgulhosa em poder aprender e trocar umas ideias de negócios com ele”, frisa Vanessa dos Santos ao HM. Graduada com “muito boas notas”, a jovem empresária tinha apenas uma coisa em mente: “voltar para a terra” que a viu nascer e crescer – Macau.
“Tenho muito orgulho por ser de Macau, adoro viver aqui e não quero sair. Nunca pensei nisso. Tenho aqui a minha família, o meu namorado, os meus irmãos e somos todos muito unidos. Tenho o meu trabalho. É um orgulho ser de Macau”, partilha com o HM, numa conversa entre brindes e com música natalícia como banda sonora.
“Adoro isto, isto que os portugueses tanto gostam, conversar, jantar, conviver”, começa por dizer enquanto olha, um por um, os seus amigos à volta de uma mesa.
As diferenças entre a cultura portuguesa e a chinesa são indiscutíveis para Vanessa e quem sabe, como a família da jovem soube, tirar partido disso, consegue garantir uma diversidade cultural “única”.
“Eu adoro a marca portuguesa existente em Macau, adoro a cultura portuguesa e a língua”, diz com um Português perfeito. “Na minha casa não se come só comida chinesa, nada disso. A minha família tem o hábito da tão típica sopa portuguesa, do incrível bacalhau. Esta época [Natal] é levada muito a sério, já não vamos à igreja porque os meus avós já estão velhinhos mas assistimos todos à missa na televisão. Assim como no Ano Novo Chinês vamos ao templo e seguimos todas as tradições. Não é óptimo conseguirmos juntar estas duas culturas?”, argumenta.

Ser macaense

Para a pergunta de um milhão de patacas – o que é ser macaense? -, Vanessa dos Santos permanece num silêncio hesitante. “É difícil, é difícil conseguirmos explicar o que é ser macaense. Há associações a tentar, há pouco tempo foi avançado um inquérito online – que todos nós preenchemos – mas é difícil de explicar”, apontou. “Ser macaense é especial, nós sentimos aqui”, disse, colocando a mão sobre o peito.
Sem dúvidas, Vanessa dos Santos acredita que a marca portuguesa e a cultura macaense nunca irão desaparecer do território. “Eu sei que agora Macau pertence à China, mas há muita gente, nós macaenses e não só, a lutar para que a nossa marca – e a portuguesa – não desapareça. Acredito que vamos todos conseguir”, afirmou, fazendo o brilho da esperança inundar a mesa cheia de amigos atentos ao desejo da empresária.

Vinho e futebol

Profissionalmente, Vanessa dos Santos está ligada ao mundo da importação e distribuição de vinhos e produtos alimentares. “Estamos a apostar mais na área dos produtos alimentares porque o sector do vinho, principalmente do português, está um bocado sufocado”, aponta.
A receptividade é boa e o desenvolvimento do sector do Jogo, com a construção de mais casinos, permite uma “abertura do mercado” e, por isso, uma possibilidade de aumentar a sua carteira dos clientes. Com ou mais vendas, os negócios estão no sangue da família e a jovem empresária não podia estar mais feliz com o sonho de menina concretizado.
“Eu adoro vinho, adoro apreciar um bom vinho e partilhar esse momento com amigos e família”, remata, entre sorrisos. “Adoro vinho e futebol”, acrescenta. A apostar na carreira de vinhos, Vanessa dos Santos está a preparar-se para o quarto e último nível do curso de WSET em Hong Kong, um curso de vinhos e bebidas espirituais. E, diz, não quer deixar de evoluir como profissional.
Desportista desde sempre, a jovem empresária sentiu-se condicionada por não existir abertura para uma equipa de futebol feminina. “Eu sempre gostei de jogar futebol, mas não ia jogar com os homens, até porque eles não têm muita paciência. Falei com algumas equipas e ninguém quis avançar com uma equipa de futebol feminina, os treinadores não pareciam estar muito convencidos. Até que os que menos dinheiro tinham foram o que apresentaram mais disponibilidade e criou-se o Show di Bola”, partilha.
Sempre a marcar presença, Vanessa dos Santos leva o desporto muito a sério e estreia-se agora na equipa que representa a Selecção de Macau. “Está a correr muito bem, estou a adorar, espero dar o meu melhor”, termina, rematando a conversa com um brinde à família e aos amigos e, mais que isso, ao seu grande amor: Macau.

11 Dez 2015

Rui da Silva, docente: “A vida em Macau é muito interessante”

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi a leitura que despertou Rui da Silva, docente de Língua Portuguesa na Universidade de Ciência e Tecnologia de Macau (MUST), para o mundo e a cultura orientais.

“Desde sempre que tive muito interesse na aprendizagem de línguas e conhecimento de novas culturas e, na altura, quando estava no ensino secundário, comecei a ler muitos romances cujas histórias se passavam na China e no Japão. Foi aí que comecei a desenvolver um gosto especial por estes dois países”, explicou o professor ao HM.

Rui da Silva está em Macau há muito pouco tempo. “Cheguei em Agosto, são quase três meses”, indica. Mas só como residente, pois como turista já tinha visitado o território.

“Já tinha vindo a Macau duas vezes antes de me mudar definitivamente para cá”, contou, sublinhando que a “primeira impressão foi de uma enorme confusão”.

“Estava a viver no norte da China e estava à espera que fosse algo semelhante. Contudo, quando cheguei ao território descobri que era completamente diferente”, admitiu. O cunho português foi o que mais sobressaiu. A sensação era estranha porque “algumas zonas são bastantes semelhantes a Portugal, mas eu não estava em Portugal”, partilha.

Ida e voltas

Depois de decidir que queria dedicar-se às línguas chinesa e japonesa, Rui da Silva avançou com a candidatura para a licenciatura em Línguas e Culturas Orientais, na Universidade do Minho, onde acabou por se especializar em chinês e japonês.

“Durante esse tempo fui duas vezes à China Continental fazer alguns cursos de Língua Chinesa e de ensino”, conta. Os estudos prosseguiram e Rui da Silva inscreveu-se no mestrado, também na Universidade do Minho, em Estudos Interculturais Português/Chinês.

“No primeiro ano do mestrado fui para a Universidade de Nankai, em Tianjin, onde continuei a estudar Língua Chinesa, depois disso voltei para Portugal para terminar o mestrado e, ao mesmo tempo, comecei a trabalhar na universidade onde estudava como professor, leccionando Língua Chinesa e Comunicação Intercultural”, relembrou.

Durante o seu percurso académico, a paixão pela língua chinesa ganhou terreno. “Apaixonei-me completamente pela China, pela sua cultura e língua”, disse, admitindo que o que mais gosta na língua é a escrita.

“A escrita chinesa é muito visual e cada carácter tem uma história por trás que está intimamente ligada à forma de pensamento do povo chinês e como vê o mundo”, partilha, desmitificando a dificuldade tão comummente atribuída ao acto da escrita. “A escrita não será o mais difícil, mas é talvez o que dá mais trabalho para aprender”, anotou.

Arriscar para viver

Um dia, enquanto estava a viver em Tianjin, local onde frequentava um ano de intercâmbio na Universidade de Nankai, no âmbito da investigação de doutoramento, decidiu que estava na hora de arriscar e tentar outra coisa: Macau.

“Como a minha investigação está relacionada com Macau e eu gostava de experimentar dar aulas de Português a chineses – porque até então só havia dado aulas de Chinês a portugueses – decidi procurar emprego em Macau”, lembra. Juntando a isto, o caminho de Rui da Silva foi facilitado pelo facto de ter alguns amigos chineses no território, amizades que fez até com o intercâmbio das universidades locais com Portugal.

Para o jovem docente, Macau não o faz sentir que está na China, mas também não o faz pensar que está em Portugal: “Macau tem a sua própria identidade, o que faz desta cidade um local muito especial”.

Um registo diferente

Na MUST, Rui da Silva tem ao seu encargo cinco disciplinas: Fonética com 30 alunos, Gramática com 22 alunos, Escrita com uma turma de 28 alunos, Introdução ao Português com 14 alunos e ainda dá “aulas de Mandarim aos alunos estrangeiros de intercâmbio que fazem uma turma de 15 alunos”.

Questionado sobre o diferente método de ensino e até de aprendizagem, o docente explica que a maioria dos alunos “são da China Continental e não de Macau, como se possa pensar, e nota-se uma diferença entre os dois”, até mesmo comparado com Portugal.

“A atitude dos alunos de Macau é mais parecida com os alunos portugueses, ou seja, eles estudam mas, ao mesmo tempo, querem usufruir da vida. Os alunos da China Continental, por questões culturais e também por se encontrarem tão longe de casa, sentem que estudar é de facto o seu ‘trabalho’, por isso, empenham-se muito mais e dedicam-se por completo aos estudos”, explica, frisando que, no fim, “acabam por ser todos bastante interessados, dedicando-se muito à aprendizagem da língua portuguesa”.

Macau, para já, é um projecto a médio prazo, como conta o jovem docente. “Ainda não decidi quanto tempo irei ficar por cá”, assinalou, indicando que, “fora das aulas, a vida em Macau é muito interessante”.
As diferenças entre a China e Portugal tornam a vivência aqui “muito estimulante”. Do Cotai à Taipa a zona preferida é mesmo Macau “por causa da sensação de estarmos a viver num local cheio de história”. Apesar de Coloane ser muito agradável para uns passeios e por ter praia, Taipa e Cotai são “demasiado modernas”.

As saudades da família e dos amigos são inegáveis, “até da cultura do Alto Minho”, sendo Rui da Silva de Viana do Castelo. “Mas não sinto saudades de estar em Portugal, acho que já estou habituado a estar longe e gosto tanto de cá estar que acabo por nem sequer sentir vontade de voltar”, termina.

20 Nov 2015

José Macedo, arquitecto

[dropcap style=’circle’]J[/dropcap]á viveu em quase todos os continentes. O Rio de Janeiro foi, e continua a ser, a sua cidade de eleição. José Macedo, um português a viver na Ásia desde 2010 não controla o brilho no olhar quando relembra o Ipanema, a água de côco e a bossa nova.
O mundo gira e com ele gira também a vida. Quis o programa Inov Contacto trazer o arquitecto para Hong Kong e foi lá que ficou por quatro anos seguidos. “Vim nesse programa para Hong Kong, mas o ano passado fui convidado para pertencer ao projecto do Galaxy e abracei essa aventura”, conta ao HM.
Porque não há coincidências, quis o acaso que a conversa do arquitecto com a equipa do HM acontecesse no dia em que José Macedo comemorava um ano de estada neste território. “A verdade é que é muito pouco comum alguém passar de Hong Kong para Macau, o mais habitual é o contrário. Confesso que é um trajecto que poucas pessoas fazem, mas como eu gosto de experimentar e já vivi em quatro continentes decidi arriscar”, conta.
Na região vizinha, José Macedo trabalhava na área de arquitectura empresarial e decidiu experimentar “trabalhar para o cliente”.

Música no coração

No saco das paixões, carrega o gosto e a dedicação pela música. O brilho no olhar volta a invadir a nossa conversa e José Macedo explica que a dada altura, durante a sua permanência em Hong Kong, sentiu carência “de festas mais indie, mais alternativas”. Pela necessidade nasceu um duo de DJ. Com um amigo, de origem espanhola, nasce um projecto que vem trazer, ou pelo menos tentar, aquilo que os amigos procuravam. “Começámos devagar, passo a passo, até que começámos a ser convidados para festivais de música e festas. É um bichinho que sempre tive”, partilha.José Macedo
A chegada a Macau pareceu-lhe agridoce. “Não gostei logo de Macau porque tirou-me esta parte da minha vida na música. Sabia que não ia encontrar aqui o mesmo que estava a fazer em Hong Kong, mas, também sabia, que há sítios em que as coisas não vêm ter contigo de forma natural, tens de as procurar ou criar. Macau dá-te essa oportunidade. A oportunidade de criares. Só falta que as pessoas sejam abertas e aceitem”, assina.
Locais como a Live Music Association, ou bares de música mais alternativa foram os espaços escolhidos pelo arquitecto. Ainda assim, nos momentos de mais calma é Coloane que se destaca. “É um sítio que dá para te refugiares um bocadinho”, remata.

Paraíso fiscal

Assumindo que tudo depende de pessoa para pessoa, José Macedo, entre gargalhadas, assume que olha para Macau como um “paraíso fiscal”. “É fácil viver aqui e tens alguma qualidade. Tudo depende de pessoa para pessoa. A mim, Macau não me preenche a 100%, mas vejo que há muitas pessoas que, por tudo o que o território é, se deixam estar e ‘metem as pantufas’, ficam acomodadas. Faltam algumas coisas aqui”, partilha.José Macedo
Uma grande escola de artes seria ouro sobre azul para o território. “Isso iria trazer novas visões, novas experiências e, mais que isso, espírito crítico”, aponta. O crescimento veloz da cidade exige alguma preparação, organização, criatividade e “de novo o espírito crítico”.

Paciência de chinês

Ainda no mundo da música, durante o ano que marcou a sua passagem por aqui, José Macedo foi conhecendo pessoas e projectos locais. Uma maior aposta no que é local e bom deveria fazer parte dos planos de quem manda, defende. Para o arquitecto não se pode desistir, e quem quer vingar terá de ser muito paciente e tentar, “tentar sempre”. Assumindo-se como “um bicho da Taipa”, José Macedo lamenta não ter tido muito tempo para conhecer o verdadeiro lado de Macau. “Se vives e trabalhas na Taipa vives o que aquilo é, e lá não é o que de Macau tem de verdadeiro”, aponta. A compra de uma mota ajudou a colmatar as escassas visitas, brinca. “Tive de facto mais acesso e fui descobrindo aos poucos, gostei”, remata.
Por razões pessoais, José Macedo deixa, em breve, Macau para trás. Consigo leva momentos, muitos momentos, pessoas e aprendizagens para a vida. Voltar nunca será carta fora do baralho, mas neste momento não existe uma resposta. Por enquanto a única certeza com que nos deixa é a saudade.

6 Nov 2015

Brook Yang: “Macau precisa de promover mais o espírito académico”

[dropcap style=’circle’]S[/dropcap]onhou cuidar de doentes e ajudar a curar as maleitas dos outros, mas acabou a escrever em Inglês sobre a realidade de um pequeno território no sul da China. Foi uma volta de 180º aquilo que aconteceu à jovem Brook Yang.
Natural da cidade de Nanyang, província de Henan, Brook Yang estudou Jornalismo em Xangai e depois acabou por escolher a RAEM para fazer os seus estudos de pós-graduação. Mas antes não foi fácil o processo de entrada no ensino superior.
“Queria tirar Medicina, mas a competição no exame nacional é muita, especialmente numa província com muita população mas com poucos recursos como é a minha. Candidatei-me a um programa de Jornalismo em Xangai, que só aceitou três candidatos em toda a província, mas não sei como fui escolhida. Não tínhamos hipótese de escolher outras opções ou de sequer deixar cair uma lágrima quando víssemos os resultados das candidaturas. Mas assim que o semestre começou, descobri que o jornalismo encaixava perfeitamente e que queria ter uma voz”, disse Brook Yang ao HM.
Na hora de entrar na universidade, o Inglês acabou por representar o seu calcanhar de Aquiles, mas hoje Brook Yang olha para isso com ironia.
“Ainda me lembro de como o meu pai ficou desapontado por eu ter tirado 46 pontos em 100 no meu exame de Inglês. E quando soube que na Universidade de Macau (UM) se privilegiava o ensino do Inglês, então achei atractivo. Hoje acho engraçado o facto de me ter tornado uma jornalista de língua inglesa e isso é algo que me faz sentir bem nesta pequena cidade: sem quaisquer ligações podemos ter boas oportunidades.”
A escolha de Macau acabou por surgir por intermédio de um amigo dos pais. “Foi uma escolha rápida para fazer os meus estudos de pós-graduação. Nessa altura falhei nos exames para entrar em Jornalismo em Pequim, especialmente no exame de Inglês. Nunca me candidatei a estudar no estrangeiro porque seria muito caro. Um amigo dos meus pais viu um anúncio da Universidade de Macau, que dizia que o período de candidaturas terminava dentro de três dias. Candidatei-me ao único programa da minha área – Comunicação e Novos Media. Foi assim que vim para Macau”, contou ao HM.
Com os estudos terminados e à procura de novos desafios profissionais, Brook Yang quer continuar a viver a vida intensamente e a procurar coisas novas noutros lugares. A viver no território há algum tempo, a jovem chinesa já começa a olhar para o lado menos bom de uma sociedade de pequena dimensão.
“A sociedade de Macau não parece integrada, apesar de ser multicultural e de ter muitos grupos de emigrantes, de diferentes lugares. A cidade é muito familiar para os rostos estrangeiros, mas há diferentes comunidades que vivem em mundos diferentes e muitos residentes não parecem ter uma atitude de respeito. Mas esta falta de atenção não se vê só nas pessoas mas também ao nível do ambiente e natureza. Vemos preocupação no consumo, grande desperdício de recursos e falta de reciclagem.”
A jovem não deixa de apontar o dedo àqueles que fazem as leis e as políticas da RAEM. “Vemos muitos locais e deputados a construir lobbies para restringir o número de trabalhadores migrantes em espaços públicos e ao nível dos recursos e vemos trabalhadores da construção civil, da hotelaria, empregadas de limpeza que vivem em condições difíceis.”

Um bom lugar

A jovem jornalista considera que o ensino superior local ainda tem muito espaço para crescer e aponta várias sugestões. “As universidades de Macau não estão suficientemente desenvolvidas para corresponder aos recursos do território e das suas ambições, mas estão a fazer esforços para melhorar. Contudo, construir mais infra-estruturas e atrair estudantes de fora não é suficiente para fazer uma universidade crescer. Macau precisa que as suas instituições promovam mais o espírito académico e as responsabilidades sociais.”
Contudo, Brook Yang continua a achar que este é um bom lugar para os jovens do continente que buscam por novas experiências. “Para os estudantes da China, Macau representa um caminho para atingirem objectivos a nível académico. Quer estejam a estudar ou a trabalhar, é definitivamente uma experiência fora do comum do outro lado da fronteira. Comparando com Hong Kong e os países ocidentais, Macau é um sítio não muito caro e menos competitivo. Quem quer viver e trabalhar aqui, Macau pode ser um pouco mais confortável com boas paisagens, melhores salários e com fáceis acessos a outros países, com mais actividades de entretenimento”, concluiu.

30 Out 2015

Suraphou Kanyukt: “Estou feliz se o meu país estiver em paz”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]scolheu fazer parte do exército do seu país, a Tailândia, como quem escreve uma cruz num qualquer papel sem pensar muito no assunto. De facto, Suraphou Kanyukt nunca quis ser um militar no activo, mas escolheu essa opção de vida como poderia ter optado por outra qualquer.
Mas há quatro anos este jovem, oriundo de Banguecoque, decidiu que a farda de cor verde escura e as armas já não lhe serviam como projecto de vida. Foi então que decidiu vir para Macau.
Suraphou Kanyukt optou por estudar Comunicação Social na Universidade de São José (USJ) e não se arrepende da sua decisão.
“Decidi sair de Banguecoque em 2011, depois de ter servido o meu país no exército. Decidi vir para Macau estudar porque em termos pessoais gosto de aprender sobre outras culturas e línguas, então porque não escolher um sítio algures? Na altura não fazia ideia. Tudo o que sabia sobre Macau é que era uma pequena cidade, a Las Vegas da Ásia, onde poderia comer pastéis de nata”, contou ao HM.
Apesar de Macau ter uma forte comunidade tailandesa, no início Suraphou Kanyukt sentiu-se totalmente um peixe fora de água. “Adorei a vida universitária aqui, mas foi um grande desafio conquistar os corações dos locais, já que estive muito tempo na luta de um estrangeiro que vive fora do seu país. Senti-me um pouco em baixo, mas depois percebi que fui eu que não me abri a eles”, aponta.
Hoje tem vários amigos, não só tailandeses como também chineses, que o tratam por Justin. Suraphou sabe que o seu nome não é de fácil compreensão, pelo que, num primeiro contacto com as pessoas, pede sempre para ser tratado pelo nome inglês.
De Macau, Suraphou Kanyukt, que não gosta de jogar em casinos, só tem a apontar de negativo o sistema de transportes. Mas até lhe dá jeito. “Não foi fácil deslocar-me pela cidade enquanto andava na universidade. Comecei a andar a pé, porque é fácil deslocarmo-nos a todos os sítios e isso é o que eu mais gosto em Macau, especialmente no Inverno.”

Atentado à distância

O atentado terrorista que ocorreu em Banguecoque há meses não passou despercebido a Suraphou Kanykt, tal como a todos os membros da comunidade tailandesa aqui presente. O receio da quebra no sector do turismo, principal motor da economia do país, fez-se sentir, aliado aos conflitos políticos internos que não estão totalmente dissipados.
Meses depois, e já com dois suspeitos identificados pela polícia tailandesa, o jovem espera que as autoridades e a sociedade encontrem soluções para que tudo volte à normalidade. “Estou feliz se o meu país estiver em paz. Penso que precisamos de mudanças que sejam o melhor para nós.”
Actualmente à procura de trabalho, o regresso a Banguecoque não está posto de lado. “Se alguém me oferecer uma oportunidade de trabalho, porque não? Gostaria de trabalhar na área da música, crítica gastronómica, lifestyle, arte, uma área na qual eu me pudesse envolver. Não quero sequer ter um pé na política”, frisou.
Apesar disso, Suraphou Kanykt confessa que ficar em território chinês é a primeira opção. Na qualidade de jornalista estagiário experimentou as várias vertentes da profissão, desde a imprensa escrita ou ao online, ao trabalhar no diário inglês Macau Post Daily e no grupo de media Macaulink. Na Fundação Rui Cunha, experimentou durante seis meses a área multimédia, ao produzir filmagens dos eventos e alguns filmes.
Optimista e à espera do que o futuro lhe pode trazer, Suraphou Kanykt continua a olhar para diversas oportunidades de trabalho, seja em Macau, Hong Kong ou até em territórios vizinhos, como é o caso de Singapura.
“O melhor para mim seria ter uma oportunidade de trabalho aqui, mas recentemente ouvi que há muitas mudanças, porque a economia está a abrandar”, referiu.
Suraphou, ou Justin, vai continuando pela RAEM por estar tão perto de Hong Kong. Aqui já se candidatou a vários trabalhos na área da hotelaria e turismo, mas chama a atenção para o facto da língua ser um entrave. “Sei que há muitas oportunidades em Hong Kong, porque é mais internacional, as empresas não estão preocupados com o facto de eu não falar Chinês”, rematou.

16 Out 2015

Joana Dillon, licenciada em Gestão Empresarial: “Macau é a minha casa”

[dropcap style=’circle’]F[/dropcap]oi no restaurante de comida portuguesa e macaense do casal Dillon que o HM se encontrou com Joana, uma jovem local de 27 anos. Em Londres, tirou uma licenciatura em Gestão Empresarial, mas não sem primeiro experimentar o curso de Hotelaria e Gestão na Suíça.
“Era muito aborrecido e percebi que não era aquilo que queria e foi então que mudei para Londres”, começou por dizer. Ainda de tenra idade, não sabe exactamente, como milhares de jovens por esse mundo fora, o que quer fazer no futuro. Entre os serões passados em casa dos pais e de amigos, Joana entretém-se a passear os cães e a ouvir música. Questionada sobre o seu percurso, a jovem confessa ter sempre sentido que Macau simboliza conforto e à vontade. Enfim, tudo aquilo que procuramos quando falamos de um lar. “Macau é a minha casa”, diz sem hesitações.

Por esse mundo fora

Ir para fora sempre esteve nos seus planos, mas não para sempre. É que é com os nossos que mais queremos estar quando o tempo passa pelo corpo e pela alma. Ao contrário de vários residentes locais, viajar é uma das coisas que a licenciada mais gosta de fazer. Nos planos futuros estão caminhadas pela Índia e pelo Egipto, mas os pais temem que ambos sejam territórios “perigosos”. Será, certamente, um assunto a discutir em seio familiar.
Entre uma vida (agora) pacata, Joana ajuda os pais no restaurante, aceitando pedidos nas mesas e fazendo as contas ao final da hora de ponta. O restaurante, mesmo ao pé dos Lagos Nam Van, enche a olhos vistos às horas de almoço e jantar. São os macaenses, portugueses e turistas chineses que mais lucro dão à casa.
A jovem gosta de ajudar a família, mas sabe que não será para sempre. “Estou aqui e de momento não estou a trabalhar, por isso ajudo-os no restaurante, acho que é uma coisa normal”.

Supermercados à maneira

Embora Macau seja o lar de Joana, a licenciada macaense gostou muito da sua experiência na Europa, continente que visita com uma regularidade a que poucos têm acesso. Seja por falta de interesse, posses ou horizontes. No entanto, há uma coisa em particular da qual tem realmente saudades: “Os supermercados europeus são enormes, tão grandes que sou capaz de lá estar a ver produtos durante umas três horas”. Comparativamente, prefere os portugueses e espanhóis aos de Londres ou Suíça. Primeiro, por serem mais perto do centro das cidades, mas também por terem “produtos de qualidade a preços muito acessíveis”. Para Joana, é lamentável que não haja em Macau locais como aqueles. “O único que temos é o New Yaohan e mesmo assim nem é muito grande, só tem um piso e é muito caro”, explica.
A capital inglesa e a Suíça são países nos quais o Inverno é lei e muitas vezes acompanhado de neve. Por contraste, Macau é um território virado ao lado exótico, onde o tempo frio faz das suas, mas que passa quase sem que percebamos. Talvez parte da vontade de sair tivesse sido motivada pela diferença de climas e culturas. Foi graças à frequência do antigo Colégio Canadiano de Macau que Joana hoje em dia fala Inglês fluentemente, a juntar ao Cantonês de língua materna e Mandarim de língua segunda.

A pequenez faz a regra

Não é novidade dizer que Macau se pode tornar um tanto ou quanto claustrofóbico. Tratando-se de um território com pouco mais de 30 quilómetros quadrados, traz em si o espírito de aldeia, onde cada passo é um cumprimento ao transeunte que nos passa ao lado. Nascida em Hong Kong, mas a viver no território desde bebé, Joana não vê as mudanças sofridas na cidade como algo negativo. Antes, como um factor “natural” de qualquer sociedade que se quer evoluída. “Macau é muito pequeno”, explica Joana.
No entanto, aponta que esta característica pode funcionar bem e mal para a sua população. Por um lado, torna-se pouco possível fugir ao efeito de aldeia aqui criado, mas por outro, “sabe bem porque é uma cidade muito familiar, faz-me sentir em casa”.
Por estas paragens, mais especificamente na Universidade de São José, frequentou o curso de Design, mas rapidamente percebeu que “não era aquilo para o qual havia sido talhada”. Neste momento, contenta-se com serões com a família e amigos a descobrir novos nomes da música electrónica e rock mundial e a dar longos passeios na zona das Casas-Museu da Taipa.
“É um dos espaços mais calmos e bonitos da cidade”, diz. “Antigamente, saía muito à noite, mas cansei-me desse tipo de vida e já não consigo achar piada aos bares e discotecas de Macau. Temos pouca escolha e a música não é muito boa”, queixa-se. Quando o intuito é comprar produtos mais internacionais, diz, Hong Kong é a cidade a frequentar. “O ambiente nocturno dos bares, a música, as lojas, os supermercados e os centros comerciais são todos muito maiores e sempre que quero comprar uma coisa específica, é a Hong Kong que vou”, acrescentou.
Para já, Joana desconhece aquilo que o futuro lhe reserva, mas sabe que será certamente sumarento. Entre temporadas na Europa, serões bem passados em família e a falta de supermercados grandes, Joana lá se vai entretendo nesta cidade que considera ser sua. Como é já de todos nós um pouco.

9 Out 2015

Francisco Song, professor de língua portuguesa na MUST

“Estar em Macau é a vida ideal para mim”

[dropcap style=’circle’]M[/dropcap]acau, Pequim e Braga são as cidades mais importantes para o jovem natural da capital chinesa. Francisco Song fala fluentemente português depois de ter optado por estudar esta língua na universidade, tendo feito uma licenciatura, mestrado e doutoramento. Neste momento Francisco Song passa os seus conhecimentos na língua de Camões aos mais novos na Universidade de Ciências e Tecnologia (MUST).
Em 2006 Francisco Song terminou a escola secundária em Pequim e optou desde logo para começar a sua vida universitária em Macau. “Nessa altura não tinha nenhuns conhecimentos sobre Macau ou Portugal, só sabia que tinha sido uma colónia portuguesa e que Portugal era um país que tinha começado os Descobrimentos e uma terra de futebol. Comecei a conhecer mais depois de chegar ao território. Pensava que Macau era igual a Hong Kong, mas na realidade é totalmente diferente. Aqui há muito o estilo europeu e características históricas, enquanto que na cidade vizinha só observo edifícios modernos”, contou ao HM.
Francisco Song gosta do património cultural, da segunda língua oficial de Macau e nunca se arrependeu da sua decisão. “Fiz a escolha certa em vir para Macau, porque na China é impossível termos tanto contacto com a língua portuguesa. Consegui conhecer professores portugueses e brasileiros, as placas das ruas estão em português e vivem muitos portugueses e pessoas que falam a língua, o que só beneficia o estudo.” francisco
Em 2009, depois de terminada a licenciatura na Universidade de Macau (UM), Francisco Song escolheu fazer o mestrado na Universidade do Minho, em Braga, na área dos Estudos Interculturais Português-Chinês, bem como o doutoramento em Cultura do Extremo Oriente.
A estadia de Francisco Song em Portugal foi longa e só acabou no passado mês de Julho, quando defendeu a sua tese de doutoramento. Apesar de ter gostado de viver no outro lado do mundo, Francisco sempre pensou que Macau é um bom sítio para se ter oportunidades e trabalhar. Ao viver aqui, realizou o seu sonho.
Na MUST, o curso de português é ainda recente, tendo só começado em 2012. Francisco Song começou a trabalhar na universidade privada em 2012. “Fui recomendado por um professor da UM para dar aulas na MUST, mas na altura, como ainda não tinha concluído o meu doutoramento, só trabalhava a tempo parcial. Agora é que me dedico a tempo inteiro à carreira académica”, referiu.
Apesar de estar numa universidade diferente daquela onde estudou, Francisco Song não se importa, defendendo que cada curso de português tem as suas características.
“Até gosto do curso na MUST, porque não se aprendem só línguas. É obrigatório os alunos escolherem uma área no segundo ano do curso, entre Gestão de Turismo, Comércio, Média e Comunicação. O curso pretende que os alunos tenham vantagens na procura de emprego e não apenas dominarem a língua, mas também terem outras capacidades”, explicou o docente.
Francisco Song tem uma boa relação com os alunos, devido à idade próxima, já que entre professor e estudantes há apenas cinco a seis anos de diferença. Como a maior parte dos alunos vem do interior da China, não há obstáculos à comunicação. O professor revela ficar contente com os progressos na aprendizagem e a participação dos alunos nas actividades, tal como o concurso de interpretação em português-chinês e o Dia da Língua Portuguesa.
Fora da sala de aula o professor gosta de futebol, paixão que manteve quando esteve em Portugal, onde viu muitos jogos, incluindo os da selecção portuguesa. Viajar faz também parte das suas paixões, e quando estudava em Portugal visitou a maioria dos países europeus. Em Macau, visitou a Indonésia e Taiwan. francisco
Passeios à parte, é em Macau que Francisco Song quer continuar a fazer a sua vida. “Falando das três cidades onde já estive, penso que Pequim não é ideal para viver devido aos problemas ambientais e à questão política, já não consigo habituar-me a viver lá. Quanto a Portugal, mesmo que a qualidade do ar seja muito boa, há diferenças culturais que, a meu ver, fazem com que ache que não é adequado viver lá. Só em Macau é que existe a cultura chinesa ligada à portuguesa, e o meu pensamento aqui pode ser muito livre. Estar em Macau é o ideal para mim.”
Dentro da cultura portuguesa, a gastronomia não poderia faltar no leque de preferências do professor da MUST, que não esquece a enorme variedade de restaurantes. Apesar de estar em Macau há muito tempo, o professor nunca se cansa de visitar o património. Paixões à parte, Macau tem um problema: o trânsito excessivo. “Apanhar autocarros ou táxis é mesmo chato, sobretudo um táxi. Quase que pagamos cem patacas para ir do Instituto Politécnico de Macau às Portas do Cerco.”

28 Ago 2015

Yujin Katsube, jornalista: “Interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau”

[dropcap style=’circle’]E[/dropcap]m 1997 ficou para a história a visita oficial da Princesa Diana a Angola, para conhecer de perto o drama das minas de guerra e as vítimas feitas ao longo destes anos. Na sua casa, em Quioto, a visita também ficaria para sempre na mente de Yujin Katsube. Este jornalista japonês, residente em Macau, já então queria escrever histórias e ajudar as pessoas, mas a visita da “Princesa do Povo” acabaria por ser determinante na sua escolha do percurso.
Actualmente residente em Macau, Yujin Katsube é editor do órgão de informação “The Macau Shimbun”, virado para o público japonês que quer conhecer mais sobre Macau. Actualmnte sente-se a concretizar o sonho de uma vida, mas não esquece o momento em que, no final da década de 90, se decidiu pelo estudo da língua portuguesa. Hoje, com um sorriso tímido, lá vai dizendo algumas palavras da língua de Camões, depois de ter esquecido muitas outras.
“Os japoneses sentem-se muito próximos à língua portuguesa, porque mantemos uma longa amizade desde os tempos dos Descobrimentos. Quando andava na escola secundária na minha cidade, Quioto, já sonhava em ser jornalista. Para aumentar os meus conhecimentos decidi aprender uma língua e cultura estrangeira. Quioto é a antiga capital do Japão e mantém um estilo de vida mais tradicional e conservador, então senti que seria muito difícil concretizar os sonhos lá. Decidi ir viver para Tóquio e tirar o meu curso superior”, conta ao HM.
A decisão de aprender português teve muito a ver com o seu pai, professor e auto-didacta da cultura pop dos Estados Unidos. “Perguntei-lhe que línguas é que deveria aprender, e ele recomendou-me as românicas. Disse-me que o inglês era muito popular e que não era nada de especial, e eu estava muito interessado na história portuguesa, especialmente a época dos Descobrimentos e o futebol, então pensei que se aprendesse português teria mais oportunidades de me tornar jornalista.”
Estudou na Universidade Sofia, fundada pelos jesuítas, onde aprendeu o idioma com professores de Portugal e do Brasil. Assim que acabou o curso começou a trabalhar na área editorial, a editar uma revista e a coordenar um conjunto de guias de viagem, que incluíam viagens a Macau e a Hong Kong.
A paixão por Macau foi imediata. Visitou o território em 2006 e não mais o largou. Hoje é casado com uma residente local e tem um filho, que já domina o cantonês. “Tornei-me um grande fã de Macau e quis conhecer mais sobre a cidade. Em 2007, a empresa onde trabalhava planeou o lançamento de uma nova revista em Macau, Hong Kong e China. Procuravam alguém que coordenasse o projecto, tive muita sorte.”
No “The Macau Shimbun”, Yujin Katsube garante que não escreve apenas sobre o sector do jogo, “mas também do turismo e da cultura de Macau, para que o público japonês tenha mais interesse. Através do meu trabalho penso que posso construir uma ponte entre Macau e o Japão.”
“Enquanto jornalista interessa-me o futuro desenvolvimento de Macau e quero ver com os meus próprios olhos o desenvolvimento dos actuais projectos que estão a ser feitos no Cotai. Também me interessa o que a China espera de Macau enquanto plataforma entre a China e os países de língua portuguesa. É um papel único que Macau pode fazer”, conta ao HM.
O filho de Yujin acabou de entrar na escola e Macau é o lugar onde se sente em casa. Os pais preferem a pequenez do território ao frenesim constante de Hong Kong, mas já tomaram a decisão de ir ficando, consoante a vontade do filho.
“Espero que o meu filho possa ter amigos e oportunidades para ficar mais ligado à cultura portuguesa. Estou à procura de uma equipa de futebol onde ele possa jogar. Os jogadores portugueses sempre atraíram a atenção dos japoneses e se o meu filho jogar à bola com eles, vou ficar muito feliz”, remata.

21 Ago 2015