Michel Reis h | Artes, Letras e IdeiasOptimismo musical puro [dropcap]C[/dropcap]omemora-se este ano o 250o aniversário do nascimento de Ludwig van Beethoven, o génio musical alemão e um dos pilares da música ocidental, nascido em Bona, mas que viveu a maior parte da vida em Viena. Em 2016, o governo alemão declarou o compositor um “assunto de importância nacional”. A intenção foi realizar diversos tipos de preparações para comemorar os 250 anos do seu nascimento. O aniversário começou oficialmente no dia 16 de Dezembro de 2019, data que recorda a sua chegada ao mundo em 1770. Desde essa data e até ao dia 17 de Dezembro de 2020, Bona (cidade natal do músico) e o resto da Alemanha, organizam vários projectos comemorativos: concertos, exposições, projectos cinematográficos, conferências e eventos, que culminarão com um concerto no edifício do parlamento, em Bona. Muitos outros países comemoram também este aniversário. Em Macau, a Orquestra de Macau, ao longo da sua temporada 2019-2020, dedica concertos ao compositor, incluindo os cinco concertos para piano pelo pianista austríaco Rudolf Buchbinder, no encerramento da mesma, entre outras obras. Uma das obras mais emblemáticas de Beethoven, a Sinfonia No 7 em Lá Maior, Op. 92, em quatro andamentos, foi composta ao longo de sete meses entre 1811 e 1812, enquanto o compositor tentava melhorar a sua saúde na cidade termal boémia de Teplice. A obra foi dedicada ao Conde Moritz von Fries. A obra foi estreada e dirigida pelo próprio Beethoven no dia 8 de Dezembro de 1813 em Viena, num concerto de caridade para os soldados feridos na Batalha de Hanau, nas Guerras Napoleónicas. O programa incluiu também a obra patriótica de Beethoven Wellington’s Victory, exaltando a vitória dos ingleses sobre a França de Napoleão. O concertino da orquestra foi Ignaz Schuppanzigh, amigo de Beethoven, e o agrupamento incluiu alguns dos melhores músicos da época: o violinista Louis Spohr, os compositores e pianistas Johann Nepomuk Hummel, Giacomo Meyerbeer e Ignaz Moscheles, Antonio Salieri como maestro assistente, o fagotista Anton Romberg e o virtuoso italiano de contrabaixo Domenico Dragonetti, assim como o guitarrista italiano virtuoso Mauro Giuliani, que tocou violoncelo. A obra foi muito bem recebida e, na estreia, Beethoven terá mesmo dito que esta era uma das suas melhores obras. O segundo andamento, Allegretto, foi o andamento mais popular e teve que ser repetido. A popularidade imediata do Allegretto resultou na sua execução frequente separado da sinfonia completa. Após a estreia, os amigos de Beethoven organizaram rapidamente a repetição do concerto, que ocorreria 3 vezes nas 10 semanas seguintes, pela qual Beethoven foi aliviado das suas dificuldades financeiras. Descrita por Wagner como “a apoteose da dança”, a Sinfonia começa com uma introdução grave e sombria, a mais longa das introduções de Beethoven e, até agora, da história da sinfonia, antes de passar a uma música cineticamente energizada, que caracteriza toda a obra. A introdução prevê as jornadas harmónicas que surgem no resto da Sinfonia, assim como o corpo principal do andamento prediz as suas obsessões rítmicas, e a surpreendente e ousada coda. O Allegretto que se segue – o trabalho não tem nenhum andamento realmente lento – possui a beleza solene de uma marcha fúnebre, intensificada por contraponto. O Scherzo é incrivelmente rápido, destacando o aspecto da dança ainda mais, com uma secção Trio muito mais lenta. Beethoven reverte algumas das surpresas dinâmicas para as secções repetidas e faz brincadeiras adicionais com a orquestração, incluindo uma fuga. Também muito rápido, o finale – Allegro con brio capta a impetuosidade iniciada no primeiro andamento e transforma-a numa loucura ofegante, mas cheia de alegria e prazer da vida, terminando com uma coda que espelha a besta agressiva que fecha o primeiro andamento. Sugestão de audição: Ludwig van Beethoven: Symphony No. 7 in A Major, Op. 92 Berliner Philharmoniker, Herbert von Karajan – DG, 1996