Prémio Nobel da Literatura 2024 atribuído a sul-coreana Han Kang

O prémio Nobel da Literatura de 2024 foi atribuído à escritora sul-coreana Han Kang, anunciou na quinta-feira a Academia Sueca. Em 2023, o escolhido pela academia foi o norueguês Jon Fosse, precisamente o mesmo que liderou até ao fim a lista das apostas, juntamente com Can Xue.

Han Kang nasceu em Gwangju, na Coreia do Sul. Em 1994 começou a sua carreira de escritora vencendo o primeiro lugar de um concurso literário em Seul. “A Vegetariana”, o seu primeiro romance publicado pela Dom Quixote, em Portugal, ganhou o Man Booker International Prize em 2016. “Actos Humanos” venceu o Prémio Manhae na Coreia do Sul e o Prémio Malaparte em Itália. A obra seguinte, “O Livro Branco”, foi, em 2018, finalista do Man Booker International Prize.

Han Kang recebeu ainda os prémios literários Yi Sang, Jovens Criadores, Melhor Romance da Coreia, Hwang Sun-won e Dongri. Foi professora no Departamento de Escrita Criativa do Instituto das Artes de Seul e dedica-se atualmente apenas à escrita. Está publicada em mais de trinta línguas.

O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.

13 Out 2024

Prémio Nobel da Literatura | Jon Fosse diz estar “surpreso, mas não muito”

O escritor norueguês Jon Fosse, galardoado ontem com o Prémio Nobel da Literatura, disse estar “surpreso, mas não muito” com o anúncio da Academia Sueca. “Fiquei surpreso quando eles ligaram, mas ao mesmo tempo não muito”, disse o escritor de 64 anos à emissora pública norueguesa NRK.

Jon Fosse, cujo nome como potencial galardoado com este prémio circulava há décadas, disse que estava “preparado”. “Tenho-me preparado, nos últimos 10 anos, cautelosamente para o facto de que isto poderia acontecer. Mas não esperava receber o prémio hoje, mesmo que houvesse uma hipótese”, disse Jon Fosse.

O escritor e dramaturgo, autor nomeadamente de “Rouge, noir” e “Rêve d’Automne” encenados em França por Patrice Chéreau, recebeu o telefonema da Academia Sueca enquanto conduzia perto de Bergen, na costa oeste da Noruega.

Com o nome regularmente presente nas previsões, a sua editora norueguesa Samlaget preparou um comunicado de imprensa antes do anúncio do Prémio Nobel da Literatura. “Estou emocionado e grato. Considero que este é um prémio para a literatura que pretende acima de tudo ser literatura, sem qualquer outra consideração”, lê-se no comunicado.

Fosse em português

A Academia Sueca reconheceu Jon Fosse “pelas suas peças inovadoras e prosa que deram voz ao indizível”, citando “Septologian”, um romance em sete capítulos e três volumes, ainda não traduzido.

Em Portugal, múltiplas das suas obras estão publicadas, com destaque para o trabalho feito pelos Artistas Unidos, que desde 2000 encenam as suas peças, a começar com “Vai Vir Alguém”, levada ao palco por Solveig Nordlund. Nos Livrinhos de Teatro, dos Artistas Unidos e da editora Cotovia, estão publicadas “A Noite Canta os seus Cantos”, “Inverno”, “Lilás”, “Conferência de Imprensa e Outras Aldrabices”, e “Sou o Vento/Sono/O Homem da Guitarra”.

Entre outras edições, a Cavalo de Ferro tem vindo a publicar a prosa de Fosse, com destaque para “Trilogia” (2022) e “Septologia I-II” (2022). O Nobel da Literatura é um prémio concedido anualmente, desde 1901, pela Academia Sueca a autores que fizeram notáveis contribuições ao campo da literatura, e tem um valor pecuniário superior a 900 mil euros.

6 Out 2023

Homem no centro do escândalo do Nobel da Literatura condenado por violação

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] homem no centro de um escândalo de abuso sexual e crimes financeiros, que afetou a Academia de Estocolmo e levou à suspensão do Nobel da Literatura, este ano, foi ontem condenado a dois anos de prisão por violação. O Tribunal de Estocolmo disse que a decisão foi unânime.

O artista Jean-Claude Arnault, casado com a académica e poeta Katarina Frostenson, membro do comité que decidia a atribuição do Nobel da Literatura, foi acusado de dois episódios de violação cometidos em 2011, contra a mesma mulher.

A juíza Gudrun Antemar disse que o papel do tribunal foi decidir se o procurador provou as acusações, além de uma dúvida razoável.

“A conclusão do tribunal é que a evidência é suficiente para considerar o réu culpado de um dos atos”, disse, acrescentando que a prova “consistiu principalmente em declarações feitas durante o julgamento por parte da lesada e de várias testemunhas”.

Na Suécia, a violação é punível com um mínimo de dois anos e um máximo de seis anos de prisão. A procuradora Christina Voigt exigiu três anos de prisão para Arnault.

O acusado negou ontem todas as acusações através do seu advogado, no início do julgamento, em 19 de setembro, que decorreu à porta fechada, a pedido da denunciante e como é costume na Suécia em casos de violação.

O Ministério Público encerrou em março partes da investigação preliminar, iniciada em novembro, a partir de queixas de várias mulheres, quase todas feitas de forma anónima.

Ao rebentar o escândalo, a Academia Sueca cortou relações com o artista e pediu uma auditoria, que concluiu que Arnault não influenciou decisões sobre prémios e bolsas.

Contudo, descobriu-se que Katarina Frostenson era coproprietária do clube literário do marido, que recebia regularmente apoio financeiro da Academia Sueca, o que violava as regras de imparcialidade.

O relatório confirmou também que a confidencialidade sobre o vencedor do Nobel foi violada várias vezes.

O “caso Arnault” desencadeou um conflito interno que, nos últimos meses, com sete membros a serem forçados a sair ou demitirem-se, em abril.

Pressionados pela Fundação Nobel, a Academia Sueca lançou várias reformas, incluindo uma mudança nos estatutos para permitir a renúncia real dos seus membros e a eleição de novos, e o recurso a um grupo externo de especialistas em leis, resolução de conflitos, organização e comunicação.

A decisão mais controversa foi a de adiar a atribuição do Prémio Nobel de Literatura, este ano, pela primeira vez em sete décadas, o que significa que, em 2019, deverão ser concedidos dois prémios, uma medida atribuída à falta de confiança e ao enfraquecimento da instituição.

2 Out 2018

Do Nobel, sem pruridos

[dropcap style≠’circle’]S[/dropcap]em quórum, o Nobel da literatura arriou as calças.

O culpado foi Jean-Claude Arnault (marido da poeta Katarina Frostenson, que é membro da Academia do Nobel) e os seus arremessos sexuais à esquerda e direita – oh lá, lá, nem a princesa herdeira, Victoria, nos seus imaculados vinte anos, escapou de ser “tocada nas nalgas”, dizia a notícia, pelas suas mãos inquiridoras. Resultado do tumulto e das demissões que provocou: a Academia ficou sem quórum.

Na verdade, consta que o empoleirado na esposa também influía na filtragem dos nomes dos candidatos ao Nobel – impondo o seu voto por delegação -, tendo com isso minado o crédito da Academia, mais habituada ao recato melancólico das esposas dos membros da Academia.

«Sou levado na sombra/ como um violino/ no seu estojo negro», escreveu Tomas Transtromer, o último grande poeta laureado, e por acaso sueco. Não sabemos se este violino ocultado na sombra já aludia a Arnault, mas no caso do poeta sueco o estojo transportava uma espessa substância lírica. Porém, este ano o estojo do Nobel está vazio, por causa do tanto que vazou Arnault, à esquerda e à direita. Falo dos zunzuns em que era especialista e que matavam sempre a confidencialidade do prémio (- contava às amantes, que depois contavam ao porteiro do prédio, etc.)

Em relação ao Nobel, temos de perguntar como o fazia Rilke ao jovem poeta a quem, endereçou cartas: morre a literatura se não houver o Nobel (- o poeta alemão perguntava ao seu destinatário se ele morria, caso não escrevesse poemas, sugerindo que se assim não fosse ele deixasse de escrever porque nenhum poeta brota da presunção mas sim duma necessidade interior, vital e inescapável)? Qual o peso específico do Nobel na manutenção do capital simbólico que a literatura, talvez, ainda represente? E é relevante o seu papel, em relação à literatura, ou ao comércio de uma parte dela, quando por exemplo favorece o reconhecimento sobre a descoberta – como no caso de Dylan?

Na escolha dos últimos premiados notava-se ter havido um pequeno desvio ao paradigma do prémio, inflectindo para uma maior aproximação ao “mercado” e à ”cultura de massas”. Era uma espécie de “literatura à Hollywood”. Ou seja, os critérios que premeiam a Física, ou a Matemática, por exemplo, não têm sido exactamente reproduzidos na Literatura. Aí premeiam-se investigadores de ponta, gente que experimenta e arrisca “cegamente”, como é próprio da ciência. Na literatura têm-se escolhido vozes em concordância com o “mercado”, que oferecem segurança, escritores de qualidade mas que conduzem com airbag. Patrick Modiano, Bob Dylan ou Kazuo Ishiguro, são bons, mas decididamente não tanto.

Alguma vez a algum génio foi dado um Nobel – a um «génio sem espinhas»?

Vejamos quatro exemplos: Pessoa e Henri Michaux, Borges ou Ezra Pound. Não lhes emprestaram a bola de ouro. Embora fossem avessos às agremiações literárias que tornam a coisa possível.

Mas não dramatizemos. Para o meu gosto, a poesia não tem estado mal servida nos Prémios Nobel. Se ao irlandês Seamus Heaney eu preferia o britânico Ted Hughes, a poesia do primeiro atinge um nível altíssimo na tradição que representa. E não tenho dúvidas, tanto o polaco Czeslaw Milozs, como o mexicano Octavio Paz (que se tem de ver como um todo e não unicamente como fazedor de versos), o russo Joseph Brodsky ou o poeta da Trinidad, Derek Walcott, cada um no seu género, são poetas que roçam o “génio”, no sentido em que todos atingiram picos altíssimos no sistema das suas cordilheiras.

O Derek Walcott, por exemplo, que nem teve direito a tradução em Portugal, provavelmente por ser negro, nem em Moçambique, suponho que por não ser moçambicano, mas é um poeta extraordinário, capaz de ímpeto, improviso e arquitectura, isto é, capaz de embarcar no mais puro beat jazzístico como na cadência clássica. Ainda por cima, é igualmente um dramaturgo de monta.

«Ao longe no caminho, avisto o Poder./ Tal e qual uma cebola,/ os malabarismos do seu rosto/ a caírem um após o outro.», escreveu, entretanto, Transtromer e é extraordinário como de forma tão simples fala da nossa tumultuada época, afinal de todas. Mas mais da nossa. E é tão universal isto.

Era esta a função ideal do Nobel, fazer-nos confiar que existia uma Academia que premeia os melhores e não os que mais vendem ou os que são bons a fornecer entretenimento. Dado que o entretenimento é uma das funções da literatura mas não deve ser a única; às vezes é uma dimensão mesmo dispensável. O Nobel era uma espécie de Realeza Republicana, de fátua e transitiva celebridade mas que nos apresentava um modelo de excelência. Esperemos que com este ano de jejum corrija a rota.

Quem não espreitará este ano o vestidinho decotado da Glória do Nobel, uma moça como se sabe com predicados, é o meu amigo Zetho Gonçalves, poeta angolano, que se tinha anunciado no FB como candidato ao Nobel deste ano. Nem neste nem nos próximos. Sabem porquê? Ele é misteriosa e ironicamente parecido com Arnault – quase podiam ser gémeos ou sósias. Por caminhos díspares terá andado o pai do poeta. Contudo, o camarada Zetho terá de rogar ao seu sósia para fazer uma operação plástica, senão será sempre vetado por antipatia!

Enquanto não nos chega o Nobel reabilitado por “personal training” e os exercícios para trapézios, deltóides e quatro grandes peitorais fiquemo-nos por um poema de Transtromer, De Julho dos Anos 90: «Assistia a um funeral/ e senti que o defunto/ lia os meus pensamentos/ melhor que eu.// O órgão estava calado, os pássaros gorjeavam./ A vala inundada de sol./A voz do meu amigo estava/ a minutos das minhas costas./ No regresso a casa, ao volante, senti-me/ desmascarado pelo esplendor do verão,/ da chuva, pela serenidade/ emitida pela lua.»

10 Mai 2018

Abuso sexual | Academia Sueca pondera não conceder Nobel da Literatura este ano

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] Academia Sueca, abalada por um escândalo envolvendo fugas de informação e abusos sexuais que fez sair cinco membros, poderá não atribuir este ano o prémio Nobel da Literatura, indicou ontem o presidente da Fundação Nobel, Carl-Henrik Heldin.

Em declarações à televisão pública sueca SVT, o responsável falava depois de a rádio pública SR ter noticiado que várias pessoas do Comité Nobel e da Academia Sueca consideram que o prémio não deve ser concedido este ano, para dar tempo à instituição para cicatrizar as feridas e recuperar a confiança da opinião pública.

Assim, seriam outorgados dois prémios de Literatura em 2019, um dos quais correspondente ao ano anterior, de acordo com uma ideia apoiada por Peter Englund, um dos membros que abandonou a academia. “Estamos no meio de uma discussão, não vou dizer nada sobre isso, mas dentro de pouco tempo será explicado o que vai acontecer nesse ponto (a eleição do vencedor deste ano)”, disse à emissora Anders Olsson, secretário permanente interino da academia fundada em 1786.

Por sua vez, Per Wästberg, outro membro da academia, disse à SVT que só daqui a um par de semanas se poderá dar uma resposta definitiva sobre a questão.

O director da instituição, Göran Malmqvist, desmentiu, em contrapartida, à edição digital do diário Dagens Nyheter, que o prémio não vá ser entregue e, embora admitindo que houve uma proposta nesse sentido, considerou-a descartada e garantiu que seria “horrível” se tal acontecesse.

No entanto, a decisão sobre o prémio deverá ser tomada por todos os membros da academia, sendo o papel principal desempenhado pelo secretário permanente. O Nobel da Literatura, actualmente no valor de nove milhões de coroas suecas (863.000 euros) foi, tal como os das restantes categorias, sete vezes não atribuído durante as guerras mundiais do século passado – em 1914 e 1918, em 1935, e depois em 1940, 1941, 1942 e 1943 – mas nunca por outros motivos.

O escândalo rebentou em Novembro, quando o jornal Dagens Nyheter publicou a denúncia anónima de 18 mulheres de abusos e agressões sexuais contra o dramaturgo Jean-Claude Arnault, ligado à academia através do seu clube literário e marido de um dos seus membros, Katarina Frostenson. A academia cortou todas as ligações a Arnault e encomendou uma auditoria independente sobre as suas relações com a instituição, mas divergências internas quanto às medidas a adoptar desencadearam demissões, acusações e saídas de cinco membros, entre os quais a secretária permanente em exercício, Sara Danius, e Katarina Frostenson.

Na passada quinta-feira, os membros que continuam a ocupar as suas cadeiras na academia decidiram divulgar os resultados dessa auditoria e entregá-los às autoridades, além de anunciar reformas.

27 Abr 2018

Nobel da Literatura | Governo japonês felicita Kazuo Ishiguro

[dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] Governo do Japão felicitou hoje o escritor britânico Kazuo Ishiguro pela atribuição do Nobel de Literatura e destacou as suas raízes nipónicas, tal como os diários japoneses, que dão relevo ao autor nascido em Nagasaki.

“Queremos felicitá-lo e alegra-nos muito que alguém de origem japonesa tenha êxito no estrangeiro, porque provavelmente teve que superar muitas dificuldades”, disse, em conferência de imprensa, o ministro porta-voz da Executivo, Yoshihide Suga.

O primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, emitiu um comunicado no qual felicita Ishiguro e destaca que o autor é natural da cidade de Nagasaki (sudoeste do arquipélago nipónico) e “conta com muitos fãs” no Japão.

A atribuição do Nobel de Literatura a Ishiguro está nas capas dos principais jornais japoneses e na abertura dos noticiários, nos quais se destaca a ligação do escritor com o país de origem e sobretudo com a cidade natal.

A Academia Sueca justificou a escolha de Kazuo Ishiguro, por ser um escritor que, “em romances de grande força emocional, revelou o abismo sob o sentido ilusório de conexão com o mundo”.

O escritor britânico de origem japonesa destacou-se com os primeiros contos, publicados na revista Granta, escreveu para cinema e televisão, é autor de canções. Com “Os Despojos do Dia” venceu o Booker Prize, em 1989.

6 Out 2017