Salomé Fernandes VozesO ar que respiramos [dropcap]C[/dropcap]om medidas para evitar a propagação da Covid-19, como incentivar as pessoas a trabalhar a partir de casa sem precisarem de se deslocar e o cancelamento de voos devido a restrições de viagens, já há registo de diminuição dos níveis de poluição atmosférica e CO2 nalgumas cidades e regiões. O ar que respiramos é hoje mais limpo do que o anterior à propagação do vírus. O luto por quem sucumbiu à doença é uma realidade diária, os aviões em terra dão uma sensação de aprisionamento geográfico, e a economia está a sofrer. Todos gostávamos que não fosse preciso passar por esta crise de saúde, mas em momentos como este há que repensar como vivemos e o que mais se valoriza. Ainda que nada apague os danos sociais e humanos deixados pela Covid-19, os líderes dos países e regiões afectadas devem reflectir sobre como reestimular as economias, para tentarem pelo menos retirar uma mudança positiva deste cenário. Ironicamente, a paragem da sociedade devido a um vírus que afecta o sistema respiratório, pode eventualmente ajudar a prevenir mortes prematuras associadas à poluição do ar. E quem sabe levar o mundo mais perto de atingir os compromissos do Acordo Climático de Paris, com os EUA forçados pela natureza do contexto a contribuírem para esse objectivo comum.
João Luz Manchete SociedadeDia Mundial da Água | A maré vermelha no Nam Van [dropcap style=’circle’]Q[/dropcap]uem passeou nos últimos dias pelo Lago Nam Van pode ter-se apercebido da coloração um pouco mais escura das águas. A razão para a mudança de cor do local de lazer é a acumulação de organismos chamados dinoflagelados, formando um fenómeno mais conhecido como maré vermelha. Não sendo, necessariamente, causa para alarme, é uma situação que merece atenção e, como tal, foram observados pelos microscópios do Instituto de Ciências e Ambiente (ICA) da Universidade de São José. Não numa perspectiva de levantamento profundo, de ‘survey’, mas numa mera observação que revelou “que os dinoflagelados estavam a crescer em número abundante”. Quem o diz é David Gonçalves, director do instituto. Estes organismos podem, ou não, conter toxinas altamente prejudiciais para os humanos, principalmente se forem ingeridos, dependendo das espécies que causam as marés vermelhas. Neste aspecto, os bivalves podem ser uma deliciosa ameaça, uma vez que são criaturas filtradoras e vão acumulando dentro de si estes microrganismos. Quando foram servidos num prato e temperados por toxinas, quem os consome corre o risco de estar a prejudicar gravemente a saúde. As consequências para a saúde humana dependem do tipo de toxina. Algumas são neurotóxicas e podem causar problemas no sistema nervoso central; outras podem causar amnésia. Outra consequência para a saúde pode manifestar-se no sistema digestivo, provocando diarreia, náusea e vómitos. O contacto directo não provoca nenhum efeito de maior. Apesar disso, não é aconselhável nadar numa maré vermelha. O nadador incauto não arrisca a vida, mas pode ficar com irritação na pele e nos olhos. No Lago Nam Van podemos assistir “à morte de alguns organismos aquáticos nos próximos dias”, projecta David Gonçalves. No entanto, o director do ICA crê que o IACM vai tomar medidas para evitar as consequências, “nomeadamente através da renovação da água do lago”. Líquido essencial Como não foi realizado um estudo intensivo às restantes águas de Macau, David Gonçalves não pode adiantar o seu estado em relação às marés vermelhas. “Isto foi uma mera observação ocasional mas, do que reparei, no Lago Sai Van não me pareceu existir o mesmo problema”, conta. As águas mantiveram uma coloração normal. Também à primeira vista, os leitos do lado de fora do rio não apresentaram o mesmo problema verificado em Nam Van. No rescaldo do Dia Mundial da Água, uma efeméride assinalada pelas Nações Unidas, foi anunciado que uma em cada quatro crianças no mundo está em risco de ficarem sem acesso a água potável, de acordo com um relatório da UNICEF. O flagelo de um recurso essencial à vida aprofunda-se com as alterações climáticas, a industrialização e os movimentos demográficos. Por cá, os problemas com a poluição das águas verificam-se ao nível de diversos poluentes. As bacias hídricas de Macau contêm plásticos e micro-plásticos, metais pesados e “poluentes orgânicos que têm vindo a aumentar um pouco nos últimos anos”, conta o director do ICA. Relativamente a estes últimos, a sua proveniência pode ser dos afluentes das estações de tratamentos das águas residuais que não conseguem tratar totalmente dos resíduos. Depois, temos os problemas dos leitos de água que são contaminados por pesticidas vindos dos campos de exploração agrícola. Estes problemas de poluição verificam-se, principalmente, nas águas costeiras da região. Não obstante não ter sido realizado um estudo aprofundado das águas que circulam Macau, a indústria da pesca não é algo que seja aconselhável. Como tantos outros produtos, que se importe.
Fa Seong A Canhota VozesSomos todos assassinos [dropcap style≠’circle’]J[/dropcap]á pensou em quanta água, madeira e electricidade, cereais, carnes e peixes iremos consumir ao longo da nossa vida, sem esquecer o combustível? Será que esses recursos irão durar até à geração dos nossos netos e bisnetos? Se nunca pensou nesta questão, ou se pensa que os recursos do planeta são inesgotáveis, é melhor ler o que vem a seguir. Os seres humanos dominam o mundo, através da sua alta inteligência, controlam o ambiente e exploram o que desejam. Contudo, com ou sem conhecimento de causa, têm destruído outras espécies de animais que também habitam no mesmo planeta. O relatório anual recentemente divulgado – o Living Planet Report, publicado pelo Fundo Mundial para a Natureza (WWF) e pela Sociedade Zoológica de Londres – diz-nos que, entre os anos de 1970 e 2012, o número de animais selvagens diminuiu cerca de 58%. Isto quer dizer que nos últimos 42 anos metade dos animais já desapareceu deste mundo. O relatório diz-nos ainda que, nos próximos 50 anos, o nosso planeta vai perder mais dois terços de animais selvagens. Se leu até aqui, consegue perceber quais são as razões e os problemas? Sim, nós humanos (ou pelo menos alguns) destroem e poluem o habitat natural desses animais, ao pescarem e caçarem animais selvagens de forma não sustentável. Tudo isso faz com que elefantes, gorilas e outras 300 espécies estejam perto da extinção, apenas com o intuito de satisfazer os nossos desejos, encher as nossas barrigas, desenvolver as cidades e ganhar dinheiro. Enquanto todos não considerarem que esse é um problema, os animais não poderão queixar-se, pois serão comidos e usados: o destino deles será apenas um, a morte. Outra razão da diminuição de um grande número de animais selvagens prende-se com a expansão da agricultura e o corte de árvores. Os humanos invadiram ou exploraram a maior parte dos terrenos existentes no planeta, e actualmente apenas 15% dos solos existentes estão protegidos. O problema atinge ainda os recursos hídricos, ao nível dos rios e lagos. Devido ao excesso de extracção de água, à poluição e à construção de barragens, a possibilidade de sobrevivência de alguns animais piorou. Apesar dos graves resultados que o relatório revela, é previsível que a maioria da população continue a fazer o que é mau para o ambiente, considerando até que é um problema que nada tem a ver consigo. Isto é que é verdadeiramente preocupante. Não estou apenas a mostrar simpatia para com os animais, mas também os seres humanos vão sofrer, um dia, ameaças devido à escassez de recursos naturais tão básicos como água e alimentos. Sem outros animais os seres humanos também não vão conseguir viver num ambiente equilibrado. Uma mudança de hábitos é a única solução, sobretudo ao nível da produção e do consumo. Um de nós não pode com certeza mudar todo o mundo, mas tudo pode começar com uma única mudança. Comer menos carne poderia ser uma solução, enquanto que as próprias empresas devem assegurar que a sua cadeia de fornecimento é sustentável e não destrói a origem dos recursos. Também os governos devem assegurar que as políticas são sustentáveis. Se um começar a mudar, os restantes também vão mudar, e aí far-se-á um caminho em prol de um melhor planeta.