Magia

[dropcap]A[/dropcap] pensar que às vezes a vida tem tonalidades de um realismo mágico, que neutraliza com as cores opostas o realismo trágico que nos abala. Como uma teimosia.

Desviar os olhos e, como por magia, esquecer tudo o que não se apresenta ao imediato constatar dos sentidos. Sentir que tudo está bem. Em harmonia e à distância de tudo o que nos faz doer. Mas não agora, naquele momento, neste, aqui. Como um toque de perfeição. E apeteceria escrever algo como um nada inócuo. Ou melhor, um nada a soar cálido, envolvente, abrangente e bom. Um nada em forma do que cada um que é outro precise para sentir. Em doçura e agrado. Em prazer e embalo e em dimensão positiva de ausência de dor. Um nada, camaleão. Em forma de um pequeno tudo, preciso, exacto e transparente. A tomar as cores do real aprazível. A repetir. A confortar. A trazer um brilho ou um sorriso. Uma admissão do sol, que brilha sempre mesmo por detrás das nuvens.

Vendo bem, quando conseguimos pensar que muita da dor está sentida num tempo verbal passado ou futuro, em forma de rescaldo ou temor, recordação ou antevisão, olhamos em volta, e com um pouco de sorte sentimos que tudo está momentaneamente bem. À custa de um olhar curto, lúcido e limpo, e de uma certa cegueira para o mundo. Ou um olhar alongado mas cuidadoso a escolher a direcção e o caminho. A passar entre todos os que estão no epicentro de algo, a combater monstros ou incêndios ou à beira de vulcões. Tudo o que nos perturba em nós e no que nos cerca pode acalmar por um tempo, tréguas de convalescença ou intervalo de sono. Não se suporta inquietação e angústia a tempo inteiro, mesmo sendo assim por defeito. Há uma janela a abrir sobre o lado sereno das coisas. O lado parcial que também pode ser uma totalidade consciente e sem remorso. Mas há teatros de guerra – estranha expressão dos analistas – há incêndios a consumir a realidade e vidas e há as moscas incansáveis sobre rostos depauperados de fome, calor, doenças e futuro inóspito para corpos de criança. Que sorriem com a plenitude abstracta, que ultrapassa tudo. Há dores presentes instaladas no corpo e a minar a alma e quaisquer caminhos que desçam dela. Há tantas coisas e por vezes nenhuma nos transtorna e mesmo assim não queremos deixar de nos amarfanhar de dor de sentir, desapontamento e frustração. Como somos fúteis.

Adeptos do sentir inútil do adverso, de navegar como barco com vento de través, sempre contra a força do vento que nunca parece a favor das velas. Bolinar todos os dias cansa. Apetece a tempestade e afundar. Ou olhar de outro ângulo.

Magia, pó de estrelas, poções e luzes, que as palavras ultrapassam em intensidade e poder. Mas tão poucas benéficas, mesmo em pensamento. Ou claras. Tão poucas, mão, tão poucas, remédio e tão poucas, poema.

Há sempre qualquer coisa. Por detrás do que se faz do que se diz do que se escreve. Mas como eu gostaria no momento de pensar lucidamente o que fazer o que dizer ou o que escrever, – um dia – ser sobre nada e que nesse nada houvesse tudo para a plenitude e a emoção de alguém entender e se encontrar. Porque nada faz mais sentido do que o encontro de si, do outro ou com o outro. A transcender a seca solidão do escrever.

Mas há a inquietação e utopias de adivinhar. Uma esponja orgânica a querer fazer ou apagar o que é certo no momento certo, refazer o tempo. O contrario do relógio que avança ao ritmo prescrito inexorável e sem dó e cumpre o seu destino friamente na maior inocência. Porque o relógio tem uma inocência ignorante maior até do que o tempo em que nos envolvemos como em capas de passado ou futuro, lentas, curvas ou estonteantes. O ónus na noção que temos e no olhar que lançamos. É isso. Queria, a pretexto desse nada, algo de textura e determinação, futuro, calor e desejo. Uma amplitude de nada com delicada cadência e uma acetinada superfície em emoção e sentir, como um parque natural para viver. Uma saída do finito e precário, da transitoriedade como tontura a revolver os olhos e o estômago, no convés. Queria isso tudo e dizer tudo o mais, em nada. Mas não seria natural. Um veemente nada. Que retorna em segurança. Como um placebo que faz bem. Uma coisa benéfica e alimentar. Penso muitas vezes no sabor das palavras, dos sentimentos. Como na diferença entre apetite e fome. O que é natural e o que é cultivado. O que é gosto e o que é necessidade.

O que é vida e o que é morte diária dos alimentos, esquecidos, cumpridos e processados. Penso, porque não consigo outro modo, quando o que eu queria era ler. Sabores a transcender a alma. Queria parar, enrolar-me em mim e esperar que algo salvasse esta inutilidade.

Esse lado de mim.

Depois, entendo que está bem porque brinca com a areia. Imerso em pensamentos, é certo, mas descontraídamente esquecido. Nada me basta mais. Do que um escondido e ligeiro sorriso atrás dos olhos.

Como a cumplicidade que não necessita palavras a produzir escolhos. Amo até à exaustão de ser de sentir ou de suportar. Mesmo a montanha mais alta e o precipício mais perigoso. Quietos, por um momento. Por magia. Uma pausa a meio da ponte. Como um limbo, podia ser um mito, mas contrário ao de Sísifo.

3 Ago 2020

Magia | Artista Cyril traz truques de rua à Broadway do Galaxy

O mágico norte-americano Cyril vai ocupar o palco da Broadway Macau nos dias 5 e 6 de Dezembro. O espectáculo integra-se numa digressão mundial e promete trazer a palco truques dignos de televisão

[dropcap style=’circle’]O[/dropcap] mestre de magia Cyril nasceu e cresceu em Los Angeles, mas agora a viver em Tóquio, aproveita a proximidade e o seu talento para apresentar dois espectáculos no recém-inaugurado Broadway, no Galaxy. O palco deste espaço de entretenimento abre-se para Cyril nos dias 5 e 6 de Dezembro, a convidar miúdos e graúdos a deslocarem-se até lá para dar início às hostes natalícias. O espectáculo “Magia de perto e pessoalmente” foi desenhado pelo próprio autor, que conta com uma forte base de talento de magia de rua, estando agora em digressão mundial. “Tido como um dos mais inovadores e influentes mágico, Cyril é conhecido pela sua capacidade de contar histórias e actuar, sem esquecer vários anos de shows de magia na televisão”, anuncia a organização em comunicado. Cyril assegura, segundo a Broadway, que os efeitos especiais e de câmara se tornam desnecessários quando o talento permite desenvolver truques absolutamente impossíveis. [quote_box_right]”Tido como um dos mais inovadores e influentes mágico, Cyril é conhecido pela sua capacidade de contar histórias e actuar, sem esquecer vários anos de shows de magia na televisão”[/quote_box_right]
A ideia de trazer Cyril aos palcos locais teve início quando o artista mostrou os seus dotes num show apenas para clientes VIP, em Dezembro passado. O feedback foi tão positivo, que a Broadway parece nem ter pensado duas vezes antes de trazer Cyril a Macau novamente. Os dois espectáculos deverão demorar cerca de duas horas, incluindo alguns dos truques que Cyril já mostrou na televisão, assim surpreendendo espectadores “dos oito aos 88 anos”. Cyril confessou estar muito feliz por voltar a Macau, sendo a estreia da sua digressão no território. “O Galaxy Macau é líder no entretenimento ao vivo e a magia é uma linguagem universal, pelo que todos os tipos de audiência vão poder apreciá-la”, esclareceu o artista.

Conta-me histórias

Cyril é considerado “um dos pioneiros” da magia de rua e reconhecido como um bom contador de histórias, tendo aparecido em 16 programas televisivos do Japão e duas séries. Em termos globais, a sua presença foi sentida em 26 países, sem esquecer os locais até onde já viajou e encantou: Brasil, Índia, China, Indonésia, Austrália ou Itália. Os bilhetes para os espectáculos começam nas 280 patacas, estando à venda a partir de 15 do próximo mês. Em 2007, o mágico foi reconhecido pelos seus pares durante a entrega de prémios da Academia Anual de Artes Mágicas, sendo votado como ‘Mágico do Ano’ e assim ficando ao mesmo nível de estrelas como David Copperfield ou Siegfreid & Roy.
Um dos programas televisivos de culto do artista teve a sua família como foco. No entanto, estes foram reinterpretados pelo autor, que personalizou a sua avó, tio e primo. Mas nem tudo era ilusão: Cyril andou mascarado pelas ruas de Oahu, no Havai, entretendo os turistas que passavam. Estas sessões de improviso foram gravadas e passadas na televisão, no programa “A família de Cyril em Férias”. A série, explica o website oficial do artista, ajudou a redefinir a forma como a magia é passada para a televisão e entendida pelos espectadores.

19 Ago 2015