Andreia Sofia Silva EventosARTM | Exposição de fotografia de Lúcia Lemos inaugurada este domingo A galeria Hold On To Hope, da Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM), inaugura, este domingo, a exposição de fotografia “20 Artistas de Macau”, da autoria de Lúcia Lemos, directora da Creative Macau. Mais do que recordar um projecto exposto em 2001, este é também um exercício expositivo que celebra o Dia Internacional da Mulher Em 2001, tinha a RAEM pouco tempo de vida, Lúcia Lemos expôs 20 retratos de mulheres artistas de e a viver em Macau, como é o caso de Anabela Gralhados, Elisa Vilaça, Fernanda Dias, Margarida Cheung Vieira e Wong Lai Chi, entre outras. Entre a pintura, a performance ou as palavras, são várias as artes que dominam as mulheres destes retratos. Agora, 22 anos depois, é altura de estas imagens saíram da gaveta para onde voltaram e serem de novo expostas na galeria Hold On To Hope, em Ka-Hó, Coloane, espaço sócio-cultural gerido pela Associação de Reabilitação dos Toxicodependentes de Macau (ARTM). A inauguração acontece no domingo às 16h. Além de recordar um projecto antigo, esta mostra visa também celebrar o Dia Internacional da Mulher que se comemora na próxima quarta-feira. Lúcia Lemos mostrou o material à ARTM que prontamente disponibilizou o espaço para a exposição. No entanto, as fotografias não estarão à venda, por se tratar de “retratos pessoais”, contou Lúcia Lemos ao HM. “Na altura convidei várias mulheres, mas muitas não se quiseram expor porque é uma coisa muito pessoal. Uma das condições é que elas só veriam o seu retrato no dia da exposição, porque não queria nenhuma influência. Tive inteira liberdade e fiz por isso. Quis contribuir para a divulgação de muitas artistas que as pessoas, por vezes, não conhecem”, disse. Alguns nomes já deixaram Macau, outros permanecem, como é o caso de Elisa Vilaça, que continua a desenvolver um trabalho ligado ao teatro de marionetas com a Casa de Portugal em Macau. Neste projecto, Lúcia Lemos fotografou sempre com recurso ao analógico e usando diversas máquinas fotográficas, nomeadamente a Rolleiflex, Canon, Nikon, Pentax. O trabalho de edição das imagens foi feito no laboratório do artista Wong Ho Sang. Captar emoções Lúcia Lemos não sabe precisar porque decidiu fotografar apenas mulheres artistas. “Já fiz trabalhos com homens também, e com várias pessoas, e talvez um dia os exponha. Simplesmente interessou-me fazer um trabalho sobre mulheres, talvez por eu ser mulher e ter contacto com esse meio artístico. Não tem nada de particular. Algumas artistas foram fotografadas no local onde fazem a sua arte, como o estúdio, enquanto outras foram fotografadas em minha casa. É um trabalho de filme, analógico.” Na hora de fotografar foi dada total liberdade à pessoa fotografada para ser ela própria ou, por exemplo, criar um personagem para a câmara. “Elas sentavam-se, faziam o que lhes apetecia enquanto conversavam comigo, mas sempre quis captar um olhar que transmitisse o seu interior. Sempre quis captar as emoções”, rematou Lúcia Lemos. Estas imagens mostram ainda mulheres para quem a arte “tem uma importância maior para a sua vida”. “Algumas delas faziam parte da arte e do ensino da arte a sua profissão. Todas elas se libertaram na criação artística”, acrescenta-se numa nota, que diz que Lúcia Lemos ainda hoje “se revê nessas fotografias pela intuição estética e espontaneidade que apresentam”, por “gostar de ler nos olhos e gestos das pessoas e adivinhar o que lhes vai lá dentro”. Neste tipo de fotografia há sempre “uma tensão que define a obra e a torna especial”, pelo que Lúcia Lemos considera “o seu trabalho não convencional”. No final da mostra as fotografias poderão voltar ao seu lugar de origem ou ficar nas mãos da pessoa fotografada.
Andreia Sofia Silva Eventos MancheteCreative Macau | 19 anos celebrados com exposição colectiva Fundada a 28 de Agosto de 2003, a Creative Macau celebra o 19º aniversário com a exposição “0 ZERO and SINE DIE”, que retrata, através de múltiplas formas de expressão artística, o estado de vida em suspenso que muitos atravessam desde que a pandemia começou. A mostra reúne 45 trabalhos criados por 37 artistas, membros da Creative Macau “0 ZERO and SINE DIE” é o nome da nova exposição da Creative Macau, que abre hoje portas em jeito de celebração do 19º aniversário da entidade, fundada a 28 de Agosto de 2003. Apesar de data festiva, a ocasião não escapa à inevitável condição das vidas marcadas pela pandemia e pela forma como a política de zero zero casos remete tudo e todos para um estado de imobilidade. Lúcia Lemos, directora da Creative Macau, adiantou ao HM que “0 ZERO and SINE DIE” reúne 45 trabalhos de 37 membros da Creative, onde constam nomes como Francisco Ricarte, Gonsalo Oom, Adalberto Tenreiro, Carmen Lei e Alice Ieong, entre outros, incluindo a própria Lúcia Lemos. “Assistimos à política de zero casos covid-19 e isso traz consequências para as pessoas que sempre viajaram ou que costumam reunir com a família. Essa política afecta tudo, o nosso quotidiano pessoal e profissional, e temos pessoas que já foram embora. [A mostra] remete também para a ideia de que agora podemos estar muito bem e dentro de 15 dias a situação alterar-se para algo totalmente diferente, com tudo fechado”, adiantou ao HM. Em “0 ZERO and SINE DIE” os artistas foram convidados a “inspirarem-se no facto de a nossa vida estar constantemente a ser adiada”, sempre com a ideia de que “o tempo é muitíssimo importante, pois uma pessoa pode planear sair e fazer coisas simples, mas depois não as conseguir fazer, nessa inconstância”. Lúcia Lemos quis que os artistas trabalhassem em torno de “um tema bastante amplo”, para que se poderem expressar com total liberdade. Com uma calendarização definida ao longo do ano, a Creative Macau tem a sorte de ser uma entidade mais pequena que pode ir agilizando os eventos marcados, consoante as possibilidades. “Não somos como o Instituto Cultural, com projectos de grandes dimensões, com pessoas que vêm de fora. Como só trabalhamos com artistas locais temos mais facilidade de organização.” Inspirações múltiplas Há muito que Lúcia Lemos queria fazer um trabalho sobre a escultora portuguesa Rosa Ramalho e, desta vez, aproveitou para revelar a peça de cerâmica “Diabo Santo”. “Ela [Rosa Ramalho] fazia umas peças de barro em forma de diabo porque tinha variações de humor, colocando cá fora os seus sonhos e pesadelos. Inspirei-me num dos diabos dela e chamei-o de ‘Diabo Santo’, porque está a rezar.” A direcțora da Creative Macau apresenta também o trabalho “Stay Home”, feito em papel. Ricardo Meireles, arquitecto e um dos nomes integrantes da exposição colectiva, participa com o trabalho “Ascensão”, uma fotomontagem digital e impressão em papel. “A temática deste ano [da exposição] acabou por ser desafiante pela abertura do tema e levou-me a uma introspecção profunda. Mesmo que o resultado final nem sempre seja aquilo que imaginamos de início, acabou por resultar em algo positivo”, contou. Ricardo Meireles diz ter explorado vários temas e ideias, culminando na elaboração de um auto-retrato. “Nestes tempos de momentos e realidades inesperadas, acabamos por perder o nosso foco principal, aqueles objectivos que nos regem no dia-a-dia e, de repente, tudo se altera de um momento para o outro.” Desta forma, “Ascensão” remete para a mensagem que “mesmo que nos sintamos confinados num pequeno quarto ou mesmo impossibilitados de fazermos aquilo que gostaríamos, podemos abrir as portas para o mundo do imaginário onde tudo é possível, onde a nossa ‘imaginação voa’ em busca de aventuras inesperadas que nos permitem estar onde quisermos”. Francisco Ricarte, também arquitecto, é outro dos membros da Creative Macau que acedeu ao desafio de colaborar na mostra. Fotógrafo nas horas vagas, participa em “0 ZERO and SINE DIE” com uma fotografia tirada num contexto de quarentena no hotel Tesouro, quando o isolamento era ainda de 21 dias. “É uma alegoria a esse período de confinamento, onde a maçã sobre a cama tem uma série de significados, desde a natureza não acessível ao desejo ou afastamento”, declarou. Com esta imagem, Francisco Ricarte quis ensaiar “a experiência do confinamento, traduzindo para imagens um tempo muito carregado e, por vezes, difícil de ultrapassar”. “0 ZERO and SINE DIE”, uma mostra que se pretende eclética e resultado de diversas expressões artísticas”, pode ser visitada até ao dia 24 de Setembro nas instalações da Creative Macau.
Andreia Sofia Silva EventosCreative Macau | Espaço celebra 18 anos com exposição sobre a pandemia Fundado há 18 anos como um projecto “pioneiro”, o espaço Creative Macau inaugura no próximo sábado uma exposição que marca o seu percurso, mas que também olha para o presente. “Open – Close – Open” reúne trabalhos de 33 artistas com as emoções em torno da pandemia a constituírem o tema principal Quando, há 18 anos, o tema indústrias criativas era praticamente inexistente em Macau, abrir o Creative Macau – Centro para as Indústrias Criativas constituiu, sobretudo, um projecto “pioneiro”. Lúcia Lemos é, desde o primeiro dia, directora de um espaço que já organizou 226 exposições individuais e colectivas, com mais de seis mil trabalhos expostos, e que juntou mais de 70 mil pessoas. Além disso, o Creative Macau tem organizado, nos últimos anos, o festival de curtas-metragens Sound and Image Challenge – Festival Internacional de Curtas-Metragens de Macau, que recebe películas do todo o mundo. A 12.ª edição, agendada para Dezembro deste ano, acontece desta vez no Teatro Capitol. Para marcar o seu aniversário, o espaço Creative Macau inaugura, no próximo sábado, 28 de Agosto, a exposição “Open – Close – Open”, que se dedica, sobretudo, a olhar para os tempos actuais de pandemia. Um total de 33 artistas locais responderam ao desafio colocado por Lúcia Lemos, com alguns deles a apresentarem obras inéditas. “Os trabalhos são bastante variados e vão desde a joalharia, instalação, ou pintura, ao design gráfico e desenho”, contou ao HM. A directora do Creative Macau escolheu o tema que remete para o abrir e fechar de espaços e actividades por se estar a viver um período de “incertezas” em virtude da pandemia da covid-19. Um olhar pelas obras vai permitir observar estes altos e baixos emocionais que todos vivemos. “São estas incertezas que provocam um certo desequilíbrio em todas as áreas da sociedade. Assistimos ao facto de as pessoas sentirem altos e baixos de uma crise provocada pela pandemia. Nem todos os trabalhos são novos, há uns que foram desenvolvidos sem este propósito [da pandemia], mas que vão de encontro a ele. Há uma ou outra obra que visualmente tem uma mensagem muito directa, enquanto que existem outras obras com mensagens mais abstractas”, acrescentou. Espírito de sempre Com a pandemia, o espaço Creative Macau deixou de poder apostar tanto na vertente de formação, com a realização de seminários e workshops, para se focar apenas nas exposições. Mas o objectivo inicial mantém-se, assegura Lúcia Lemos. “Quando abrimos foi uma coisa pioneira, completamente diferente, mas o espírito continua a ser o mesmo, o de existir liberdade para as pessoas trazerem trabalhos, e de convidar novos artistas e profissionais.” No entanto, “as pretensões que tínhamos de levar os bons trabalhos para fora de Macau não é mais possível, pois o orçamento é agora ainda mais pequeno, há limitações”. Já o panorama das indústrias criativas, “mudou mesmo muito” 18 anos depois. “Os criativos locais continuam a ter muito apoio do Governo, mas agora as ajudas são mais a título colectivo e menos a título individual, porque provavelmente assim será mais produtivo e rentável. Por isso é que há a bienal, o festival das artes. Há mais projectos governamentais que depois chamam as pessoas e os grupos, mas sempre numa base de projectos. Isso também é interessante, embora para nós seja uma novidade.” Directora do Creative Macau há 18 anos, Lúcia Lemos confessa que já tem nomes pensados para a substituir. Mas primeiro pretende fechar ciclos pessoais. “É evidente que não vou ficar para sempre [como directora]. Tenho alguns nomes pensados para me substituir, mas não os posso revelar porque nem sequer apresentei a minha carta de demissão, digamos assim. Vou fazer isso a breve prazo, mas ainda tenho coisas a concluir, para fechar um certo ciclo”, concluiu. A inauguração de “Open – Close – Open” acontece no sábado às 17h30. A mostra está patente até ao dia 30 de Setembro.
Sofia Margarida Mota Entrevista MancheteLúcia Lemos, Coordenadora do Centro de Indústrias Criativas – Creative Macau Está à frente da Creative Macau já lá vão 13 anos. Uma ideia que nasce de um sonho misturado com necessidade de fazer de Macau um pólo onde a criatividade pudesse ser mostrada. De poucos artistas, o leque foi crescendo e Lúcia Lemos conta, satisfeita, o progresso a que tem assistido, alertando que há ainda caminho pela frente [dropcap style=’circle’]E[/dropcap]sta aventura já dura há 13 anos. Como é que surgiu a motivação para a criação deste Centro? Começámos em 2002, a pensar neste projecto. Naquela altura não se falava ainda muito em indústrias criativas. Havia pessoas que produziam artefactos e outros produtos, que eram aquilo que considerávamos áreas das industrias criativas. Verificámos que havia realmente uma necessidade de tentar criar uma plataforma onde estas actividades pudessem ter uma voz. O que pretendiam fazer ouvir? Esta voz seria não só ao nível de poder proporcionar encontros entre os profissionais e amantes da criação artística, como também de possibilitar a exposição, não só no aspecto físico com trabalhos, mas também com conversas e trocas de ideias. Achámos por bem que era urgente reconhecer e criar um projecto destes. Como é que as coisas aconteceram em termos de apoios? Foi estabelecido um elo com o Instituto de Estudos Europeus de Macau, que disponibilizou uma verba que, naturalmente, era um extra. O projecto foi levado ao Governo para aprovação. Na altura, a economia vivia um momento de baixa dadas as circunstâncias. A criação do Centro foi concretizar uma abordagem mais positiva. O Instituto para os Assuntos Cívicos e Municipais era a entidade que tutelava estes casos e concedeu-nos o espaço. Com o pequenino orçamento que temos, conseguimos fazer muita coisa. Cingimo-nos ao que podemos gastar e vamos conseguindo levar a coisa a bom porto. Foram uma espécie de pioneiros das indústrias criativas em Macau. Agora é assunto que está na moda… Sim, mas mesmo assim levou muito tempo para que as pessoas se começassem a habituar. Já na altura havia arquitectos e designers e todo um leque de profissões associadas a esta indústria, mas estava tudo muito disperso. Hoje ainda estão, mas já se fala mais e, como em qualquer projecto, é necessário muito tempo para dar algo como estabelecido. Têm aparecido mais entidades dedicadas a esta área… Sim, entretanto surgiram outras instituições e organizações nesta área que também vieram criar plataformas importantes. Como exemplo temos o Centro de Design, a Fundação Rui Cunha ou o Armazém do Boi. A própria Fundação Oriente começou também a dinamizar o seu espaço. Tudo isto veio contribuir para um alargamento desta área. Há uma maior partilha e discussão de ideias. Há uma abertura para que os criativos se mostrem e apresentem os seus trabalho. O que é que os criativos locais têm que fazer para usufruir do vosso apoio? No nosso caso, as pessoas, para que possamos fazer algo por elas, têm que se registar como membros para que nós possamos saber o que fazem. Esta acção tem como objectivo possibilitar que as possamos distribuir nas diversas áreas que temos e naquelas em que melhor se enquadram. Mas a inscrição é um processo muito simples e é todo ele gratuito. Só não está quem não quer, é isso? Exactamente. Não exigimos qualquer currículo académico. Exigimos é trabalho. É o que nós queremos. O que acontece é que muitas vezes as pessoas têm outras ocupações e por isso acabam por não produzir muito. Encaram isto como um hobby. Temos uma lista de membros mas não obrigamos a que as pessoas tenham uma actividade que seja de lucro, quer para nós, quer para eles. É essencialmente para que possam aparecer. Depois, na prática, como funciona? Temos uma lista de nomes que fazem isto e aquilo em determinados chamamentos. As pessoas são muitas vezes chamadas a participar num evento ou num projecto profissional e, a nós, há quem peça contactos ou informações acerca de quem faz determinadas coisas. Damos os contactos e as informações que temos e com isso podemos ajudar as partes envolvidas. Acabamos por fornecer uma rede de contactos. Não é um sistema economicista e, por outro lado, também não temos essa obrigação. Não nos responsabilizamos depois pela continuidade de projectos, mas ajudamos na parte que nos toca. Temos um vínculo associativo em que ninguém tem obrigações. Há liberdade. E para que sejam mostradas? No que respeita à possibilidade de exposição no espaço [do Centro] temos algumas regras também. A pessoa tem que se disponibilizar em participar em exposições colectivas. Todos os membros são convidados a participar nestas exposições. Mandamos convite a todos. Vamos depois acompanhando a evolução dos trabalhos e dos artistas que nos vão chegando e organizamos os calendários anuais onde eventualmente estão inseridas também as mostras individuais. Se vemos que há gente com pouca produção mas que ainda assim já apresenta um volume de trabalho considerável, convidamos duas pessoas para cada uma das salas. São igualmente exposições individuais. No colectivo, às vezes damos oportunidade àqueles que já expuseram há algum tempo para que voltem a mostrar o que andam a fazer. É muito bom ver a evolução das pessoas ao fim de alguns anos. Tem assistido efectivamente a essa evolução? Sim tenho. Uma das dificuldades que têm sentido é relativa à escassez de profissionais. Ainda tem esse problema ou há mais gente a aparecer? Acho que cada vez aparecem mais pessoas. As indústrias criativas agora estão na boca do mundo porque apareceram fundos. As pessoas berravam porque não tinham como criar um produto. Para o fazer, há um processo muito grande e que conta com uma despesa para a criação do produto. Tem que haver investidores e não existem assim tantos. Os fundos foram essenciais, é isso? Havendo fundos faz com que, por exemplo no Design, se criem projectos. Os projectos têm que garantir viabilidade económica para poderem aceder a esse fundo. São necessários para que as pessoas avancem com uma ideia que possa, eventualmente, vir a ser rentável. Muitas vezes isso acontece com a própria associação entre pessoas. Por outro lado também já há mais formação que pode ser aplicada em diferentes áreas de negócio ou mesmo na criação da sua própria empresa. Começamos a ter uma indústria em Macau? Como não há uma indústria em Macau, não conseguem produzir aqui. Não há fábricas. Não há meios de produção. Antigamente havia os industriais que podiam, por exemplo, ter um andar da sua fábrica dedicado à produção de produtos vindos de criadores. Mas, por outro lado, agora começa a aparecer aqui e acolá quem queira fazer isso. Acho que há pessoas interessadas. Aqui, têm que juntar a criação ao empreendedorismo. As pessoas estão realmente a aparecer cada vez mais a criar o seu próprio negócio ou a fazer parcerias. E há os elementos técnicos necessários? Isso acho que não. Quando queremos fazer um filme quantos operadores existem? Isto leva-nos a outro problema, que é realmente a falta também de mão-de-obra técnica associada às indústrias criativas. Porque associado ao trabalho do criador há sempre uma equipa técnica. Em Macau como é que isso se faz? Muito dificilmente. Por exemplo, aqui um realizador pode ter que esperar por disponibilidade de técnicos para fazer um filme. Há mercado em Macau, é isso que está a dizer? É capaz de não haver ainda um mercado. Vejamos, não há produtos de qualidade capazes de atrair as pessoas. É preciso também criar produtos que atraiam os visitantes que compram porque gostam. Aqui, o que existe à disposição dos turistas como recordação é sempre horrível. As pessoas querem levar um porta-chaves ou um íman de frigorífico e não têm coisas bonitas ou de qualidade. Imaginação não há, de certeza absoluta. Porque é que se insiste no mesmo design que já está velho? Acho que também é necessário criar um produto de Macau que as pessoas gostem e que seja contemporâneo. O que vemos nas lojas não é a nossa cultura. Não é chinesa nem portuguesa, nem é nada. É uma cultura de ninguém. Aquilo é uma imagem errada de Macau e não tem nada a ver com Macau. O que se poderia fazer? Quem de direito poderia investir numa fábrica de cérebros criativos, por exemplo. Quais as áreas que mais precisam de um empurrão? Tanta coisa. Um exemplo pode ser os caixotes do lixo que são horríveis. É preciso em todo o lado. É preciso criar algo que diferencie a cidade publicamente. Já afirmou há uns anos que a qualidade do design em Macau era muito boa. Comparando com Hong Kong, muito melhor até. O que acha neste momento? Lembro-me que quando abrimos isto era um furor. Éramos falados em Hong Kong e essas coisas. Vinha gente de todo o lado. O design de Hong Kong na altura era uma coisa sem identidade ou de uma identidade comum. O que também é importante porque é um design para todos. Mas aqui era diferente. Era uma coisa com assinatura. Era um design de autor muito interessante, bonito, elegante e diferente. Como é agora? Acho que agora está também no caminho do anonimato. Está mais ao serviço do cliente sem rosto, que simboliza o potencial cliente. É mais desprendido. É criar um design para ser vendido sem conhecer as pessoas. É menos emotivo e envolve menos o criador no que respeita ao sentido de pertença. O Centro está de boa saúde e recomenda-se? Sim (risos). Continuamos a ter sempre novos membros, a casa está aberta a todos. Continuamos a promover sempre o máximo que conseguimos e estamos sempre aqui, abertos a novas ideias.