Cinemateca Paixão | “Lost in Translation” e “Terrorizers” em exibição nos próximos dias 

O aclamado “Lost in Translation”, de Sofia Coppola, é um dos filmes que integra o cartaz na Cinemateca Paixão para os próximos dias, e que apresenta algumas películas que têm a Ásia como pano de fundo

 

Ele é um actor de teatro em plena crise de meia idade que vai a Tóquio fazer um anúncio a um whisky. Ela é uma licenciada em Filosofia que acompanha o marido, fotógrafo, numa viagem de trabalho, mas que passa demasiado tempo sozinha. Os dois encontram-se no bar do hotel e depressa começam uma amizade que apenas cabe nas ruas de Tóquio.

Esta é a história central de “Lost in Translation”, o aclamado filme da realizadora norte-americana Sofia Coppola, de 2003, filmado no Japão, e que conta com a presença dos actores Scarlett Johansson e Billy Murray nos papéis principais. “Lost in Translation” é um dos filmes que integra o ciclo da Cinemateca Paixão para os próximos dias, dedicado ao cinema asiático, mas não só. O filme de Sofia Coppola será exibido entre quinta-feira e dia 18.

Este novo ciclo de cinema começou este domingo com a exibição de “Terrorizers”, filme que poderá ser visto até sexta-feira. Esta é uma produção de Taiwan de Wing Ding Ho que conta a história de quatro jovens em Taipei que vagueiam pela cidade com histórias pessoais marcadas pelo amor, desejo ou vingança. A película obteve uma nomeação, no ano passado, no Festival Internacional de Cinema de Toronto, para a secção de cinema internacional contemporâneo.

Mostra multicultural

“Lamb”, de Valdimar Johannsson, é um dos filmes com um cenário exclusivamente europeu que poderá ser visto na Cinemateca Paixão nos próximos dias, entre amanhã e o dia 15. Esta é a história de um casal que vive numa Islândia rural e que um dia faz uma descoberta alarmante no curral onde se encontram as suas ovelhas.

Depressa estes descobrem que estão a enfrentar as consequências de desafiarem o rumo da mãe natureza. O filme, que marca a estreia deste realizador, obteve, no ano passado, um prémio na categoria “Originality of un certain regard” no Festival de Cinema de Cannes, incluindo uma outra nomeação. Também no ano passado “Lamb” recebeu o prémio na categoria “FIPRESCI of European Discovery” nos Prémios Europeus de Cinema.

O regresso à Ásia faz-se com o filme “Vengeance is Mine – All others pay cash”, uma co-produção da Indonésia, Singapura e Alemanha, do realizador Edwin. Esta película conta a história do lutador Ajo Kawir que combate contra um problema pessoal: a impotência. No entanto, acaba por se apaixonar por uma outra lutadora, de nome Iteung. O filme vai contando a história da possibilidade desse amor. Esta película pode ser vista entre sábado e o dia 20.

A selecção de filmes prossegue com “Introduction”, uma produção sul-coreana de Hong Sang-soo que conta a história de Youngho e da sua namorada, Juwon, que se muda para Berlim para prosseguir os seus estudos.

Esta película obteve, no ano passado, o Urso de Prata para melhor guião no Festival Internacional de Berlim, além de ter recebido uma nomeação para a categoria de melhor filme. “A new old play”, uma co-produção de Hong Kong e França, de Qiu Jiongjiong, será exibido até domingo. Este filme passa-se no ano de 1980 e centra-se na personagem de Qiu Fu, um actor da ópera de Sichuan que morre num acidente de carro.

8 Fev 2022

Albergue SCM | Instalação “Lost in Translation” pode ser visitada até final do mês 

O colectivo D’Entranhas Macau – Associação Cultural volta a promover mais uma iniciativa no Albergue SCM, desta vez intitulada “Lost in Translation”. Trata-se de uma instalação transdisciplinar que integra vídeo, som e fotografia, e cuja criação partiu da palavra escrita e falada em três idiomas

 

[dropcap]M[/dropcap]acau e a sua multiplicidade linguística ganham uma nova representatividade com a mostra que é hoje inaugurada no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau e que poderá ser visitada até ao final deste mês. Trata-se de “Lost in Translation” e é uma instalação transdisciplinar que integra vídeo, som e fotografia, cuja criação partiu da palavra escrita e falada em três idiomas (português, chinês e inglês) e das suas representações fonéticas e gráficas, aponta um comunicado oficial.

Neste sentido, foram registadas imagens de caracteres, avisos, dísticos, sinais, placas toponímicas, nomes de lojas, símbolos, grafismos e palavras, com o objectivo de fragmentar “o sentido explícito das três línguas e dando-lhe um significado visual e sonoro”.

O colectivo D’Entranhas Macau – Associação Cultural, responsável por esta iniciativa, assume que o “objectivo da instalação visa explorar a forma de comunicação da linguagem através de imagens, sons, silêncios, respirações, ruídos e suspensões, ampliando o que ficou”. A autoria e concepção plástica, bem como o trabalho de vídeo e fotografia, estiveram a cargo de Vera Paz e Ricardo Moura.

Entre Lisboa e Macau

Formada em dança clássica e nascida em Lisboa, Vera Paz é actriz e produtora no Albergue SCM. Frequentou o Conservatório Nacional de Dança, a Companhia de Dança do Instituto Cultural de Macau e o Hong Kong Academy for Performing Arts. Começou a carreira de actriz em Portugal no ano de 1991, tendo fundado, em 1999, com Ricardo Moura, a Companhia de Teatro d’As Entranhas, que em 2017 passou a estar também representada em Macau.

No território, esta associação visa desenvolver uma acção de intervenção cultural na área da criação artística, nomeadamente na produção de espectáculos teatrais e exposições.
Ricardo Moura, actor e encenador, nasceu em Angola em 1973, tendo-se estreado como actor profissional em 1994.

A associação D’Entranhas “constitui-se como um espaço de acção cultural interdisciplinar que promove a investigação e a difusão da arte contemporânea através da produção de objectos artísticos, nomeadamente espectáculos teatrais, instalações multimédia e exposições”.
Em Macau o colectivo já apresentou produções como “Vale das Bonecas” ou a exposição “Noivas de Sao Lázaro”, com imagens de Vera Paz.

13 Dez 2019

Albergue SCM | Instalação “Lost in Translation” pode ser visitada até final do mês 

O colectivo D’Entranhas Macau – Associação Cultural volta a promover mais uma iniciativa no Albergue SCM, desta vez intitulada “Lost in Translation”. Trata-se de uma instalação transdisciplinar que integra vídeo, som e fotografia, e cuja criação partiu da palavra escrita e falada em três idiomas

 
[dropcap]M[/dropcap]acau e a sua multiplicidade linguística ganham uma nova representatividade com a mostra que é hoje inaugurada no Albergue da Santa Casa da Misericórdia de Macau e que poderá ser visitada até ao final deste mês. Trata-se de “Lost in Translation” e é uma instalação transdisciplinar que integra vídeo, som e fotografia, cuja criação partiu da palavra escrita e falada em três idiomas (português, chinês e inglês) e das suas representações fonéticas e gráficas, aponta um comunicado oficial.
Neste sentido, foram registadas imagens de caracteres, avisos, dísticos, sinais, placas toponímicas, nomes de lojas, símbolos, grafismos e palavras, com o objectivo de fragmentar “o sentido explícito das três línguas e dando-lhe um significado visual e sonoro”.
O colectivo D’Entranhas Macau – Associação Cultural, responsável por esta iniciativa, assume que o “objectivo da instalação visa explorar a forma de comunicação da linguagem através de imagens, sons, silêncios, respirações, ruídos e suspensões, ampliando o que ficou”. A autoria e concepção plástica, bem como o trabalho de vídeo e fotografia, estiveram a cargo de Vera Paz e Ricardo Moura.

Entre Lisboa e Macau

Formada em dança clássica e nascida em Lisboa, Vera Paz é actriz e produtora no Albergue SCM. Frequentou o Conservatório Nacional de Dança, a Companhia de Dança do Instituto Cultural de Macau e o Hong Kong Academy for Performing Arts. Começou a carreira de actriz em Portugal no ano de 1991, tendo fundado, em 1999, com Ricardo Moura, a Companhia de Teatro d’As Entranhas, que em 2017 passou a estar também representada em Macau.
No território, esta associação visa desenvolver uma acção de intervenção cultural na área da criação artística, nomeadamente na produção de espectáculos teatrais e exposições.
Ricardo Moura, actor e encenador, nasceu em Angola em 1973, tendo-se estreado como actor profissional em 1994.
A associação D’Entranhas “constitui-se como um espaço de acção cultural interdisciplinar que promove a investigação e a difusão da arte contemporânea através da produção de objectos artísticos, nomeadamente espectáculos teatrais, instalações multimédia e exposições”.
Em Macau o colectivo já apresentou produções como “Vale das Bonecas” ou a exposição “Noivas de Sao Lázaro”, com imagens de Vera Paz.

13 Dez 2019

Auf Wierdersehen, Macau

[dropcap style≠’circle’]A[/dropcap]o contrário de muitos dos meus amigos, não achei o Lost in Translation, da Sofia Coppola, minimamente merecedor do hype que despertou na altura em que foi exibido em cinema. Pareceu-me uma colecção de clichés absolutamente banais adornando uma história ainda mais banal. Uma sopa instantânea temperada com uma mistura de especiarias exóticas de exportação. Sentia que o Japão – e toda a Ásia – eram muito mais do que o mosaico de caricaturas que a nossa ignorância compõe na tentativa de inscrever um sentido para um estado de coisas que não compreendemos.

Os dias que passei em Macau não me ensinaram muito sobre o que é ser chinês. Ou macaense, ou estrangeiro em Macau. Mas dissiparam muitas das ideias pré-concebidas que tinha acerca da região. E aprender que não se sabe é tão valioso como acumular conhecimento. O desconhecimento das coisas muito raramente é nocivo. Não temos medo daquilo que não sabemos sequer existir. Não o odiamos. Não formamos qualquer opinião sobre isso. Já as construções que derivam de uma interpretação truncada de uma realidade distante podem ser tóxicas. Como li algures: o melhor antídoto para o racismo é viajar.

Fui extremamente bem acolhido em Macau. Tanto pelos chineses como pelos portugueses que lá residem. Não que esperasse ser maltratado. Mas considerava deveras provável a possibilidade de me sentir muito mais indefeso no contraste com uma cultura que me era absolutamente desconhecida. Para tal contribuiu certamente o facto de Macau ser uma cidade muito segura. Um tipo pode andar por todo o lado sem receio de ser assaltado ou vigarizado. A quota-parte de atenção que poderia reservar, noutra cidade, para a percepção do perigo fica disponível para tudo o resto. E para um tipo que fica tão mais ansioso quanto menos compreende a língua falada em seu redor, como eu, não é um aspecto de somenos.

São os caracteres e os néons, a temperatura e, sobretudo, a humidade. São as salas de jogo dos hotéis, apinhadas de gente apostando um ano ou mais de trabalho, são os cheiros e os sabores, as chuvas torrenciais ao final da tarde, as árvores assemelhando-se a um entrelaçado de cobras comunitárias, os colegiais de uniformes impecavelmente brancos, os letreiros em português, o barulho incessante do ar condicionado omnipresente, as oferendas aos mortos na forma de comida e bebida e pequenas piras pontuando a calçada portuguesa, são os gestos que não compreendemos à primeira, a língua que não logramos compreender nunca.

A contaminação resultante do processo de globalização em curso acaba por hipernormalizar todas as culturas, por mais remotas que sejam. A quantidade de locais exóticos diminui à medida que o capitalismo se impõe como modo de vida dominante. Mas cada um dos lugares expressa de forma muito particular essa contaminação. E gradualmente vão aparecendo os detalhes, sem que com isso a compreensão do que se passa efectivamente sofra uma modificação radical. Não vai fazendo mais sentido, mas vai desfazendo equívocos e perspectivas caricaturais. E quando damos por nós a finalmente entreler uma pequena parte da realidade com que deparamos no dia-a-dia, é altura de voltar. Voltar de uma experiência tão intensa que em apenas oito dias a sensação é de se ter estado fora um mês. Até à vista, Macau.

11 Set 2017