Escritora Lídia Jorge vence Prémio Literário Fernando Namora com o romance “Misericórdia”

A escritora Lídia Jorge venceu o Prémio Literário Fernando Namora, no valor de 15.000 euros, com o romance “Misericórdia” (2022), anunciou hoje a Estoril-Sol, que promove o galardão.

A obra foi escolhida por unanimidade, tendo o júri, ao qual presidiu Guilherme D’Oliveira Martins, assinalado que se trata de “um romance, numa escrita marcada por singular criatividade, [que] transfigura ficcionalmente a matéria do real que o suscita e, na construção da personagem nuclear como de outras, nos múltiplos momentos da efabulação, nos planos em torno dos seus universos sociais, emocionais, afetivos, e nas notações de um processo de perda sem excessos descritivos, exprime uma voz com atributos incomuns de generosidade e humanismo”, segundo nota enviada à agência Lusa. “Trata-se, com efeito, de uma obra maior na bibliografia da escritora”, enfatizam os jurados.

O júri realçou “a manifesta qualidade literária de vários dos livros a concurso”, salientando as obras “W. B. Yeats, Onde Vão Morrer os Poetas”, de Cristina Carvalho, “Um Cão no Meio do Caminho”, de Isabela Figueiredo, “História de Roma”, de Joana Bértholo, e “Cadernos de Água”, de João Reis.

Com o romance “Misericórdia”, a autora de 77 anos venceu, em agosto passado, o Prémio para Melhor Livro Lusófono publicado em França, atribuído pela redação da revista literária Transfuge, e foi uma das candidatas ao Prémio Femina, na categoria de melhor romance estrangeiro publicado em França. Ganhou também o Grande Prémio de Romance e Novela/2022 da Associação Portuguesa de Escritores (APE).

“Misericórdia” foi escrito por Lídia Jorge quando a mãe, internada numa instituição para idosos, no Algarve, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro com este título. A história decorre entre abril de 2019 e abril de 2020, data da morte da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país.

“A minha mãe pediu-me várias vezes para escrever um livro que se chamasse ‘misericórdia’, porque ela achava que havia um desentendimento no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam. Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”, revelou a autora em entrevista à agência Lusa, quando da publicação do romance.

Segundo a escritora, este não é um livro “mórbido” e a sua escrita não lhe suscitou sentimentos de tristeza ou dor. Antes, é um “livro sobre o esplendor da vida que acontece quando as pessoas estão para partir”, sobre os “atos de resistência magníficos, que as pessoas têm no fim da vida”.

Lídia Jorge nasceu a 18 de junho de 1946, em Boliqueime, Loulé, no Algarve, no seio de uma família de agricultores. Obteve uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian para fazer os seus estudos universitários, tendo-se licenciado em Filologia Românica pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

O tema da mulher e da sua solidão é uma preocupação central da obra de Lídia Jorge, como nos romances “Notícia da Cidade Silvestre” (1984), “A Costa dos Murmúrios” (1988) ou “O Dia dos Prodígios” (1979).

No romance “O Vento Assobiando nas Gruas” (2002) aborda a relação entre uma mulher branca e um homem africano e o seu comportamento perante uma sociedade de contrastes. Este livro venceu o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores em 2003 e o Prémio Correntes d’Escritas, no ano seguinte.

Lídia Jorge foi membro da Alta Autoridade para a Comunicação Social e fez parte do Conselho Geral da Universidade do Algarve, instituição de ensino superior que lhe atribuiu, a 15 de dezembro de 2010, o doutoramento Honoris Causa.

O júri desta 26.ª edição do Prémio Literário Fernando Namora, além de Oliveira Martins, foi constituído por José Manuel Mendes, pela APE, Manuel Frias Martins, pela Associação Portuguesa dos Críticos Literários, Maria Carlos Gil Loureiro, pela Direção-Geral do Livro, Arquivos e Bibliotecas, Ana Paula Laborinho, Liberto Cruz e José Carlos de Vasconcelos, convidados a título individual, e por Dinis de Abreu, pela Estoril Sol.

8 Nov 2023

Portugal | Lídia Jorge vence Prémio Eduardo Lourenço 2023

A escritora portuguesa Lídia Jorge é a vencedora da 19.ª edição do Prémio Eduardo Lourenço, anunciou o Centro de Estudos Ibéricos (CEI). “O júri, por unanimidade, decidiu que o Prémio Eduardo Lourenço em 2023 será atribuído à escritora Lídia Jorge”, revelou o presidente da Câmara Municipal da Guarda, Sérgio Costa, e elemento da direcção do CEI.

O autarca realçou que se dá assim “uma dimensão maior ao Prémio Eduardo Lourenço, que já não é só da Ibéria, mas também da Ibero-americana, tendo em conta a sua presença naquelas latitudes”.

O vice-reitor da Universidade de Coimbra, Delfim Leão, sublinhou que, tendo em conta que “o Prémio Eduardo Lourenço tem sido maioritariamente até agora masculino, não deixa de ser interessante o galardão atribuído a Lídia Jorge. Vem reforçar a presença feminina no leque de premiados, ela que é precisamente um dos arautos por excelência dessa visibilidade das vozes femininas através da sua obra”.

O vice-reitor da Universidade de Salamanca, José Mateos Roco, destacou que “foi uma decisão muito pensada, muito ponderada, foram valorizados todos os pontos de vista, mas a figura da premiada foi a que mais reunia condições para este ano ser vencedora, sobretudo nessa nova dimensão que se pretende do prémio”.

25 Set 2023

Literatura | “Os Memoráveis”, de Lídia Jorge, traduzido para chinês e publicado na China

Publicado em 2014, o livro de um dos nomes mais sonantes da literatura portuguesa contemporânea vai ser agora publicado na China com o cunho da editora Haitian Publishing House. O livro de Lídia Jorge já tinha sido traduzido para outros idiomas, mas esta é uma estreia no mercado chinês

 

A obra “Os Memoráveis”, da escritora portuguesa Lídia Jorge, foi traduzida para chinês e publicada esta semana pela editora chinesa Haitian Publishing House. A editora, detida pelas autoridades da Zona Económica Especial de Shenzhen, já tinha publicado em Outubro a tradução chinesa de “Essa Dama Bate Bué!”, o primeiro romance da luso-angolana Yara Nakahanda Monteiro.

“Os Memoráveis” é protagonizado por Ana Maria Machado, uma repórter portuguesa em Washington que, em 2004, foi convidada a fazer um documentário sobre a Revolução de 1974, considerada pelo embaixador norte-americano à época, em Lisboa, “um raro momento da História”.

Segundo comunicado da editora, Publicações D. Quixote, a repórter aceita o trabalho, forma uma equipa e entrevista vários intervenientes e testemunhas do golpe de Estado, “revisitando os mitos da Revolução de Abril”.
“Os Memoráveis”, publicado em 2014, venceu no ano seguinte o Prémio de Novela e Romance Urbano Tavares Rodrigues, atribuído pela Federação Nacional dos Professores (Fenprof).

O júri considerou que o romance “constitui uma assumida marca de cidadania ao trazer a Revolução de Abril de 1974 para as páginas de uma obra literária, cuja intensidade de linguagem e mestria narrativa, conjugada por uma hábil técnica compositiva, faz dela uma notável presença na literatura portuguesa contemporânea”.

Mais traduções

A obra foi traduzida para francês, logo em 2014, e para espanhol e eslovaco em 2020, com apoio da Linha de Apoio à Edição e Tradução da Direcção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e do Instituto Camões.

Nascida há 75 anos em Boliqueime, no Algarve, Lídia Jorge estreou-se em 1980 com o romance “O Dia dos Prodígios”. Além de inúmeros romances, da sua bibliografia fazem igualmente parte coletâneas de contos, obras de literatura infantil, de ensaio, de teatro, de poesia e de crónicas.

Lídia Jorge recebeu vários prémios literários portugueses e internacionais, entre os quais o Prémio FIL de literatura em Línguas Românicas em 2020, de Guadalajara, um dos mais importantes da América Latina.

A Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos, inaugurou a 5 de Abril a Cátedra Lídia Jorge, dedicada ao estudo da obra da escritora portuguesa, juntando-se a uma cátedra criada em Setembro de 2021 na Universidade de Genebra, na Suíça. Lídia Jorge é também, desde Março de 2021, membro do Conselho de Estado, órgão político de consulta do Presidente da República português.

16 Ago 2022