André Namora Ai Portugal VozesSócrates anda a rir à gargalhada O antigo ministro socialista João Cravinho concedeu uma entrevista à SIC que deu muito que falar durante toda a semana passada. Cravinho denunciou que o seu projecto contra a corrupção foi liminar e acintosamente rejeitado pelo então primeiro-ministro José Sócrates. Cravinho, um homem sério, deixou no ar que nada do que propunha convinha ao chefe do Executivo. E, realmente, viu-se que a corrupção tem reinado no seio dos socialistas, e não só. No entanto, podemos concluir que Sócrates ao fazer as suas caminhadas pela manhã na Ericeira vai a rir-se às gargalhadas. Porquê? Porque o ex-governante tinha umas ideias megalómanas para umas obras públicas a nível nacional, mas como levou o país à bancarrota, nunca as chegaria a levar a efeito. Pensou numa linha TGV que ligasse Lisboa a Elvas para que os passageiros chegassem a Madrid e outra linha de alta velocidade entre o Porto e Vigo. Pensou que o país devia ter uma rede ferroviária que cobrisse todo o interior, apesar de em contra-senso autorizar a construção de uma barragem que destruiu a bela linha do Tua. Pensou que era importantíssimo construir uma terceira ponte sobre o rio Tejo, em Lisboa, inclusive ainda se começaram as obras em Marvila. Pensou que Sines deveria ser o grande porto de Portugal a fim de escoar as mercadorias a partir de ali, via ferroviária, para toda a Europa. Sócrates pensou essencialmente nas linhas ferroviárias tão necessárias ao país, depois de lhe terem provado que as exageradas auto-estradas andavam vazias com portagens caríssimas. Mas, Sócrates ocupou os seus tempos pela Venezuela, Angola e Líbia e assim perdeu a oportunidade de executar algo de positivo. O dinheiro falava mais alto. Mas, por que razão ri às gargalhadas? Pela simples razão de que agora apareceu um “Messias” que se desloca de Maserati e é ministro das Infra-estruturas. E o que é que esse mais bloquista que socialista, de nome Pedro Nuno Santos pretende? Anunciou em voz bem alta que o país irá ter uma cobertura total ferroviária. Bem, as linhas férreas e as estações, algumas autênticas obras de arte de azulejos, estão completamente destruídas e em ruínas. Se o pretendente Pedro Nuno Santos a secretário-geral do PS quer comboios por todo o Portugal, que pelo menos, não compre a porcaria de carruagens velhas que adquiriu recentemente a Espanha e que no próximo Verão já vai devolver oito. O homem é um sonhador. Também anunciou uma terceira ponte no Tejo, em Lisboa. Deve ser resultado da velocidade do Maserati. Pedro Santos é um arrogante, no Ministério são poucos os funcionários que o levam a sério. Mas tem poder. O primeiro-ministro tem alguma simpatia por ele. O problema é a última decisão entre Pedro Nuno Santos e Fernando Medina para o cargo de líder do Partido Socialista. Medina tem feito obra em Lisboa. E do Pedro Nuno Santos nada se viu a não ser a bancarrota na TAP e com a situação futura da empresa quase a cair em saco roto. Os comboios são efectivamente necessários com urgência no interior do país. A maioria da população rural não tem meios financeiros para táxis e as carreiras de autocarros deslocam-se de terra em terra quando o rei faz anos. A rede ferroviária é, sem dúvida, uma necessidade atroz, mas quantos anos irá levar à efectivação do projecto que o ministro anunciou? Não acreditamos que seja uma realidade em menos de dez anos. E o ministro será governante este tempo todo? Não o creio, até porque uma grande parte dos socialistas não nutre qualquer simpatia pelo socialista que se desloca de Maserati ou outras “bombas”. Sócrates vai continuar a enganar todo o pagode com aquela história de nunca ter sido corrupto, mas vive à grande e à francesa na Ericeira e às gargalhadas com o que Pedro Nuno Santos vai aldrabando o país. Ou então, é da mesma escola de Sócrates, com uma excepção é que Sócrates sempre preferiu um motorista e um Mercedes. Tudo “oferecido” pelo seu amigo Carlos Santos Silva. Uma fonte dos Comboios de Portugal (CP) transmitiu-nos que o ministro Pedro Nuno Santos não faz a mínima ideia de quantos milhares de milhões são necessários para que Portugal tenha uma cobertura ferroviária digna desse nome. Que não faz a mínima ideia das centenas de empresários que estarão envolvidos num projecto dessa natureza e que, obviamente, sabem que as coisas só se conseguem com os tais depósitos em offshores. A mesma fonte da CP transmitiu-nos que basta olharmos para a “pobreza” das linhas importantíssimas de Lisboa-Cascais e Lisboa-Sintra, para se concluir por onde é que os governantes já há muito deviam ter começado. Na verdade, um político para ser sério tem de o demonstrar e não pode praticar a política á base da demagogia e do sonho fácil. Se nos dias de hoje fosse feito um inquérito à população sobre quantos anos pensa que Portugal terá uma cobertura total ferroviária, a maioria responderia “mais de vinte anos”… *Texto escrito com a antiga grafia
André Namora Ai Portugal VozesA Justiça tem de ser branca Os juízes vestem de preto, os advogados aparecem de toga preta, os procuradores estão de preto e até os escrivães estão em tribunal com uma capa preta nos ombros. Todos têm de passar a vestir de branco, que é a cor do luto chinês. Portugal assistiu ao caso mais triste da história da Justiça na democracia que já tem 40 anos: a actividade de José Sócrates. Como agente técnico iniciou-se na Covilhã a levar projectos à Câmara Municipal, cujas obras ainda hoje são uma vergonha. Assistimos a uma esponja gigante nas mãos de um juiz chamado Ivo Rosa que arrasou e desvirtuou todas as acusações contra o ex-primeiro-ministro. Todos os portugueses sabem que vão pagar por mais de 30 anos as Parcerias Públicas e Privadas (PPP) que José Sócrates aprovou. Como é possível termos uma justiça em que um juiz de uma incompetência a toda a prova arroga-se ao desplante de brincar com o trabalho de dezenas de funcionários do Ministério Público? Afinal, para que serve o Ministério Público? Todos os portugueses viram o que aconteceu entre Sócrates e o seu amigo Carlos Santos Silva e o juiz veio dizer que não houve nenhuma corrupção, aliás, afirmou que num caso Sócrates tinha sido corrompido mas que esse caso já prescreveu. Eram férias no luxo, eram casas luxuosas no centro de Lisboa, eram financiamentos para amantes, era dinheiro para a compra de um palacete em Paris, era dinheiro para um monte no Alentejo para a ex-mulher, eram as viagens à Venezuela onde Sócrates e Hugo Chávez tornaram-se íntimos sob a batuta da empresa Lena que iria construir um porto e milhares de habitações, eram os encontros com Lula da Silva e vimos o que aconteceu com a Vivo/Oi, eram as ligações a Ricardo Salgado, era a escandalosa versão que tivemos da Portugal Telecom com a união a Henrique Granadeiro e a Zeinal Bava, era a TVI que tinha de ser comprada para ficar ao seu serviço ou colocar a Manuela Moura Guedes na rua e todos os jornalistas críticos da actuação de um primeiro-ministro que autorizou que o criminoso Kadhafi montasse uma tenda de campismo gigante no interior do Forte histórico de São Julião da Barra, era o servilismo do Grupo Global que tinha o Diário Notícias, a TSF e outras publicações que sob a batuta de um criado de Sócrates apresentava uma informação simplesmente defensiva do chefe do Executivo, era a criação pela empresa Lena do diário “i” apenas para defender a política socratina, era a Octafarma que era a única a fornecer o sangue ao Estado e que depois até deu emprego ao ex-primeiro-ministro, eram os depósitos de milhões na Suíça, em Macau e em várias offshores. Assistimos a um juiz a afirmar que é algo de normal um amigo emprestar dinheiro. Aeroporto novo, TGV, terceira ponte sobre o rio Tejo em Lisboa, milhões de euros que saíram da Caixa Geral de Depósitos para Vale de Lobo eram imitações do Freeport e Face Oculta, mas não, estamos todos enganados. José Sócrates é seriíssimo, nunca entrou em cambalacho nenhum, nunca mandou construir uma autoestrada desnecessária. Nunca deu ordens ao seu condutor privado para levar ou ir buscar envelopes cheios de dinheiro. Tudo mentira, tudo não passa de uma falsidade do Ministério Público, nunca houve corrupção no reinado de Sócrates. O juiz Ivo Rosa para não ser alvo de um processo disciplinar por incompetência, lá decidiu que Sócrates terá de ser julgado por branqueamento de capitais e falsificação de documento. Coisa pouca, para um santinho que até uma das amantes vinha todos os meses da Suíça buscar dinheiro a Lisboa, porque o amigo Carlos Silva é que suportava. Ah grande juiz, não sabemos o que lhe irá acontecer depois de o Ministério Público requerer para o Tribunal da Relação, onde, felizmente, ainda estão juízes muito sérios e competentes. A opinião pública portuguesa ficou atónita. Perguntou-se para que serviram sete anos de investigação de centenas de casos, milhares de escutas telefónicas, para no fim um juiz debitar durante quatro horas tudo o contrário do que o Ministério Público andou a elaborar. E a procuradora-geral da República o que dirá de uma cena destas tão triste? Foi evidente ao longo de todo o discurso do juiz Ivo Rosa que ele quis prestar contas contra o colega Carlos Alexandre e contra o Ministério Público. O juiz Ivo Rosa chegou ao ponto de dizer que havia muito, mesmo muito dinheiro à disposição de Sócrates e acabou por arquivar qualquer acusação de corrupção. Com este Marquês-Sócrates o povo perdeu ainda mais a confiança na Justiça. O pobre continuará a dizer que a justiça é só para si, que os ricos nunca serão incriminados. A vergonha maior foi termos assistido que existiu uma manobra por parte da defesa dos arguidos para conseguirem chegar à prescrição dos crimes indicados. Na semana passada informámos em primeira mão que o actual primeiro-ministro António Costa poderá ser candidato a Presidente da República. Pois, que pense bem em tudo conseguir para ser eleito, porque José Sócrates nunca será condenado e apenas sonha em chegar ao cargo de Chefe de Estado. É que em Portugal até os porcos voam… Na Justiça não pode haver estados de alma, não pode haver vinganças por parte dos magistrados intervenientes. Isto é muito feio e, por isso, a Justiça tem de deixar de ser preta, mas sim pintada de branco, como o luto chinês. *Texto escrito com a antiga grafia
luis-sa-cunha Ai Portugal VozesO regresso de Sócrates [dropcap]O[/dropcap]s portugueses estão fartos de ouvir falar de José Sócrates, uma criatura que subiu das irregularidades na Câmara Municipal da Covilhã com projectos na mão que eram autênticos mamarrachos que nenhuma edilidade do mundo aprovaria até à cadeira de primeiro-ministro deste Portugal endividado até ao tutano. Especialmente as dívidas monstruosas que três gerações futuras irão pagar no que respeita às escandalosas Parcerias Público-Privadas (PPP) que tanta tinta corruptiva fez correr. As PPP de Sócrates são um escândalo e ainda bem que foi preso por alegados crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e mais umas dezenas de acções criminosas, antes que a criatura avançasse para mais pontes sobre o rio Tejo, TGV e aeroportos. Um megalómano que soube enriquecer possivelmente devido às notas que caíram com a chuva nos seus terraços habitacionais, em especial o de Paris, onde gastou milhões só para remodelar o imóvel adquirido num dos bairros mais chiques da capital francesa. As PPP’s são um dos maiores cancros da nossa economia e que irão levar anos e anos para serem pagas. Uma mina para os amigos de Sócretes, uma criatura tão poderosa no expectro sócio-políItico-judicial que o seu julgamento talvez seja realizado se um dia Portugal passar a ser uma região autónoma de Espanha… E a que propósito estamos a escrever sobre o medíocre veraneante da Ericeira? É que na semana passada assistimos a um escândalo no seio do governo e da Presidência da República que deixou o país atónito. Vítor Caldeira era há 25 anos o presidente do Tribunal de Contas. Um homem de bem, profissional exímio, um exemplo de transparência e independência, mas… que de vez em quando lá estava Caldeira a criticar certas decisões do governo socialista, o que em democracia é absolutamente saudável. O Tribunal de Contas não foi criado para ser um yes man do governo, antes pelo contrário. Este organismo tem a obrigação de velar pela seriedade das acções governativas e indicar todas as lacunas que as despesas oficiais possam apresentar. Mas em Portugal tudo é diferente. Quem não está com o poder, leva… já dizia há muito o ex-ministro socialista Jorge Coelho. E desta feita, o primeiro-ministro, António Costa, refastelado no cadeirão do seu gabinete do palácio de São Bento, pegou no telefone e vai daí: – É o senhor presidente Vítor Caldeira? – Sou sim, senhor primeiro-ministro! Faz o obséquio de dizer… – É para lhe dizer que já não o reconduzo no lugar. Termina aqui o seu trabalho… – Mas?!… Está lá?!… Estou?! A notícia correu célere. O exemplar presidente do Tribunal de Contas tinha sido demitido por telefone, atitude nada cordial. As conjecturas não se fizeram esperar, nomeadamente a mais triste e incómoda para quem chefia um governo que diz respeito aos milhares de milhões de euros que aí vêm a caminho oriundos da União Europeia para fazer frente aos mais diversos e espampanantes projectos e adjudicações que nunca poderão ter a adversidade do Tribunal de Costas. Obviamente, uma conjectura grave. Entretanto, rapidamente o primeiro-ministro anunciou o substituto de Vítor Caldeira. Pior a emenda que o soneto. Uma escolha que recaiu num socratino. José Tavares é dado pela Polícia Judiciária como muito próximo do ex-secretário de Estado de José Sócrates, Paulo Campos, um dos principais suspeitos nas investigações às PPS’s e que sempre foi o braço-direito de Sócrates nos chamados cambalachos com o venezuelano Hugo Chavez e o líbio Muhamar Kadaffi. José Tavares é mencionado no inquérito às Parcerias Público-Privadas, caso onde se investigam prejuízos de cerca de 3,5 mil milhões de euros para o Estado, numa alegada prática de corrupção e de outros ilícitos criminais. A proximidade entre Paulo Campos e o novo presidente do Tribunal de Contas é atestada com diversos emails trocados entre o ex-secretário de Estado de Sócrates e José Tavares, então director-geral do Tribunal de Contas, em 2009 e 2010. José Tavares terá inclusivamente participado em reuniões secretas com o governo de José Sócrates para tentar contornar o chumbo que os próprios juízes conselheiros do Tribunal de Contas fizeram a quase todos os contratos das subconcessões rodoviárias lançados pelo então ministro Mário Lino e Paulo Campos. E os mais diversos políticos da oposição e o povo observador destas temáticas políticas em geral perguntam-se como pode existir tão pouca seriedade ou tanto compadrio na nomeação de um cargo de suma importância para uma governação transparente e profícua. Lá diz o ditado que à mulher de César não basta ser séria, há que parecer… *Texto escrito com a ANTIGA GRAFIA
António Cabrita h | Artes, Letras e IdeiasA vaidade e o sexo oral [dropcap style≠‘circle’]C[/dropcap]ito: «O Presidente de Uganda, Yoweri Museveni, conhecido pela posição homofóbica, prepara-se agora para proibir a prática de sexo oral no país. Meseveni culpa “os estrangeiros” pela banalização da prática, que considera “muito errada”, e revelou que já está a preparar uma campanha, com cartazes e anúncios de televisão, contra o sexo oral. “Deixem-me aproveitar esta oportunidade para lançar um aviso público sobre as práticas erradas (…) A boca é para comer, não é para fazer sexo. Nós sabemos qual é a ‘morada’ do sexo, sabemos onde é que deve ir”, defendeu o presidente do Uganda. Em 2014, ano em que introduziu a lei anti-homossexual, o presidente defendeu publicamente que a prática de sexo oral causava lombrigas e outros parasitas.» Uma das lombrigas é a vaidade. Aquela que levou José Sócrates a bradar, ufano e peremptório, contra o Procurador-Geral (numa das infamantes reportagens com que a SIC transformou a justiça em devassa pública) aquilo que o movia: “Eu sou vaidoso (…) a única motivação que encontro para a actividade política é a vaidade, aliás dos políticos em geral. É uma característica humana…”. Esta afirmação é uma generalização falaciosa – a vaidade não é uma característica humana virtuosa e digna de ser imitada – e (não é em vão que rima) quase criminosa: alguns milhões votaram nele apesar da vaidade, julgando que o moviam outras qualidades mais misantrópicas. Que, mesmo que coxo, um ensejo de justiça, de regulação de alguns desequilíbrios sociais, lhe fosse prioritário. Constata-se que isso seria apenas a projecção dos inocentes, num país onde tanta gente gosta de exibir um broche de ouro na lapela. A vaidade esquarteja qualquer ilusão e torna compreensivo que Sócrates tenha escorrido, de forma espasmódica, da JSD para a calha socialista. Não foi uma questão de re-focagem ideológica – como com a arquitecta Helena Roseta, ou até com Freitas do Amaral, por honestidade intelectual – mas de oportuna medição do terreno ideal onde a sua vaidade se podia expandir, ter eco, ganhar uma corte. E de facto porque há-de um político ser um espartano? Já é diferente querer ser esperto como um alho para afinal apenas se assemelhar à cebola que se gaba de saber trinchar a lebre e a galinha. O pequeno ensaio de Montaigne que se intitula Da Vaidade das Palavras começa assim (cito de memória), «Dizia um retórico do passado que o seu ofício era fazer que as coisas pequenas parecessem grandes e assim fossem julgadas. Eis um sapateiro que, para calçar pés pequenos se gaba de fazer sapatos com a medida de Hércules». E aqui engana e lisonjeia, e pior, – pois quem não quer ser Hércules? -, manipula. Alguém que chega ao poder por virtude do muito que foi envaidecendo só pode tornar-se pernicioso. Nem imagino a quantidade de medidas tomadas não porque fossem as mais razoáveis e necessárias mas porque em qualquer disputa de argumentos uma criatura de tal ego quer ter sempre a última palavra! Como acontece com Trump. Quantas vezes, em decisões chaves, se abeirou Sócrates da irracionalidade para alimentar a sensação de que controlava, de que a sua vaidade imperava? A soberba começa devagarinho tal como as tentações foram tomando conta de Giges depois dele ter achado o anel. Giges, sabe-se, é um personagem da República de Platão que um dia achou um anel que ao ser rodado sobre o eixo o tornava invisível. A inesperada graça de ficar invisível tomou conta do seu comportamento e, por estrita curiosidade, começou a ir visitar, na clandestinidade, as casas dos seus amigos. Rapidamente uma pontinha de inveja acompanhava as suas incursões secretas: ah, aquela cigarreira de prata, belíssima a ânfora de Esmirna, invejável a pulseira da mulher do seu amigo e como era muito mais animado o sexo com ela. Assim, de sexo oral! Giges, até aí considerado o mais recto dos homens, começou a congeminar modo de se apoderar da mulher do amigo e entregou-se aos pequenos furtos. Quem ia notar? O anel apossou-se da alma de Giges, mudou-lhe o carácter. O anel de Sócrates é a vaidade, que ele, inexplicavelmente, julgava invisível ou que camuflava com uma retórica grandíloqua e que por vezes tinha o aspecto de coincidir com o curso das necessidades do país. Afinal, só lhe importava o pavoneio próprio, para além das ideologias. Como tantos outros políticos-espectáculo da mesma igualha. Que triste paradigma a de um horizonte político que só tem por causa a vaidade individual. Os chineses da dinastia Ming tinham um antídoto para aqueles que ambicionavam a vaidade do poder – por exemplo, os grandes almirantes da frota imperial. Castravam-nos. E os seus testículos eram exibidos em relicários nas costas do trono do imperador para que ficasse à vista o que lhes faltava e a fraca proporção do seu poder. A chegada ao poder pagava-se com um sacrifício. Parece-me ser isto um justo preço. Bom, e que se não invalida o sexo oral, o inibe! Outra solução me parecia crucial: que a primeiros-ministros pudessem chegar os menos eloquentes mas melhores preparados tecnicamente. O melhor era até serem mudos. Acabava-se o espectáculo televisivo. No parlamento tudo seria mais ponderado, pois as respostas ao hemiciclo haviam de ter o ritmo lento da escrita numa pequena ardósia. O qual oferece tempo para reflectir, para corrigir, para mudar de ângulo e não ser aquilo que se diz unicamente da boca-para-fora. Brinco e não. Países-da-boca-para-fora (do mais caprichado sexo oral) é o que temos com estes mealheiros da vaidade que nos calharam como líderes de um tempo caprichosamente fútil. Yoweri Museveni tem razão: fora com a lombriga da vaidade! Que cada país leia na exacta proporcionalidade do uso de broches de ouro na lapela dos seus políticos um sinal simétrico de tropeço do seu futuro no fosso do descalabro.
Hoje Macau InternacionalDefesa de Sócrates empenhada em derrotar “acusação infundada” [dropcap style≠’circle’]A[/dropcap] defesa de José Sócrates assegurou ontem que vai examinar detalhadamente o despacho do Ministério Público contra o ex-primeiro-ministro na Operação Marquês e que irá “usar todos os meios do direito para derrotar” uma “acusação infundada, insensata e insubsistente”. Em comunicado enviado à agência Lusa, os advogados João Araújo e Pedro Delille referem que “irão examinar detalhadamente o despacho e todos os elementos do processo e irão usar todos os meios do direito para derrotar, em todos os terrenos, essa acusação infundada, insensata e insubsistente”. “A um primeiro relance, trata-se de um romance, de um manifesto, vazio de factos e de provas, pois não pode ser provado o que nunca aconteceu. Trata-se de retomar e desenvolver os mesmos temas numa iniciativa de grande espectáculo”, argumenta a defesa de Sócrates. Os advogados reiteram que a acusação ontem divulgada surge depois de “largamente ultrapassados todos os prazos da lei” e que esta é “visivelmente, destinada a reanimar, a alimentar e a expandir a suspeição lançada sobre a pessoa e a acção de um ex-primeiro-ministro e do seu Governo”. A defesa de Sócrates observa que manteve, ao longo deste processo, “mesmo perante o enorme e injusto sacrifício pessoal do seu constituinte, absoluta confiança no direito, mesmo quando os que o deviam guardar e acatar o violaram grosseiramente”. Garantem que será nesse quadro no direito que irá continuar, “com rigor e exigência”, a fazer a defesa do antigo líder do PS. Os advogados observam ainda que, com “esta acusação, cessam os poderes de direcção do processo pelo Ministério Público, que ficará sujeito ao controlo jurisdicional por juiz competente, “isento e imparcial”. Grande 31 O Ministério Público acusou ontem José Sócrates de 31 crimes de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documentos e três de fraude fiscal qualificada. O empresário e amigo de Sócrates Carlos Santos Silva foi acusado de 33 crimes, entre os quais corrupção passiva de titular de cargo político, corrupção activa de titular de cargo político, branqueamento de capitais, falsificação de documento, fraude fiscal e fraude fiscal qualificada e o ex-presidente do BES Ricardo Salgado de corrupção activa de titular de cargo político, corrupção activa, branqueamento de capitais, abuso de confiança, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada. O antigo presidente da PT Zeinal Bava está acusado de cinco crimes de corrupção passiva, branqueamento de capitais, falsificação de documento e fraude fiscal qualificada, enquanto Henrique Granadeiro, ex-administrador da PT, está acusado de corrupção passiva, branqueamento de capitais, peculato, abuso de confiança e fraude fiscal qualificada. O ex-ministro e antigo administrador da Caixa Geral de Depósitos Armando Vara foi acusado pelo MP de corrupção passiva de titular de cargo político, branqueamento de capitais e fraude fiscal qualificada. No inquérito ‘Operação Marquês’ foram acusados 28 arguidos, 19 pessoas e nove empresas, num total de 164 crimes.