TNR | Confinamento motivou pedidos de ajuda de mais de 400 indonésios

O agravamento da situação económica devido ao confinamento parcial de Macau, levou mais de 400 trabalhadores indonésios a recorrer à linha de apoio da União de Trabalhadores Migrantes da Indonésia para pedir ajuda financeira. Yosa Wari Yanti aponta que a maioria dos trabalhadores está “assustada” por não ter rendimentos há um mês e pela possibilidade de perder o emprego

 

O arrastar do actual surto de covid-19 ao longo de um mês e o encerramento de todas as actividades não essenciais desde 11 de Julho, levou mais de 400 pessoas a pedir ajuda à União de Trabalhadores Migrantes da Indonésia (UTMI). Em causa, revelou a presidente da associação, Yosa Wari Yanti, estão casos de trabalhadores que em dificuldades de subsistência por terem ficado sem rendimentos devido ao confinamento, problemas com a renovação de vistos de trabalho devido ao encerramento dos serviços públicos e pedidos de ajuda relacionados com a implementação de medidas anti-epidémicas.

Para fazer face ao aumento de solicitações, potenciados pelo surto iniciado a 18 de Junho e a imposição do confinamento parcial, a União de Trabalhadores Migrantes da Indonésia criou uma linha telefónica, disponível 24 horas por dia, para reforçar o apoio aos trabalhadores do país. Contas feitas, desde 6 de Julho, a associação já recebeu mais de quatro centenas de pedidos de ajuda.

“Desde 6 de Julho, recebemos cerca de 400 pedidos de ajuda através da nossa linha de apoio. Destes, cerca de 200 deixaram de ter rendimentos por estarem impedidas de ir trabalhar e os outros 200 foram dispensadas, viram o seu contrato terminado e estão impossibilitadas de arranjar novo trabalho”, começou por explicar Yosa Wari Yanti ao HM.

“Após três semanas, muitas empregadas domésticas, deixaram de ir trabalhar a pedido dos empregadores e estão a enfrentar ainda mais dificuldades financeiras. Isto porque, mesmo antes do confinamento já muitas empresas começaram a fechar ou a oferecer menos trabalho, devido à pandemia. Por isso, estamos a enfrentar grandes dificuldades financeiras. Temos de pagar rendas e comprar comida para sobreviver e não temos rendimentos, que, normalmente, são já de si, extremamente baixos. Esta situação surgiu de repente e não temos reservas preparadas para aguentar muito mais tempo”, acrescentou.

Entre os 400 pedidos de ajuda, além de empregadas domésticas, estão também funcionários de empresas de limpeza, restaurantes e hotéis.

Perdidos na tradução

Outra das dificuldades a que a linha de apoio da UTMI tem procurado dar resposta prende-se com as constantes mudanças no que respeita às medidas de combate à pandemia anunciadas pelo Governo. Até porque muitos dos trabalhadores não falam inglês ou qualquer uma das duas línguas oficiais de Macau.

“Muitos dos que nos ligam querem saber quais são as novas medidas do Governo, porque a informação oficial é apenas transmitida em chinês, português e inglês e muitos indonésios não sabem falar inglês. Por isso, temos de ser nós a explicar-lhes as medidas do Governo e a transmitir-lhes essas informações”, apontou.

Devido à necessidade crescente, Yosa Wari Yanti reiterou que a linha de apoio da UTMI está disponível 24 horas por dia e que os cerca de 15 membros que compõem a equipa da associação, estão constantemente a traduzir e a publicar nas redes sociais os anúncios do Governo.

“Com a entrada em vigor de novas medidas de um dia para o outro, muitas pessoas acabam por nos ligar a pedir ajuda e conselhos sobre aquilo que devem ou não fazer. Além disso, estamos sempre a traduzir as informações mais importantes para indonésio e a publicá-las na nossa página de Facebook para que, ao acordar, as pessoas possam perceber o que devem fazer”, disse.

O adensar de pedidos de ajuda levou a UTMI a solicitar auxílio ao Consulado Geral da Indonésia em Hong Kong. No entanto, as autoridades do país mostraram-se apenas receptivas a ajudar aqueles que pretendem voltar à Indonésia e não em relação ao envio de apoio financeiro e bens alimentares para ajudar os nacionais que estão em Macau.

“Apesar de não termos muito para dar, o que estamos a fazer é ajudar com aquilo que podemos. No ano passado, conseguimos dar bens alimentares a quem nos pediu ajuda a cada duas semanas, mas agora apenas conseguimos ajudar com algum dinheiro, pois estamos a falar de 400 pessoas”, partilhou Yosa Wari Yanti.

20 Jul 2022