Hoje Macau China / ÁsiaXi Jinping diz que nenhuma contracorrente poderá travar a globalização O presidente da China, Xi Jinping, assegurou ontem que nenhuma contracorrente conseguirá travar a “tendência da globalização” e apelou à comunidade internacional para “remover barreiras” e “opor-se ao protecionismo”, em vez de “construir muros”. Xi, que falava por videoconferência no Fórum Económico Mundial, em Davos, na Suíça, enfatizou a importância da cooperação, face à pandemia da covid-19, e apelou a um “fornecimento equitativo” de vacinas contra o coronavírus. “Estamos todos juntos num grande navio”, realçou. Xi Jinping disse ainda que a economia chinesa “não deve crescer à custa do ambiente”, embora tenha especificado que o país asiático “não deve sacrificar o seu crescimento para proteger o meio ambiente”. Os países devem “proteger o multilateralismo genuíno”, disse o líder chinês, que pediu à comunidade internacional que “remova barreiras”, em vez de “construir muros”, e defenda “mais integração” em vez da “dissociação” económica. “A pandemia está a provar ser duradoura e novas variantes estão a fazer com que o vírus se alastre mais rapidamente”, disse Xi, prescrevendo “forte confiança e cooperação” como a única maneira de lidar com a doença. O líder chinês disse que “acusações de culpa” apenas atrasam as ações contra a epidemia. Sobre as alterações climáticas, Xi reiterou que o mundo deve aderir ao princípio de “responsabilidades comuns, mas diferenciadas” e encorajou as economias desenvolvidas a liderarem no cumprimento das metas de redução das emissões de carbono. O Fórum Económico Mundial cancelou pelo segundo ano consecutivo a sua reunião anual mais importante, o Fórum de Davos, devido à incerteza criada pela disseminação da variante Ómicron e, em vez disso, organizou a Agenda de Davos 2022, uma série de apresentações virtuais e debates entre líderes da política e economia globais.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesOs mestres do universo “Progress is measured by the speed at which we destroy the conditions that sustain life.” George Monbiot [dropcap]P[/dropcap]odemos dar-nos ao luxo de fazermos quase tudo o que queremos do ponto de vista financeiro. Porém, existem limites para o que podemos fazer, especialmente do ponto de vista humano e ecológico, mas, graças ao bem público que é o sistema monetário, não há limites económicos ou financeiros. Para que a humanidade consiga sobreviver num planeta habitável, temos de agir com a máxima urgência. A alternativa é a extinção da vida humana. De acordo com os melhores cientistas, os complexos sistemas de suporte de vida da Terra, a atmosfera, oceanos e a superfície terrestre, atingiram o ponto de ruptura. O escritor e activista ambiental e político inglês, George Monbiot, afirmou que bastaria que um dos muitos sistemas de suporte da vida de que dependemos como os solos, aquíferos, precipitação, glaciares, regimes de correntes aéreas e marítimas entrasse em ruptura para que todo o sistema falhe. O “Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC)”, em 2018, lançou um apelo claro e forte à acção. Precisamos de reduzir as emissões anuais globais para metade nos próximos doze anos, e alcançar uma economia com emissões líquidas nulas até meados do século. O antropologista, Jason Hickel, afirmou que seria difícil sobrestimar o quão dramático é esta trajectória. Exige nada menos do que uma rápida e completa inversão da nossa actual direcção como civilização. O desafio é espantoso na sua escala. O co-presidente de um grupo de trabalho do IPCC afirmou que os próximos anos serão provavelmente os mais importantes da nossa história. Após décadas de atraso, esta é a nossa última oportunidade de corrigir as situações e para o Reino Unido e Estados Unidos, bem como para outros países da OCDE, evitar uma catástrofe climática significa reduzir as emissões de CO2 em 80 por cento até 2030, e alcançar uma economia com emissões zero até 2040. Tal permitirá uma partilha equitativa das reduções de emissões entre países da OCDE, e países não-OCDE (seguindo a lógica da “responsabilidade comum mas diferenciada” defendida pela Convenção das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas de 1992, segundo a qual os países da OCDE devem efectuar reduções mais cedo e com mais pujança do que os outros). Para proteger os sistemas de suporte de vida da Terra e conseguir uma transformação tão radical, temos de abandonar o actual sistema financeiro globalizado e ultra-energético, cujo único objectivo é criar milhares de milhões de dólares de dívida não regulada para financiar um consumo aparentemente ilimitado, alimentando assim as emissões tóxicas. Estamos a falar de um sistema económico que, num período relativamente curto da história da humanidade, destruiu os sistemas naturais da Terra e que, graças à dependência do capitalismo de um sistema baseado no imperialismo, racismo e sexismo, acorrentou todas as sociedades humanas a uma forma de escravatura. No entanto, há aqueles que, graças a este sistema, realizaram ganhos de capital sem precedentes na história, o chamado “1 por cento”. A revista The Economist observou em 2012, que o “1 por cento” mais rico dos americanos não só recebe a maior parte do bolo, como é cada vez mais filho das finanças. O empresário Steve Kaplan e o economista Joshua Rauh, mostraram como banqueiros de investimento, advogados de empresas e gestores de fundos de cobertura e de “private equity” retiraram os executivos das empresas do topo da escala de rendimentos. Os vinte e cinco investidores mais ricos em “hedge funds” ganharam mais de vinte e cinco mil milhões de dólares, cerca de seis vezes mais do que todos os executivos de topo das empresas do índice de acções S&P 500 em conjunto, mas o sistema financeiro que estes indivíduos utilizaram para acumular uma enorme riqueza não é um activo privado. Trata-se de um bem público, financiado, garantido e apoiado por milhões de contribuintes em todas as economias do mundo. Estamos a falar, em suma, de um grande bem público que foi capturado pelo “1 por cento”. Chegou o momento de o devolver à comunidade. Ao mesmo tempo, durante anos, os ambientalistas trataram o ecossistema quase como se fosse independente do sistema económico dominante, que se baseia em finanças desregulamentadas e globalizadas. A macroeconomia, e em particular a teoria monetária, são consideradas “assuntos especializados”, ou seja, aquelas “criaturas das finanças” que controlam o sistema financeiro globalizado. Muito do que é feito dentro desse sistema é deliberadamente escondido da vista do público. Além disso, muitas pessoas continuam a ignorar as actividades do sector financeiro, em parte porque o sistema parece demasiado complexo e remoto, mas também porque, de alguma forma, todos nós beneficiamos com ele. Tanto os da geração do milénio como os reformados gozam da liberdade que a globalização financeira oferece àqueles que podem dar-se ao luxo de visitar terras e culturas distantes. Muitos apreciam a facilidade com que se pode aceder à conta bancária mesmo em locais remotos, bem como a possibilidade de comprar bens de qualquer parte do mundo, fazendo uma transferência bancária com um simples pressionar no teclado. Já não podemos dar-nos ao luxo de nos submetermos a essas liberdades e poderes, nem de nos curvarmos à vontade dos deuses das finanças. Não haverá qualquer hipótese de proteger os sistemas de suporte de vida da Terra se não nos libertarmos das garras dos senhores do sistema financeiro globalizado. De um sistema capitalista que é cego para o capital mais vital de todos, o fornecido pela natureza, explorado parasitariamente e consumido a um ritmo desenfreado, como Ernst Friedrich Schumacher argumentou no seu clássico de 1973, “Small Is Beautiful: A Study of Economics As If People Mattered”. Ao escaparmos ao controlo inexorável dos senhores do universo financeiro, descobriremos que podemos dar-nos ao luxo de criar um novo sistema mais equilibrado, baseado na justiça económica e na ecologia internacional, reflorestando vastas áreas da Terra e das suas zonas costeiras e para acabar rapidamente com a dependência da economia globalizada dos combustíveis fósseis e para superar a obsessão da nossa economia pelo “crescimento”, podemos, dentro dos nossos limites físicos e intelectuais, começar a restaurar a saúde dos nossos ecossistemas danificados. Podemos trabalhar juntos, colectivamente, para protegermos as nossas famílias e as comunidades e ambientes em que vivemos, crescemos e nos desenvolvemos, ou seja, para sobreviver, devemos nos próximos dez anos transformar, e até ultrapassar, o modelo capitalista fracassado que agora ameaça fazer ruir os sistemas de suporte de vida da Terra e, com eles, a civilização humana. Devemos substituir esse sistema económico por um que respeite os limites do planeta; que alimente “solos, aquíferos, precipitação, glaciares, ventos, polinizadores, abundância e diversidade biológica”; que respeite a justiça social e económica. É possível atingir este objectivo nos próximos dez anos. Uma das razões porque podemos conseguir é o de que apenas 10 por cento da população mundial é responsável por cerca de 50 por cento do total das emissões. A alteração dos hábitos de viagem e de consumo de 10 por cento da população mundial contribuiria para reduzir 50 por cento das emissões totais num período de tempo relativamente curto. Isto ajuda-nos a compreender a extensão do que é possível alcançar se levarmos a sério a ameaça que a catástrofe climática representa para a civilização humana. Além disso, sabemos que o podemos fazer porque empreendemos enormes transformações no passado, em menos tempo do que o relatório do IPCC de 2018 sugeria. Deveríamos confortar-nos não só com uma compreensão das transformações passadas, mas também com uma nova compreensão da moeda e dos sistemas monetários. É essencial que este conhecimento seja partilhado, a fim de oferecer aos activistas e ambientalistas argumentos económicos sólidos para contrariar os bispos do dogma económico capitalista, os que negam o clima, os derrotistas e os opositores. Àqueles que acreditam que é utópico pensar em pôr fim a um modelo capitalista profundamente discriminatório. Àqueles que estão convencidos de que “não há dinheiro” para a necessária transformação e que a despesa pública é intrinsecamente inflacionista. Aos que acreditam que a hiperglobalização funciona muito bem como está. Que a pobreza, a desigualdade e a injustiça racial e de género não são o resultado do capitalismo globalizado, mas sim da fraqueza humana. Que oferecer trabalho digno a todos é um sonho inalcançável. Que a humanidade sobreviveu a outras catástrofes climáticas no passado e que o fará de novo. Que a espécie humana é essencialmente má e movida pela ganância e pelo interesse próprio. Que não há esperança. Não é verdade. Há esperança; e não se baseia numa visão utópica da humanidade, mas no nosso conhecimento do génio humano, na sua coragem, empatia, ingenuidade, capacidade de colaboração e integridade. Sabemos que é possível transformar o sistema financeiro globalizado porque já o fizemos no passado – e num passado relativamente recente. Para transformar o actual sistema económico e financeiro, temos de ignorar os derrotados, tanto à direita como à esquerda, e armar-nos com sólidos conhecimentos. Este conhecimento pode levar milhões de pessoas a entrar em acção. Acima de tudo, servirá para corrigir as inúmeras falsidades sobre a forma como o grande bem público que é o sistema monetário se espalha conscientemente pelos seguidores de Hayek e Ayn Rand; pelos economistas da generalidade, pelos fanáticos da moeda criptográfica, por vários “reformadores” monetários e por todos aqueles que passiva ou activamente defendem uma economia capitalista financeiramente equilibrada que esgota deliberadamente os recursos limitados e preciosos da Terra. O Presidente John Kennedy, em 1962, anunciou corajosamente: Escolhemos ir à Lua nesta década e fazer outras coisas, não porque sejam fáceis, mas porque são difíceis, porque esse objectivo servirá para organizar e medir o melhor das nossas energias e capacidades, porque é um desafio que estamos dispostos a aceitar, que não estamos dispostos a adiar, e que pretendemos vencer, assim como outros. “Nós escolhemos ir à Lua.” Em 1962, muitas pessoas tinham sérias dúvidas de que os cientistas e engenheiros do mundo tivessem os recursos físicos e intelectuais para construir uma nave espacial que pudesse chegar à Lua, e que os astronautas tivessem a coragem de fazer a viagem. Mas ninguém tinha dúvidas sobre a capacidade de financiar um “lançamento à lua”. Os cientistas de todo o mundo colaboraram no projecto: foi uma das colaborações internacionais mais ambiciosas de sempre. Apenas sete anos após o discurso de Kennedy em 1969, Neil Armstrong pôs os pés na Lua. Podemos optar por sobreviver. Mas, para sobreviver, tudo tem de mudar. Tudo. Uma mudança radical de paradigma, baseada numa compreensão sólida do funcionamento do sistema monetário e numa força moral igualmente firme, pode transformar o nosso presente e salvaguardar o nosso futuro. Por vezes, temos simplesmente de encontrar uma solução. No momento em que decidimos conseguir alguma coisa, podemos fazer tudo. E estou certo de que, no momento em que começamos a agir nesta actual situação de emergência que nos trouxe a pandemia da Covid-19, podemos evitar uma catástrofe climática e ecológica. Os seres humanos são muito adaptáveis: ainda estamos a tempo de consertar as coisas. Mas esta abertura não vai durar muito. Temos de começar hoje. Não temos mais desculpas. Os cientistas do clima avisaram-nos de que, para evitar os impactos mais perigosos do colapso do clima e do aquecimento global, a humanidade tem de manter o seu “balanço de carbono” (desde 1870) dentro dos 3,200 mil milhões de toneladas de emissões de dióxido de carbono. Ao ritmo actual das emissões globais, este balanço seria esgotado num prazo de dez a doze anos. Pior ainda, em 2019, outro grupo de cientistas, a “Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistémicos (IPBES na sigla inglesa)”, advertiu que a natureza está a esgotar-se a um ritmo sem precedentes na história da humanidade. A taxa de extinção das espécies está a acelerar, com impactos graves e imediatos nas pessoas em todo o mundo. A ONU apelou a “uma reorganização fundamental a nível do sistema através de factores tecnológicos, económicos e sociais, incluindo paradigmas, objectivos e valores”. O “Novo Acordo Verde” é um pacote proposto de legislação dos Estados Unidos que visa tratar das alterações climáticas e das desigualdades económicas. É um projecto de reorganização de todo o sistema num período de tempo relativamente curto. A primeira pergunta que devemos fazer é saber quem é o responsável pela execução deste plano? O “Novo Acordo Verde” deve ser entendido como um plano global único, implementado por uma autoridade global, ou como um plano a implementar localmente? Como Herman Daly, pioneiro da economia ecológica e arquitecto da chamada economia estatal estacionária, argumentou que a economia humana é um subsistema apoiado e contido por uma ecosfera global com um equilíbrio extremamente delicado, que por sua vez é alimentada por fluxos finitos de energia solar. Os sistemas de suporte de vida da Terra não conhecem os limites. Como podemos então pensar que o “Novo Acordo Verde”” pode funcionar a uma escala inferior à totalidade do globo? Enquanto os impactos da crise actual se fazem sentir em todo o lado, a maior parte das emissões globais de gases com efeito de estufa – de ontem e de hoje – teve origem nos países ricos. Entretanto, as emissões nos países pobres são ainda relativamente baixas. A justiça ecológica exige, portanto, uma importante redistribuição da riqueza, dos países ricos que produzem e emitem emissões tóxicas para os países de baixos rendimentos. Além disso, como é defendido pelo “Global Commons Institute (GCI)”, os países ricos devem reduzir as emissões até que estas “per capita” convirjam em todo o mundo. Há algum tempo que a ONU propõe uma “contracção e convergência “, mas até agora tem permanecido letra morta porque as instituições mundiais são fracas, não prestam contas a ninguém e carecem de liderança política. É evidente que não podemos confiar apenas em iniciativas globais. Existe uma abordagem alternativa: a cooperação internacional baseada não em instituições globais, mas na autoridade dos Estados. Para que o “Novo Acordo Verde” seja transformador, a sua aplicação deve gozar de legitimidade democrática. As políticas acordadas internacionalmente seriam implementadas e aplicadas pelas instituições locais e nacionais, de acordo com as condições de cada país. Mas mesmo que se consiga criar políticas a nível estatal ou local, será que isso significa que aqueles que operam nos mercados financeiros globais apoiarão as políticas dos vários Estados? Podemos esperar que o sistema financeiro dolarizado – agora completamente desligado da economia real – apoie e financie o “Novo Acordo Verde”? Temos de ser realistas e registar o facto de, com algumas excepções, este sector não contribuiria para financiar um projecto maciço de estabilização do clima em condições aceitáveis e sustentáveis. Actualmente, aqueles que operam nos mercados de capitais globalizados comportam-se como “mestres do universo”. São indiferentes aos governos e comunidades para quem a transformação sistémica é uma urgência. Se queremos mobilizar os recursos financeiros necessários para as enormes mudanças imprescindíveis para preservar, restaurar e sustentar a vida na Terra, então o sistema financeiro globalizado deve ser subordinado às necessidades dos países e colocado ao serviço da transformação. Se queremos domar o sector global, o primeiro desafio é enfrentar a hegemonia da moeda que apoia a finança globalizada: o dólar americano.
Pedro Arede VozesDefesa da Globalização [dropcap]S[/dropcap]ão já poucos os que duvidam que o mundo que vamos encontrar, ultrapassada a crise provocada pela pandemia, muito provavelmente, não voltará a ser o mesmo em variadíssimos aspectos. O reposicionamento de forças e a antecipação de vantagens e dividendos económicos é um jogo que está a ser disputado neste preciso momento e tem na acção diplomática um alicerce fundamental. Até mesmo para não deixar morrer um dado por demais adquirido até agora como a Globalização. Foi no Diário de Notícias que li, citando o Le Monde, que a “geopolítica da máscara” a que actualmente podemos assistir, faz lembrar uma prática antiga do Governo chinês de oferecer pandas a líderes estrangeiros quando quer melhorar as suas relações externas. Desta vez, a oferta são máscaras cirúrgicas e podem fazer toda a diferença nos países mais afectados. Mas, para além de uma atitude solidária de louvar e de contribuir para reparar danos na imagem de uma China que chegou a ser questionada ao nível da sua transparência para com a OMS numa fase inicial da pandemia, pode também servir para sair em defesa da Globalização. Considerada como “fábrica do mundo”, a verdade é que a pandemia pôs a nu o excesso de dependência que muitos países têm no facto de o fabrico de alguns produtos, como as máscaras, ter lugar sobretudo na China. Voltaremos a ver uma Europa ou uns EUA a procurar controlar algumas cadeias de produção essenciais dentro de portas? Ou passada a crise, terão os esforços diplomáticos desempenhado o seu papel na manutenção do mercado global? As perguntas certamente não se esgotam por aqui.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO Antropeceno e a globalização “Thus, unless human energy supplies rapidly become decarbonized, there will over the coming decades and centuries be rises of global temperature and then sea level that will take the Earth system out of Quaternary interglacial norms and into conditions more resembling the pre-Quaternary Cenozoic. The temperature changes in themselves will lead to many extinctions as species are forced out of their habitable ranges. Hence, as regards the global climate and (especially) sea level signal, of the Anthropocene currently remains weak, but will likely increase considerably over future decades and centuries.” The Anthropocene Jan Zalasiewicz and Colin Water [dropcap]A[/dropcap] política das alterações climáticas não está funcionar apesar de dezenas de países terem assinado o “Acordo de Paris” há cinco anos para limitar o aquecimento a 2 graus Celsius até ao final do século. Até o momento, os países não conseguiram implementar políticas que se aproximem da consecução desse objectivo. O fracasso em 2020 levará a decisões solidárias abaixo do ideal, interrupções operacionais dos negócios e instabilidade política. O mundo está actualmente no ritmo de um aquecimento de 3,5 graus Célsius. Os maiores emissores do mundo, a China e os Estados Unidos, estão a caminho de um valor superior a 3 graus Célsius e não querem comprometer as ambições do seu crescimento económico à escala necessária. Os Estados Unidos nessa caminhada perto dos 4 graus Célsius encontram dificuldades de reversão, independentemente de quem vencer a eleição presidencial em Novembro de 2020. Tal deixa a Índia como o único país entre os três principais poluidores com um plano nacional consistente de 2 graus Célsius, ainda que o país esteja a postergar os seus objectivos. Mesmo países cujos líderes políticos têm planos climáticos ambiciosos não têm a vida facilitada e alguns enfrentarão uma reacção anti-elite às acções climáticas, como se vê na França e outros esforçar-se-ão para cumprir as metas já existentes, como a Alemanha. Nos Estados Unidos, qualquer democrata que esteja a concorrer à presidência será um ambientalista “verde-escuro” que procura mudanças ambiciosas, mas se um democrata derrotar Trump na eleição presidencial, a acção climática progressiva defrontará altos obstáculos legais, regulatórios e políticos em 2021 e posteriormente. Tal coloca a política em rota de colisão com uma percentagem crescente de investidores, empresas e sociedade em geral, que apresentarão custos mais elevados em 2020. A tomada de decisões corporativas enfrentará uma compressão, pois mais de um terço do capital global possui algum tipo de mandato de “Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG, na sigla inglesa)”, e triliões de dólares em investimentos excluem empresas e países que não atinjam o limite de 2 graus Célsius. Defronte do activismo dos accionistas e da pressão dos seus trabalhadores, e procurando aproveitar as oportunidades de negócios que surgem ao se tornarem mais sustentáveis, mais de seiscentas empresas globais comprometeram-se a reduzir as suas emissões de forma consistente em 2 graus Célsius. Os gestores ao nível executivo de uma empresa sentirão que precisam de escolher entre mandatos ESG agressivos e os seus resultados. A pressão social criará interrupções operacionais e no fluxo de investimento serão mais caras. A sociedade civil pressionará os investidores e as empresas que acreditam estarem a mover-se muito devagar, particularmente as empresas de petróleo e gás, companhias aéreas, fabricantes e produtores de carne, em uma tendência liderada por crescentes movimentos populares como a “Rebelião da Extinção” que é um movimento ambiental global com o objectivo declarado de usar a desobediência civil não-violência para obrigar as acções do governo a evitar pontos de inflexão no sistema climático, perda de biodiversidade e risco de colapso social e ecológico. A interrupção da cadeia de fornecimentos tornar-se-á um risco significativo. Os investidores, por sua vez, reduzirão as exposições a indústrias intensivas em carbono, incluindo sectores críticos como o aço e cimento, impactando os preços dos activos. A política está em rota de colisão com os investidores e a sociedade em geral. Há também um risco crescente de inquietação pública sobre o clima, com acções cada vez mais perigosas a serem tomadas pelos manifestantes. A oposição a cortes nos subsídios aos combustíveis/preços mais altos terá um impacto directo na política climática e também desencadeará respostas pesadas dos governos que poderiam empurrar os protestos para fora de controlo. Tudo o que está a acontecer com um planeta em aquecimento torna os desastres naturais mais frequentes e mais graves. Pela primeira vez na história, o “Antropeceno” está a criar restrições económicas à globalização. A política dos Estados Unidos para os principais países xiitas no Médio Oriente está a falhar, criando riscos significativos para a estabilidade regional, incluindo um conflito letal com o Irão; pressão ascendente nos preços do petróleo depois de um declínio em conformidade com a evolução do Covid-19; um estado iraquiano que está na órbita do Irão; e uma Síria desonesta, combinada com a Rússia e o Irão. O assassinato do chefe da força Qods, Qassem Suleimani, em 2 de Janeiro de 2020, ordenado pelo presidente Trump, aumentou as tensões significativas entre Estados Unidos e o Irão, tornando-se um crescente risco, por causa das fortes pressões estruturais que poderiam dar origem a uma grande guerra. O Irão é um adversário comprometido dos Estados Unidos, mas também tem um entendimento claro do poder militar dos americanos, bem como um melhor senso das linhas vermelhas e da capacidade de dissuasão do presidente Trump. O Irão ainda tem o hábito histórico de recuar diante de uma ameaça militar esmagadora e o presidente Trump ainda procura evitar conflitos militares em larga escala sob o seu comando, especialmente à medida que a campanha eleitoral avança. A relação entre os Estados Unidos e o Irão será mortal e geopoliticamente desestabilizadora. É provável que haja conflitos letais no Iraque entre forças americanas e iranianas. O Irão continuará a atrapalhar o tráfego de navios-tanque no Golfo. O Irão também tem uma propensão para atingir adversários de forma imprevisível e assimétrica, inclusive por meio das suas robustas capacidades cibernéticas ofensivas e rede de servidores em toda a região, com a habilidade de atingir os cidadãos e activos dos Estados Unidos e dos seus aliados. A possibilidade de um conflito regional entre os Estados Unidos e o Irão mais perigoso e mesmo limitado é menos provável, mas possível. As tensões no Irão e a pandemia do Covid-19 colocarão os preços do petróleo no seu mínimo histórico e aumentarão a volatilidade. A política dos Estados Unidos em relação aos principais países xiitas do Médio Oriente está a falhar. Os Estados Unidos no Iraque estão a caminho do estatuto de “persona non grata”, o que deixará mais espaço para um influente Irão. Os bombardeamentos dos Estados Unidos e o assassinato de Suleimani alienaram grande parte da classe política xiita do Iraque. Está a aumentar a oportunidade do governo expulsar as tropas americanas este ano. Enquanto os Estados Unidos estão a perder muito, o Irão é apenas um vencedor relativo, uma vez que os protestos por maus serviços sociais e corrupção também se concentraram na interferência iraniana. O descontentamento popular tem uma importância muito grande para a região, pois sobrecarregará as forças do estado iraquiano, o segundo maior produtor de petróleo da OPEP. Os Estados Unidos ainda são importantes se mantiverem tropas no leste do país rico em energia (embora uma retirada das forças americanas do Iraque minaria as cadeias de fornecimentos, inteligência e apoio operacional da América), mas jogaram uma cartada má, pois quer o ex-presidente Obama, quer o presidente Trump tiveram uma política incoerente na Síria. O presidente Putin venceu a guerra com a ajuda do Irão. O resultado levou a um maior prestígio e influência da Rússia, especialmente no Médio Oriente. A influência significativa de um país com um historial pobre de direitos humanos e uma tradição de invadir os negócios de outros países não se está a estabilizar. O interesse do Irão na Síria é acerca de uma ponte terrestre para o Hezbollah, não para melhorar a vida da população. A política imprudente dos Estados Unidos no Irão, Iraque e Síria gerará riscos regionais em 2020, em detrimento da ordem política e económica regional. A raiva pública manterá o risco de instabilidade política em toda a região da América Latina. As queixas dos eleitores incluem o lento crescimento, corrupção e serviços públicos de baixa qualidade e pior ainda para os governos, as classes médias novas e vulneráveis querem mais gastos em serviços sociais, e as sociedades latino-americanas estão profundamente polarizadas. Tal descontentamento reduz a capacidade dos governos de tomar as medidas de austeridade necessárias. O FMI e os investidores pressionarão por prudência fiscal, mas os governos de toda a região responderão sem entusiasmo. As pressões gerarão riscos na América Latina pois protestos ocorrerão, os saldos fiscais deteriorar-se-ão, os resultados das eleições serão menos previsíveis, os políticos populistas e anti ordem ideológica, económica e política ficarão mais fortes e o sentimento piorará. A eleição de presidentes de direita na Argentina (2015), Brasil (2018), Colômbia (2018), Chile (2017) e Equador (2017) provou ser uma reacção contra operadores históricos e instituições políticas em vez de ser um apoio a reformas no mercado, abundando exemplos de descontentamento popular que levam a mudanças políticas negativas no mercado. Na Argentina, o presidente Alberto Fernandez foi eleito pelos eleitores irritados e feridos que fará aumentar a intervenção do Estado e tentará impulsionar o crescimento abandonando a prudência fiscal e monetária. As negociações com credores privados e o FMI serão controversas. O presidente Fernandez tentará minimizar o pagamento da dívida durante o seu mandato, e recusar-se-á a implementar reformas da previdência e laborais. O eleitorado enfurecido no Equador, forçou o presidente Moreno a recuar devido ao aumento dos preços dos combustíveis que negociou com o FMI, deixando-o gravemente enfraquecido e irá lutar para cortar gastos ou aumentar receitas adicionais, pressionando o saldo fiscal e o programa do FMI. Esses desenvolvimentos aumentam a probabilidade de um candidato populista surgir antes das eleições de 2021. O descontentamento reduz a capacidade dos governos de tomar as medidas de austeridade necessárias. O presidente da Colômbia, Ivan Duque, lutará para manter a estabilidade fiscal. O seu índice de popularidade é de apenas 23 por cento e sem maioria no Congresso e enfrentando uma pressão crescente nas ruas, o presidente colombiano falhará na aprovação de reformas estruturais significativas e o descontentamento dos eleitores crescerá. A ira e os protestos públicos no Chile forçaram o presidente Pinera a aumentar drasticamente os gastos sociais e a iniciar o processo de alterar a constituição em 2019. A agitação foi resultado de um profundo descontentamento com o “status quo” existente. As mudanças constitucionais prejudicarão a economia, provocando gastos mais altos, maior regulamentação e incerteza persistente sobre a substância das mudanças. O presidente Obrador no México continua com alto índice de popularidade, mas a sua promessa de manter a estabilidade fiscal e aumentar os gastos será difícil de prosseguir, estando comprometido em aumentar os gastos sociais e de infra-estruturas, enquanto enfrenta uma economia em desaceleração e menor produção de petróleo. O presidente mexicano adoptará medidas de austeridade e aumentará os impostos, mas não serão suficientes. As condições de segurança vão piorar. O Brasil é o país economicamente mais promissor na região em 2020. O presidente Jair Bolsonaro, foi eleito como sendo alguém de fora, tendo feito aprovar uma legislação histórica de reforma da previdência e está a realizar outras revisões, inclusive sobre impostos. Os seus índices de popularidade são muito baixos (30 por cento), apesar de ter uma base leal. Mas enquanto a economia brasileira estiver em tendência favorável, a cólera do povo está contida, mas virá rapidamente se as previsões actuais de recuperação despenharem e começaram já com o Covid-19, o que vai limitar a presidente brasileiro de implementar reformas, potencialmente voltando o seu governo para um nacionalismo mais aberto e/ou ajudando o retorno da oposição em 2022. O presidente da Turquia, Erdogan tem uma longa história de comportamento provocativo em resposta a ameaças, provocando confronto com críticos estrangeiros e nacionais. A sua fraqueza vai levá-lo a atacar, em 2020 e a resposta prejudicará ainda mais a economia da Turquia. É na arena da política externa, especialmente nas relações com os Estados Unidos, que a Turquia cairá para novos mínimos de eficácia. As sanções do Congresso dos Estados Unidos provavelmente entrarão em vigor no primeiro semestre de 2020, minando a reputação e o clima de investimento no país para as empresas e pressionando ainda mais a lira. As medidas incluirão uma redução obrigatória nas vendas militares à Turquia e acções contra algumas autoridades turcas. Além disso, o julgamento do Halkbank no estado de Nova Iorque representará grandes riscos financeiros, podendo resultar em uma multa de milhares de milhões de dólares e quase certamente envolverá a divulgação de detalhes embaraçosos sobre o presidente turco ou os que o rodeiam. A popularidade de Erdogan, em termos políticos está a diminuir, especialmente entre os jovens, e sua aliança governamental é instável. O presidente está a sofrer deserções do “Partido da Justiça e Desenvolvimento”. Os ex-lideres populares do partido estão em processo de estabelecer dois novos movimentos políticos. A parceria com o “Partido do Movimento Nacionalista” pode não durar, dada a saúde precária do seu líder. O presidente Erdogan adoptará posturas difíceis para tentar reforçar o seu apoio político e em termos internacionais irá recusar cooperar com as autoridades americanas se o Halkbank for multado, colocando em risco os activos estatais turcos nos Estados Unidos. O presidente turco poderia aprovar contra-sanções aos Estados Unidos, provocando um ciclo de escaladas e também pode expandir as perfurações no Mediterrâneo oriental, expondo-o ainda a sanções europeias e potencialmente arriscando conflitos militares com a Grécia. A reacção do presidente turco na esfera económica levará a outro conjunto de riscos. À medida que as sanções pressionam ainda mais a economia turca, volta-se para o seu saco de ferramentas económicas pouco ortodoxas e abre um buraco ainda mais profundo, pois usará meios não convencionais para defender a moeda, podendo sair o tiro pela culatra e prejudicar a confiança dos investidores. O presidente turco está inclinado a ordenar que os bancos estatais intervenham no mercado com vendas de moedas estrangeiras, e a Turquia enfrentará um risco significativo de controlo de capital. O presidente Erdogan, manterá altos níveis de repressão para minar a força dos partidos políticos rivais, o que levará a sanções mais duras e maior instabilidade política e económica.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO Brexit americano “Russia may very well be front and center again in 2020 as they were in 2016 regarding interference in America’s presidential election. But the Trump administration is seeking to use its power of diplomacy to bring other countries into the act as well.” Richard Painter [dropcap]V[/dropcap]ivemos com crescentes níveis de risco geopolítico por quase uma década, mas sem uma verdadeira crise internacional. Afora da geopolítica, as tendências globais têm sido fortemente favoráveis, mas a situação está a mudar. A globalização é fundamental e a característica mais importante do cenário da era pós-guerra como as pessoas, ideias, bens e capital movem-se cada vez mais rapidamente através das fronteiras ao redor do planeta, criando riqueza e oportunidade extraordinárias. Aumentou a igualdade global (mesmo quando criou mais desigualdade em muitos países), reduziu a pobreza, prolongou a vida activa e apoiou a paz e prosperidade. Todavia, com a China e os Estados Unidos a separarem-se em termos tecnológicos, uma fracção crítica da economia do século XXI está a fragmentar-se em duas partes. Os países do mundo desenvolvido tornaram-se mais polarizados, aumentando o poder do tribalismo. É de acrescentar o contracção das cadeias de fornecimentos com mudanças na política, economia e tecnologia de bens e serviços manufacturados, e de subitamente a globalização apresenta uma personalidade dividida. Ainda há que considerar as tendências económicas e geopolíticas. Ambas estão a diminuir. A economia global, depois de emergir da grande recessão de 2008 com a maior expansão do período pós-guerra, está a abrandar e intensificar-se-á com o aparecimento do inesperado COVID-19 que se alastra insidiosamente pelo mundo, sem que a fraca OMS a declare como pandemia. Assim, é de esperar uma maior recessão que se iniciou e se prolongará até 2021. O mundo está a entrar em uma recessão geopolítica cada vez mais profunda, com a falta de liderança global como resultado do unilateralismo americano, a erosão das alianças lideradas pelos Estados Unidos, a Rússia em declínio que quer minar a estabilidade e coesão da América e dos seus aliados, e a China cada vez mais fortalecida com uma liderança consolidada, que está a construir uma alternativa competitiva no cenário global. As mudanças climáticas estão a começar a restringir o crescimento económico e a impor-se no cenário político global como nunca antes tinha acontecido. Tal aumentará com o tempo (diferentemente das tendências económicas e geopolíticas cíclicas, que mais cedo ou mais tarde se tornarão mais favoráveis). Assim, em 2020, temos uma combinação de linhas de tendência negativas que não vivíamos há gerações. O ambiente em deterioração tem muito mais probabilidade de produzir uma crise global. Os recursos disponíveis para os governos e sector privado, facilitam mais as respostas no presente em detrimento do considerado assente no passado, mas a escala dos desafios é maior e a recessão geopolítica mina a cooperação global e por essas e outras razões, 2020 parece ser um ano realmente preocupante. A política interna dos Estados Unidos nunca constituiu um risco, mas em 2020, as instituições do país serão testadas de forma sem precedentes. A decisão da China e dos Estados Unidos de se separarem na esfera tecnológica é o desenvolvimento geopolítico mais impactante para a globalização desde o colapso da União Soviética. A política interna dos Estados Unidos constitui um risco dado que as instituições americanas estão entre as mais fortes e resistentes do mundo. Os americanos enfrentarão os riscos de uma eleição nos Estados Unidos que muitos consideram ilegítima, incerta como efeito e em um ambiente de política externa menos estável pelo vácuo derivado. As restrições institucionais impediram o presidente Donald Trump de realizar grande parte da sua agenda política (da mesma forma que os presidentes que o precedem), mas não o impediu de dividir o país. Será que um país que está polarizado pode progredir? O presidente Trump teve um “impeachment” na Câmara dos Deputados e foi absolvido pelo Senado, e essa dinâmica deslegitimará as eleições presidenciais de Novembro de 2020. Os democratas sentirão que o “impeachment” foi politicamente anulado para colocar o presidente acima da lei, enquanto o presidente Trump se sentirá habilitado a interferir nos resultados das eleições, pois o “impeachment” não é mais um instrumento credível de restrição política. Ao mesmo tempo, haverá interferência externa nas eleições dos Estados Unidos, especialmente da Rússia, e o presidente e o Senado pouco farão para minimizar os danos, com a aplicação de medidas mais rigorosas de segurança nas eleições, ou seja, haverá uma eleição que, com antecedência, será percebida como “fraudulenta” por uma grande percentagem da população. As pesquisas de opinião pública mostram que esse risco está a aumentar e de acordo com uma pesquisa de 2019 da Ipsos Grupo S.A, que é uma empresa de pesquisa de mercado e consultoria com sede em Paris, que revelou que apenas 53 por cento dos americanos acreditam que a eleição presidencial será justa, mas a maior queda de confiança ocorreu entre os eleitores democratas, pois em 2016, 84 por cento dos mesmos acreditavam que a eleição seria justa; tendo caído para 39 por cento em Setembro de 2019, quando inquiridos sobre a eleição de 2020. Os desafios legais, que provavelmente fracassarão em um Supremo Tribunal de tendência conservadora, podem até levar a pedidos de alguns trimestres no sentido da votação ser adiada ou boicotada, o que seria um mau acontecimento, que minaria ainda mais a legitimidade eleitoral. Alternativamente, se o presidente Trump sentir que provavelmente perderá, poderá culpar actores externos como a Ucrânia por interferências e tentar manipular os resultados (especialmente em estados vulneráveis, onde os aliados do presidente Trump têm influência política) em nome da garantia da segurança eleitoral. Será o pior clima político para uma eleição nacional que os Estados Unidos vão viver desde a (efectivamente fracassada) eleição de 1876. Quando as eleições terminarem, surgirão problemas sérios, pois se o presidente Trump vencer no meio de acusações credíveis de irregularidades, o processo eleitoral será contestado e o mesmo acontecerá se perder, especialmente se as votações dos dois candidatos mais votados estiverem próximas, o que provavelmente acontecerá. Tal levaria a processos idênticos aos das eleições de Al Gore-George W. Bush em 2000, que foram decididas pelo Supremo Tribunal. Ao contrário de Gore-Bush, é difícil ver um cenário em que o Tribunal Federal decida e o perdedor graciosamente aceite o resultado como legítimo, especialmente se o perdedor for o presidente Trump. A eleição de 2020 é um Brexit americano, ou seja, uma votação polarizada ao máximo, onde o risco é menos o resultado do que a incerteza política do que o povo votou. É um terreno político desconhecido, e desta vez em um país onde a incerteza cria ondas de choque no exterior. O descontentamento social significativo (ao estilo da França) torna-se mais provável nesse ambiente, assim como a violência interna, de inspiração política. Além disso, um Congresso que não funciona, com os dois lados a usar as suas posições para maximizar a pressão política sobre o resultado final das eleições, deixando de lado a agenda legislativa, torna-se em um problema maior se os Estados Unidos estiverem a entrar em uma desaceleração económica, apoiados em gastos alargados e outras medidas no período que antecede as eleições. O desafio também se estende à política externa, porque qualquer decisão que o presidente Trump tome sobre questões comerciais ou de segurança nesse ambiente seria vista como falta de autoridade. Os inimigos verão a presidência dos Estados Unidos como a mais fraca desde que Richard Nixon se envolveu no caso “Watergate”, e desta vez não existe Henry Kissinger. A procura imprudente pela diplomacia é mais segura do que a procura irreflectida pela guerra que é a preferência do presidente Trump de “acariciar o cachorro” em vez de o “abanar” (fazer maus negócios com governos estrangeiros em vez de arremessar ataques), mas mesmo assim ainda significa esforços sem precedentes do presidente Trump de alinhar a política dos Estados Unidos, com os interesses de antagonistas e inimigos como a Rússia e a Turquia e com aliados e parceiros. As suas políticas, aliadas à turbulência na América, confundirão e desestabilizarão relacionamentos de longa data, com grandes pontos de interrogação sobre países que se sentem particularmente expostos como a Coreia do Sul, Japão e Arábia Saudita. O presidente Trump também está mais inclinado a calcular mal (e cada vez mais de forma incondicional pelos conselheiros quando o faz), arriscando criar riscos à volta dos confrontos geopolíticos que ocorrem de forma mais imprevisível e perigosa, como o Irão. Assim, de forma mais ampla, tanto os aliados quanto os inimigos dos Estados Unidos nos últimos anos, começaram a interrogar-se se o país pretende ser um líder mundial e apresentar propostas para um acordo pacífico e no meio de uma disputa competitiva em 2020, muitos desses países ainda perguntarão se os Estados Unidos tem capacidade para liderar. É um período de vulnerabilidade geopolítica incomum. É de realçar que a preocupação não é com a durabilidade a longo prazo das instituições políticas dos Estados Unidos. O país não corre o risco de perder a sua democracia em 2020. Também não existe alarme quanto aos mercados sobre uma “guinada para a esquerda” na política dos Estados Unidos, pois uma presidência de Bernie Sanders ou Elizabeth Warren permanece plausível, mas improvável; e mais importante é que o próximo presidente enfrentará as mesmas restrições do Congresso e outras institucionais que o presidente Trump tem. O mecanismo do “impeachment” quebrado, questões de ilegitimidade eleitoral e uma série de desafios judiciais fará de 2020 o ano mais volátil da política que os Estados Unidos viverão nas últimas gerações. Após uma série de mudanças na política dos Estados Unidos em 2019, a China concluiu que a separação é inevitável. A China surpreendida pelas acções dos Estados Unidos, fez que o presidente Xi Jinping pedisse uma nova “Longa Marcha” para acabar com a dependência tecnológica do país em relação à América. Ao mesmo tempo, a China irá alargar os esforços para remodelar a tecnologia internacional, o comércio e a arquitectura financeira para promover melhor os seus interesses em um mundo cada vez mais bifurcado. A separação, que interrompe fluxos benéficos de tecnologia, talento e investimento entre os dois países, vai além do conjunto de sectores estratégicos de tecnologia que estão no centro da disputa (semicondutores, computação em nuvem e 5G) em uma matriz mais ampla de actividade económica, o que afectará não apenas todo o sector de tecnologia a nível global avaliado em cinco triliões de dólares, mas uma série de outras indústrias e instituições, desde a média e entretenimento a pesquisa académica, criando uma divisão comercial, económica e cultural difícil de retroceder. Quanto ao sector da tecnologia, a atenção do presidente Xi dirige-se para a construção de “cadeias de provimentos resilientes” que fará aumentar os riscos da competição de tecnologia entre os Estados Unidos e a China e que é uma má notícia para as empresas de tecnologia americanas com grande presença na China. A Huawei começou a fabricar estações base que fornecerão energia às redes móveis 5G da próxima geração que, não contêm tecnologia americana O processo dos Estados Unidos e da China de “projectar” as tecnologias uns dos outros continuará. A Huawei e outras empresas chinesas também desenvolverão ecossistemas de “software” alternativos, perdendo os Estados Unidos a liderança em sistemas operacionais móveis e “software” corporativo. Os mercados estão preparados para controlos mais rígidos sobre as exportações de tecnologia dos Estados Unidos para a China e o uso de componentes chineses em sistemas de TI que ajudam a executar a infra-estrutura crítica americana, mas não estão preparados para os efeitos da resposta da China, a um aumento dramático no apoio à inovação local por meio de iniciativas, como o seu novo fundo nacional de semicondutores estimado em vinte e nove mil milhões de dólares e o seu esforço para promover a criação de um novo “Vale do Silício Chinês” na área da “Grande Baía” com setenta milhões de habitantes. A grande questão é de saber para onde irá o novo muro de Berlim virtual? Qual o lado que os países escolherão? Taiwan assumirá uma importância estratégica crescente para a China como fonte principal de equipamentos de origem não americana, especialmente os semicondutores de ponta em que empresas chinesas como a Huawei contam para competir na vanguarda global. A Coreia do Sul inclinar-se-á cada vez mais para a China pelo mesmo motivo. A mudança para a China será mais palpável no Sudeste Asiático, África Subsaariana, Europa Oriental e América do Sul. Os países de todas essas regiões tornar-se-ão campos de batalha, onde os Estados Unidos e a China concorrem para decidir quem fornecerá aos consumidores ferramentas para navegar na economia do século XXI, não apenas “telefones inteligentes” e redes que os alimentam, mas pagamentos móveis, comércio electrónico e serviços financeiros. Os Estados Unidos e a China demonstraram que estão dispostos a arquitectar o comércio global e as cadeias de provimentos. E para os americanos inclui a proibição de exportação da Huawei e de outras empresas de tecnologia chinesas. A China considera o bloqueio de importações de parceiros comerciais envolvidos em disputas de política externa com o país (por exemplo, o Canadá e as suas exportações de canola). Quando as duas maiores economias politizam as suas relações comerciais mais importantes, os sistemas de inovação e cadeia de provimentos tornam-se mais regionais e menos globais. À medida que as brechas aumentam, correm o risco de se tornar permanentes, lançando um tremor geopolítico sobre os negócios globais.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA nova era da globalização e governança global (I) “Nature has placed mankind under the governance of two sovereign masters, pain and pleasure. It is for them alone to point out what we ought to do, as well as to determine what we shall do.” Jeremy Bentham [dropcap]O[/dropcap] mundo está a passar por rápidas mudanças rápidas, começando uma nova era de globalização e governança global, bem como um período de transição da velha ordem mundial para uma nova e emergente, que dará aos países em desenvolvimento e às potências emergentes uma maior voz, compatível com o mundo. A paisagem política e económica global alterou-se. A ordem mundial evoluirá e a China desempenhará um papel fundamental nessa transformação e na melhoria da governança global. O Presidente Xi Jinping afirmou que do ponto de vista histórico, a humanidade está a passar por uma era de grandes desenvolvimentos, tremendas transformações e reajustes fundamentais. O actual sistema internacional passou por uma transformação sem precedentes nos últimos quatro séculos e o centro do poder global passou de ambos os lados do Atlântico para o Extremo Oriente. O fim da “Pax Americana”, ou “Século Americano”, está à vista como resultado da “grande convergência”, que foi a marca da segunda metade do século XX e das duas primeiras décadas do novo século. A convergência entre o centro (Estados Unidos e países ocidentais) e periferia (todos os outros países) em um sistema global formado desde o século XIX, tem sido a característica mais proeminente das relações internacionais nos anos seguintes à II Guerra Mundial. Tal indicação é de que o PIB agregado das economias avançadas caiu de 64 por cento em 1980 para cerca de 40 por cento actualmente, mostrando que o equilíbrio da energia económica está a mudar a favor dos mercados emergentes e dos países em desenvolvimento. É necessário que a arquitectura de governança global seja reformada em consonância, mas o ritmo tem sido lento (como de costume) em ajustar-se ao cenário económico modificado, e as vozes de vários sectores que pedem a reforma do sistema de governança estão a ficar cada vez mais fortes. É reconhecido universalmente que a actual ordem mundial está em crise e uma nova está a aparecer no horizonte. As confusões e vicissitudes que estão sendo testemunhadas hoje são o prenúncio de uma transição prolongada, em que tremendas e crescentes incertezas podem permanecer por várias décadas, ainda que a grande tendência para uma ordem mundial mais justa, seja sem dúvida óbvia e uma grande questão é a do aumento da radicalização política nos Estados Unidos e em alguns países europeus, tanto uma consequência, quanto uma força motriz do crescente populismo que está a derrubar a coesão política, económica e social nos países afectados. A chegada de uma transição prolongada que leva a uma ordem mundial mais equilibrada trouxe maior incerteza e turbulência, o que faz com que muitos países se sintam desconfortáveis com o presente e inseguros do futuro. Existem quatro grandes desafios que justificam profunda atenção. Em primeiro lugar, os Estados Unidos, sendo o principal poder na ordem mundial existente e na governança global, elevaram e tornaram a incerteza mais preocupante no mundo e nas últimas duas décadas, permaneceram insatisfeitos com a mudança do equilíbrio de poder para países em desenvolvimento como a China. Os Estados Unidos, voltaram-se mais para o interior e estão menos inclinados a continuar a fornecer “bens comuns globais”, e pretendem mudar e refazer as regras de governança para manter a sua posição hegemónica e moral nos assuntos mundiais, continuando a obter o maior benefício da globalização. A administração Trump, através de sua política “América Primeiro”, negou muitos avanços que o mundo alcançou desde a década de 1950, além de renegociar os actuais acordos comerciais bilaterais e multilaterais. Em segundo lugar, a crescente diferença entre ricos e pobres, ou o desequilíbrio entre eficiência de mercado e justiça social, continua inabalável na era da globalização, destruindo o tecido social de muitos países, incluindo os grandes países avançados, renovando o clássico fenómeno capitalista de “classe” tal como previsto por Karl Marx no seu “O Capital” e ainda corroborado por muitos economistas modernos como o francês Thomas Piketty no seu livro “Le Capital au xxie siècle” de 2013, em que a contradição fundamental entre capital e trabalho continua sendo o mais difícil quebra-nozes. Os dados mostram que a taxa de ganhos de capital sempre supera a do PIB, dando aos donos do capital uma parcela muito maior de riqueza da globalização e como a maioria concorda, quando um mercado é deixado por conta própria com livre movimentação de capital. O capital procurará inevitavelmente o maior lucro independentemente de outras considerações, como justiça social e protecção ambiental. Tal é uma das principais fontes de crescente populismo e antiglobalização em todo o mundo. Em terceiro lugar, o aumento da incerteza global trouxe cada vez mais complicações e complexidades nas relações entre as grandes potências que, se não forem tratadas adequadamente, podem levar a conflitos geopolíticos e guerras. As grandes potências devem cooperar seriamente e trabalhar juntas para construir um consenso baseado no bem comum da humanidade. Como tal, a grande questão é de saber se é possível encontrar uma forma de difundir a tensão e construir uma nova relação entre as grandes potências. O mais notável e abrangente desafio de todos é certamente a “armadilha de Tucídides” entre os poderes ascendentes e incumbentes. Que tipo de arranjo colectivo de segurança é necessário para uma paz duradoura? Os Estados Unidos e a China são os dois países no “primeiro nível” do poder global para que a paz mundial seja possível nos próximos setenta anos. Em quarto lugar, a um nível filosófico mais elevado, o desafio é sobre civilizações e os seus relacionamentos. Haverá um choque de civilizações ou uma fusão? Apesar de todas as considerações da receita chinesa, o mundo futuro terá uma civilização conquistando outra ou coexistência pacífica entre civilizações? Optamos pela segunda seguindo o pensamento do presidente chinês por ser a que melhor se enquadra nas necessidades do nosso tempo. Todavia, se olharmos mais profundamente, a maioria das fontes de atrito pode ser atribuída a um entendimento insuficiente entre as civilizações ou à falta de troca e diálogo entre elas. O professor de Harvard Graham Allison, seguindo a previsão de Samuel Huntington sobre o inevitável choque de civilizações, chegou à mesma conclusão no seu livro “Destined for War: Can America and China Escape Thucydides’s Trap?” de que há duas supostas “melhores” civilizações no mundo, indicando que os Estados Unidos acreditam firmemente que a civilização ocidental continuará a ser “o farol da montanha” e o seu sistema político, a democracia liberal, é o modelo supremo para todos os outros países. A China, por outro lado, declara que a civilização chinesa é única e ininterrupta há mais de cinco mil anos. No entanto, não pode haver dois “números”. Se o senso de superioridade da civilização ocidental não pode ser superado, a sua política externa sempre será equivocada, e o que é denominado como mudança de regime e revolução não parará, explicando o mundo caótico de hoje, que é um resultado dessa lógica ocidental. O desenvolvimento da China e a sua diplomacia estão intimamente ligados à globalização e governança global, especialmente depois que a China aderiu à “Organização Mundial do Comércio (OMC)” em 2001. É de recordar que na conjuntura crítica do desenvolvimento económico da China no final da década de 1970, Deng Xiaoping tomou uma iniciativa sem precedentes, inovadora e revolucionária dando um passo para colocar a China no caminho da modernização, abraçando a globalização e a governança global com uma firme pegada chinesa. As últimas quatro décadas provaram que a China fez a escolha certa, não apenas nos seus próprios interesses, mas também no mundo como um todo. A globalização ofereceu à China uma rota nova e viável para se tornar um país desenvolvido e globalmente poderoso novamente, e também ofereceu uma oportunidade histórica para reconquistar o status de uma grande potência ao persistir no desenvolvimento pacífico, o que é definitivamente diferente do que tem sido feito por outras grandes potências da história, que se entregaram à conquista, ao saque, à colonização e à agressão. É reconhecido que a última ronda da globalização não teria sido tão abrangente e profunda se a China tivesse optado por permanecer do lado de fora. Durante esse período histórico, a relação entre a China e o resto do mundo passou por uma mudança fundamental do isolamento para uma crescente interdependência com o resto do mundo. Algumas potências ocidentais falam frequentemente sobre a rápida ascensão da China nos tempos modernos com grande ansiedade, até mesmo ressentimento ou medo. A China prefere referir-se à sua rápida industrialização e elevar-se com o conceito de “desenvolvimento” e que não são simplesmente diferenças terminológicas, pois na verdade representam visões do mundo bastante diferentes. A chave de tudo é examinar de perto o ADN cultural e civilizacional da China. A China, como outras grandes potências anteriores, acabará por se tornar uma potência hegemónica ou será um país que, à medida que crescer, se tornará mais determinado a salvaguardar a paz mundial e promover o crescimento económico global, mantendo um sistema de governança global conforme o acordado e aceite pela comunidade internacional? Aqui, o conceito central de desenvolvimento pacífico que sustenta o desenvolvimento da China e a sua diplomacia deve ser o prisma através do qual a ascensão da China deve ser vista e entendida. O termo “desenvolvimento pacífico” sugere paz e desenvolvimento que são os dois pilares essenciais na estratégia nacional e global da China. A China entendeu pela sua experiência, especialmente durante os longos anos desde a Guerra do Ópio em 1840 até à fundação da República Popular em 1949, que sem crescimento económico, bem como soberania e segurança nacional, não haveria fundamento algum para que se pudesse tornar uma nação respeitada com plena soberania e integridade territorial e construir uma economia forte e industrializada que é o pré-requisito para salvaguardar a soberania e os interesses de desenvolvimento. Na era da globalização e da interdependência económica, o desenvolvimento pacífico e cooperativo é a única maneira pela qual a China será capaz de alcançar o desenvolvimento económico e político. Qualquer envolvimento em conflitos de guerra ou militares arruinará o ambiente da China para o desenvolvimento pacífico. A compreensão da história e do ADN cultural da China para a paz tem orientado o seu desenvolvimento e diplomacia todo o tempo. Não é preciso olhar além da história recente em que o “boom” económico da China coincidiu com a rápida expansão da globalização, especialmente o livre comércio e o investimento globais. Foi possível à China integrar-se na governança global, dada a sua abordagem de desenvolvimento pacífico. A China é o país em desenvolvimento mais populoso do mundo. A escolha pelo desenvolvimento pacífico não foi facilmente feita; tinha as suas raízes na sua herança cultural para a paz e harmonia, e a sua árdua procura de ampla cooperação internacional logo no início da República Popular. É de recordar a Conferência de Bandung, realizada em 1955 na Indonésia, que reuniu um grande número de países pobres da Ásia, África e América do Sul, a maioria dos quais acabara de alcançar a sua independência política após longos anos de governo colonial.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesA Globalização 4.0 e a China “Those who push for protectionism are shutting themselves inside a dark house. They have escaped the rain and clouds outside, but also missed the light and air.” President Xi Jinping [dropcap]A[/dropcap]pós a Segunda Guerra Mundial, a comunidade internacional uniu-se para construir um futuro partilhado e actualmente, deve fazê-lo novamente. Devido à recuperação lenta e desigual da última década desde a crise financeira global, uma parte substancial da sociedade tornou-se descontente e amargurada, não apenas com a política e os políticos, mas também com a globalização e com todo o sistema económico que a sustenta. Em uma era de insegurança e frustração generalizadas, o populismo tornou-se cada vez mais atraente como alternativa ao “status quo”, mas o discurso populista escapa, e muitas vezes confunde, as distinções substantivas entre dois conceitos, o de globalização e globalismo. A globalização é um fenómeno impulsionado pela tecnologia e pelo movimento de ideias, pessoas e bens. O globalismo é uma ideologia que dá prioridade à ordem global neoliberal sobre os interesses nacionais. Ninguém pode negar que estamos a viver em um mundo globalizado e se todas as políticas devem ser “globalistas” é altamente discutível. Afinal, este momento de crise levantou questões importantes sobre a arquitectura da governança global e cada vez mais eleitores exigem “retomar o controlo” das “forças globais”, e o desafio é restaurar a soberania em um mundo que requer cooperação. Ao invés de fechar as economias através do proteccionismo e da política nacionalista, deve-se forjar um novo pacto social entre os cidadãos e os seus líderes, para que todos se sintam seguros o suficiente nos seus países para permanecerem abertos ao mundo em geral, pois caso contrário, a desintegração contínua do tecido social poderia levar ao colapso da democracia. Além disso, os desafios associados à “Quarta Revolução Industrial (4IR na sigla inglesa)” coincidem com o rápido surgimento de restrições ecológicas, o advento de uma ordem internacional cada vez mais multipolar e a crescente desigualdade. Os desenvolvimentos integrados estão a estabelecer uma nova era de globalização. Se tal irá melhorar a condição humana, dependerá se a governança corporativa, local, nacional e internacional se adaptar no tempo. Enquanto tal acontece, uma nova estrutura para a cooperação global público-privada vem a ganhar forma. A cooperação público-privada consiste em aproveitar o sector privado e abrir mercados para estimular o crescimento económico para o bem público, com a sustentabilidade ambiental e a inclusão social sempre em mente. Mas, para determinar o bem público, é necessário primeiro identificar as causas da desigualdade, por exemplo, enquanto os mercados abertos e o aumento da concorrência produzem vencedores e perdedores na arena internacional, podem estar a ter um efeito ainda mais pronunciado sobre a desigualdade a nível nacional. Além disso, a crescente divisão entre o precariado e o privilegiado está sendo reforçada pelos modelos de negócios 4IR, que frequentemente derivam os alugueres de capital ou propriedade intelectual e encerrar essa divisão requer que se reconheça que se está a viver em um novo tipo de economia impulsionada pela inovação e que novas normas, padrões, políticas e convenções globais são necessários para salvaguardar a confiança pública. A nova economia interrompeu e recombinou inúmeras indústrias e deslocou milhões de trabalhadores. É de desmaterializar a produção, aumentar a intensidade do conhecimento da criação de valor, pois está a crescer a concorrência nos mercados internos de produtos, capital e trabalho, bem como entre os países que adoptam diferentes estratégias de comércio e investimento, que está a alimentar a desconfiança, particularmente das empresas de tecnologia e a administração de dados. O ritmo sem precedentes da mudança tecnológica significa que os sistemas de saúde, transporte, comunicação, produção, distribuição e energia serão completamente transformados. A gestão dessa mudança exigirá não apenas novas estruturas para a cooperação nacional e multinacional, mas também um novo modelo de educação, completo com programas direccionados para o ensino de novas aptidões aos trabalhadores. Os avanços da robótica e da inteligência artificial no contexto das sociedades em envelhecimento, obrigam a passar de uma narrativa de produção e consumo para uma de partilha e cautela. A globalização 4.0 está apenas a começar, mas o mundo encontra-se muito despreparado. Agarrar-se a uma mentalidade desactualizada e mexer nos processos e instituições existentes não funcionará. Em vez disso, é preciso redesenhá-los a partir do zero, para que se possa aproveitar as novas oportunidades que nos esperam, evitando o tipo de interrupção que estamos a testemunhar. À medida que se desenvolve uma nova abordagem para a nova economia, devemos lembrar que não estamos a brincar um jogo de soma zero. Não se trata de livre comércio ou proteccionismo, tecnologia ou emprego, imigração ou protecção dos cidadãos e crescimento ou igualdade. Essas são todas falsas dicotomias, que se podem evitar desenvolvendo políticas que favoreçam a comunidade, permitindo que todos os conjuntos de interesses sejam perseguidos em paralelo. Os pessimistas argumentarão que as condições políticas estão a impedir um diálogo global produtivo sobre a Globalização 4.0 e a nova economia. Os realistas usarão o momento actual para explorar as lacunas no sistema e identificar os requisitos para uma abordagem futura. Os optimistas manterão a esperança de que as partes interessadas orientadas para o futuro criem uma comunidade de interesse e, em última análise, um objectivo compartilhado. As mudanças que estão em curso não são isoladas para um determinado país, sector ou matéria, são universais e, exigem uma resposta global. O não adoptar uma nova abordagem cooperativa seria uma tragédia para a humanidade. Para redigir um plano para uma arquitectura de governança global compartilhada, deve-se evitar ficar atolado no momento actual da gestão de crises. Especificamente, essa tarefa exigirá duas situações da comunidade internacional que são o envolvimento mais amplo e maior imaginação. O envolvimento de todas as partes interessadas no diálogo sustentado será crucial, assim como a imaginação para pensar sistemicamente e além das próprias considerações institucionais e nacionais de curto prazo. O conceito de Globalização 4.0 foi apresentado pela primeira vez na reunião anual do “Fórum Económico Mundial (WEF na sigla inglesa)” em Davos, a 17 Janeiro de 2019, e foi visto pela comunidade internacional como um sinal de que a globalização entrou em uma nova era, e enquanto os milhares de líderes ricos e poderosos se dirigiam ao WEF, o fundador da organização, Klaus Schwab, pediu aos chefes de Estado internacionais que apresentassem uma abordagem “inclusiva” da globalização. O tema principal do encontro foi “Globalização 4.0: Moldando uma Nova Arquitectura na Era da Quarta Revolução Industrial″. O WEF decorreu entre 22 e 25 de Janeiro de 2019. A globalização produz vencedores e perdedores e há muitos mais vencedores nos últimos vinte e cinco ou trinta anos, mas é necessário cuidar dos perdedores. Durante décadas, houve um forte consenso de que a globalização ajudaria a estimular o crescimento dos salários e a criar mais empregos, não apenas para os países desenvolvidos, mas também para os países mais pobres do mundo. No entanto, nos últimos anos, uma reacção populista contra a globalização consolidou-se, o que levou muitos a expressarem a sua raiva ao verem os seus empregos serem afectados pela automação, indústrias antigas desaparecerem e a migração a atrapalhar a ordem estabelecida. O fórum divulgou um relatório de “Riscos Globais” em que observou que os mesmos estão a intensificar-se, mas a vontade colectiva de enfrentá-los parece estar a faltar. As discussões em Davos ocorreram em um momento crucial, já que a reacção política à globalização ameaça não apenas a economia global, mas também a ordem internacional liberal que tem sido a pedra angular de níveis sem precedentes de prosperidade, crescimento e segurança pós-guerra. Os participantes vieram mais preocupados com as perspectivas para a economia global, ligando uma possível desaceleração a factores como guerras comerciais e Brexit, pois desde o último fórum que decorreu entre 23 e 26 de Janeiro de 2018, as relações comerciais globais e a diplomacia, assim como as políticas domésticas, têm sido incertas. É quase certo que os livros de história se lembrarão de 2016 como o ano em que os dois lados do Atlântico apostaram no populismo e 2019 será lembrado como o ano em que as apostas arriscadas faliram. As promessas vazias do populismo tornam-se aparentes para os eleitores que estavam a exigir soluções viáveis para problemas sérios. A tarefa da liderança global é de ganhar o argumento para mostrar porque o sistema deveria ser reformado e não destruído, sendo essa tarefa particularmente urgente. Quando se fala sobre Globalização 4.0, tem que ser mais inclusivo e sustentável, baseado em princípios leais. O que precisamos é de uma moralização da globalização. O tema da “Reunião Anual dos Novos Campeões 2019”, também conhecido como “Fórum Davos de Verão”, realizou-se de 1 a 3 de Julho de 2019 na cidade costeira de Dalian, China, que contou com mais de mil e novecentos representantes de mais de cem países e regiões e que teve como tema “Liderança 4.0: Ser bem sucedido em uma Nova Era de Globalização”. A mudança da Globalização 4.0 para a Liderança 4.0 não apenas reflectiu a mudança de situação e do padrão económico internacional, mas também o firme compromisso da comunidade internacional de salvaguardar o multilateralismo, os esforços práticos nesse sentido e as suas expectativas de um multilateralismo mais forte. A China tornou-se a espinha dorsal dos esforços internacionais para salvaguardar o multilateralismo, enquanto a maior economia do mundo, os Estados Unidos, recorreu ao unilateralismo e está a provocar fricções comerciais globais ao impor tarifas mais altas às importações. A determinação da China e os esforços para proteger o multilateralismo são elogiados em todo o mundo. A China defende a abertura e está a implementar essa causa aumentando as importações, reduzindo as tarifas e diminuindo o limite de acesso ao mercado para melhorar o seu ambiente de negócios. Todas essas medidas têm sido uma fonte de confiança para a economia global. Quando o presidente chinês reiterou a posição da China e propôs medidas para a globalização económica na concluída Cúpula do Grupo dos 20, em Osaka, essa confiança foi ainda mais estimulada. A diversidade da “Reunião Anual dos Novos Campeões 2019” mostrou o interesse da comunidade internacional nos esforços da China para proteger o multilateralismo e deu o seu apoio. Quase 70 por cento dos participantes vieram do exterior, incluindo muitas empresas dos Estados Unidas das áreas de assistência médica, finanças, ciência e tecnologia e educação, o que prova que a globalização é uma tendência internacional irresistível, apesar do surto de unilateralismo praticado pelo governo de Donald Trump. Actualmente, há uma divisão internacional do trabalho no desenvolvimento social e económico global. Todo o processo de projectar, fabricar, montar e vender todos os componentes de bens envolve empresas de vários países. Tal construiu a base da actual cooperação económica em todo o mundo e é uma razão importante para defender o multilateralismo. Se todos os países se tornarem unilaterais, então as empresas, quer seja a Apple dos Estados Unidos, a Huawei da China ou a Samsung da República da Coreia, descobrirão que é impossível fabricar os seus produtos para compradores globais e ainda assim mantê-los acessíveis e como resultado, entrariam em colapso corporativo e a economia de cada país seria atingida. A globalização económica é a procura objectiva pelo desenvolvimento da produtividade social. É também o resultado inevitável do progresso da ciência tecnológica, do qual todos os países beneficiam. A nova revolução industrial nascida da globalização económica não está apenas a conectar a rede industrial global, mas igualmente a rede de inovação e de valor, mas também está a promover o crescimento inclusivo. A China está a seguir esse caminho e nas últimas quatro décadas, envolveu-se na divisão global do trabalho e nas cadeias de valor, inovação e indústria globais e continua a abertura em todos os aspectos e a melhorar a qualidade da sua economia. A “Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma (CNDR na inglesa)” da China, a 30 de Junho de 2019 e o Ministério do Comércio divulgaram uma lista revista para investimentos estrangeiros, que inclui um inventário da indústria para incentivar o investimento estrangeiro em todo o país e um rol de indústrias vantajosas para o investimento estrangeiro nas regiões central, ocidental e nordestina. Enquanto os itens da lista negativa diminuíram, os da outra lista aumentaram, sendo que essa maior abertura é um contraste gritante com países que se isolaram do resto do mundo em nome da garantia da segurança nacional. A sociedade humana está a viver uma era de informatização rápida, onde as pessoas se encontram mais próximas umas das outras, em vez de ficarem isoladas e esta tendência inevitável determina que a autoridade do mecanismo de comércio multilateral baseado em regras, com a “Organização Mundial do Comércio (OMC)” no centro, seja respeitada e protegida. É animador que uma pesquisa global conduzida pelo Fórum de Davos tenha mostrado que a grande maioria acredita que a cooperação internacional é muito importante. Os princípios fundamentais do sistema multilateral são amplamente reconhecidos e defendidos. A memória da crise financeira de 2008 que surgiu nos Estados Unidos ainda se mantém fresca na memória colectiva. Durante essa turbulência, foi a estreita cooperação internacional que ajudou a economia global a recuperar-se da crise e precisamos novamente do mesmo espírito cooperativo na luta contra o unilateralismo e o proteccionismo comercial.
Luís Carmelo h | Artes, Letras e IdeiasE o que é a normalidade? [dropcap]P[/dropcap]erceber no nosso tempo onde começa e acaba o território da normalidade é como separar o vinho da água num mesmo copo. Nem sempre foi assim. O. Niccoli relembrou que, em finais do quattrocento e no século seguinte, a palavra “segno” – não confundir com signo, nas suas variadíssimas acepções – traduzia a ideia de tudo aquilo que escapava ao “curso natural das coisas”. O “segno” definia, pois, a fronteira entre o que se impunha como normalidade e o vasto reino das coisas desavindas e seguramente condenáveis. O diabo, as metamorfoses inexplicáveis, as excrescências da natureza, uma parte significativa das práticas sexuais, os textos (hoje ditos) seculares, os monstros que habitariam a periferia do planeta, os eventos não catalogáveis, os animais fabulosos que respiravam nos relatos de Preste João ou no imaginário trágico-marítimo integravam, cada um a seu modo, esse negro e nefasto mundo do “segno”. No entanto, para que o “segno” pudesse tornar-se reconhecível, era necessária a existência de uma ordem bem definida que permitisse distinguir o seu mundo de trevas do mundo caracterizado como normal. Sem esse crivo, as bruxarias, os textos proféticos considerados anómalos, as apostasias, os símbolos dissociados da tradição, as heresias e outros “horrores” jamais teriam sido perseguidos. Curiosamente, o mundo utópico e o mundo ideológico, que irromperam um e outro – com experiências e naturezas diversas – no século XIX, acabaram por trazer consigo, nas geografias do ocidente cristão, a antiga marca das civilizações escatológicas. Só que, em vez de paraíso, convocaram a ideia de um igualitarismo terreno, do mesmo modo que a natureza racional do dogma substituiu o “Livro” divino e a luta “por um mundo melhor” passou a encarnar os exigentes preceitos da antiga fé. Nesta nova geometria, o “segno” adquiriu outras formas e soube adequar-se ao modo estanque com que a modernidade se passou a organizar, na medida em que as mais variadas esferas de actividade se autonomizaram a partir do final do século XVIII (fosse a esfera jurídica, científica, estética, mediática, ética, constitucional, social, clínica, etc. etc.). Em todas estas esferas, a racionalidade moderna instituiu contrastes férreos entre a normalidade e a não-normalidade. Pode mesmo dizer-se que a antiga tradição do “segno” acabou por persistir, mas agora tornando-se numa peça de polémica e arremesso em pleno espaço público. Em cada uma das áreas da sociabilidade moderna, os contrários passaram a digladiar-se com alguma violência, tentando definir do outro lado o campo do “segno” (foi assim nos sistemas políticos, nas modalidades jurídicas, na sucessão vertiginosa de vanguardas artísticas, no debate científico, etc., etc.). Esta sistemática metodologia de oposições trouxe o “segno” para dentro da vida social, libertando-o da sua génese divina, cujas finalidades escapariam à compreensão humana (era esta a explicação de Santo Agostinho para a existência de monstros). Deste modo, quer no mundo cristão pré-moderno, quer no mundo (cristão) moderno, ainda que com matizes diversas, a separação entre a ordem do “segno” e a ordem do “não-segno” foi preservada. Uma tal continuidade impediu a banalização de valores e de apologias entre visões que sempre se haviam digladiado. Ora o que mudou abruptamente no Ocidente, no final do século XX e no início do século XXI, foi precisamente este aspecto. A grande mudança dos últimos trinta e poucos anos ficou a dever-se a dois factos: por um lado, a diluição e perda de eficácia (e até de sentido) das grandes referências pesadas e doutrinais de carácter ideológico e similares (o fenómeno atravessou domínios muito distintos e não se circunscreveu apenas ao esboroar da guerra-fria) e, por outro lado, a entrada em cena de uma globalização hipertecnológica associada a um nova morfologia de espaço público aberto, livre e não regulável (ou de difícil regulação). A nossa era, cada vez mais policentrada, tem-se vindo a revelar através de um apagar gradual dessa fronteira que sempre havia distinguido o “segno” do “não-segno”. Para o bem ou para o mal, uma relativização galopante invadiu todos os debates contemporâneos. Mais: a separação entre “segno” e “não-segno” não só adquiriu novos sentidos como deixou de ser uma questão (ou um problema), da mesma maneira que a superação da divisão clássica entre real e ficcional começou a ser baptizada sob o desígnio da hiper-realidade. Os efeitos desta transição meteórica estão ainda por determinar. Sem uma distância face ao presente é difícil avaliá-los. Todavia há aspectos que se destacam a olhos vistos, tais como a banalização do mal, as várias faces do hiperterrorismo, as manipulações genéticas ou as pesquisas que nos estão a conduzir ao pós-humano. A correctness tem sido uma das fugas para a frente que as nossas sociedades inventaram para suprir os muitos vazios de sentido em que vamos vivendo. Fora da arena da correcção, tudo, ou quase tudo parece sair da sua órbita: veja-se o mandato Trump, veja-se a linguagem de Bolsonaro, vejam-se os impactos do Brexit, veja-se a vacuidade doutrinal dos nacionalismos europeus, veja-se o modo como a questão climática é globalmente negligenciada (seremos dez mil milhões de pessoas no final do presente século). Fernando Pessoa ou, se se preferir, Ricardo Reis, parece ter compreendido tudo isto muito antes: “Basta-me que me baste, e o resto gire/ Na órbita prevista, em que até os deuses/ Giram, sois centros servos/ De um movimento externo.” Niccoli, Ottavia. Prophecy and People in Renaissance Italy. Princeton, New Jersey: Princeton University Press, 1990, p. 31. Tít. orig. Profeti e Popolo nell’Italia del Renascimento. Roma; Bari: GIUS, Laterza & Figli SPA, 1987. Pessoa, Fernando. Poemas de Ricardo Reis. Edição Crítica de Luiz Fagundes Duarte, Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1994.
Diana do Mar Manchete SociedadeRui Lourido, presidente do Observatório da China, defende afirmação de Macau [dropcap]O[/dropcap] presidente do Observatório da China, Rui Lourido, defende que a iniciativa “Uma Faixa, uma Rota” vai ser um “grande motor” no âmbito das relações sino-lusófonas. Já a Macau cabe afirmar a sua diferença na China e destacar-se como um ponto de exportação da Grande Baía, diz. “A China é hoje o maior incentivador do multilateralismo e da globalização e o país que mais contribui para relações diplomáticas fundamentadas por relações económicas ‘win-win’”, observou ao HM, Rui Lourido, para quem tal fica patente na iniciativa “Uma Faixa, Uma Rota”. Não perca a entrevista amanhã na edição impressa do Hoje Macau
Hoje Macau China / ÁsiaFórum Boao | António Guterres lembra na China benefícios da globalização [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] secretário-geral das Nações Unidas (ONU), António Guterres, afirmou ontem que a globalização “trouxe vários benefícios”, durante um fórum económico no sul da China, apelando contra o isolacionismo, proteccionismo e exclusão. “Estou profundamente convencido de que a globalização é universal e que trouxe vários benefícios, como a integração económica e o comércio”, afirmou Guterres. O secretário-geral da ONU, que falava na abertura do fórum Boao, lembrou que a globalização ajudou a reduzir a pobreza, mas que muitas pessoas foram deixadas para trás. Ainda assim, Guterres apelou a uma distribuição mais justa dos recursos. Fundado em 2001, o fórum celebra-se na ilha de Hainan, extremo sul da China, e tem nesta edição o tema “uma Ásia aberta e inovadora para um mundo próspero”. O evento conta ainda com a presença do Presidente chinês, Xi Jinping, a directora-geral do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, e os Presidentes das Filipinas e da Áustria, Rodrigo Duterte e Alexander van der Bellen. Portugal, que em 2017 esteve representado pelo então ministro da Economia Manuel Caldeira Cabral, não teve este ano participação a nível ministerial.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesAs leis da globalização (II) “The BRI launched by President Xi Jinping in 2013, which is intended to promote economic development and exchanges between China and more than 60 countries, is gaining momentum. The revival of the ancient Silk Road economic ‘belt’, combined with the 21st Century sea lanes of communication known as the ‘road’, is intended to enhance global connectivity and increase commercial activity.” Alessandro Arduino [dropcap style≠‘circle’]O[/dropcap] comércio internacional pode realizar-se sem a multinacionalização, e muitos são os que acreditam ser a vaga do futuro. A revista “The Economist” prevê uma diminuição crescente de pequenas empresas que usam o comércio electrónico para comprar e vender, em uma escala global. O comércio “online”, ainda é significativamente menos internacionalizado, que o comércio “off-line”. É à luz das mudanças que se fazem no ambiente político, que parece ser o momento particularmente inoportuno, para pensar que se pode ser global, apenas criando um “site” ou juntando-se a uma plataforma “online”. Os que pensam que a sua empresa deve continuar a fazer negócios em uma diversidade de mercados, precisa de descobrir se deve mudar o tipo de estratégias que usa, em resposta às pressões proteccionistas. As empresas usam a adaptação quando desejam ajustar-se às diferenças entre países para serem responsáveis localmente, e usam a associação de empresas para alcançar economias de escala e capacidade que se estende através das fronteiras nacionais, sendo que as estratégias de arbitragem são utilizadas para explorar as diferenças, como os baixos custos laborais em um país ou melhores incentivos fiscais em outro. As empresas devem usar essas estratégias, pelo que terão de mudar algo, mesmo que seja pouco, em um mundo proteccionista, mas talvez menos do que se pensa. O presidente da “General Electric (GE)”, Jeffrey Immelt, não está só quando fala do suporte arrojado da sua empresa distanciado da associação e dá importância à localização no ambiente actual. As empresas devem procurar oportunidades para ampliar os seus esforços de adaptação, porque tornarem-se mais sensíveis às diferenças pode ajudar a reduzir o impacto do proteccionismo. A forma mais óbvia para uma empresa se adaptar é a multiplicidade de produtos, políticas e posicionamento no mercado para se adequarem aos mercados locais. No entanto, cada mudança aumenta os custos e a complexidade. Logo, a adaptação inteligente, geralmente, envolve a limitação da quantidade ou variedade de produtos, bem como encontrar formas de melhorar a eficácia e a eficiência de qualquer alteração introduzida. As empresas, por exemplo, podem projectar plataformas comuns sobre as quais as alterações locais são oferecidas, ou podem externalizar alguns dos custos da adaptação, através de franquias, empreendimentos conjuntos ou outros tipos de parcerias. Mas, enquanto uma maior adaptação pode ter sentido, as multinacionais não devem colocá-la automaticamente como prioridade, o que só prejudicaria as suas fontes de vantagem competitiva em relação aos concorrentes locais. As empresas globais, especialmente as de economias avançadas, normalmente justificam as suas estratégias transfronteiriças principalmente com base na associação. Os casos mais clássicos, revelam investimentos em activos tecnológicos ou de “marketing” intangíveis que podem escalar através das fronteiras nacionais. Tais vantagens normalmente devem ser bastante grandes, para superar a vantagem do juízo doméstico dos concorrentes locais. A lógica económica para a associação não se evaporará para multinacionais que tenham construído um negócio saudável e lucrativo em mercados estrangeiros, mesmo que alguns países tornem mais caro operar dentro das suas fronteiras. Quanto à arbitragem, as oportunidades para que as multinacionais verticais se globalizem no lado da oferta, em vez do lado da procura, reduziram um pouco nos últimos anos, mas ainda permanecem imensas. Mesmo com o aumento da prosperidade nos grandes mercados emergentes, o PIB “per capita” dos Estados Unidos ainda é sete vezes maior que o da China e trinta e três vezes o da Índia. As diferenças nos regimes fiscais entre países, também não vão desaparecer e continuarão a proporcionar oportunidades de arbitragem. Assim, e de acordo com a “Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE)”, a dispersão das taxas de imposto sobre as empresas entre os países pouco mudou desde 2007, e o progresso na contenção dos paraísos fiscais tem sido lento. Além disso, as diferenças entre países em termos de segurança, saúde e ambiente continuam a persistir também, embora a exploração dessas diferenças suscite preocupações éticas. As multinacionais que saem dos mercados emergentes tendem a começar as suas vantagens com as primazias arraigadas em arbitragem, concorrentes no exterior com base em baixos custos domésticos. Tal estratégia continua a ser o motor que impulsiona o crescimento e a lucratividade e rentabilidade da indústria “offshore” de serviços de “Tecnologia de Informação (TI)” da Índia, que inspirou o “The World Is Flat: A Brief History of the Twenty-first Century” de Thomas L. Friedman, iniciando uma onda de interesse em estratégias de avaliação. Após mais de uma década, os salários dos programadores na Índia, ainda são apenas uma fracção dos praticados nos Estados Unidos, e a redução de custos contínua sendo a principal razão pela qual as empresas optam por terciarizar. Os maiores fornecedores centrados na Índia, ultrapassaram os concorrentes ocidentais em termos de crescimento e rentabilidade e, a partir de Junho de 2016, os quatro principais vendedores concentrados na Índia, desfrutaram de arbitragens de mercado superiores a 50 por cento maiores, do que os seus quatro principais concorrentes ocidentais. À medida que as empresas de países avançados e emergentes se dedicam à liderança global, cada um deve reforçar a sua fraqueza tradicional, para os operadores históricos, a arbitragem e para os insurgentes, a associação. Os donos do mundo desenvolvido em serviços de TI, como a Accenture e a IBM, expandiram os seus esforços na Índia, enquanto as empresas indianas estão a tentar fortalecer as suas marcas e capacidades tecnológicas. O alicerce de Immelt para a localização implica um impulso à sua estratégia de adaptação. A GE, como a maioria das outras multinacionais, não pode desistir da associação ou da arbitragem. As vantagens baseadas em associação da GE são o que sustentam a sua capacidade de competir em cento e setenta países. A sua máquina de “Pesquisa e Desenvolvimento (P&D)” ou “Investigação e Desenvolvimento (I&D)” de quase seis mil milhões de dólares de investimentos anuais, produz inovações tecnológicas de destaque mundial, o valor da marca de trinta e quatro mil milhões de dólares abre as portas em todos os locais, os seus famosos programas de formação de gestão atraem e cultivam talentos, e o seu alcance em produtos, serviços e geografias contribui para o imenso potencial de intercâmbios de associação de fronteira, e enquanto as observações de Immelt minimizam a arbitragem salarial, tal como o fez na década de 1980, em contraste com a direcção focada, actualmente, na venda de mais produtos ao exterior, a arbitragem tornou-se suficientemente enraizada na empresa nas últimas décadas, que provavelmente não vai desaparecer e continuará a ser parte da sua estratégia de globalização. É de entender que a estratégia de localização da GE é melhor entendida, como a que mantém uma força central na associação enquanto atenua a prioridade da empresa na arbitragem e torna-se mais adaptável. Quanto ao ajustamento com a sociedade, associar-se com, onde e como competir, são as questões principais, salientando como fundamental, o modo de como se deve envolver com a sociedade, que está a tornar-se cada vez mais proeminentes nas agendas dos líderes empresariais, excepto em indústrias altamente regulamentadas, as empresas historicamente tratam as interacções com os governos, a média e o público, como uma reflexão posterior na definição das estratégias. Mas, em muitos casos, as empresas estão a ter maiores impactos de factores políticos e macroeconómicos do que de considerações competitivas. Tais factores, incluem movimentos de taxas de câmbio impulsionados pelo “Brexit”, compartilham flutuações de preços em resposta às alterações de políticas e ao custo de mudança de planos de investimento à luz das modificações antecipadas na política comercial. É de acrescentar à lista o aumento das ONGs, a proliferação das médias sociais e o aumento do sentimento anti-globalização. As empresas são constrangidas nas suas respostas a esses desenvolvimentos por uma série de factores. Em primeiro lugar, a reacção contra a globalização também é, em parte, uma reacção contra os grandes negócios. A reputação geral dos negócios está em um mínimo histórico. O “Pew Research Center”, em uma pesquisa recente, perguntou aos entrevistados nos Estados Unidos, o quanto as pessoas em dez profissões contribuíram para o bem-estar da sociedade. Os executivos de empresas classificaram o futuro, com excepção dos advogados, e apenas 24 por cento dos entrevistados disseram ter pensado que os líderes empresariais contribuíram muito. O “Barómetro de Confiança Edelman” de 2017, também relata um mínimo histórico para a credibilidade dos executivos empresariais e das decisões das empresas sobre como implantar o capital de reputação que possuem e que são dificultadas pelas tensões entre os cidadãos de um país e o seu governo. O presidente executivo da Uber, Travis Kalanick enfrentou problemas com a percepção pública de se ter juntado ao conselho consultivo de negócios de Trump, pelas incertezas acerca de como evoluiria a situação económica e social nos Estados Unidos, acabando por renunciar ao cargo a 21 de Junho de 2017, depois de um conjunto de acusações, desde assédio sexual a sexismo na empresa, passando pelo uso de um programa de computador para enganar autoridades reguladoras de várias cidades no mundo, até suspeitas de roubo de propriedade intelectual para o fabrico de carros auto guiados. Assim e nesse contexto, é necessário falar mais sobre questões sociais e entender porque os líderes empresariais são muitas vezes instruídos a ter certos comportamentos, para não ser considerado como uma panaceia. Ainda que seja difícil oferecer instruções simples sobre como lidar com essas complexidades, a lei da semi-globalização sugere uma liminar e uma visão. Em primeiro lugar, a injunção é estar em consonância com o facto de os governos pensarem sempre que uma empresa que opera é uma actividade incerta, e que tal seja uma estratégia sustentável. [continua]
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesAs leis da globalização (I) “Since about 2010, double-digit economic growth rates have been observed across Africa. This growth is partly due to rising international commodity prices, and partly due to internal economic structural changes. Over the last decade, six of the world’s 10 fastest-growing countries were African. In eight of the last 10 years, Africa’s lion states have grown faster than the Asian tigers.” “Middle Classes in Africa: Changing Lives and Conceptual Challenges” [dropcap]L[/dropcap]ena Kroeker, David O’Kane and Tabea Scharrer. Os empresários esforçam-se para se adaptar a um mundo imaginado apenas há apenas um ano. O mito de um mundo sem fronteiras desapareceu. Os pilares tradicionais dos mercados abertos, como os Estados Unidos e o Reino Unido estão a cambalear, e a China está-se a posicionar como o mais firme defensor da globalização. O voto no “Brexit”, em 23 Junho de 2016, surpreendeu a União Europeia, e as ideias sobre a globalização tornaram-se cada vez mais negativas nos Estados Unidos, à medida que a campanha eleitoral presidencial progredia. Após a eleição de Donald Trump, com medo de uma guerra comercial, começou a ser defendida a tese de que a maior pensamento comercial das últimas três décadas está a passar por sérios problemas, e que as vantagens da economia de escala desapareceram. O pilar dinâmico da empresa e da sua localização abanavam. A grande questão que se coloca é de saber se a retirada massiva do exército empresarial de um país é a abordagem correcta para as empresas nestes tempos incertos, ou, apesar de embalar e voltar a casa, devem concentrar-se na localização, ou seja, produzir e até inovar onde vendem, como opção estratégica? É de recordar que, há apenas uma década, os empresários acreditavam que o mundo estava a tornar-se plano para as empresas globais, sem restrições, através das fronteiras dos países, e que rapidamente dominariam a economia mundial. Tais afirmações exageradas foram provadas como erradas. Os clamores actuais por um enorme retrocesso da globalização, diante de novas pressões proteccionistas, também são uma reacção exagerada, em outra direcção. Ainda que, uma certa euforia sobre a globalização se tenha deslocado para a sombra, especialmente nos Estados Unidos, a globalização ainda não sofreu uma séria reversão. A retirada em grande escala ou um excesso de localização prejudicaria a capacidade das empresas de criar valor através das fronteiras e à distância usava-se a rica variedade de estratégias da globalização que ainda são eficazes e continuarão a funcionar bem no futuro. A turbulência actual exige uma reformulação mais subtil das estratégias das multinacionais, das estruturas organizacionais e das abordagens do ajuste social. As falsas percepções comuns sobre o que é, e o que está a mudar sobre a globalização, oferecem directrizes para ajudar os empresários a decidir onde e como competir e a examinar o papel das multinacionais em um mundo complexo. As dúvidas sobre o futuro da globalização começaram a surgir durante a crise financeira de 2008-2009, mas à medida que as condições macroeconómicas melhoraram, a escuridão deu lugar a uma mistura obscura de perspectivas. Por exemplo, em apenas três semanas, em 2015, foram defendidas ideias como as da globalização a uma velocidade extremamente alta ou o fim da globalização. Face a tanta ambiguidade, é essencial analisar os dados fornecidos pelo “Global Connectedness Index (GCI)”, que é uma análise detalhada do estado da globalização em todo o mundo, rastreando os fluxos internacionais de comércio, capital, informações e pessoas. Os dois componentes do índice de maior interesse comercial que são o comércio de mercadorias e investimento estrangeiro directo, foram atingidos duramente durante a crise financeira, mas nenhum deles sofreu um declínio similar desde então. O comércio sofreu uma grande queda em 2015, mas foi quase inteiramente um efeito preço, impulsionado pela queda dos preços das mercadorias e pela revalorização do dólar. Os dados actualizados sugerem que, em 2016, o investimento estrangeiro directo diminuiu, em parte, devido à repressão dos Estados Unidos sobre inversões fiscais. Os dados completos para 2017, ainda não estão disponíveis, mas o estímulo comercial em pessoas e fluxos de informações provavelmente reforçará a ideia de que a globalização permaneceu igual ou aumentou. O que mergulhou de nariz foi o tom do discurso público nos Estados Unidos e em outras economias avançadas. A análise das referências dos meios de comunicação social para o termo globalização nos mais proeminentes jornais e revistas mundiais revela uma acentuada sensação de sensibilidade, com decréscimo das quedas em 2016. O contraste entre os dados que vão do misto ao positivo sobre os fluxos internacionais reais e o balanço negativo no discurso sobre a globalização podem ser fixados, ironicamente, na tendência de até mesmo os executivos experientes, exageradamente preverem a intensidade dos fluxos de negócios internacionais em relação à actividade doméstica, ou seja, acreditam que o mundo é muito mais globalizado do que realmente é. As percepções exageradas sobre a profundidade da globalização, quanto à actividade, são internacionais versus doméstica e têm um custo. As sondagens revelam que os entrevistados que exageraram acerca das previsões acerca da intensidade da globalização, foram mais propensos a acreditar em declarações erróneas sobre estratégias de negócios internacionais e políticas públicas. Quando os empresários pensam que o mundo é mais globalizado do que realmente é, tendem a subestimar a necessidade de entender e responder às diferenças entre os países, quando operam no exterior e na esfera das políticas públicas, e os líderes políticos tendem a subestimar os ganhos potenciais da globalização e a super-estimarem as consequências nocivas para a sociedade. As pesquisas sugerem que as pessoas também subestimam a amplitude da globalização, ou seja, até que ponto a actividade internacional é distribuída globalmente e não focada de forma restrita. Um inquérito realizado aos leitores do “Washington Post”, revelou que 62 por cento dos inquiridos concordaram que o livro mais lido de Thomas Friedman era “The World Is Flat: A Brief History of the Twenty-first Century”, que menciona que as empresas actuam em um campo de jogo global, habilitado para a rede mundial de computadores, que permite colaboração em pesquisa e trabalho em tempo real, sem importar a geografia, distância ou, no futuro próximo, até mesmo a linguagem. Todavia, os dados mostram que a actividade internacional real continua a ser amortecida fortemente por todos esses factores, e para contrariar as ideias contraditórias sobre as questões globais, devem ser consideradas duas leis que regem, respectivamente, a profundidade e amplitude da globalização que são a lei da semi-globalização, que é a actividade comercial internacional, que embora significativa, é muito menos intensa do que a actividade doméstica, e a lei da distância que determina que as interacções internacionais são atenuadas pela distância ao longo de dimensões culturais, administrativas, geográficas e, muitas vezes, económicas. Tais princípios podem ser muito úteis para a elaboração de estratégias futuras. É de considerar que dados os fortes sentimentos proteccionistas e possivelmente até uma guerra comercial, continuarão a ser válidos. A melhor forma de os testar será no momento, e apesar do tempo, as políticas da administração Trump e de outros governos ainda não são claras, e estudar o que aconteceu pela última vez que uma grande guerra comercial explodiu, que foi na década de 1930, e o que levou à maior regressão da história da globalização. Existem duas leituras fundamentais, correspondentes às duas leis da globalização. A primeira lição é de que, embora o comércio tenha regredido precipitadamente na década de 1930, não deixou de existir. O colapso que começou em 1929 foi surpreendente, e no início de 1933, os fluxos comerciais caíram dois terços. A queda no valor reflectiu uma queda mais nos preços do que nas quantidades, que diminuíram em menos de 30 por cento. Mesmo na sequência do colapso, os volumes de comércio continuaram a ser muito grandes para ignorar os estrategas de negócios. A segunda lição é de que a distância de vários tipos continuou a atenuar a actividade comercial internacional. A relação entre os fluxos comerciais e a distância geográfica mal se moveu, de 1928 a 1935. Os efeitos benéficos de uma língua comum e os laços coloniais permaneceram poderosos, pois conjuntos de países com esses laços continuaram a negociar cerca de cinco vezes mais entre si, comparados com conjuntos de países sem tais laços. O resultado líquido foi de que os parceiros comerciais com os quais os países (ou grupos de países) fizeram a maior parte dos seus negócios, antes do incidente continuaram posteriormente, em grande parte inalterados. Quanto ao futuro e se o comércio global não estagnou na década de 1930, é razoavelmente seguro afirmar que também não acontecerá na década de 2020. As análises da possibilidade de uma guerra comercial durante a administração Trump, poderia parecer sugerir declínios muito menores no comércio dos que ocorreram na década de 1930. A “Moody’s Analytics” estima que, se os Estados Unidos impusessem tarifas à China e México, e esses dois países retaliassem, esse e outros factores fariam contrair as exportações dos Estados Unidos em oitenta e cinco mil milhões de dólares em 2019, o que representa apenas cerca de 4 por cento do total de exportações dos Estados Unidos em 2015. É claro que uma guerra comercial mais ampla teria um efeito mais significativo, mas é muito improvável que as consequências sejam tão terríveis como na década de 1930. Da mesma forma, se a amplitude do comércio não mudou muito, apesar da drástica queda durante a “Grande Depressão”, provavelmente, não mudaria muito no caso de uma guerra comercial actual. Vale a pena acrescentar que, com muitos outros países independentes, além de cadeias de abastecimento mais fragmentadas verticalmente, os efeitos estimados da distância geográfica no comércio de mercadorias são realmente maiores do que na década de 1930. Quanto à questão de onde competir, é de observar, se é improvável que as interacções transfronteiriças desapareçam, qual o argumento para a retirada das multinacionais? O recuo das empresas globais, que provocou uma discussão significativa, apontou para os problemas de desempenho que experimentaram, mas os declínios nos últimos três a quatro anos ocorreram em um ambiente de preços de mercadorias, diminuição da procura por serviços relacionados à globalização e, para as empresas dos Estados Unidos, mudanças nas taxas de câmbio, factores que cumpriram claramente papéis exagerados. E as quedas a longo prazo na última década coincide com um período em que a globalização realmente diminuiu. Os problemas de desempenho fraco durante este período deveriam forçar à reconsideração da multinacionalização, que seria como argumentar que Singapura, o país mais conectado do mundo, de acordo com o DHL, deve afastar-se da globalização devido aos problemas de crescimento que observou desde a crise financeira. O último relatório oficial acerca do futuro da economia de Singapura rejeita essa noção, dizendo que a globalização através do comércio, capital e fluxos de conhecimento ainda é o futuro no que diz respeito à cidade-estado. E, mesmo em países muito menos dependentes das exportações do que Singapura, um retrocesso maciço da globalização seria contraproducente. Mesmo quando as condições económicas são favoráveis e a globalização está a avançar rapidamente, como aconteceu há várias décadas atrás, as multinacionais podem enfrentar problemas de execução. Os estudos, observaram que, entre 1990 e 2001, as empresas da “Fortune Global 500”, apresentaram consistentemente menores rendimentos médios nas vendas para suas as operações no exterior do que para as suas empresas domésticas. Dadas as dificuldades provocadas pela lei da distância, a multinacionalização sempre foi uma opção, não um imperativo. Algumas empresas e indústrias, claramente sobreviveram, especialmente nos anos anteriores à crise financeira. O que falta em grande parte do debate actual é a noção de contingência, ou seja, uma abordagem caso a caso, em que um movimento relacionado à globalização é avaliado pelos seus próprios méritos, em vez de ser submetido a algum limiar sobre se deve avançar e globalizar ou voltar para casa. Assim, muitas empresas multinacionais precisam de renovar a atenção para onde competem, ou seja, para a selecção do mercado e devem também, resistir à ideia de que uma empresa verdadeiramente global deve competir em todos os principais mercados. É de ponderar que cerca de 64 por cento dos entrevistados de um estudo da Universidade de Harvard, realizado em 2017, concordaram com esta (não) dictum, porém, uma análise dos dados financeiros internos de dezasseis multinacionais, indicou que oito tinham grandes unidades geográficas que destruíram a sua valia, depois dos seus custos de financiamento serem tomados em conta. Tais problemas ainda persistem. A Toyota, por exemplo, parece ser a única concorrente importante no sector automobilístico, altamente globalizada, que conseguiu aumentar a participação de mercado significativa no Japão, América do Norte, Europa e nas principais economias emergentes, ainda que seja altamente rentável. A maioria das grandes fabricantes de automóveis, em contrapartida, seria melhor servida seguindo o exemplo da General Motors (GM), proprietária das marcas Vauxhall e Opel, e da francesa PSA Group, fabricante dos carros Peugeot, Citroen e DS, que tinham uma série de iniciativas estratégicas com o objectivo de aumentar a rentabilidade e a eficiência operacional, incluindo uma potencial aquisição da Opel, cuja operação europeia era deficitária. A PSA Group discutia então a compra das operações europeias da GM, tornando-se a segunda maior da região e permitindo que a GM se concentrasse na América do Norte e na China. Os dados recentes sobre empresas classificadas entre as cem melhores com a maioria dos activos localizados fora dos seus países de origem revelam uma história semelhante. Enquanto essas empresas tendem a operar em dezenas de países, os seus quatro principais mercados, incluindo o mercado doméstico, representam cerca de 60 por cento das suas receitas e provavelmente uma fatia maior de lucros totais, e apenas uma percentagem de um dígito da “Fortune Global 500” que representa as maiores empresas do mundo por receitas, ganham pelo menos 20 por cento das mesmas em cada uma das regiões da tríade da América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico. Ao classificar os mercados para se concentrar, é importante notar que a lei da distância se aplica ao investimento directo estrangeiro, bem como ao comércio. Embora o IDE seja menos sensível à distância geográfica do que o comércio é de estimar que o efeito de uma linguagem comum e uma ligação colonizado – colonizador e o IDE, seja mais sensível às diferenças no rendimento per capita. Assim, como as empresas pesam as suas opções, devem procurar oportunidades onde possam encontrar afinidades culturais, administrativas, políticas, geográficas e económicas. Tal ressoa ainda mais fortemente, pois é de recordar que as relações com os países se tornaram ainda mais importantes durante a década de 1930. À medida que o ambiente político muda, os líderes empresariais precisam de manter um olhar cuidadoso sobre como os seus países de origem estão a realinhar os seus laços internacionais e a engajarem-se na sua diplomacia corporativa. É de lembrar também de que operar apenas domesticamente é uma opção. Apenas cerca de 0,1 por cento das empresas mundiais são multinacionais, ainda que a multinacionalização seja altamente distorcida em relação às empresas maiores, isso enfatiza grandemente o seu impacto global. (As suas filiais estrangeiras geram 10 por cento do PIB global, e as multinacionais representam mais de 50 por cento do comércio mundial). Para as empresas com base em grandes economias emergentes, concentrando-se no mercado interno, onde gozam de vantagem doméstica e bem-sucedido crescimento, pode ser uma proposta particularmente atraente. Os líderes empresariais devem resistir à ideia de que uma empresa global deve competir em todos os mercados.
Jorge Rodrigues Simão Perspectivas VozesO crescimento sustentável “The triple bottom line (TBL) thus consists of three Ps: profit, people and planet. It aims to measure the financial, social and environmental performance of the corporation over a period of time. Only a company that produces a TBL is taking account of the full cost involved in doing business. In some senses the TBL is a particular manifestation of the balanced scorecard. Behind it lies the same fundamental principle: what you measure is what you get, because what you measure is what you are likely to pay attention to. Only when companies measure their social and environmental impact will we have socially and environmentally responsible organisations.” “The Economist Guide to Management Ideas and Gurus” – Tim Hindle [dropcap style≠’circle’]O[/dropcap] grande tema revisitado do capitalismo nos velhos países industrializados, é reduzir os funcionários, aumentar o impacto da tecnologia e percentagem das pessoas idosas, sem um rendimento que lhes permita uma vida digna, o que por si deve ser a mola suficiente para promover um plano de reformas ao capitalismo, que faça que a economia crescer de forma sustentável. O historiador inglês, Eric Hobsbawm, no seu livro “The Age of Extremes: The Short Twentieth Century, 1914 -1991”, referia-se à história do século XX, como sendo o século curto, porque tinha começado em 1914, com a I Guerra Mundial e terminado em 1989, com o colapso da União Soviética. Afirmava Hobsbawm que a versão oposta à soviética também estava falida, pois a fé teológica em uma economia que afectava totalmente os recursos à economia, através de um mercado sem restrições, em uma situação de concorrência ilimitada; um estado de coisas que se acreditava que não só produzia o máximo de bens e serviços, mas também o auge de felicidade era o único tipo de sociedade que merecia o epíteto de livre. Os seus críticos reagiram imediatamente, considerando uma vingança do velho marxista, aludindo ao pensamento político do historiador. Passados mais de vinte anos, damos conta que o capítulo desse livro intitulado de “Rumo ao milénio”, tem alusões proféticas, e que teria sido excelente ter levado em consideração. O livro assinala os problemas fundamentais da actualidade, como o demográfico e o ecológico. Era essencial determinar como alimentar-se-ia uma população mundial dez anos maior em número, com cerca de nove a dez mil milhões de pessoas em 2050, sabendo que um quinto será de idosos, ou seja, cerca de dois mil milhões de pessoas. Os países ricos enfrentarão a imigração em massa, que iriam causar graves problemas políticos internos, o que soa familiar, ou munir-se de barricadas inúteis para protegerem-se dos imigrantes. Quanto aos problemas ecológicos entendia como cruciais, mas não tão explosivos a curto prazo. Se o indicador de crescimento económico se mantivesse indefinidamente nos níveis da segunda metade do século passado, teria consequências irreversíveis e catastróficas para o ambiente natural do planeta. O que obrigaria a ter uma política ecológica radical e realista por sua vez. Tudo o que reforça o conceito de economia sustentável é ferramenta importante para a abertura do caminho almejado. Enquanto isso, o progresso tecnológico incessante continuou a deslocar e a transformar empregos. A globalização fez mudar as indústrias do centro para a periferia à procura de custos mais baixos e enfraqueceu mecanismos estatais para gerir as consequências sociais dos novos processos económicos e houve uma enorme transferência de indústrias procurando mão-de-obra barata, desde os países mais ricos aos mais pobres, com todas as suas indesejáveis consequências sociais. O mesmo ocorreu, também, no interior de cada país rico e esta é uma boa explicação para entender a reacção dos ingleses ao votar a saída da Grã-Bretanha da União Europeia (UE). Até agora não existia nenhuma ameaça credível que impulsionasse o capitalismo e os seus principais actores, a procurar reformas rápidas e eficientes e em certa medida, o Brexit, ou abandono britânico da UE, pode comparar-se com a queda da União Soviética, não importando apenas o que aconteça no Reino Unido, pois mais grave seria a fractura e a desintegração do velho projecto de unidade continental. As organizações supranacionais enfraqueceram a noção de Estado-Nação, mas também o fizeram as forças internas com movimentos autonómicos, como a Escócia na Grã-Bretanha, ou a Catalunha em Espanha. O que se divisa com claridade, é que muitas pessoas não estão de acordo com a globalização, porque não entendem a sua utilidade ou conveniência na sua vida diária. Sentem-se assustadas pelos avisos, acrescidos de ameaças, e sobretudo, estão com ira. É o que se observa no momento de votarem, e com transparência afirmam, que votam contra as elites dirigentes, governantes, teóricos, empresários e em especial bancos que os submetem a uma vida pior que a prometida, e para se libertarem sentem necessidade de resgatar o poder entregue a essas elites, ainda que seja, para cair nas mãos de uma nova burocracia. A situação real observada apresenta matizes graves do jogo perigoso político e societário em este momento da história. Os autores e consultores defendem que as empresas devem assumir a liderança de uma das batalhas mais concretas que se tem travado em matéria de protecção ambiental. Não é uma opinião unânime. Muitos críticos defendem que não é uma boa estratégia, pôr a raposa em frente do galinheiro, pois o que dizem, e existe alguma razão é de que não se pode omitir o facto de a história revelar os danos e negligências das empresas em matéria ambiental. Há que fazer muito mais e rapidamente para alterar essas práticas prejudiciais. É certo que pela primeira vez, os países se uniram com solenidade, para atingirem metas como as de travar ou reverter a deterioração climática e combater o efeito dos gases de estufa, que o Presidente Donald Trump afirma serem de mera falácia, apregoando o abandono do Acordo de Paris pelos Estados Unidos. Todavia, existe um longo caminho a percorrer das palavras às acções, mesmo com os prazos a reduzir. Os principais países em processo de industrialização aderem às metas de modo estridente, mas pouco fazem para as cumprir. Primeiro, querem obter um nível de desenvolvimento que detém os países industrializados. Até há pouco tempo as preocupações conservacionistas eram cheias de boas intenções. O sociólogo inglês John Elkington introduziu o conceito de “Triple Bottom Line (TBL)”, pela primeira vez, em 1994, e usado mais tarde no seu livro “Cannibals With Forks: The Triple Bottom Line Of 21st Century Business,” publicado em 1997, demonstrando como todas as empresas podem e devem ajudar a sociedade a alcançar três objectivos interligados, que são a prosperidade económica, protecção ambiental e equidade social, questões que estão no topo da agenda corporativa. O TBL mede o grau de responsabilidade social de uma empresa, o seu valor económico e o impacto ambiental. O desafio é representado pela dificuldade de medir os objectivos social e ambiental, o que exige que os três objectivos sejam avaliados pelos seus méritos. O empresário alemão Jochen Zeitz, que usa a sua fortuna para alterar as opiniões mundiais sobre as alterações climáticas, publicou o primeiro relatório no âmbito do TBL concluindo que para realizar uma economia sustentável, os líderes das empresas devem assumir os três objectivos definidos como metas. O livro “The Breakthrough Challenge: 10 Ways to Connect Today’s Profits with Tomorrow’s Bottom Line”, que tem como autores John Elkington e Jochen Zeitz, publicado em 2015, defende a ideia de que o ataque crescente à globalização, o maior poder das empresas multinacionais e a incidência de uma recessão generalizada tornam mais difícil a acção dos governos. O argumento tem sentido. Se há catástrofes naturais e deterioração do ambiente e, se as pessoas não têm emprego e não tem recursos, e se o sistema financeiro entra em colapso, estão em sério perigo os lucros das empresas. As empresas devem tentar, pelo menos, uma economia sustentável não pela filantropia, mas na procura dos seus interesses. Todavia, em momento algum subestimam os referidos autores, o esforço a realizar. Os trabalhos pendentes incluem o impulso de novas estruturas como as Empresas B que reinvestem todos os seus lucros no crescimento da firma, princípios contáveis sólidos e verdadeiros, cálculo real dos verdadeiros retornos, alcançar benefícios no plano humano, social e do planeta, eliminação de subsídios ou incentivos com efeitos destrutivos, transparência plena, alterar a forma como se educam e formam os líderes empresariais do futuro e eliminar o curto prazo. Esses são os requisitos a cumprir. O uso generalizado das mídias sociais e da análise de dados torna cada vez mais fácil seguir e observar o comportamento de uma empresa. A grande parte das pessoas declara que suportam as suas decisões de compra neste tipo de informação que recolhem, e que é designado por “transparência radical”, conforme alcunhou Allen Hammond, um dos ex-Chefe do Departamento de Comunicação do World Resources Institute. A informação obtida na Internet permitiria aos ambientalistas procurar maiores padrões éticos das empresas, mas tudo indica que a grande alteração não é a nova ferramenta que dispõem os activistas para exercer maior pressão. É especialmente efectiva entre os clientes e compradores, sobretudo, os geracionalmente que fazem parte da geração do milénio, ou seja, os nascidos entre 1980 e 2000. A expectativa dos consumidores é de que as marcas sejam totalmente transparentes nas suas práticas comerciais, pois fazem um uso intenso das mídias sociais, permitindo que um potencial cliente se torne amigo da marca, e a expectativa é que a marca se comporte como uma amiga. Este novo conceito de “transparência radical”, onde todos sabem tudo, o que todos fazem, apresenta uma dificuldade, pois existem muitas empresas que não estão preparadas para fazer as alterações que esta nova situação exige. As empresas que prefiram ganhar confiança junto dos seus clientes, têm que aceitar e facilitar o escrutínio público, que é algo mais que melhorar as práticas habituais. É mostrar sem reservas o que ocorre dentro da empresa. A economia global, começa lentamente a recuperar e a melhorar, em algumas áreas geográficas, de forma mais clara que outras, pois durante a recessão, a situação válida foi sobreviver. A atenção, actualmente, concentra-se no crescimento, um motor moldado por forças externas com capacidade para transformar a sociedade e os negócios. O novo cenário é definido pelo trabalho de cinco tendências globais, como os avanços tecnológicos, alterações na demografia, ciclos económicos globais, urbanização, escassez de recursos e alterações climáticas. O impacto que podem ter essas tendências está a mudar de forma drástica as expectativas que a sociedade tem sobre o mundo dos negócios. Quando uma empresa funciona de forma coerente com essas tendências, adquire fiabilidade que é a base de toda a relação e transacção em qualquer mercado. É como se adquire a famosa licença para exercer a actividade. O curto prazo por mais tentador que seja, não funciona. Não existe medicação para se voltar ao inicio e todos os líderes empresariais devem concentrar-se no TBL. É essencial saber que a forma de fazer negócios incide sobre o nível de utilidades, a comunidade onde está inserida e o impacto sobre o ambiente e planeta, apesar de nos últimos anos, as sondagens terem revelado que aumentou de forma sustentável a fé e confiança que o público tem nas empresas, e muitos líderes do sector continuam empenhados em reduzir o que entendem como sendo a ausência da verdade.